As razões da crise presente
Por Emir Sader
Na crise atual se cruzam
razões de fundo, herdadas dos governos neoliberais, e questões que
os governos do PT não souberam superar e que agora os afetam de
maneira profunda.
Entre as razões estruturais estão a desindustrialização promovida pela abertura escancarada do mercado interno feita pelos governos Collor e FHC, que além de enfraquecer o poderio industrial do pais, gerou a dependência da exportação de produtos primários. Por outro lado, paralelamente, não se alterou o papel hegemônico do capital financeiro, que reproduz a especulação como fenômeno central no processo de acumulação de capital.
Além desses fatores econômicos, com todas suas consequências no plano social e político, o governo não avançou nem na democratização dos meios de comunicação, nem no fim do financiamento privado das campanhas eleitorais. Não afetou assim dois elementos políticos e ideológicos fundamentais que jogam fortemente contra o governo. A mídia, com seu terrorismo econômico e denuncismo seletivo e reiterado, o Congresso com seu cerco fisiológico sobre o governo.
A combinação desses fatores gerou as condições da crise atual. A eles se acrescenta um diagnóstico errado do governo, que o tem levado na direção oposta da forma como atuou na crise de 2008, levando a cortes reiterados de gastos, que só aprofundam e prolongam a recessão, isolando ainda mais o governo das suas bases populares, tornando-o mais frágil e mais prisioneiro da direita. O mercado, como se viu esta semana, vai sempre querer mais sangue, sempre vai impor novos cortes, que levam a novos cortes. O governo fica assim prisioneiro do mercado e da direita. Entrou no despenhadeiro interminável de responder à direita e ao capital especulativo com mais cortes, que é o que eles pedem.
O governo faz tudo isso, mas foi rebaixado pelas agências de risco, prevê recessão pelo menos até o fim de 2016, a inflação persiste, o desemprego aumenta. Um ano e meio a mais de clima de pessimismo e de deterioração dos índices sociais é a pior perspectiva possível. O ajuste nunca leva à retomada econômica, ao contrário, leva a mais recessão, com mais desemprego.
Esse não é o caminho com que reagimos vitoriosamente à crise de 2008, recuperando o pais da crise, retomando o desenvolvimento e aprofundando as políticas de distribuição de renda, ao invés de cortar recursos das políticas sociais. Assim, o caminho oposto é que deveria ser trilhado.
Reabrir créditos para reativar a economia, terminar de vez com cortes nos recursos das políticas sociais e nos custos do governo, taxar as grandes fortunas, combater dura e abertamente a sonegação. Além de propor um plano de saída da crise, coerente com esse projeto de retomada do crescimento econômico, sem ficar sujeito às iniciativas da oposição e de outros setores adversos ao governo, que cobram mais concessões políticas em troca do fim do risco do impeachment.
Não se é governo sem ter capacidade de iniciativa política, senão se é governado pelos outros, só se reage às ofensivas reiteradas do capital especulativo e da direita política. Falta coordenação política para isso e um plano econômico que não assopre na direção da tempestade mas que, ao contrário, mediante medidas anticíclicas, resista a ela. A via adotada só aprofunda a necessidade de mais cortes, a recessão, o isolamento e a fragilidade do governo. Com todos os cortes, não se impediu o rebaixamento da avaliação do governo e o retorno à ofensiva sobre o impeachment. Além de não se superar a recessão, com mais desemprego.
Essas são as raízes da crise presente. Um diagnóstico errado sobre ela levou ao pacote de ajuste, socialmente injusto, economicamente ineficaz e politicamente desastroso. Sem uma virada no plano econômico, o governo não terá mínimas condições de enfrentar a crise política, que se expressa na ofensiva permanente sobre ele. Desde dezembro o governo colocou a agenda do ajuste e nunca mais pôde sair dela. Já é tempo de fazer um balanço dos seus resultados, que só pioraram a situação, e dar uma virada no governo, a partir das experiências positivas do passado.
Aceitar os erros não revela fraqueza. Fraqueza é ceder interminavelmente às pressões conservadoras. Grandeza é reconhecer os problemas, os erros cometidos e dar uma virada econômica e política. É aprender do passado, para superar a crise presente e projetar um futuro de continuidade e não de ruptura com os governos iniciados em 2003. Não se pode colocar em risco tudo o que foi construído desde então, pela insistência equivocada no caminho oposto ao trilhado no passado.
Entre as razões estruturais estão a desindustrialização promovida pela abertura escancarada do mercado interno feita pelos governos Collor e FHC, que além de enfraquecer o poderio industrial do pais, gerou a dependência da exportação de produtos primários. Por outro lado, paralelamente, não se alterou o papel hegemônico do capital financeiro, que reproduz a especulação como fenômeno central no processo de acumulação de capital.
Além desses fatores econômicos, com todas suas consequências no plano social e político, o governo não avançou nem na democratização dos meios de comunicação, nem no fim do financiamento privado das campanhas eleitorais. Não afetou assim dois elementos políticos e ideológicos fundamentais que jogam fortemente contra o governo. A mídia, com seu terrorismo econômico e denuncismo seletivo e reiterado, o Congresso com seu cerco fisiológico sobre o governo.
A combinação desses fatores gerou as condições da crise atual. A eles se acrescenta um diagnóstico errado do governo, que o tem levado na direção oposta da forma como atuou na crise de 2008, levando a cortes reiterados de gastos, que só aprofundam e prolongam a recessão, isolando ainda mais o governo das suas bases populares, tornando-o mais frágil e mais prisioneiro da direita. O mercado, como se viu esta semana, vai sempre querer mais sangue, sempre vai impor novos cortes, que levam a novos cortes. O governo fica assim prisioneiro do mercado e da direita. Entrou no despenhadeiro interminável de responder à direita e ao capital especulativo com mais cortes, que é o que eles pedem.
O governo faz tudo isso, mas foi rebaixado pelas agências de risco, prevê recessão pelo menos até o fim de 2016, a inflação persiste, o desemprego aumenta. Um ano e meio a mais de clima de pessimismo e de deterioração dos índices sociais é a pior perspectiva possível. O ajuste nunca leva à retomada econômica, ao contrário, leva a mais recessão, com mais desemprego.
Esse não é o caminho com que reagimos vitoriosamente à crise de 2008, recuperando o pais da crise, retomando o desenvolvimento e aprofundando as políticas de distribuição de renda, ao invés de cortar recursos das políticas sociais. Assim, o caminho oposto é que deveria ser trilhado.
Reabrir créditos para reativar a economia, terminar de vez com cortes nos recursos das políticas sociais e nos custos do governo, taxar as grandes fortunas, combater dura e abertamente a sonegação. Além de propor um plano de saída da crise, coerente com esse projeto de retomada do crescimento econômico, sem ficar sujeito às iniciativas da oposição e de outros setores adversos ao governo, que cobram mais concessões políticas em troca do fim do risco do impeachment.
Não se é governo sem ter capacidade de iniciativa política, senão se é governado pelos outros, só se reage às ofensivas reiteradas do capital especulativo e da direita política. Falta coordenação política para isso e um plano econômico que não assopre na direção da tempestade mas que, ao contrário, mediante medidas anticíclicas, resista a ela. A via adotada só aprofunda a necessidade de mais cortes, a recessão, o isolamento e a fragilidade do governo. Com todos os cortes, não se impediu o rebaixamento da avaliação do governo e o retorno à ofensiva sobre o impeachment. Além de não se superar a recessão, com mais desemprego.
Essas são as raízes da crise presente. Um diagnóstico errado sobre ela levou ao pacote de ajuste, socialmente injusto, economicamente ineficaz e politicamente desastroso. Sem uma virada no plano econômico, o governo não terá mínimas condições de enfrentar a crise política, que se expressa na ofensiva permanente sobre ele. Desde dezembro o governo colocou a agenda do ajuste e nunca mais pôde sair dela. Já é tempo de fazer um balanço dos seus resultados, que só pioraram a situação, e dar uma virada no governo, a partir das experiências positivas do passado.
Aceitar os erros não revela fraqueza. Fraqueza é ceder interminavelmente às pressões conservadoras. Grandeza é reconhecer os problemas, os erros cometidos e dar uma virada econômica e política. É aprender do passado, para superar a crise presente e projetar um futuro de continuidade e não de ruptura com os governos iniciados em 2003. Não se pode colocar em risco tudo o que foi construído desde então, pela insistência equivocada no caminho oposto ao trilhado no passado.