"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 13 de setembro de 2015

As razões da crise presente



Por Emir Sader

Na crise atual se cruzam razões de fundo, herdadas dos governos neoliberais, e questões que os governos do PT não souberam superar e que agora os afetam de maneira profunda.

Entre as razões estruturais estão a desindustrialização promovida pela abertura escancarada do mercado interno feita pelos governos Collor e FHC, que além de enfraquecer o poderio industrial do pais, gerou a dependência da exportação de produtos primários. Por outro lado, paralelamente, não se alterou o papel hegemônico do capital financeiro, que reproduz a especulação como fenômeno central no processo de acumulação de capital.

Além desses fatores econômicos, com todas suas consequências no plano social e político, o governo não avançou nem na democratização dos meios de comunicação, nem no fim do financiamento privado das campanhas eleitorais. Não afetou assim dois elementos políticos e ideológicos fundamentais que jogam fortemente contra o governo. A mídia, com seu terrorismo econômico e denuncismo seletivo e reiterado, o Congresso com seu cerco fisiológico sobre o governo.

A combinação desses fatores gerou as condições da crise atual. A eles se acrescenta um diagnóstico errado do governo, que o tem levado na direção oposta da forma como atuou na crise de 2008, levando a cortes reiterados de gastos, que só aprofundam e prolongam a recessão, isolando ainda mais o governo das suas bases populares, tornando-o mais frágil e mais prisioneiro da direita. O mercado, como se viu esta semana, vai sempre querer mais sangue, sempre vai impor novos cortes, que levam a novos cortes. O governo fica assim prisioneiro do mercado e da direita. Entrou no despenhadeiro interminável de responder à direita e ao capital especulativo com mais cortes, que é o que eles pedem.

O governo faz tudo isso, mas foi rebaixado pelas agências de risco, prevê recessão pelo menos até o fim de 2016, a inflação persiste, o desemprego aumenta. Um ano e meio a mais de clima de pessimismo e de deterioração dos índices sociais é a pior perspectiva possível. O ajuste nunca leva à retomada econômica, ao contrário, leva a mais recessão, com mais desemprego.

Esse não é o caminho com que reagimos vitoriosamente à crise de 2008, recuperando o pais da crise, retomando o desenvolvimento e aprofundando as políticas de distribuição de renda, ao invés de cortar recursos das políticas sociais. Assim, o caminho oposto é que deveria ser trilhado.

Reabrir créditos para reativar a economia, terminar de vez com cortes nos recursos das políticas sociais e nos custos do governo, taxar as grandes fortunas, combater dura e abertamente a sonegação. Além de propor um plano de saída da crise, coerente com esse projeto de retomada do crescimento econômico, sem ficar sujeito às iniciativas da oposição e de outros setores adversos ao governo, que cobram mais concessões políticas em troca do fim do risco do impeachment.

Não se é governo sem ter capacidade de iniciativa política, senão se é governado pelos outros, só se reage às ofensivas reiteradas do capital especulativo e da direita política. Falta coordenação política para isso e um plano econômico que não assopre na direção da tempestade mas que, ao contrário, mediante medidas anticíclicas, resista a ela. A via adotada só aprofunda a necessidade de mais cortes, a recessão, o isolamento e a fragilidade do governo. Com todos os cortes, não se impediu o rebaixamento da avaliação do governo e o retorno à ofensiva sobre o impeachment. Além de não se superar a recessão, com mais desemprego.

Essas são as raízes da crise presente. Um diagnóstico errado sobre ela levou ao pacote de ajuste, socialmente injusto, economicamente ineficaz e politicamente desastroso. Sem uma virada no plano econômico, o governo não terá mínimas condições de enfrentar a crise política, que se expressa na ofensiva permanente sobre ele. Desde dezembro o governo colocou a agenda do ajuste e nunca mais pôde sair dela. Já é tempo de fazer um balanço dos seus resultados, que só pioraram a situação, e dar uma virada no governo, a partir das experiências positivas do passado.

Aceitar os erros não revela fraqueza. Fraqueza é ceder interminavelmente às pressões conservadoras. Grandeza é reconhecer os problemas, os erros cometidos e dar uma virada econômica e política. É aprender do passado, para superar a crise presente e projetar um futuro de continuidade e não de ruptura com os governos iniciados em 2003. Não se pode colocar em risco tudo o que foi construído desde então, pela insistência equivocada no caminho oposto ao trilhado no passado.