"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

As “desmobilizações” são uma farsa

Denuncia um desertor. O que há de concreto nas freqüentes desmobilizações massivas de guerrilheiros? Qual é o papel de charlatães e agentes do Exército, tipo Olivo Saldaña, nessas farsas, de cunho publicitário? Como funciona esse emaranhado sob a orientação da Oficina do Alto Comissariado de Paz? Saldaña, como deve ser lembrado, foi o que “entregou”

...uma coluna de supostos guerrilheiros, com uniformes novos e recém bordados, assim como um avião que depois foi revelado que era uma aeronave cedida, anos atrás, à uns narco-traficantes no norte do país. VOZ contactou um desertor das FARC, que fez revelações muito interessantes.

- Quem é você?

- Sou re-inserido das FARC, militei durante cerca de 10 anos nessa organização, nas frentes 12 e 46 do Médio Magdalena, chegando ao posto de comandante de guerrilha; no mês de abril de 94 desertei e me entreguei ao Exército Nacional.

- Por que desertou?

- Os motivos da deserção foram estritamente pessoais, pois havia cometido vários erros e pensavam em me submeter à um conselho de guerra no qual seguramente sairia com a ordem de fuzilamento, por tal motivo, me entreguei ao Batalhão Del Huyer de San Vicente de Chucurí, entrega na qual me arrependi, não da deserção, mas de passar a trabalhar com o Exército.

- Por que?

- Nessa época, o Exército não legalizava a situação dos que se entregavam, mas se colaborássemos nos contratavam como pessoal civil inscrito (sic) às Forças Militares, como tal, patrulhei como guia do Batalhão Guane durante anos, nas áreas de San Vicente, El Carmen e o rio Opón (Baixo Simacota).
Posteriormente, fui contactado pela rede de inteligência da Quinta Brigada, na qual estivo durante 5 anos como informante na cidade de Bucaramanga e como analista primário de informação, depois da raiz de trocas nas redes de Bucaramanga fui deixado de lado, e me dediquei à minha vida, ainda que claro, quer queira, quer não, o passado sempre aparece; ocasionalmente me contactavam para que lhes ajudasse a processar a informação, e à parte disso, dediquei-me a estudar (técnico em sistemas) e a trabalhar na área.

A farsa dos desmobilizados

- Que relação você tem com outros desertores?

-Há dois anos fui contactado por antigos farianos, como Rodrigo (“El Cabeção”) do 12, Henry do 24 e inclusive estive reunido com enviados de Biófilo e Olivo Saldaña, os mesmos que conduziram a desmobilização da coluna no Tolima, obviamente esses contatos se produziram com o consentimento da Brigada, a intenção desses contatos era sempre convidar-me para participar dessas desmobilizações, queriam que eu, que conhecia os re-inseridos no Médio Magdalena, organizasse uma frente que entrasse em processo de negociação com o Estado. O que basicamente queriam era que eu contactasse gente que havia desertado, mas não havia se apresentado diante das autoridades, não são muitos, mas existem, porque tem gente que volta da guerrilha por cansaço ou porque se traem por dinheiro, mas que tampouco querem passar para o lado inimigo. Nisso estive pressionando alguns dos familiares dos presos de Palogordo, onde há vários comandantes que não aceitaram. Todo esse trabalho era centralizado desde Bogotá por Olivo, Biófilo e outros caras, a partir de uma oficina localizada na avenida 8 com a rua 19, sob a fachada de uma ONG chamada Fundação Paz Mundial, Frente Ampla de Reconciliação e Convivência Esperança de Paz. Inicialmente aceitei, levado pela ambição, porque a grana sempre flui, e por isso avançamos nesse processo, o que permitiu conhecer o plano em seus elementos gerais. Tínhamos já um grupo de 25 antigos guerrilheiros, a maioria re-inseridos e outros que haviam saído e queriam agora legalizar sua situação e receber o bilhete que nos era oeferecido. Alguns de nós fomos a San Vicente e selecionamos um setor onde antigamente operou a frente 12, a vereda Llana Fria, para quando nos dessem a ordem deslocássemos de lá, para receber armas, uniformes, deslocássemos um pouco e em uma área determinada nos entregássemos diante do doutor que dirige a oficina de paz do Governo. Sabíamos que era em uma ocasião especial, mas não tínhamos a idéia do por quê.Só depois de algumas doses com um dos que vinha de Bogotá foi que ele soltou a língua e me contou alguns detalhes de tudo o que estava em jogo e ao que, segundo me disse, o Presidente dava muita importância.

A “generosidade” de Uribe

- Você foi um dos escolhidos para a liberação anunciada pelo presidente Uribe no ano passado?

- O presidente Uribe falou no mês de maio e anunciou a liberação de um grupo de presos das FARC e alegou que o fazia por razões de Estado. Colocando uma data (7 de junho) que finalmente passou e nada. O que aconteceu foi que em macha era um plano de operações psicológicas para mostrar uma suposta divisão das FARC, nós deveríamos estar em disposição de nos “entregarmos” em Santander, outros grupos na costa, outros em Antioquia, mas o mais importante, as Forças Militares tinham um grupo atuando sobre o Valle del Cauca, onde haviam contactado alguns intermediários da frente 30, eles deram a informação sobre a localização dos deputados, a intenção era que um grupo de forças especiais que atuaria sem insígnias do Exército, daria um golpe surpresa, para recuperar os seqüestrados, mas não os apresentariam como ação das Forças Militares, mas que os deputados se entregariam à um grupo de re-inseridos, que imediatamente com as forças especiais camufladas entre eles, procederiam a “contactar” a oficina de paz e entregar-se, para que ao realizarem a entrega, parecesse que metade das FARC estivesse cansada da guerra e tivesse se re-inserido, entregando os detidos.

- E o que aconteceu no Valle del Cauca?

- Ao que me parece as coisas no Valle se embananaram, e o que devia acontecer no dia 7 de junho, que era a recuperação e quando apareceríamos como dissidentes das FARC, não pôde ocorrer, com os resultados já conhecidos. Quando as coisas se abortaram, os principais impulsores do projeto desapareceram, não nos pagaram o dinheiro prometido, alguns desertores morreram em condições estranhas, e tenho informação de que o Estado Maior do Bloco do Médio Magdalena, se interou do assunto, e anda atrás de alguns de nós.

- Você tem medo?

-Sim, porque estou em perigo. Já que não são uns, são outros, e sei que na Brigada desconfiam de mim e apenas isso já significa aparecer morto em qualquer buraco, por isso, estou escondido e penso em fugir do país. Minha intenção não é me apresentar à nenhuma autoridade, pois seria a minha palavra contra a de agentes do Estado, e na cadeia podem se livrar mais fácil de mim.