A unidade não é um dogma, é uma relação dinâmica, dialética.
Por
Nelson Lombana Silva
“O
pau não está para fazer colheres” é um dito popular que,
possivelmente, cai bem nestes momentos de conjuntura onde o país se
encontra abocado a uma série de acontecimentos, alguns bastante
contraditórios, e que exigem da esquerda e dos democratas posições
claras e consequentes. Se poderia dizer que não há momento para as
ambiguidades, sectarismos e vacilações.
De um
lado, cada vez se coloca com mais nitidez a criminalidade do regime
capitalista que o presidente Santos e seus apaniguados lideram. A
criação de sete bases norte-americanas e a condução de operações
miltares
diretamente pela
CIA para
assassinar comandantes da guerrilha e, ao mesmo tempo, carta branca
para as
empresas transnacionais
acabarem
com o meio ambiente e a soberania nacional. Isso é supremamente
grave.
De
acordo com a crua realidade que o “Washington Post”, imprensa do
imperialismo, denuncia e que o comandante Fidel Castro já havia
denunciado, a verdade é que temos um exército lacaio, posto a
serviço das multinacionais e transnacionais. Quer dizer, quem vem
sabotando os diálogos de La Habana [Cuba] não é propriamente o
“ministrinho” de Defesa Juan Carlos Pinzón [garotinho mimado de
Álvaro Uribe Vélez], mas sim diretamente a CIA através de suas
operações encobertas.
Quer
dizer também que toda a enxurrada de corrupção, violência,
desemprego etc tem necessariamente que ver com as decisões políticas
não traçadas pelo governo nacional, mas sim pelo Fundo Monetário
Internacional [FMI] e em resumidas contas pelos Estados Unidos. Não
é, então, uma frase de efeito dizer que o presidente Santos fala
espanhol porém pensa em inglês.
Enquanto
a soberania nacional se descaroça como uma espiga de milho, o
movimento insurgente das Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia, Exército do Povo, FARC-EP, e um amplo setor de esquerda e
democratas lutam denodadamente pelo fim do conflito social e armado
que sacode o país há mais de 50 anos. É um esforço titânico, de
singular coragem, que dependerá no mais alto grau do papel que
assuma o
povo colombiano
devidamente organizado
e politizado.
Já o disse o comandante Timoleón: A chave da paz não a tem na
guerrilha nem o governo de Santos, a tem o povo.
É bem
claro que em Havana [Cuba] não se está definindo casa, carro e
bolsa para a insurgência, o que se está definindo é o destino da
pátria, dos 47 milhões de colombianos e colombianas que transitam
caminhos e avenidas sem amor e sem esperança. Resolver as causas do
conflito, aclimatar a democracia e a liberdade para discordar sem o
temor de ser assassinado, como vem sucedendo de ponta a ponta no
país.
Assim
contado rapidamente, se diria a voo de borboletas amarelas, para
trazer à baila a linguagem macondiana de Gabriel García Márquez,
fazem um negócio muito frágil certos companheiros que se declaram
de esquerda e unitários acerca da dinâmica mesma da unidade. Parece
que para eles a unidade é um dogma que tem uma só cara e uma só
fase totalmente isolada da anterior.
Para
os que pecam de boa-fé nessa interpretação, bom resulta dizer à
maneira de tese de que a unidade não é um dogma, é uma relação
dinâmica, dialética. Isso quer dizer que não é estática, nem
perfeita, porquanto constantemente vai se desenvolvendo. É um
processo com avanços e retrocessos, acertos e desacertos.
Em
reiteradas oportunidades dissemos que se só há um ponto que una as
diferentes esquerdas que há na Colômbia, devemos todos
prodigalizar-nos a fundo, com decisão política, espírito
revolucionário e princípio dialético. No nosso modo de pensar, é
errático esperar que haja acordo em tudo para então, sim,
sentar-nos a falar de unidade. Repetimos: A unidade se constrói na
práxis, na ação, e não simplesmente teorizando.
Não é
gratuito o esforço que vem fazendo o Partido Comunista na construção
de uma frente ampla pela paz e a democracia. Temos que ser
consequentes entre o que se diz e se faz. Se dizemos que na Colômbia
há esquerdas, Por que não juntar as rebeldias com fundamento nos
pontos que nos unem? Ante um regime tão assassino que ninguém o
pode negar. No entanto, alguns companheiros ainda ficam pensando se é
importante a unidade ou não ou talvez buscando falsos puritanismos e
alianças ideais.
Alguns,
inclusive, grosseiramente se atreveram a dizer que o camarada Carlos
Arturo Lozano Guillén, candidato ao senado da República, se havia
dobrado por motivo da Aliança Verde, um acordo claro que se
subscreveu na dinâmica de destravar o processo unitário e cada vez
fazê-lo mais real e amplo com opção de poder. O curioso é que
alguns deles, quando se lhes convida a debater sobre o tema, não
participam. Isso, o que é?
Com
razão, disse o camarada Lozano Guillén em 11 de janeiro, desde a
cidade de Ibagué, que não havia se rendido quando Uribe e o então
ministro de Defesa Juan Manuel Santos queriam metê-lo no cárcere
com a história dos computadores do comandante da guerrilha Raúl
Reyes e países como França, Espanha e Suíça lhe ofereceram asilo
político e ele não se foi. Pelo contrário, enfrentou com dignidade
a tempestade e se manteve com a solidariedade nacional e
internacional. Talvez
para alguns poucos isso não é suficiente.
Fazia
muitos anos que o Tolima não tinha um filho tão ilustre nas sadias
aspirações de chegar ao senado da República. Um homem capaz,
inteligente e decidido, porém sobretudo: Comunista, revolucionário.
Lozano Guillén não se vende, nem entrega as bandeiras do povo por
um simples prato de lentilhas. Ao lado dele, está a companheira Lily
Ipuz Medina, candidata à câmara de representantes 104 no cartão.
Uma mulher simples, campesina, indígena, porém comunista e
revolucionária, também demonstrado mais na prática que na teoria.
A
proposta é seguir debatendo sobre a unidade, porém na ação, não
sentados em gabinetes esperando que o outro se equivoque para
cair-lhe [matando] com tudo. A unidade não é imposição, não é
estigmatização, a unidade é diálogo teórico-prático, é
fraternidade, solidariedade e práxis. Não é um dogma, é uma
relação dinâmica, dialética que todos os dias se constrói. Todos
e todas temos a responsabilidade de contribuir neste processo, só
assim é possível enfrentar com êxito o ogro de mil cabeças que
representa hoje o regime capitalista com a mundialização e o
neoliberalismo.
Fonte: www.pacocol.org
Tradução: Joaquim Lisboa Neto