"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 12 de setembro de 2015

Porque Santos é Uribe, que América Latina não frustre a Venezuela



por Carlos Aznárez


Se há um aspecto positivo dos graves acontecimentos que levaram o presidente venezuelano Nicolás Maduro a bloquear de ponta a ponta a fronteira com a Colômbia é que Juan Manuel Santos colaborou ativamente em se desmascarar ante aqueles que ainda tinham dúvidas sobre seu real perfil repressor e de estreita ligação com a reacionária burguesia colombiana. Nestes dias, a Santos “se lhe soltou a cadeia” [como dizemos na Argentina] e lhe brotou à cara descoberta sua autêntica veia uribista, aquela que brilhava por todo o alto quando desempenhava como ministro de Defesa do grande papa do narcotráfico e do paramilitarismo.
Agora, como naqueles anos de chumbo para os setores populares, Santos investe contra a Venezuela Bolivariana, ludibria suas políticas inclusiva, despreza a gigantesca acolhida com que Hugo Chávez Frías, primeiro e, agora, Maduro receberam a mais de 6 milhões de colombianos, aos quais lhes entregaram sua respectiva carteira de identidade e os tornaram proprietários de 180 mil casas das 800 mil que o socialismo bolivariano ajudou a construir
Raivoso, Santos ameaçava a torto e a direito ao povo venezuelano, porém, por elevação estende sua advertência guerreirista contra Equador, Bolívia e quanto país não comungue com seus padrões de Washington, esses aos quais lhes enaltece sua permanência numa dezena de bases militares. Com seu comportamento atual, Santos relembra aquele que em 2006 envergou roupas militares e não as tirou até 2009, acompanhando a Uribe Vélez em autênticos massacres de moradores, aos quais se lhes aplicou a “lei de falsos positivos”, contabilizando-os como “baixas da guerrilha”. Suas tropas [as “legais”] não lhe faltaram em operações combinadas com os militares dos EUA e assessores israelenses, tentando desmantelar os acampamentos insurgentes. Só basta recordar os gestos e ditos de Santos festejando com seus rapazes a invasão a território equatoriano para bombardear o lugar de onde o Comandante guerrilheiro Raúl Reyes fazia esforços para alcançar a abertura de conversações de paz. Seu corpo, aniquilado pelas bombas santistas, foi a mais dramática imagem das intenções pacificadoras de Uribe e seu ministro de Defesa. Nem o que falar do outro “exército”, o da motosserra e das invasões sangrentas aos povoados campesinos. Essas Autodefesas paramilitares amparadas por Uribe, porém toleradas até a saturação por Santos e seus generais. Ali e não em outro lado estão as razões dos milhares de assassinados e milhões de deslocados, muitos dos quais foram recebidos em Venezuela como irmãos de sangue e de história. Como desejava Simón Bolívar, o pai de todos eles de ambos os lados da fronteira.
Houve um momento confuso em todo este processo conflitivo entre Colômbia e Venezuela, e se deu quando nas últimas eleições Santos se disfarçou de pomba da paz [o poeta universal Rafael Alberti, desde o mais além, estará amaldiçoando-o], e se ofereceu a próprios e estranhos como o homem que podia frear o avanço uribista. Foram momentos complicados para um setor da esquerda colombiana e não poucos irmãos de similar pensamento no continente. Como costuma ocorrer, se impôs a tática de “votar no menos pior”, ou, como observara um dirigente popular: “Se Uribe ganha, nos executam no dia seguinte; com Santos duramos um ano”. Porém, o menos mau geralmente sempre termina demonstrando que não traz nada bom. E assim foi neste caso. Santos espantou a branca pomba de uma bofetada e subiu com tudo ao mais alto de sua natureza prepotente e cínica.
Santos é Uribe e Uribe é Santos. Não tenhamos dúvida disso. São parte da mesma política de acumulação capitalista e pró-imperialista que a Colômbia suporta desde há décadas. De vez em quando se confrontam e até aparentam uma aversão definitiva, porém a ambos os segue unindo o temor que eles mesmos provocam sobre a população campesina, operária e estudantil do país. Ou, por acaso, se diferenciaram na hora de reprimir aos milhares de mobilizados durante as últimas paralisações agrárias? Ou houve desencontros entre eles quando se tratou de enviar à prisão dirigentes populares como Hubert Ballesteros, aos militantes da Marcha Patriótica ou os recentes jovens lutadores do Congresso dos Povos? Ou alguém crê de boa-fé que um ou outro não estão por trás das manobras de corrupção, lavagem de dinheiro e outras graciosidades que terminou com grande parte de ministros dos últimos gabinetes e figuras parlamentares submetidos a julgamento ou enviados ao cárcere?
Tampouco pensam diferente Álvaro e Juan Manuel sobre o futuro de Venezuela, e nestes dias Santos se encarregou de reafirmá-lo, quando ameaça em levar as autoridades do país irmão aos Tribunais internacionais para julgá-las “por crimes de lesa-humanidade”, ou atiça a brasa buscando a queda do governo bolivariano e chavista para que os John Kerry ou os Obama de turno se apoderem do petróleo que tanto os atrai.
A escalada santista-uribista não se dá em qualquer momento. Coincide com a ofensiva política, econômica e militar imperialista no continente, com o desembarque de marines no Peru, com as estreitíssimas relações militares entre Paraguai e Uruguai com os Estados Unidos, que derivaram no assessoramento in situ, e em grandes manobras bélicas. Assim aparecem na superfície programas como o Capstone [recentemente firmado por generais e almirantes ianques com seus pares paraguaios], ou as operações de “capacitação conjunta” de expertos militares estadunidenses com fardados do Uruguai de Tabaré Vásquez. Precisamente, o mandatário que se comunicou com Santos –não com Maduro- para se oferecer como mediador no conflito fronteiriço.
Porém, ademais, e isto é fundamental, por trás de toda esta furiosidade do governo colombiano subjaz a intencionalidade de mais cedo que tarde chutar o tabuleiro da paz que subsiste em Havana. A Santos não lhe interessa uma paz com justiça social como aspiram as FARC, o ELN e a grande maioria do povo colombiano. Dali que qualquer desculpa, motorizada pelo próprio estabelecimento do Palácio Nariño, lhes possa servir para suas intenções.
Neste marco de gravidade que assedia a Revolução Bolivariana, não cabem meias-tintas, e é por isso que a decisão –ainda que tardia- tomada pelo presidente Maduro de bloquear a fronteira deve ser respaldada por todos os povos do continente. Porém, também por suas instâncias integradoras, como Unasul e Celac, as quais há que ajudar a desintumescer.
Se trata de uma razão de autodefesa lógica, apresentada por um país ao qual lhe estavam roubando gota a gota sua economia mediante uma guerra não declarada porém efetiva. Se trata de uma medida sanitária que busca destruir os bolsões de paramilitarismo e morte implantados pelo santismo-uribismo à margem de Táchira, Zulia ou em infinidade de trincheiras das grandes cidades venezuelanas.
Uma nação que todos estes anos esbanjou solidariedade com cada povo ou governo que a necessitasse, com suas missões de saúde, de alfabetização ou com esse projeto fundamental que é Petrocaribe não merece esta infâmia, como tampouco a de receber as críticas de ONGs que se autoqualificam de “defensoras de direitos humanos”, como o CELS e a CGIL da Argentina ou a decididamente golpista PROVEA de Venezuela. Sem dúvida, o lobby “democrata” gringo não perde tempo em juntar mais lenha ao fogo.

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Tradução de Joaquim Lisboa Neto