"Brasil iniciou hoje resgate da dívida histórica que tem com João Goulart"
Escrito por: Vanilda Oliveira - CUT Nacional
“O Brasil resgata hoje, 14 de
novembro, uma dívida de 37 anos com a família do ex-presidente
João Goulart, e também com a a própria história do País, com
este ato realizado na base aérea de Brasília, o mesmo local de
onde ele partiu, deposto, para o exílio. É muito emocionante
presenciar parte do pagamento desta dívida”. A outra parte só
será resgatada, quando for concluída a investigação e
esclarecida a causa da morte do ex-presidente deposto pela ditadura
militar e morto no exílio", afirmou o secretário nacional de
Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney
O dirigente participou da cerimônia
realizada nesta quinta-feira (14), em Brasília, que recebeu os
restos mortais de João Goulart com honras de chefe de Estado,
honras que lhe foram negadas pelo regime militar. Solaney
representou a CUT na solenidade.
A homenagem começou de manhã com a
recepção ao caixão na base aérea de Brasília pela presidenta
Dilma Rousseff e por três de seus antecessores no Palácio do
Planalto - Lula, Fernando Collor e José Sarney. A urna com os
restos mortais de Goulart foi retirada do avião da FAB, vindo do
RS, com a tarja fúnebre atribuída a chefes de Estado, sob salva de
21 tiros e ao som do Hino Nacional. Parlamentares e membros da
Comissão Nacional da Verdade também participaram do ato para
convidados.
João Goulart foi deposto pelo golpe
militar de 1964, foi para o exílio no Uruguai e, depois, na
Argentina e morreu em 1976 de infarto, segundo versão oficial
divulgada à época. Em março deste ano, a família do
ex-presidente pediu a exumação do corpo porque sempre suspeitou
que ele tenha sido assassinado por envenenamento pelo próprio
regime militar que tirou Jango do poder. Não foi realizada autópsia
na ocasião.
Apoio da CUT – “O
ato de hoje é e a investigação da causa da morte são muito
importantes para toda a sociedade brasileira e, em especial, para a
CUT, que lutou pela redemocratização do Brasil e o fim da
ditadura”, afirmou Solaney.
Esse reparo histórico, disse o
dirigente, essa justa homenagem, somente foi possível porque o
Brasil tem um governo democrático popular desde de 2002, que
instituiu a Comissão Nacional da Verdade, responsável pela
recuperação e esclarecimento dessa e de ouras histórias contadas
pela ditadura.”
A CUT faz parte do O Grupo de
Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento
Sindical, da Comissão Nacional da Verdade, e apoiou o processo que
culminou na exumação do corpo de João Goulart e na investigação
que se seguirá com a perícia técnica. “Será um trabalho
difícil e demorado, mas muito importante”, afirmou Solaney.
“Este é um gesto do Estado
brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua
memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove é uma
afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com
este gesto histórico”, disse a presidenta Dilma durante a
cerimônia de hoje, em Brasília.
Exumação e história -A
exumação, que durou mais de 18 horas, foi realizada ontem (14) sob
o acompanhamento de familiares e autoridades - ministros Maria do
Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça). A
exumação faz parte de uma investigação solicitada pela família
do ex-presidente
O próximo passo da investigação
acontecerá no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia
Federal, em Brasília, onde serão realizados vários exames, entre
eles “antropológicos e de DNA", conforme especialistas. Em
uma segunda etapa, os restos mortais também serão submetidos a
exames toxicológicos, mas em laboratórios internacionais.
Morto em dezembro de 1976 em um
hotel da cidade argentina de Mercedes, João Goulart foi o último
presidente do Brasil antes da instauração do Regime Militar
(1964-1985). Nascido no dia 1 de março de 1918 na cidade de São
Borja, RS, formou-se em Direito em 1939 e ingressou na política em
1946 – ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores do Brasil
(PTB).
O pai de Jango era,
dono de um grande estancieiro em São Borja e amigo pessoal de
Getúlio Vargas. Com a morte do pai, Jango herdou as extensas
propriedades e uma grande quantia de dinheiro.
Goulart teve como padrinho político
Getúlio Vargas; após a morte de Getúlio, ele,que ainda era
presidente do PTB, foi lançado como vice de Juscelino Kubitschek.
Apesar de ter perdido em votação para ocupar uma cadeira do Senado
em 1954, durante o governo de Kubitschek, conseguiu, por meio de uma
medida constitucional, presidir o Senado entre 1956 e 1961.
Quando Jânio Quadros chegou à
presidência, em 1961, Jango se lançou como vice, mas com a
renúncia de Jânio ele só assumiu após a aprovação de uma
emenda institucional que alterava o sistema político
presidencialista para parlamentarista. Assim, ele tinha menos poder
político, pois atuava como primeiro-ministro.
Destituído da presidência, foi
para Montevidéu, no Uruguai, onde ainda participou da Frente Ampla
em parceria com seu ex-opositor político Leonel Brizola na
tentativa de restabelecer o regime democrático no Brasil. Morreu
antes disso.