Quem torna impossível um cessar-fogo bilateral?
Por
Comandante Joaquín Gómez
Integrante
do Secretariado das FARC-EP
A
morte de Jairo Martínez e mais 25 guerrilheiros, assim como a do
coronel Alfredo Luis Clavijo e do patrulheiro Juan Davi Marmolejo,
constituem perdas de valiosas vidas humanas que bem poderiam ser
evitadas.
Como
teriam sido evitadas? Com um acordo sobre o cessar-fogo bilateral,
que desde o princípio mesmo das conversações em Havana foi
proposta das FARC ao governo. Santos sempre respondeu o mesmo, que
não, porque a Guerrilha aproveitaria o cessar-fogo bilateral para se
fortalecer.
Este
argumento é de uma fragilidade tal que não resiste a uma análise
lógica. Se subentende que, se se pactua um cessar-fogo bilateral,
deverá haver uma comissão que verificará o cumprimento do mesmo
pelas partes; comissão que deverá estar integrada por destacados
personagens da vida nacional e internacional, mais representantes de
cada uma das partes enfrentadas e membros das comunidades.
Pelo
acima exposto, esse argumento do presidente Santos não é
convincente, porque está divorciado da lógica expressada no sentido
comum.
Quando
as FARC-EP decretaram o “cessar-fogo
unilateral, por tempo indeterminado e verificável”,
as forças estatais, principalmente o Exército, só viram neste
gesto inequívoco de boa vontade e desejo de paz a oportunidade única
de obter vantagens militares sobre a Guerrilha, a qual acolheu com
plena subordinação a ordem ministrada por sua Instância Superior,
e cujo objetivo primordial era aliviar, dentro do possível, a
angústia, os sofrimentos e incertezas em que se move o campesinato
colombiano frente ao conflito interno que o país vive, e que tem sua
expressão principalmente no campo.
Durante
a trégua unilateral decretada pelas FARC caíram vilmente
assassinados pelas balas oficiais 30 guerrilheiros e uma dezena de
feridos, entre os quais vários comandantes, um deles o camarada
Gilberto [El Becerro], integrante do Estado-Maior Central, e a quem,
depois de morto, trataram de enodoar seu prestígio de
revolucionário, qualificando-o de narcotraficante, para tratar de
justificar ante a opinião pública sua injustificada morte.
A
denúncia das FARC pelas constantes operações ofensivas do Exército
contra suas unidades em trégua se tornou obsessiva por reiterada. 5
comunicados públicos denunciaram o que estava sucedendo e em todos
eles se advertia que o cessar-fogo unilateral estava em perigo; que a
situação estava insustentável, porque estavam matando os
guerrilheiros. Estas denúncias também as fizemos ante os delegados
plenipotenciários do Governo na Mesa de Havana. Todos eles acabaram
enfermos de “surdez coletiva”, ninguém quis escutar.
Essa
atitude provocou os lamentáveis e dolorosos fatos da vereda Buenos
Aires [Cauca], onde morreram 11 militares e outros 21 terminaram
feridos. Era algo que estava por vir, porque uma das leis mais
antigas, tão antiga como a própria existência da humanidade, é a
lei natural do direito a se defender. Neste caso concreto, é preciso
reconhecer que a guerrilha disparou primeiro, porém forçada a isso
pelos desembarques de tropa e dos avanços por terra, que pressagiava
a iminente morte das vítimas de sempre, os guerrilheiros.
Dados
estes fatos, o presidente Santos, de maneira rápida, expressa sua
“irreprimível ira unida aos lamentos pelos militares caídos”,
tornando-se visível uma atitude que não é sincera. Se
verdadeiramente lhe doessem as mortes de soldados anônimos, todos
filhos de “Juan Pueblo” [João Povo], há tempos que haveria
pactuado o cessar-fogo bilateral.
É claro que como em nenhuma dessas patrulhas se encontra Esteban,
seu filho, a quem mostrou a todo o país desde Tolemaida, não lhe
parece urgente uma decisão de parar a guerra de imediato. Estou
quase certo de que Esteban Santos, após o show publicitário, se
encontra novamente na casa paterna, desfrutando do privilégio de ser
filho do Presidente da República e de pertencer à família Santos.
Se
me equivoco e Esteban ainda se encontra no Exército, peço perdão
pela grave imprecisão. Porém, sugeriria ao presidente Santos pedir
aos generais que destinem Esteban à ordem pública. Assim, dona
María Clemencia e o Presidente talvez conheceriam em carne própria,
sem demagogia nem populismo, a inigualável dor, por profunda, que
todos os dias sentem os humildes campesinos, ao receberem a notícia
de que perderam seu filho num combate entre pobres.
O
outro, que se deve ter em conta, é que de repente Santos queira um
cessar-fogo bilateral, porém não possa pactuá-lo pela oposição
do Pentágono. É bem sabido, e disto podem dar fé os generais
colombianos, que nossos governantes não dão um passo sem consultar
e pedir aprovação do Governo gringo, o qual não creio que esteja
interessado em que o conflito se solucione. Sem conflito interno
ficaram sem pretexto para a ingerência, hoje em dia, quando a meta
do império consiste em desestabilizar, a partir de sua plataforma em
Colômbia, os governos democráticos alternativos de Latino-América
e do mundo.
Neste
último caso, peço compreensão para com o Presidente Santos. Não é
culpa sua que a classe dominante em Colômbia tenha a vocação
servil de, como dizia Jorge Eliécer Gaitán, permanecer de joelhos
ante o império norte-americano.
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Equipe
ANNCOL - Brasil