Simon: “Viva as FARC”
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conflito armado
Simón Trinidad, o reconhecido negociador para o intercâmbio humanitário de prisioneiros na Colômbia, foi hoje sentenciado a 60 anos de prisão pela Corte do Distrito Federal de Columbia, em Washington D.C., Estados Unidos (EUA). Há alguns meses atrás Trinidad se viu condenado por conspirar para tomar como reféns três contratados militares norte-americanos, um “crime” que aconteceu no ano de 2003. A sentença foi proferida em uma audiência separada e realizada hoje, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008.
A pena de 60 anos é a pena máxima permitida pelas leis colombianas, isto é relativamente novo, foi uma mudança em relação à lei anterior. Isto foi em 2004, sob um programa financiado e administrado pela Agência Internacional de Desenvolvimento (AID/USAID), a Colômbia reformou seu Código Penal (Lei 890, a qual modificou o artigo 31) para aumentar a pena máxima permitida de 40 para 60 anos. Como uma dos primeiros atingidos pela reforma penal, era óbvio que a condenação seria calculada em Washington. Ainda mais pelo fato de que, em 2003, esta pena nem sequer existia na Colômbia, quando ocorreu o suposto “crime”.
A pena foi calculada de acordo com o Manual Federal dos EUA sobre imposição de sentenças. Os fatores utilizados para calcular a pena incluíram o de que se alguma demanda fosse feita para obter a libertação dos reféns, e se fez uso de armas, o tempo transcorrido em que os retidos estavam em poder de seus captores, e se Trinidad tivesse assumido sua responsabilidade por seus crimes, e a importância relativa de sua ação no mesmo. Outro fator – e um muito crucial – foi o de que o fato de tomar prisioneiros os três contratados norte-americanos fosse um ato de “terrorismo”, de maneira que o crime fosse feito com a intenção de intimidar um governo e forçar a uma concessão do mesmo.
A defesa argumentou que o “acordo” de Trinidad – uma conspiração é essencialmente um acordo para cometer um crime – se limitou em receber uma carta do Comandante das FARC, Raul Reyes, para levá-la ao Equador, e entregá-la a James Lemoyne, um delegado oficial da ONU que no passado havia mediado as discussões das FARC com o governo do então mandatário Andrés Pastrana (1999-2002). Trinidad não teria o mens rea, ou seja, o estado mental de culpabilidade, o que sim teriam os tomadores de reféns atuais, nunca fez exigência alguma para a libertação dos reféns, não teve influência nem voz alguma para determinar quando, e se deveriam ser libertados, e nunca sequer havia visto a nenhum dos reféns.
No en tanto, o juiz declarou culpado Trinidad em todos os fatores da sentença, aplicando a pena máxima disponível para esse tipo de crime, que sob as leis dos EUA seria de pena perpétua. De outro lado, o juiz destacou que ele respeitaria e honraria os desejos dos Governo Colombiano, que pediu que a sentença fosse limitada a sessenta anos, de acordo com a nova lei, o juiz Lamberth a aceitou e sentenciou Trinidad a 60 anos sem possibilidade de alguma liberdade condicional (parole em inglês).
Durante a fase de “debates” da audiência, o promotor Ken Kohl fez uma dramática apresentação das “maldades” das FARC, a gravidade das agressões e sua baixa opinião sobre o acusado. Ele pensa que isso seria uma oportunidade para “educar” as FARC, e demonstrar que eles podem estar sujeitos ao julgamento criminal nos EUA se forem capturados. Kohl disse que as FARC seqüestraram e mataram 21 estadunidenses em sua história, e que Simon Trinidad foi o primeiro membro das FARC que foi condenado por terrorismo.
Kohl repetiu a versão promovida po Francisco Santos, atual vice-presidente da Colômbia – e fundador do grupo’ País Livre, de que as FARC mantêm em seu poder mais de 700 pessoas. É de ressaltar que Álvaro Uribe não fala este número. Ainda neste fim de semana declarou,em uma entrevista à EuroNews, que o governo da Colômbia acusa as FARC de 700 seqüestros durante os últimos 10 anos. Essa é uma porcentagem bem ínfima se comparada ao total de seqüestros que ocorreram na Colômbia durante o mesmo período – (Talvez sejam menos de 2 ou 3% do total de seqüestros). E não há nem sequer razão para acreditar que estas 700 pessoas estejam ainda com vida. Certamente, não é algo que o promotor possa provar na corte, o u que o juiz possa considerar para calcular a pena de Trinidad.
Kohl enfatizou que Trinidad deveria ser punido como um terrorista, “porque”, segundo Kohl declarou, enquanto apontava o dedo ao acusado, “isto é o que é, um terrorista.”. Logo Kohl relatou vários crimes notórios, supostamente cometidos pelas FARC, tais como o seqüestro e posterior morte (ainda sem esclarecimento) dos 11 deputados do Valle, seqüestrados em Cali, o seqüestro de Alan Jará enquanto viajava em um veículo d ONU, e o seqüestro de Elis Ochoa, o qual o promotor usou como testemunha desabonatória no primeiro julgamento de Simon Trinidad. Também Kohl argumentou que Trinidad estava presente em todos esses crimes, que ele conhecia pessoalmente que Ingrid Betancourt havia implorado às FARC para parar com os seqüestros, e por isso pagou o preço de sua liberdade.
Enquanto Kohl descrevia como Trinidad “assistia a agonia dos reféns, em um imenso televisor de tela de alta definição, mostrava uma série de fotos dos prisioneiros em acampamentos atrás de grades de aço, Ingrid Betancourt, e os três estadunidenses, todos antes de suas capturas, e depois em recentes fotos de “prova de vida”. Kohl disse: As FARC não são um movimento popular. Não há nada de nobre ou que possa causar inspiração cerca dela. Ao mesmo tempo se passava na através da tela de televisão fotos das FARC com uniforme como se na época do “Despeje”. De outro lado ele disse, a FARC é uma organização clandestina. De 16.000 membros das FARC, 8.000 têm desertado.” Também Kohl mostrou uma foto de uma marcha popular em Bogotá onde se lia em um cartaz que dizia, “Abaixo com as FARC”. Novamente assinalando a Trinidad, recordou o juiz de que as negociações para a libertação dos três reféns estadunidenses “teriam que passar por este homem”.
“A insensibilidade e brutalidade deste crime é difícil de compreender. É impossível não destacar uma ou outra vez o caráter horrível e bárbaro deste crime,” continuou o promotor, “produto do enlouquecido e distorcido sentido de justiça social de Simon Trinidad.. Trinidad não só foi responsável por este crime, como também em levá-lo à mente de outros guerrilheiros, ao ponto de recrutar novamente a uma das testemunhas já reinseridas, que havia testemunhado que Simon Trinidad lhe havia oferecido champagne e lhe prometeu que caso se unisse às FARC teria muitas mulheres para si.” “Se os guerrilheiros que levaram a cabo esses seqüestros eram as ‘garras da besta’, Simon Trinidad era sua boca”. Segundo argumentou Kohl.
Kohl acredita que nada de positivo resultou das negociações anteriores de paz com as FARC e o governo colombiano. “Estas negociações só permitiram às FARC tomar mais reféns e produzir mais cocaína.” Por mais de 20 anos, disse Kohl, Simon Trinidad, Simon Trinidad tem enviado grupos de seqüestradores e foi responsável por numerosos outros crimes não analisados nesta corte. Trinidad “tem bebido o Kool Aid”, (um refresco estrangeiro semelhante ao Tang) e que Trinidad era como Osama Bin Laden. Kohl disse que Osama Bin Laden se escondia numa caverna no Afeganistão.
Para ser sincero com vocês, não posso escrever todo o relato de Ken Kohl, pois ele estava em um filme, atuando no recinto da corte, a qual estava cheia de repórteres. Mas acredito que o juiz já tinha sua decisão tomada, ainda antes de que Kohl tivesse começado sua dramática apresentação. Uma vez que o juiz determinou que os fatores da sentença pesavam contra Trinidad. A sorte de Trinidad já estava selada. A apresentação de Kohl não foi nada mais que um discurso político apresentado com a idéia de gerar impacto. O juiz não mais o escutava de maneira educada, com a imposição da sentença já calculada.
Então o advogado de Trinidad, nomeado pela corte, Bob Tuckner, tomou a tribuna, rechaçando a comparação de seu cliente com Osama Bin Laden, lembrou à corte de que uma sentença muito dura não convencerá, como gosta de insistir Kohl, as FARC a libertarem os três norte-americanos. E lembrou a corte a cooperação de Trinidad com as autoridades ao escrever a Raul Reyes pedindo uma prova de vida (algo solicitado por alguns membros do Congresso dos EUA) e pedindo-lhe de fato que não se o incluísse em uma troca de prisioneiros. Isso provocou uma resposta do Juiz que disse “Não tenho nada a ver com isso.”
Então Tucker chegou ao coração do caso. “A idéia de que não existe uma guerra na Colômbia é totalmente fantasiosa”. Esse tipo de negociações, segundo relatou, não eram pouco usuais. A missão de Trinidad no Equador foi comparada à viagem de Henry Kissinger Paris durante a guerra do Vietnam. Ao castigar a Trinidad, se desmotivariam as futuras negociações, disse Tucker, enquanto que com uma tratamento menos severo se mandaria uma mensagem ao governo, de que a corte é um setor independente do governo. Também, Tucker assinalou de que nos casos em que se tem apoiado a promotoria para calcular a sentença, os acusados não somente seqüestravam pessoalmente as pessoas, como também as assassinavam. E como anteriormente dito, Tucker se referia às notas que os jurados enviavam ao juiz, pedindo-lhe uma explicação sobre a participação mínima de Trinidad e se seria suficiente para condená-lo, e argumentopu de que uma participação mínima deveria pesar contra uma condenação pesada.
Seguidamente, o juiz Lamberte perguntou a Simon Trinidad se queria dizer algo. Obviamente, Trinidad o desejava. Ele falou durante uma hora, e apesar de não poder escrever tudo palavra por palavra, creio que consegui escrever a maior parte do que Simon Trinidad disse.
As palavras de Simón Trinidad na audiência da Corte Federal do Distrito de Columbia que o sentenciou a 60 anos por conspiração para tomada de reféns.
Depois de agradecer ao juiz por sua ajuda com o tratamento médico e outros problemas que sofria no cárcere de D.C. e por permitir a reunião com Piedad Córdoba, como também agradecer aos Marshalls de EUA (algo como como os guardiões policiais do IPEC na Colômbia) e a outros na corte pelos respeito com que foi tratado, Simín Trinidad começou seu discurso declarando que falava como um membros das FARC, um grupo insurgente que se levantou em armas contra o governo colombiano.
Desde o momento mesmo de sua organização, as FARC têm lutado para mudar um sitema oligárquico que se tem mantido por anos através do exercício de sangue e fogo.
Iniciada em 20 de luhlo de 1964, as FARC têm buscado uma transformação democrática e pacífica através das mobilizações de massas, mas o regime oligárquico tem usado os serviços de assassinos a soldo – pájaros, chulavitas e agora dos paramilitares – para aterrorizar a população na base da bala. Nelson Mandela, quem fundou um movimento guerrilheiro na África do Sul e depois se transformou no presidente desse país africano. Mandela disse: “que são os opressores quem sempre ditam os termos da luta, não os oprimidos.” Na Colômbia os opressores são a oligarquia e o uso da força bruta contra a população indefesa, isso é o que tornou possível a formação das FARC.
Simón continuou: “As FARC são uma parte do povo colombiano que espressa seu dissenso de várias maneiras ao violento regime elitista. As FARC foram fundadas por camponeses como Manuel Marulanda, os esforços das FARC têm se centrado em assuntos agrícolas e pela proteção dos camponeses. Criada por camponeses e trabalhadores, as FARC lutam por um salário real, a sindicalização tem uma estratégia política contra os opressores.
Citando Ciro Trujillo e Hernando Gomez Acosta, Trinidad assinalou que as FARC respeitam e apóiam as organizações indígenas e de mulheres, e acreditam em uma Colômbia pluralista e democrática. A América latina, continuou, é uma região de grande disparidade econômica e está em terceira na posição de disparidade social no mundo. As FARC apóiam os direitos humanos básicos de que todos, sem exceção, necessitam viver uma vida digna, incluindo o acesso a recreação, alimentação, educação, água potável, eletricidade, condições de vida digna e descanso justo. Cerca de 54% dos colombianos, ou seja, mais de 24 milhões de colombianos, vivem abaixo da linha da pobreza, vivendo com apenas metade de U$1,00 ou $-2, dólares por dia.
A Colômbia possui uma variedade de terras férteis e climas variados que permitiriam o semeio e a colheita durante os doze meses do ano, provendo o suficiente para todos os colombianos, assim com um superávit para as exportações. Também as Colômbia é rica em recursos minerais, incluindo ouro, níquel, carvão, sal e petróleo. A biodiversidade da Colômbia, em fauna e flora, os peixes nos rios, e uma riqueza em recursos humanos fazem da Colômbia um país muito rico, capaz de promover o bem estar social para todos os seus habitantes.
No entanto, um pequeno grupo de pessoas, a minúscula classe governante, monopolizou esses recursos, tomando posse das melhores terras, controlando de fato a economia, e têm mantido o resto da Colômbia na miséria. Os líderes de anbos os partidos, Liberais e Conservadores, têm legalizado estes monopólios para benefício dos ricos e, da mesma maneira, entregado os recursos naturais colombianos ao capital estrangeiro para seu enriquecimento pessoal.
A violência política das oligarquias é a tortura, o assassinato e o desaparecimento forçado, são como as ferramentas contra os que se opõe, isto é, para se manter no poder. Os exemplos se destacam como o genocídio contra o movimento Gaitanista na década de 1940, o extermínio da União Patriótica nos fins dos anos 1980. Os três poderes do poder de Estado governante têm dado aos mesmos a impunidade por todos os seus crimes, assim como aqueles cometidos pelos paramilitares e militares.
O caráter injusto do governo, onde a imoralidade e o cinismo têm sido a regra, e sua corrupção se mostra pela gestão que têm feito do dinheiro da gente comum pagos como impostos, e a falta de gestão das indústrias de propriedade do Estado. O governo tem abusado de seu poder ao vender os recursos da nação aos investidores estrangeiros. É verdade que na Colômbia quem governa são eleitos a cada quatro anos, mas a democracia não se faz apenas de eleições, ou ao votar, e de toda forma uma média de 65% dos colombianos se abstém de votar, e um grande número de votos são comprados. Aos eleitores ou votantes se prometem empregos, os mortos votam e outros votam mais de uma vez, o processo eleitoral colombiano é ilegítimo e é uma farsa.
Nos últimos 14 anos a presidência da Colômbia tem sido controlada pelos narcotraficantes. O Cartel de Cali já contribuiu com mais de U$6,5 milhões de dólares para a campanha de Ernesto Samper. Andrés Pastrana se enfureceu quando não recebeu apoio deste Cartel e demorou outros quatro anos para chegar à presidência. Em agosto de 2002 um comunicado da Inteligência do Departamento de Estado dos EUA que descreve as listas do cartel de drogas de Pablo Escobar mencionava Fidel Castano e Álvaro Uribe como membros do mesmo. Depois de sua eleição Uribe entregou contratos públicos e cargos políticos a seus amigos em um esforço para reformar a Constituição a seu gosto para poder se reeleger automaticamente para um segundo mandato. Esta é a melhor forma de mostrar a ‘democracia’ que é praticada na Colômbia. É uma democracia de papel, mas o que está escrito no papel está longe da verdade.
A Colômbia tem estado em guerra por mais de 60 anos, com a participação crescente dos EUA. Hoje a guerra contra a insurgência tem se disfarçado sob outros argumentos. A guerra contra o tráfico de drogas, esse é um disfarce que os EUA usam para uma maior intervenção de fato no conflito colombiano, com o envio de assessores, espiões, armas e investimentos de milhões de dólares para a guerra. Esta ajuda financeira e militar arrebata a oligarquia e mantém as condições que propiciam o atual conflito na Colômbia, mas não promovem solução alguma. Simon Bolívar uma vez disse: “O destino dos EUA é de infestar a América com a fome e a miséria em nome da liberdade.”
O governo dos EUA, e alguns membros do congresso dos EUA, têm interpretado mal o conflito colombiano como de estar centrado na luta contra as drogas. Ainda que na Colômbia não existam sérias divisões étnicas, religiosas ou divisões separatistas, o conflito possui profundas e sérias raízes sociais e históricas que nada têm a ver com o narcotráfico.
As FARC não compartilham da crença do governo colombiano de que a solução militar seja a saída para o conflito. Este conflito é lesivo para a dignidade do povo colombiano. Em vez disso, as FARC propõem o investimento social e a participação das comunidades na planificação agrícola e a substituição de cultivos. A estratégia militar deve ser trocada. Os governos da Colômbia e dos EUA deveriam trabalhar juntos nos desafios que enfrenta a humanidade. Nenhum país tem a exclusividade, nem o poder para liderar uma luta nesta área. A comunidade internacional deve ter maior participação, em particular onde estas drogas são consumidas.
Ainda, Simón Trinidad comentou que estava surpreso quando o Departamento de Justiça introduziu uns vídeos torpemente adulterados, feitos pelos militares colombianos, para tratar de provar que ele era membro do Secretariado das FARC. Também acrescentou que lamentava por nunca ter visto a carta enviada pelas autoridades dos EUA ao governo colombiano, porque estava certo de que se tratou de uma séria queixa sobre essa zombaria à justiça. Sim, o exército da Colômbia é capaz de mentir descaradamente à mesma gente que lhes dá tanto dinheiro, imagine-se o que estão fazendo na Colômbia.
Trinidad disse que esse era um julgamento político. A natureza política de um julgamento prova o caráter político das FARC. A política, segundo disse, é uma expressão da economia, e a guerra é uma expressão da política através de outros meios. Seu julgamento foi político do começo ao fim. Pelo menos seu julgamento lhe permitiu a oportunidade de explicar a filosofia revolucionária das FARC e a posição do secretariado em vários assuntos, e está satisfeito que ainda depois de tantos esforços os jurados não pudessem declará-lo culpado de apoiar uma organização terrorista, porque os EUA têm catalogado erroneamente as FARC como uma organização terrorista.
Trinidad mencionou que tanto ele como sua organização, as FARC, Têm sido catalogados como organização terrorista, ele queria aproveitar a oportunidade de condenar o terrorismo, sem importar sua origem. Não ouviram, disse, que foi a ação terrorista do Estado o que o levou a ingressar nas FARC para poder enfrentar o terrorismo. E baseados em seus princípios e convicções ideológicas, ele não pode concordar com o terrorismo. Como as FARC, o sentimento que qualquer força que queira lutar para alcançar o poder, não pode realizar atos de terrorismo.
No entanto, da mesma maneira, ele rechaça a extradição de colombianos para serem julgados em outros países. Esta é uma prática neocolonial que retira a soberania da nação. É utilizada para amedrontar homens e mulheres que lutam por uma causa justa, incluindo a Sonia e ele. Na Colômbia existe uma guerra, com prisioneiros tomados em ambos os lados. Este é um problema real que requer uma solução. A ordem política que chegou dos superiores de Trinidad era um primeiro passo para levar a cabo uma ação humanitária em benefício dos prisioneiros em ambos os lados do conflito. “Mina consciência me absolve. “Eu me junto à categoria daqueles a quem a história pode e os tem absolvido”.
Também Trinidad disse que estava satisfeito com a carta que escreveu a Manuel Marulanda pedindo uma prova de vida dos três estadunidenses, e ainda assim, não quer ser um obstáculo para a troca de prisioneiros. Ele está convencido de que este será um fator importante para alcançar a paz com justiça social na Colômbia. O primeiro ponto da plataforma política das FARC é o de encontrar uma solução política para o conflito.
Trinidad destacou que é seu mais sincero desejo, de que os três norte-americanos regressem sãos e salvos ao calor dos seus. De sua parte, ele já se tem reunido com oficiais do Departamento de Estado e estará disposto a fazer mais reuniões para continuar com o diálogo. Pontuou calmamente que quando se uniu às FARC, ele sabia que podia perder a vida e sua liberdade na luta por justiça e a paz em sua pátria.
Finalmente, agradeceu ao Comitê Nacional para a Libertação de Ricardo Palmera (CNPLRP) e mencionou os dizeres de José Martí: “O que Bolívar não conseguiu fazer, mantém-se sem ser feito até o presente.” Trinidad concluiu essas palavras. Com o mesmo tom de voz como as anteriores:
Viva Manuel Marulanda!!!
Viva as FARC!!!
Viva Simon Bolívar, cuja espada libertadora continua avançando pela América.
Depois de escutar tudo isso, o Juiz Lamberth olhou Trinidad nos olhos e lhe disse que respeitava sua inteligência, sua sinceridade, sua eloqüência. Em seguida, procedeu em sentenciá-lo a 60 anos, a sentença mais longa que se havia imposto a um colombiano. O Juiz voltou a repassar a linha anterior e explicou a Trinidad, que quando se uniu a esta conspiração, seu crime era de terrorismo, um odioso, bárbaro e reprovável crime que violava as leis e normas de todas as nações. Nenhum país civilizado tolerará o terrorismo, concluiu, e isto aqui era uma corte de leis. A sentença máxima pela tomada de reféns era a prisão perpétua, mencionou o Juiz, mas se ajusta aos desejos do governo colombiano e apenas o impus um termino de 60 anos. E encerrou dizendo “Boa sorte para você, Sr. Palmera Pineda.”
A pena de 60 anos é a pena máxima permitida pelas leis colombianas, isto é relativamente novo, foi uma mudança em relação à lei anterior. Isto foi em 2004, sob um programa financiado e administrado pela Agência Internacional de Desenvolvimento (AID/USAID), a Colômbia reformou seu Código Penal (Lei 890, a qual modificou o artigo 31) para aumentar a pena máxima permitida de 40 para 60 anos. Como uma dos primeiros atingidos pela reforma penal, era óbvio que a condenação seria calculada em Washington. Ainda mais pelo fato de que, em 2003, esta pena nem sequer existia na Colômbia, quando ocorreu o suposto “crime”.
A pena foi calculada de acordo com o Manual Federal dos EUA sobre imposição de sentenças. Os fatores utilizados para calcular a pena incluíram o de que se alguma demanda fosse feita para obter a libertação dos reféns, e se fez uso de armas, o tempo transcorrido em que os retidos estavam em poder de seus captores, e se Trinidad tivesse assumido sua responsabilidade por seus crimes, e a importância relativa de sua ação no mesmo. Outro fator – e um muito crucial – foi o de que o fato de tomar prisioneiros os três contratados norte-americanos fosse um ato de “terrorismo”, de maneira que o crime fosse feito com a intenção de intimidar um governo e forçar a uma concessão do mesmo.
A defesa argumentou que o “acordo” de Trinidad – uma conspiração é essencialmente um acordo para cometer um crime – se limitou em receber uma carta do Comandante das FARC, Raul Reyes, para levá-la ao Equador, e entregá-la a James Lemoyne, um delegado oficial da ONU que no passado havia mediado as discussões das FARC com o governo do então mandatário Andrés Pastrana (1999-2002). Trinidad não teria o mens rea, ou seja, o estado mental de culpabilidade, o que sim teriam os tomadores de reféns atuais, nunca fez exigência alguma para a libertação dos reféns, não teve influência nem voz alguma para determinar quando, e se deveriam ser libertados, e nunca sequer havia visto a nenhum dos reféns.
No en tanto, o juiz declarou culpado Trinidad em todos os fatores da sentença, aplicando a pena máxima disponível para esse tipo de crime, que sob as leis dos EUA seria de pena perpétua. De outro lado, o juiz destacou que ele respeitaria e honraria os desejos dos Governo Colombiano, que pediu que a sentença fosse limitada a sessenta anos, de acordo com a nova lei, o juiz Lamberth a aceitou e sentenciou Trinidad a 60 anos sem possibilidade de alguma liberdade condicional (parole em inglês).
Durante a fase de “debates” da audiência, o promotor Ken Kohl fez uma dramática apresentação das “maldades” das FARC, a gravidade das agressões e sua baixa opinião sobre o acusado. Ele pensa que isso seria uma oportunidade para “educar” as FARC, e demonstrar que eles podem estar sujeitos ao julgamento criminal nos EUA se forem capturados. Kohl disse que as FARC seqüestraram e mataram 21 estadunidenses em sua história, e que Simon Trinidad foi o primeiro membro das FARC que foi condenado por terrorismo.
Kohl repetiu a versão promovida po Francisco Santos, atual vice-presidente da Colômbia – e fundador do grupo’ País Livre, de que as FARC mantêm em seu poder mais de 700 pessoas. É de ressaltar que Álvaro Uribe não fala este número. Ainda neste fim de semana declarou,em uma entrevista à EuroNews, que o governo da Colômbia acusa as FARC de 700 seqüestros durante os últimos 10 anos. Essa é uma porcentagem bem ínfima se comparada ao total de seqüestros que ocorreram na Colômbia durante o mesmo período – (Talvez sejam menos de 2 ou 3% do total de seqüestros). E não há nem sequer razão para acreditar que estas 700 pessoas estejam ainda com vida. Certamente, não é algo que o promotor possa provar na corte, o u que o juiz possa considerar para calcular a pena de Trinidad.
Kohl enfatizou que Trinidad deveria ser punido como um terrorista, “porque”, segundo Kohl declarou, enquanto apontava o dedo ao acusado, “isto é o que é, um terrorista.”. Logo Kohl relatou vários crimes notórios, supostamente cometidos pelas FARC, tais como o seqüestro e posterior morte (ainda sem esclarecimento) dos 11 deputados do Valle, seqüestrados em Cali, o seqüestro de Alan Jará enquanto viajava em um veículo d ONU, e o seqüestro de Elis Ochoa, o qual o promotor usou como testemunha desabonatória no primeiro julgamento de Simon Trinidad. Também Kohl argumentou que Trinidad estava presente em todos esses crimes, que ele conhecia pessoalmente que Ingrid Betancourt havia implorado às FARC para parar com os seqüestros, e por isso pagou o preço de sua liberdade.
Enquanto Kohl descrevia como Trinidad “assistia a agonia dos reféns, em um imenso televisor de tela de alta definição, mostrava uma série de fotos dos prisioneiros em acampamentos atrás de grades de aço, Ingrid Betancourt, e os três estadunidenses, todos antes de suas capturas, e depois em recentes fotos de “prova de vida”. Kohl disse: As FARC não são um movimento popular. Não há nada de nobre ou que possa causar inspiração cerca dela. Ao mesmo tempo se passava na através da tela de televisão fotos das FARC com uniforme como se na época do “Despeje”. De outro lado ele disse, a FARC é uma organização clandestina. De 16.000 membros das FARC, 8.000 têm desertado.” Também Kohl mostrou uma foto de uma marcha popular em Bogotá onde se lia em um cartaz que dizia, “Abaixo com as FARC”. Novamente assinalando a Trinidad, recordou o juiz de que as negociações para a libertação dos três reféns estadunidenses “teriam que passar por este homem”.
“A insensibilidade e brutalidade deste crime é difícil de compreender. É impossível não destacar uma ou outra vez o caráter horrível e bárbaro deste crime,” continuou o promotor, “produto do enlouquecido e distorcido sentido de justiça social de Simon Trinidad.. Trinidad não só foi responsável por este crime, como também em levá-lo à mente de outros guerrilheiros, ao ponto de recrutar novamente a uma das testemunhas já reinseridas, que havia testemunhado que Simon Trinidad lhe havia oferecido champagne e lhe prometeu que caso se unisse às FARC teria muitas mulheres para si.” “Se os guerrilheiros que levaram a cabo esses seqüestros eram as ‘garras da besta’, Simon Trinidad era sua boca”. Segundo argumentou Kohl.
Kohl acredita que nada de positivo resultou das negociações anteriores de paz com as FARC e o governo colombiano. “Estas negociações só permitiram às FARC tomar mais reféns e produzir mais cocaína.” Por mais de 20 anos, disse Kohl, Simon Trinidad, Simon Trinidad tem enviado grupos de seqüestradores e foi responsável por numerosos outros crimes não analisados nesta corte. Trinidad “tem bebido o Kool Aid”, (um refresco estrangeiro semelhante ao Tang) e que Trinidad era como Osama Bin Laden. Kohl disse que Osama Bin Laden se escondia numa caverna no Afeganistão.
Para ser sincero com vocês, não posso escrever todo o relato de Ken Kohl, pois ele estava em um filme, atuando no recinto da corte, a qual estava cheia de repórteres. Mas acredito que o juiz já tinha sua decisão tomada, ainda antes de que Kohl tivesse começado sua dramática apresentação. Uma vez que o juiz determinou que os fatores da sentença pesavam contra Trinidad. A sorte de Trinidad já estava selada. A apresentação de Kohl não foi nada mais que um discurso político apresentado com a idéia de gerar impacto. O juiz não mais o escutava de maneira educada, com a imposição da sentença já calculada.
Então o advogado de Trinidad, nomeado pela corte, Bob Tuckner, tomou a tribuna, rechaçando a comparação de seu cliente com Osama Bin Laden, lembrou à corte de que uma sentença muito dura não convencerá, como gosta de insistir Kohl, as FARC a libertarem os três norte-americanos. E lembrou a corte a cooperação de Trinidad com as autoridades ao escrever a Raul Reyes pedindo uma prova de vida (algo solicitado por alguns membros do Congresso dos EUA) e pedindo-lhe de fato que não se o incluísse em uma troca de prisioneiros. Isso provocou uma resposta do Juiz que disse “Não tenho nada a ver com isso.”
Então Tucker chegou ao coração do caso. “A idéia de que não existe uma guerra na Colômbia é totalmente fantasiosa”. Esse tipo de negociações, segundo relatou, não eram pouco usuais. A missão de Trinidad no Equador foi comparada à viagem de Henry Kissinger Paris durante a guerra do Vietnam. Ao castigar a Trinidad, se desmotivariam as futuras negociações, disse Tucker, enquanto que com uma tratamento menos severo se mandaria uma mensagem ao governo, de que a corte é um setor independente do governo. Também, Tucker assinalou de que nos casos em que se tem apoiado a promotoria para calcular a sentença, os acusados não somente seqüestravam pessoalmente as pessoas, como também as assassinavam. E como anteriormente dito, Tucker se referia às notas que os jurados enviavam ao juiz, pedindo-lhe uma explicação sobre a participação mínima de Trinidad e se seria suficiente para condená-lo, e argumentopu de que uma participação mínima deveria pesar contra uma condenação pesada.
Seguidamente, o juiz Lamberte perguntou a Simon Trinidad se queria dizer algo. Obviamente, Trinidad o desejava. Ele falou durante uma hora, e apesar de não poder escrever tudo palavra por palavra, creio que consegui escrever a maior parte do que Simon Trinidad disse.
As palavras de Simón Trinidad na audiência da Corte Federal do Distrito de Columbia que o sentenciou a 60 anos por conspiração para tomada de reféns.
Depois de agradecer ao juiz por sua ajuda com o tratamento médico e outros problemas que sofria no cárcere de D.C. e por permitir a reunião com Piedad Córdoba, como também agradecer aos Marshalls de EUA (algo como como os guardiões policiais do IPEC na Colômbia) e a outros na corte pelos respeito com que foi tratado, Simín Trinidad começou seu discurso declarando que falava como um membros das FARC, um grupo insurgente que se levantou em armas contra o governo colombiano.
Desde o momento mesmo de sua organização, as FARC têm lutado para mudar um sitema oligárquico que se tem mantido por anos através do exercício de sangue e fogo.
Iniciada em 20 de luhlo de 1964, as FARC têm buscado uma transformação democrática e pacífica através das mobilizações de massas, mas o regime oligárquico tem usado os serviços de assassinos a soldo – pájaros, chulavitas e agora dos paramilitares – para aterrorizar a população na base da bala. Nelson Mandela, quem fundou um movimento guerrilheiro na África do Sul e depois se transformou no presidente desse país africano. Mandela disse: “que são os opressores quem sempre ditam os termos da luta, não os oprimidos.” Na Colômbia os opressores são a oligarquia e o uso da força bruta contra a população indefesa, isso é o que tornou possível a formação das FARC.
Simón continuou: “As FARC são uma parte do povo colombiano que espressa seu dissenso de várias maneiras ao violento regime elitista. As FARC foram fundadas por camponeses como Manuel Marulanda, os esforços das FARC têm se centrado em assuntos agrícolas e pela proteção dos camponeses. Criada por camponeses e trabalhadores, as FARC lutam por um salário real, a sindicalização tem uma estratégia política contra os opressores.
Citando Ciro Trujillo e Hernando Gomez Acosta, Trinidad assinalou que as FARC respeitam e apóiam as organizações indígenas e de mulheres, e acreditam em uma Colômbia pluralista e democrática. A América latina, continuou, é uma região de grande disparidade econômica e está em terceira na posição de disparidade social no mundo. As FARC apóiam os direitos humanos básicos de que todos, sem exceção, necessitam viver uma vida digna, incluindo o acesso a recreação, alimentação, educação, água potável, eletricidade, condições de vida digna e descanso justo. Cerca de 54% dos colombianos, ou seja, mais de 24 milhões de colombianos, vivem abaixo da linha da pobreza, vivendo com apenas metade de U$1,00 ou $-2, dólares por dia.
A Colômbia possui uma variedade de terras férteis e climas variados que permitiriam o semeio e a colheita durante os doze meses do ano, provendo o suficiente para todos os colombianos, assim com um superávit para as exportações. Também as Colômbia é rica em recursos minerais, incluindo ouro, níquel, carvão, sal e petróleo. A biodiversidade da Colômbia, em fauna e flora, os peixes nos rios, e uma riqueza em recursos humanos fazem da Colômbia um país muito rico, capaz de promover o bem estar social para todos os seus habitantes.
No entanto, um pequeno grupo de pessoas, a minúscula classe governante, monopolizou esses recursos, tomando posse das melhores terras, controlando de fato a economia, e têm mantido o resto da Colômbia na miséria. Os líderes de anbos os partidos, Liberais e Conservadores, têm legalizado estes monopólios para benefício dos ricos e, da mesma maneira, entregado os recursos naturais colombianos ao capital estrangeiro para seu enriquecimento pessoal.
A violência política das oligarquias é a tortura, o assassinato e o desaparecimento forçado, são como as ferramentas contra os que se opõe, isto é, para se manter no poder. Os exemplos se destacam como o genocídio contra o movimento Gaitanista na década de 1940, o extermínio da União Patriótica nos fins dos anos 1980. Os três poderes do poder de Estado governante têm dado aos mesmos a impunidade por todos os seus crimes, assim como aqueles cometidos pelos paramilitares e militares.
O caráter injusto do governo, onde a imoralidade e o cinismo têm sido a regra, e sua corrupção se mostra pela gestão que têm feito do dinheiro da gente comum pagos como impostos, e a falta de gestão das indústrias de propriedade do Estado. O governo tem abusado de seu poder ao vender os recursos da nação aos investidores estrangeiros. É verdade que na Colômbia quem governa são eleitos a cada quatro anos, mas a democracia não se faz apenas de eleições, ou ao votar, e de toda forma uma média de 65% dos colombianos se abstém de votar, e um grande número de votos são comprados. Aos eleitores ou votantes se prometem empregos, os mortos votam e outros votam mais de uma vez, o processo eleitoral colombiano é ilegítimo e é uma farsa.
Nos últimos 14 anos a presidência da Colômbia tem sido controlada pelos narcotraficantes. O Cartel de Cali já contribuiu com mais de U$6,5 milhões de dólares para a campanha de Ernesto Samper. Andrés Pastrana se enfureceu quando não recebeu apoio deste Cartel e demorou outros quatro anos para chegar à presidência. Em agosto de 2002 um comunicado da Inteligência do Departamento de Estado dos EUA que descreve as listas do cartel de drogas de Pablo Escobar mencionava Fidel Castano e Álvaro Uribe como membros do mesmo. Depois de sua eleição Uribe entregou contratos públicos e cargos políticos a seus amigos em um esforço para reformar a Constituição a seu gosto para poder se reeleger automaticamente para um segundo mandato. Esta é a melhor forma de mostrar a ‘democracia’ que é praticada na Colômbia. É uma democracia de papel, mas o que está escrito no papel está longe da verdade.
A Colômbia tem estado em guerra por mais de 60 anos, com a participação crescente dos EUA. Hoje a guerra contra a insurgência tem se disfarçado sob outros argumentos. A guerra contra o tráfico de drogas, esse é um disfarce que os EUA usam para uma maior intervenção de fato no conflito colombiano, com o envio de assessores, espiões, armas e investimentos de milhões de dólares para a guerra. Esta ajuda financeira e militar arrebata a oligarquia e mantém as condições que propiciam o atual conflito na Colômbia, mas não promovem solução alguma. Simon Bolívar uma vez disse: “O destino dos EUA é de infestar a América com a fome e a miséria em nome da liberdade.”
O governo dos EUA, e alguns membros do congresso dos EUA, têm interpretado mal o conflito colombiano como de estar centrado na luta contra as drogas. Ainda que na Colômbia não existam sérias divisões étnicas, religiosas ou divisões separatistas, o conflito possui profundas e sérias raízes sociais e históricas que nada têm a ver com o narcotráfico.
As FARC não compartilham da crença do governo colombiano de que a solução militar seja a saída para o conflito. Este conflito é lesivo para a dignidade do povo colombiano. Em vez disso, as FARC propõem o investimento social e a participação das comunidades na planificação agrícola e a substituição de cultivos. A estratégia militar deve ser trocada. Os governos da Colômbia e dos EUA deveriam trabalhar juntos nos desafios que enfrenta a humanidade. Nenhum país tem a exclusividade, nem o poder para liderar uma luta nesta área. A comunidade internacional deve ter maior participação, em particular onde estas drogas são consumidas.
Ainda, Simón Trinidad comentou que estava surpreso quando o Departamento de Justiça introduziu uns vídeos torpemente adulterados, feitos pelos militares colombianos, para tratar de provar que ele era membro do Secretariado das FARC. Também acrescentou que lamentava por nunca ter visto a carta enviada pelas autoridades dos EUA ao governo colombiano, porque estava certo de que se tratou de uma séria queixa sobre essa zombaria à justiça. Sim, o exército da Colômbia é capaz de mentir descaradamente à mesma gente que lhes dá tanto dinheiro, imagine-se o que estão fazendo na Colômbia.
Trinidad disse que esse era um julgamento político. A natureza política de um julgamento prova o caráter político das FARC. A política, segundo disse, é uma expressão da economia, e a guerra é uma expressão da política através de outros meios. Seu julgamento foi político do começo ao fim. Pelo menos seu julgamento lhe permitiu a oportunidade de explicar a filosofia revolucionária das FARC e a posição do secretariado em vários assuntos, e está satisfeito que ainda depois de tantos esforços os jurados não pudessem declará-lo culpado de apoiar uma organização terrorista, porque os EUA têm catalogado erroneamente as FARC como uma organização terrorista.
Trinidad mencionou que tanto ele como sua organização, as FARC, Têm sido catalogados como organização terrorista, ele queria aproveitar a oportunidade de condenar o terrorismo, sem importar sua origem. Não ouviram, disse, que foi a ação terrorista do Estado o que o levou a ingressar nas FARC para poder enfrentar o terrorismo. E baseados em seus princípios e convicções ideológicas, ele não pode concordar com o terrorismo. Como as FARC, o sentimento que qualquer força que queira lutar para alcançar o poder, não pode realizar atos de terrorismo.
No entanto, da mesma maneira, ele rechaça a extradição de colombianos para serem julgados em outros países. Esta é uma prática neocolonial que retira a soberania da nação. É utilizada para amedrontar homens e mulheres que lutam por uma causa justa, incluindo a Sonia e ele. Na Colômbia existe uma guerra, com prisioneiros tomados em ambos os lados. Este é um problema real que requer uma solução. A ordem política que chegou dos superiores de Trinidad era um primeiro passo para levar a cabo uma ação humanitária em benefício dos prisioneiros em ambos os lados do conflito. “Mina consciência me absolve. “Eu me junto à categoria daqueles a quem a história pode e os tem absolvido”.
Também Trinidad disse que estava satisfeito com a carta que escreveu a Manuel Marulanda pedindo uma prova de vida dos três estadunidenses, e ainda assim, não quer ser um obstáculo para a troca de prisioneiros. Ele está convencido de que este será um fator importante para alcançar a paz com justiça social na Colômbia. O primeiro ponto da plataforma política das FARC é o de encontrar uma solução política para o conflito.
Trinidad destacou que é seu mais sincero desejo, de que os três norte-americanos regressem sãos e salvos ao calor dos seus. De sua parte, ele já se tem reunido com oficiais do Departamento de Estado e estará disposto a fazer mais reuniões para continuar com o diálogo. Pontuou calmamente que quando se uniu às FARC, ele sabia que podia perder a vida e sua liberdade na luta por justiça e a paz em sua pátria.
Finalmente, agradeceu ao Comitê Nacional para a Libertação de Ricardo Palmera (CNPLRP) e mencionou os dizeres de José Martí: “O que Bolívar não conseguiu fazer, mantém-se sem ser feito até o presente.” Trinidad concluiu essas palavras. Com o mesmo tom de voz como as anteriores:
Viva Manuel Marulanda!!!
Viva as FARC!!!
Viva Simon Bolívar, cuja espada libertadora continua avançando pela América.
Depois de escutar tudo isso, o Juiz Lamberth olhou Trinidad nos olhos e lhe disse que respeitava sua inteligência, sua sinceridade, sua eloqüência. Em seguida, procedeu em sentenciá-lo a 60 anos, a sentença mais longa que se havia imposto a um colombiano. O Juiz voltou a repassar a linha anterior e explicou a Trinidad, que quando se uniu a esta conspiração, seu crime era de terrorismo, um odioso, bárbaro e reprovável crime que violava as leis e normas de todas as nações. Nenhum país civilizado tolerará o terrorismo, concluiu, e isto aqui era uma corte de leis. A sentença máxima pela tomada de reféns era a prisão perpétua, mencionou o Juiz, mas se ajusta aos desejos do governo colombiano e apenas o impus um termino de 60 anos. E encerrou dizendo “Boa sorte para você, Sr. Palmera Pineda.”