A confissão do Procurador
Por
Carlos Antonio Lozada.
Integrante
do Secretariado das FARC-EP.
A
intervenção do Procurador Ordoñez no Congresso Nacional de
Comerciantes em Cartagena tem o mérito de revelar as verdadeiras
causas que o levam a opor-se cegamente ao processo de paz.
Até
agora, para se opor aos diálogos, o funcionário sempre tinha falado
em nome das vítimas e da sociedade, tal como o faz a cada vez que
expressa sua opinião pessoal frente a temas de interesse geral para
o país, como o aborto, os direitos da comunidade LGBTI, a
legalização da maconha com fins terapêuticos, as relações entre
Colômbia e Venezuela etc; ou para perseguir, abusando descaradamente
de suas funções, funcionários públicos com ideias políticas
alternativas ou opiniões diferentes de sua doutrina confessional.
“Eu
quero que se firme a paz e que se firme rápido, porém não a
qualquer preço”, assegura, e, no tópico seguinte, deixa ver seus
temores, tratando por sua vez de assustar os assistentes ao
Congresso, com o fantasma do que ele chama “políticas populistas”
e os remete às declarações das FARC-EP em relação a terras,
mineração, petróleo e tratados de livre comércio.
Continua
o Procurador Ordoñez revelando a seu auditório o que considera um
mistério: “Ingênuos os que pensam que com o desaparecimento dessa
guerrilha como aparelho armado termina tudo. Não. Pelo contrário,
desde seu ponto de vista, se inicia uma nova fase de luta que
persegue os mesmos objetivos de sempre, agora amparados pela
legalidade”.
E
finalmente confessa Ordoñez: “flagelos como a desigualdade, a
pobreza, a corrupção e a falta de confiança na institucionalidade
tornam a Colômbia propensa ao denominado “socialismo do século
XXI”; “Insisto. Necessitamos, queremos, apoiamos que se chegue a
um acordo com as guerrilhas, porém não podemos ser cegos sobre o
que isso pode significar para o regime democrático, as liberdades e
a iniciativa privada”.
Depois
de ler suas palavras, poderíamos nos sentir isentos de fazer
qualquer precisão mais além de que se trata do velho, porém eficaz
método de utilizar o medo para mobilizar [imobilizar?] a opinião,
desta vez com o fantasma do “socialismo do século XXI”.
Pelo
demais, não lhe falta razão a Ordoñez, a firma de um tratado de
paz deve iniciar “uma nova fase de luta”, por meios civilizados,
acrescentaríamos nós outros, entre aqueles que, por terem tudo,
defendem o que ele denomina “o regime democrático, as liberdades e
a iniciativa privada”, frente aos que sentimos a necessidade de um
novo regime político que acabe com “flagelos como a desigualdade,
a pobreza, a corrupção”, entre outros graves problemas que mantêm
doente a sociedade colombiana, recuperando assim a legitimidade
institucional, base fundamental para a convivência democrática.
Senhor
Ordoñez, a ameaça não somos os que desejamos e trabalhamos pela
paz com justiça social, democracia e soberania para nosso povo; a
ameaça são aqueles que desejam e se esforçam em perpetuar a guerra
com todos os seus horrores; porque, graças a ela, podem manter a
entrega das riquezas naturais do país às transnacionais, o regime
de dominação política, a exploração econômica e a
marginalização impiedosa dos colombianos humildes.
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Equipe
ANNCOL - Brasil