Os acontecimentos de Argelia e Inzá, no estado do Cauca
Os
acontecimentos dos últimos dias no corregimento de El Mango,
município de Argelia-Cauca, assim como os do município de Inzá, no
mesmo estado, mostram claramente que o cansaço da guerra nos
colombianos e nas colombianas começa a se transformar em rebelião
civil contra a Força Pública em zonas onde sua presença hostil
granjeou o rechaço da população civil.
Em
Argelia, campesinos e campesinas, fartos de suportar dentro de suas
casas policiais confinados pelo temor de serem atacados
–convertendo-se em fator de risco para a vida dos habitantes-,
procederam a expulsá-los do perímetro urbano, exigindo sua
reinstalação longe da população.
Em
Inzá, o assassinato de um comuneiro por uma patrulha do Exército
resultou na retenção de trinta soldados por parte da comunidade
indígena que exige o cessar das operações e que os militares
abandonem o território.
A
explicação dos fatos e a reação dos altos mandos policiais e
militares foi a de acusar aos campesinos e indígenas de serem
guerrilheiros infiltrados vestidos de civil e ameaçaram processá-los
judicialmente e aumentar o contingente policial.
Ao
instalar estações de polícia e unidades militares no meio dos
moradores, o Estado colombiano está violando normas do Direito
Internacional Humanitário [DIH], do qual é signatário, mais
precisamente do Protocolo Adicional aos Convênios de Genebra, Artigo
58 – Precauções contra os efeitos dos ataques, o qual diz:
“a)
Se
esforçarão, sem prejuízo do disposto no artigo 49 do IV Convênio,
por distanciar da proximidade de objetivos militares a população
civil, as pessoas civis e os bens de caráter civil que se encontrem
sob seu controle;
b)
Evitarão
situar objetivos militares no interior ou nas proximidades de zonas
densamente povoadas;
c)
Tomarão
as demais precauções necessárias para proteger contra os perigos
resultantes de operações militares a população civil, as pessoas
civis e os bens de caráter civil que se encontrem sob seu controle.”
O
repúdio da população à Força Pública, manifestado em Argelia e
Inzá, é a demonstração clara do fracasso da mal chamada política
de “segurança democrática” que já cumpre 13 anos de
implementação e que ainda hoje se insiste em manter com a falsa
crença de que servirá de pomada milagrosa para resolver a profunda
crise social que nossa pátria vive.
Até
quando poderá manter a mal chamada classe dirigente esta falácia? A
nação colombiana necessita e quer a paz e está disposta a
construí-la com sua participação direta, essa é a mensagem que
devemos decifrar das ações das comunidades de Inzá e Argelia.
O
tempo da solução militarista de crise se esgotou e já começa a
trincar-se esse pretenso apoio à solução militarista.
É
hora de abrir a via da democracia ouvindo e dando protagonismo ao
povo. O atual momento histórico demanda receptividade e sensatez
daqueles que se encontram na condução do Estado.
Isto
devem também internalizar esses setores que ficaram mumificados
pedindo mais guerra, quando não arriscam uma migalha nela, porém,
sim, obtêm vultosos benefícios da corrupção e do rio revolto que
gera a repressão e a violência.
O
Governo, por sua parte, deve meditar também sobre isto e abrir a via
a acordar o cessar-fogo bilateral que as maiorias nacionais e
a comunidade internacional
exigem. Assim
se poderia facilitar a construção de um acordo final de paz: Há
que desescalar a guerra, não há outro caminho.
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP
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Equipe
ANNCOL - Brasil