Santos não vai ganhar nenhuma guerra em meio à paz.
Por
Alberto Pinzón Sánchez
O
informe de Human Rights Watch [HRW], tornado público ontem
23.6.2015, sobre a responsabilidade do “generalato” colombiano
nos chamados “falsos positivos”, ocorridos durante o governo de
Uribe e seu ministro de Defesa JM Santos [fuzilar jovens
desempregados ou deficientes físicos vestidos de guerrilheiros para
dizer que vai ganhando a guerra e cobrar as recompensas da contagem
de corpos ou “body conter”], sem dúvida nenhuma se conhecia há
vários meses, pois a informação sobre a qual se baseia está
sacada das investigações promovidas desde há anos na promotoria
colombiana.
São
mais de 3.000 casos sobre os quais há informações sustentadas e
declarações que comprometem “massivamente” a 180 batalhões do
glorioso exército colombiano; quer dizer, como vimos dizendo desde
há décadas, “não são umas quantas maçãs apodrecidas mas todo
o pomar de macieiras”, e com o agravante de que seus dois
responsáveis diretos e aqueles que deram as ordens, presidente e
ministro de Defesa, continuam impunes na Casa de Nariño, protegidos
por todas as blindagens legais imagináveis.
Segundo
as “superficiais” notas jornalísticas que conseguiram vir a
público, o governo dos EUA, primeiro grande implicado, e alguns dos
senadores protetores dos militares colombianos conheceram em primeira
mão, há meses, o informe, que aparentemente é tão óbvio e
evidente que não puderam evitar sua publicação final.
Agora
gritam a plenos pulmões acusando a seus protegidos: “!!! Ao
ladrão. Esse é o ladrão. Agarrem-no!!!!”
E
tudo parece indicar que a saída forçada e contra o mesmíssimo
presidente do hercúleo ministério de Defesa Pinzón, quem era a
garantia de que ninguém ia se meter com seus dois chefes Uribe e
Santos, e sua lenta substituição [para evitar mais surpresas] pelo
empresário Villegas, ex-embaixador colombiano em Washington,
previamente instruído sobre o que tem e deve fazer com o generalato
colombiano, para lavar o sangue do coletivo militar, é uma parte do
roteiro anterior.
Porém,
já é um pouco tarde, porque com um exército assim de assassino e
sem nenhuma moral, por mais tecnologia de última geração, drones e
bombas de 250 quilos que tenham para despedaçar guerrilheiros, não
vão ganhar nenhuma guerra em Colômbia, nem sequer com o pretexto de
querer a paz. Pelo contrário, a cada se afundará mais no pântano
da degradação e desmoralização que estamos vendo.
Ficou
claro finalmente porque o hercúleo Pinzón atuou como fez: como um
“francoatirador sem controle” contra a Mesa de Havana, vazando
todo tipo de informação para Uribe com o visto bom de Santos.
Ficou
claro que Pinzón não era uma roda solta em toda esta estratégia,
para proteger e arrancar a seus dois chefes junto com o generalato e
a cúpula militar impunes, ante um possível acordo sobre justiça
bilateral em Havana, mas sim o contrário: uma peça mestra da
estratégia militarista de negociar em meio à guerra.
Ficou
claro porque Santos se apega como “última
ratio” [último recurso] a esse modelo militarista viciado e
perverso de “negociar em meio à guerra”. Também há luz nas
razões pelas quais Uribe [com seus acólitos] insiste em continuar
sugando a teta suculenta e oceânica dos dólares americanos que
sustentam a guerra contra insurgente “eterna” em Colômbia; pois,
enquanto haja guerra, não será possível encontrar a verdade para
fazer justiça, ou, dito de outra maneira: a justiça será
impossível e a impunidade continuará sendo a lei, como até agora
tem sido.
O farol ou blof
de Santos de
apresentar-se ameaçador e muito poderoso ante seus opositores e
inclusive ante seus “amigos de ocasião” como o presidente
venezuelano Maduro, finalmente ficou desinflado. Forçou as Farc a
suspenderem a trégua unilateral que estas haviam decretado, fazendo
saltar em pedaços a meia centena de guerrilheiros, incluído o
delegado de Paz Jairo Martínez, para depois sair a se sentir saudoso
daqueles meses em que a confrontação diminuiu ostensivamente.
Forçou
diplomaticamente o cerco contra o governo legítimo de Venezuela,
erguendo o espanhol com passaporte colombiano Felipe González para
que fosse desestabilizar o Presidente Maduro, seu “amigo de
ocasião”, inclusive enviou um avião oficial destinado à
presidência da Colômbia [sem autorização de ninguém] para que
fosse arrancar Felipe González sub-repticiamente e às pressas de
Caracas, e agora, que Venezuela é agredida e submetida a uma guerra
diplomática oriunda da Colômbia, traça soberanamente os limites de
sua defesa militar, então manda razõezinhas lacrimejantes para que
se jogue para trás o decreto venezuelano.
Por acaso, Uribe não
ameaçou com seu poderoso exército e com a guerra a Venezuela de
Hugo Chávez, por algo mil vezes menos importante?
Muito simples: o
heroico e gigantesco exército colombiano, contrário ao mandato de
nosso pai Simón Bolívar, não pode defender a soberania de seu país
porque está encharcado em seu interior fuzilando seu próprio povo
para fazê-lo passar como inimigo interno ou como guerrilheiro, para
cobrar recompensas sobre seus cadáveres.
E por isto o povo
humilde o expulsa de seus povoados, como passou ontem em Argelia
Cauca. Porque é um exército de ocupação estrangeira,
desmoralizado e politicamente arrebentado que já não pode ganhar
nenhuma guerra, nem sequer contando com o pretexto da paz, ou tendo
às mãos a imensa ajuda militar, tecnológica, econômica e política
que lhe dão as 9 bases dos EUA em Colômbia.
Sempre fui muito
cuidadoso com os informes de HRW, porém, desta vez, assim como as
denúncias sobre a lei do foro militar aprovado recentemente pelo
congresso em Colômbia, realmente devo felicitar a seu diretor
Vivanco. São dois informes corajosos que são muito bem-vindos na
opinião democrática colombiana e um inestimável insumo para
encontrar a paz baseada na verdade em nosso martirizado país. Oxalá
o escutem e o ponham em prática. Então, haverá motivo para voltar
a ser otimista e voltar a crer.
Equipe
ANNCOL - Brasil