Outra vez E-5
Carta aberta do reporter Dick Emanuelsson à revista Semana
18-02-2008 / Os terroristas provocadores do Estado colombiano não se cansam. O Departamento de inteligência E-5 do exército municia, facilita e entrega aos meios de comunicação “Idiotas Úteis” (IU) que colocam de lado os princípios jornalísticos (se é que ainda lhes restavam alguns) para formar fila frente aos seus comandantes e apresentar aos consumidores deste cozido de frios um relato que confirma que existe uma Frente Européia das FARC.
Eles têm merecido a honra de figurar outra vez nas colunas dos meios de comunicação dos magnatas Santodomingo, Santos e Ardilas Lüles. O “jornalista oculto” da Semana, sob o título “A guerrilheira holandesa em DVD?” [1] diz o seguinte sobre um filme que se produziria nas selvas colombianas:
“O trabalho será realizado, à cargo das Farc, por um documentalista chileno radicado na Holanda que se faz chamar Ivan van der Boer. O roteiro teria sido aprovado por 'Raúl Reyes'. As ligações da guerrilha para sua pós-produção na Europa, também neste caso, permanecem as habituais: um correspondente suéco chamado Dick Emmanuelson, que trabalhou na Colômbia por mais de 20 anos e é co-fundador da Anncol, estabelece os contatos com a imprensa europeia e coordena a produção do documentário na Europa.
De onde Semana desencavou isso?
A verdade é que entro em contato semanalmente com pessoas que dizem ser jornalistas e que querem ir para a selva para fazer reportagens com a guerrilha. Por ter feito algumas reportagens na selva durante os quase 30 anos em que cubro a Colômbia, há quem acredite automaticamente que uma coisa leve a outra e, por ingenuidade ou por interesses mais obscuros, me escrevem.
É entre eles, por meus 30 anos de experiência de Colômbia, que se encontram os “colegas” do E-5 (alguns dos melhores jornalistas colombianos, que venderam sua alma jornalística deixando-se comprar por alguns milhões de pesos do Estado Militarista).
Eu faria o mesmo se eu fosse Uribe.
É claro! Fazer inteligência em meio a oposição tanto na Colômbia como no exterior.
No entanto Uribe não está só. O mesmo fez o fascista Pinochet através de suas embaixadas. Até que colocou bombas em Buenos Aires e Washington, matando o general constitucionalista Carlos Pratt e o ex-ministro de defesa chileno Orlando Letilier, respectivamente.
O problema que a inteligência colombiana tem comigo é que este jornalista manteve-se fiel aos princípios dos estatutos da federação sindical dos jornalistas suecos, SJF, os quais versam que um jornalista SEMPRE tem que atuar com as cartas na mesa. Por aí será intocável. Desta forma, eu jamais tive algo à esconder em meu trabalho de cobertura como repórter por TODA a América Latina.
Nunca ocultei ter sido um dos fundadores da Anncol, no ano de 1995 (tarefa de tempo livre que larguei em 1999, em virtude de todas as ameaças que sofri).
Por que o esconderia?
O motivo da criação de uma agência alternativa e ANTAGÔNICA aos erros de conteúdo dos meios pro-governamentais colombianos era, justamente, dar uma visão da realidade colombiana que NÃO ocultava os interesses por detrás dos massacres, que não ocultava a arremetida anti-sindical contra os trabalhadores e o sindicato de Bavaria executado pelo patrão de Bavaria, da Caracol, de Cromos E de Semana, reunindo 90% dos operários sindicalizados, o senhor Mario Santodomingo.
Quando os meios mencionados realizaram uma reportagem ou entrevistas com os dirigentes, operários e trabalhadores de Bavaria durante seus 71 dias de heróica greve em 2000-2001?
Esta pergunta é difícil e pesada?
Claro, por que só há uma resposta, que é a de que o seu Patrão não lhes deu permissão de tocar no assunto. Ele não somente é dono de Bavaria, senão é dono também da sorte de Vocês, Senhores(as) da revista Semana.
O que se confirma agora, com a publicação na revista Semana de que eu sou uma espécie de “aranha” entre o Secretariado das FARC e a imprensa européia, é que essa inteligência militar está interceptando os correios eletrônicos.
Nenhuma surpresa. Efetivamente fui contatado por um suposto jornalista holandês que dizia ter aval de Raúl Reyes para fazer um vídeo com a guerrilheira holandesa.
Respondi-lhe com a pergunta lógica de que, se ele tinha aval de Raúl Reyes, por que recorrer a mim? E aqui acabou o assunto.
Sou demasiado velho para cair em semelhantes arapucas criadas pelos E-5 e que agora são publicadas pelo Departamento IU da revista Semana.
Dizem na revista Semana que estou a mais de 20 anos na Colômbia e me colocam
descaradamente uma placa na frente acusando-me por tal
tarefa!
Que vergonha deveriam ter, redatores de Semana!
Publicaram uma
denúncia pública não confirmada contra mim, mas se esqueceram do princípio do
direito a réplica.
Ou seu Patrão não a permite?
A dois anos
atrás me encontrei, num evento na América Central, com a jornalista Martha (não
lembro de seu sobrenome) da revista Semana e trocamos cartões de
visita com telefone e correio eletrônico assim como trocamos algumas
experiências na Colômbia como repórteres.
Sua colega foi cordial e amável,
mas o que não entendo é: por que não aproveitaram esses dados para contatar-me,
para que eu pudesse dar a minha versão sobre a acusação dos agentes do E-5?
Inclusive Martha, em seu regresso a Bogotá, me forneceu umas fotos do
arquivo de fotos da revista Semana, publicadas pela revista numa reportagem
sobre a tortura, por parte de seus comandantes, de que foram vítimas os soldados
em Tolima e que resultou na demissão do comandante das FF.MM.
E assim se
colabora entre os jornalistas, ajudando-nos mutuamente, não que tenhamos que
sempre compartilhar as mesmas idéias, mas sim que nos ajudamos para facilitar o
trabalho.
Noutra ocasião, a inteligência militar acusou a emissora Café Stéreo de ser um “órgão radial das FARC”. E como eu também colaborava com esta emissora, ofereci ao senhor Ricardo Calderón, editor de Semana, duas reportagens: a primeira era sobre a verdadeira emissora das FARC, Voz de Resistência do Bloco Sul [2], de onde foi-lhes permitido publicar um verdadeiro furo de reportagem, já que a gerente desta emissora era, ou é, Lucero Palmera, esposa de Simón Trinidad e, certamente, também guerrilheira. A entrevistei em 2005, quando estive por lá durante uma semana.
Quando algum repórter da Semana pôde fazer semelhante reportagem?
A segunda reportagem [3] era sobre os estúdios da Café Stereo de Estocolmo, entrevistando ao diretor Miguel Suárez. Mas o senhor Calderón, depois de pensar alguns dias, recusou a oferta.
Agora os editores de Semana se dedicam a publicar rumores, indícios baratos e manipulados, enterrando para sempre os princípios para o exercício do jornalismo.
Não me surpreende, já que, como dizem os venezuelanos, na Colômbia se instaurou um regime onde os meios de comunicação se tornaram porta-vozes, ao estilo do nazista Goebbels.
Sei que nem todos os jornalistas colombianos estão de acordo com isso, é só o que faltava!
Muitos estão fartos de um regime laboral aonde nem sequer os deixam criar um singelo e humilde sindicato, que poderia trabalhar para baixar a jornada de trabalho, a qual, muitas vezes, chega a 12-14 horas por dia, das 8 estabelecidas segundo a lei.
Para o jornalista colombiano não existem os verdadeiros direitos trabalhistas e sindicais. Como conseqüência, não existem os direitos humanos, já que os direitos trabalhistas são direitos humanos. Lembram, senhores de Semana, que a um par de anos atrás os colegas da Caracol Radio tentaram criar seu sindicato e foram TODOS despedidos pelo magnata Santodomingo?
Ou que a gerência da RCN é cúmplice com a impunidade do exército, que matou dois companheiros da RCN quando cobriam a saída pelas Escarpas, depois de ter levado os onze deputados à montanha.
Já se passaram quase seis anos e nada, absolutamente nada, de julgar aos assassinos que estavam no helicóptero que os matou com armas Ponto 60, muito menos publicam uma só linha em suas mídias.
Assim é o regime de Uribe, que no fundo não é muito diferente dos outros governantes, por que é o mesmo Estado terrorista que faz um século declarou guerra a seu próprio povo.
E aí estão os que lhe servem: o Departamento E-5 e o IU, os Idiotas Úteis.
Atenciosamente:
Dick Emanuelsson
. . .que está fazendo as malas para amanhã ir à Venezuela para investigar a infiltração dos paramilitares colombianos em território venezuelano.
[1] “La guerrillera holandesa en DVD?
http://www.semana.com/wf_InfoArticulo.aspx?idArt=109423
[2] La Voz de la Resistencia transmite 'desde el ojo del huracán del Plan Patriota', '¡Sí, esta sí es una emisora de las FARC!' Por: Dick Emanuelsson (especial para ARGENPRESS.info)* (Fecha publicación:13/06/2005) http://www.argenpress.info/notaold.asp?num=021617
[3] La inteligencia militar acusa Café Stereo de Estocolmo de ser una emisora oficial de las FARC en el exterior. Por Dick Emanuelsson, junio 2005. http://www.elcorreo.eu.org/esp/article.php3?id_article=5430