Colômbia: Capitão do exército afirma que Uribe ditava ordens para cometer assassinatos junto às AUC
Por
El inciso.com-Las dos Orillas / Resumen Latinoamericano/
Afirma
que a sugestão de fazer parte dos paramilitares foi de um superior
seu: “foi meu superior, que descanse em paz, Salazar Arana, que foi
comandante do GAULA do Atlântico nessa época”, disse ‘101’.
Em seu extenso relato, colido no vídeo que acompanha este artigo,
Guevara Cantillo defende que o regime de execuções extrajudiciais,
conhecidas como “falsos positivos”, foi uma implacável “política
de Estado” da qual ele fez parte, e a descreve de forma incisiva e
detalhada, com documentos em mãos.
Revela
que, por intermédio do general Mario Montoya, recebeu do então
presidente da Colômbia Alvaro Uribe Vélez ordens para cometer
assassinatos e descreve uma intima e eficiente relação criminosa
entre as forças armadas do Estado e dos exércitos do crime
organizado de extrema direita.
A
entrevista de Guevara Cantillo foi feita em setembro passado, na
prisão Nacional Modelo, de Barranquilla, e somente foi revelada
agora, após múltiplas comprovações e consultas a fontes
militares, jurídicas, diplomáticas, civis e criminosas, feitas
pelos autores deste artigo.
As
execuções extrajudiciais que este paramilitar confessa em um relato
franco e arrepiante, hoje fazem parte das estatísticas dos
“triunfos” na guerra contra as FARC que o ex-presidente Uribe
continuou reivindicando, inclusive em sua campanha eleitoral em que
chegou ao Senado à frente de uma organização política de extrema
direita, da qual é ideólogo principal o primo irmão do
narcotraficante Pablo Escobar Gaviria, José Obdulio Gaviria.
O
ex-capitão Guevara (‘101’) também acusa de cumplicidade nos
falsos positivos o coronel Édgar Iván Quiñones Cárdenas, atual
subcomandante da Nona Brigada do Exército, que foi chefe e superior
direto do denominada ‘101’. Segundo Guevara (‘101’), o
coronel Quiñones coordenava os alvos das execuções extrajudiciais
com informação de seus cúmplices paramilitares, assinava as
legalizações falsas daqueles que faziam passar por mortos caídos
em combate, e obtinha o armamento que o capitão Guevara (‘101’)
colocava junto de seus cadáveres depois de assassiná-los.
Em
poucas palavras, o que o ex-capitão Guevara (‘101’) revela em
seu testemunho é que o general Mario Montoya e, por vezes, o
Presidente Uribe Vélez pediam os falsos positivos; o então major
Quiñones (hoje coronel) se encarregava da logística e sua
legalização, e o capitão Guevara (‘101’) os assassinava.
O
general Mario Montoya, a quem se refere Guevara Cantillo de maneira
intensa, tem inumeráveis acusações por crimes de guerra e outras
atrocidades que lhes foram confiadas ao longo de sua controversa
carreira militar.
Guevara
Cantillo comandou as forças de “Jorge 40” nos departamentos de
Cesar, Magdalena e Guajira, em estreita coordenação com o Exército
e a Polícia da Colômbia. Aposentou-se de maneira voluntária, sem a
menor mancha em seu currículo, apesar dos incontáveis crimes de
lesa humanidade que cometeu com o beneplácito e, na maior parte das
vezes, a pedido daqueles que foram seus chefes militares.
O
chefe paramilitar de Guevara Cantillo, “Jorge 40”, atualmente se
encontra preso nos Estados Unidos, onde cumpre uma pena por
narcotráfico e se encontra próximo a regressar à Colômbia.
Ao chegar, será posto à disposição da justiça nacional, que o
reclama. Deverá confessar a totalidade de seus crimes para
permanecer dentro do Justiça e Paz e conseguir que em nenhum caso
seja condenado a mais de 8 anos de cárcere pela totalidade dos
centenas de milhares de homicídios que cometeu, assim como outros
delitos de lesa humanidade.
Guevara
Cantillo é sobrinho do ex-general do Exército, Antonio José Ladrón
de Guevara.
Em
seu testemunho, ‘101’ fala, entre outros temas, sobre:
– O
general Mario Montoya. “Essas
eram as políticas de Mario Montoya: ‘deem como baixa, deem como
baixa, não me tragam capturados. E se não tiver baixas (sic), vejam
para ver como fazem’. Essas eram as palavras dele”.
– Os
falsos positivos. Sobre a pergunta acerca das ordens recebidas do
general Montoya para cometer homicídios, cumpridas por ele, ‘101’
responde: “Sim, claro, todos os falsos positivos”.
– A
cumplicidade do exército e dos paramilitares. “Meu comando
‘(Jorge) 40’ mandava-me as tropas dele de autodefesas, e eu as
passava como tropas de Exército. Ia ao combate com a guerrilha
dirigindo unidades de autodefesa. (…) Todo o mundo sabia. Nessa
época, eu era tenente e um tenente não é uma roda solta”.
– Ordens
de assassinato dadas por Álvaro Uribe Vélez. “O Tijera matou o
prefeito da Zona Bananera, um senhor Avendaño. A partir desse
momento, [o Presidente Álvaro] Uribe deu a ordem. Era preciso matar
Tijera, tínhamos que matar Tijera. A ordem foi dada ao [general
Mario] Montoya. Montoya a deu à [Édgar Iván] Quiñónez: tem que
matar Tijera. Montoya estava desesperado com isso”.
Tradução:
Partido Comunista Brasileiro (PCB)