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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Frei Betto: O povo cubano, heroicamente, resistiu ao bloqueio



Uma alegria estar em Cuba, disse o destacado intelectual brasileiro e teólogo da libertação ao comentar a visita do Papa Francisco
·          
por Juana Carrasco 

19 de Setembro de 2015 
Para mim é uma alegria estar em Cuba por ocasião da visita do Papa Francisco; com esta categórica frase iniciou o reconhecido teólogo da libertação e intelectual brasileiro Frei Betto seu encontro com dezenas de jornalistas nacionais e estrangeiros na Sala de Imprensa instalada no Hotel Nacional de Havana para o importante evento.
Poucos países da América latina tiveram a oportunidade de receber a visita de três Papas em tão breve espaço de tempo, os três últimos, e isto desperta ciúmes de alguns países com maior população católica, assegurou, fazendo referência a que só o Brasil é a outra nação que teve esta honra, significando a importância que se concede a um país de grande religiosidade como a maior das Antilhas, «ainda que não é um país predominantemente católico».
Mais adiante catalogaria esta visita como um «presente ao povo de Cuba», como também é um presente ao povo estadunidense a visita que realizará a esse país de 22 a 28 de setembro. «Uma visita que será mais complicada», afirmou sobre essa segunda etapa deste giro papal, porque assinalou que «estão em processo eleitoral».
Frei Betto assinalou em suas breves palavras introdutórias da rodada de imprensa, na qual foi «assediado» por numerosas perguntas, que Francisco é um Papa que está fazendo uma revolução dentro da Igreja Católica, continuando o que fez em seu momento João XXIII, e mencionou a encíclica Louvado seja o Senhor, onde abordou com profundidade os problemas meioambientais, suas causas, e como a deterioração do habitat humano afeta com peso maior aos mais pobres deste mundo.
Impacta sua aproximação com os pobres, assegurou Frei Betto sobre o Sumo Pontífice, porque «tem a fé de Jesus».
Em resposta a uma primeira pergunta, indagatória que o levou a seu livro Fidel e a Religião, o destacado intelectual relembrou que em abril deste ano esteve também na Ilha para o 30º aniversário da entrevista que fizera em 1985 com o Líder da Revolução. Cuba, afirmou, um país com 11 milhões de habitantes, publicou uma edição de 1 300 000 [um milhão e trezentos mil!-n.t.] exemplares, para dar a entender o interesse do tema entre os cubanos, «um povo muito religioso, não propriamente católico», o que disse, se parece com a Bahia, no Brasil, onde há uma mistura de catolicismo com religiões de origem africana.
Ressaltou que efetivamente houve desavenças entre a Revolução e a Igreja Católica nos primeiros anos depois do triunfo de 1959, porém não com as igrejas cristãs. Aludiu a que poucos relembram que na Sierra Maestra houve um sacerdote católico, o padre Sardiñas, quem foi Comandante da Revolução, e o Papa lhe autorizou a utilizar uma batina verde-oliva.
Frei Betto assinalou que no início da Revolução muitos católicos se opuseram às mudanças em Cuba e que um padre levou 14.000 crianças para os Estados Unidos «porque disse que aqui iria se quitar a pátria potestade», em alusão ao que se conheceu historicamente como a Operação Peter Pan.
O livro Fidel e a Religião extirpou o mito e os preconceitos de católicos e comunistas, pontualizou, ao tempo em que nessa característica sua de exemplificar com fatos e anedotas, disse que a festa de São Lázaro, a mais massiva manifestação religiosa em Havana, que é o 17 de dezembro, coincidiu com o dia do anúncio pelos Presidentes Raúl e Obama do propósito de restabelecer as relações, o que considerou «um milagre de São Lázaro», e o dia do aniversário do Papa Francisco.
Frei Betto recordou seu primeiro encontro com Fidel em Nicarágua e suas perguntas de então e as reflexões do Comandante. O Estado e o Partido Comunista de Cuba destacaram mais tarde sua condição de laicos, relembrou.

O Papa e a nova esquerda latino-americana
Teria que perguntar ao Papa Francisco sua opinião sobre as esquerdas latino-americanas, assim começou sua resposta sobre o particular e refletiu que há muitos Governos progressistas ou da nova esquerda, «e a que conheço está muito feliz com o Papa Francisco» por sua opção pelos pobres e sua denúncia das causas das injustiças e não só dos efeitos.
Nenhum Papa foi tão contundente como Francisco em sua encíclica Laudato Si, onde afirma que o preço mais pesado da degradação ecológica é pago pelos pobres, reiterou.
Em relação à posição do Sumo Pontífice quanto ao bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba e o processo de relações de ambas as nações, assegurou Frei Betto que «fez demasiado como estadista», em forma discreta e com muita habilidade.
Há um reconhecimento do Papa Francisco à soberania e a independência de Cuba pelo fato de vir primeiro a Cuba e depois aos Estados Unidos, assegurou, relembrando que quando da visita de Benedito XVI houve muita pressão por parte do então presidente Bush para que não viesse e em seguida que condenasse a Revolução, e o Papa «esteve cinco dias aqui e reconheceu os valores e conquistas da Revolução».
Agora vem Francisco, disse, num momento em que Obama reconheceu o fracasso do bloqueio, num discurso que, destacou, ele compara com o do ex-presidente estadunidense que reconheceu a derrota no Vietnã.
«Este povo, heroicamente, resistiu ao bloqueio», reafirmou Frei Betto, e acrescentou que esse bloqueio foi condenado pelos bispos cubanos e pelos Papas João Paulo II e Benedito XVI e agora tem feito Francisco.
Fazendo referência ao encontro que manteve com Fidel no último abril e o refletido com ele, afirmou que Obama mudou seus métodos, ainda tem que mudar seus objetivos. Tem que extinguir o bloqueio e devolver Guantánamo. Por que o Papa Francisco vai a Holguín?, se perguntou Frei Betto, por causa da sua proximidade com a Base Naval de Guantánamo, «há que observar seu discurso ali», alertou.
Relembrou as palavras de João Paulo II quando disse aqui «Eu espero que Cuba se abra ao mundo e o mundo se abra a Cuba», e isso tem sucedido, considerou.
Abordou também a postura do Papa Francisco sobre a Teologia da Libertação, sobre a qual, disse, outros Papas fizeram advertências, porém nunca foi condenada. Agora estamos em luz verde, utilizando uma analogia com as luzes do trânsito para caracterizar a atualidade acerca do apoio da Teologia da Libertação à luta das comunidades por seus direitos.
«O Papa está no caminho de Jesus», destacou, e relembrava que aqueles que seguem essa posição junto aos mais pobres somos filhos de um prisioneiro político, de quem esteve preso, foi torturado e condenado a morrer numa cruz por isso, e não morreu de uma queda de um camelo numa esquina de Jerusalém, ironizou Frei Betto para significar qual é o caminho de Jesus. A Igreja tem o papel de preservar os verdadeiros valores e direitos humanos.
Acerca do que pode ocorrer em Cuba com o restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos, disse que não tinha uma bola de cristal, porém que, com a chegada de tanto turista, haveria um choque entre o tsunami consumista e os valores da austeridade cubana, destacando que muitos americanos querem comprar tudo e querem viajar pelo mundo sem sair dos Estados Unidos, com seus hotéis e lojas em cada esquina.
Afirmou Frei Betto que o cubano é um «povo que desenvolveu valores evangélicos, que são valores humanos; a solidariedade, compartilhar os bens», e agradeceu a Deus que seus dois líderes históricos estejam vivos até hoje. Fez referência especial às boas relações de ambos com a Igreja e ao que chamou a admiração recíproca entre o Cardeal Jaime Ortega e o Presidente Raúl Castro.
«Um povo, destacou Frei Betto, que tem orgulho de defender sua Revolução e seus valores», reafirmou, ao mesmo tempo em que advertia seu desejo de «que este consumismo não danifique a austeridade cubana».
Como epílogo de suas respostas à imprensa, se referiu a uma das atividades do Papa Francisco neste giro por Cuba e Estados Unidos: o Congresso da Família na Filadélfia.
Também afirmou que há fronteiras físicas e virtuais, fronteiras da segregação e da discriminação que se veem na África, por exemplo, e provocam a imigração; e em referência a nosso país certificou que não foi Cuba que dividiu a família, mas sim a hostilidade permanente dos Estados Unidos e o bloqueio.
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Lista de correo diariodeurgencia de Resumen Latinoamericano
Tradução de Joaquim Lisboa Neto