Cinquenta verdades sobre Raúl Castro
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Foto: Raul e El Che. Ano de 1958
Atual presidente de Cuba sempre viveu à sombra de seu irmão e segue sendo pouco conhecido pela opinião pública mundial.
Por Salim Lamrani*, de Paris para a Opera Mundi
1. Raúl
Modesto Castro Ruz nasce no dia 3 de junho de 1931 em Birán, na
província de Holguín, no seio de uma família cubana-espanhola.
Assim como seu irmão mais velho, Fidel Castro, ele estuda no colégio
jesuíta Dolores em Santiago de Cuba e no Colégio de Belém em
Havana.
2. Ao
contrário de Fidel, que é membro do Partido Ortodoxo, Raúl Castro
milita desde muito jovem na Juventude Socialista, filiada ao Partido
Socialista Popular, que é o partido comunista cubano da época.
3. Em 1953, realiza uma viagem para o outro lado de Cortina de Ferro, Viena, para participar da Conferência Internacional de Defesa dos Direitos da Juventude.
4. Raúl Castro se envolve muito na juventude estudantil e participa das manifestações contra o governo de Carlos Prío Socarrás, regularmente abalado por escândalos de corrupção.
5. No dia 26 de julho de 1953, aos 20 anos, Raúl Castro participa, com seu irmão Fidel e seus companheiros, do ataque ao quartel Moncada em Santiago de Cuba, cujo objetivo é derrubar o ditador Fulgencio Batista. Tem como missão tomar o controle do Palácio da Justiça da cidade.
6. Capturado, é condenado a 13 anos de prisão junto aos poucos sobreviventes da expedição de Moncada e cumpre sua pena na prisão de Los Pinos, na Ilha da Juventude.
7. Em 1955, depois de ser anistiado por Batista, ele se exila no México com seu irmão Fidel e vários membros do Movimento 26 de Julho.
8. Raúl Castro conhece um jovem médico chamado Ernesto Guevara e decide apresentá-lo a Fidel Castro.
9. No dia 25 de novembro de 1956, embarca com seu irmão e outros 80 homens a bordo de um barco com destino à província oriental de Cuba, com o objetivo de desatar uma guerra insurrecional contra o regime militar. Antes de subir a bordo do Granma, escreve seu testamento político.
3. Em 1953, realiza uma viagem para o outro lado de Cortina de Ferro, Viena, para participar da Conferência Internacional de Defesa dos Direitos da Juventude.
4. Raúl Castro se envolve muito na juventude estudantil e participa das manifestações contra o governo de Carlos Prío Socarrás, regularmente abalado por escândalos de corrupção.
5. No dia 26 de julho de 1953, aos 20 anos, Raúl Castro participa, com seu irmão Fidel e seus companheiros, do ataque ao quartel Moncada em Santiago de Cuba, cujo objetivo é derrubar o ditador Fulgencio Batista. Tem como missão tomar o controle do Palácio da Justiça da cidade.
6. Capturado, é condenado a 13 anos de prisão junto aos poucos sobreviventes da expedição de Moncada e cumpre sua pena na prisão de Los Pinos, na Ilha da Juventude.
7. Em 1955, depois de ser anistiado por Batista, ele se exila no México com seu irmão Fidel e vários membros do Movimento 26 de Julho.
8. Raúl Castro conhece um jovem médico chamado Ernesto Guevara e decide apresentá-lo a Fidel Castro.
9. No dia 25 de novembro de 1956, embarca com seu irmão e outros 80 homens a bordo de um barco com destino à província oriental de Cuba, com o objetivo de desatar uma guerra insurrecional contra o regime militar. Antes de subir a bordo do Granma, escreve seu testamento político.
10. O
desembarque é um desastre total porque o Exército estava esperando
os revolucionários, elimina uma parte dos combatentes e dispersa o
restante. Raúl Castro se lembraria da tragédia de 2 de dezembro de
1956: “Eram 4h30 da tarde quando vimos a hecatombe.”
11. Depois de encontrar seu irmão, no dia 18 de dezembro de 1956 em Cinco Palmas, Raúl Castro começa a campanha em Sierra Maestra como simples guerrilheiro e seu parentesco com o líder do Exército Rebelde não lhe confere nenhum privilégio.
12. Raúl Castro se espanta com a solidariedade e a generosidade dos camponeses de Sierra Maestra. Em seu diário, escreve: “A forma como estes camponeses da Sierra se esforçam para tomar conta de nós é admirável. Toda a nobreza e a grandeza da alma cubana se encontram aqui.”
13. O Exército Rebelde trata bem dos soldados presos. A respeito, Raúl Castro conta: “Demos comida aos três e lhes dissemos que os libertaríamos e que guardaríamos apenas as armas.Tinham dinheiro e relógios de que necessitávamos, mas, seguindo nossos princípios, não os tocamos. […] Pedimos que assinassem um papel dizendo que foram bem tratados. Conversando com um deles em tom amável, F. [Fidel] conseguiu informação de grande utilidade”. Quando os guerrilheiros descobrem a presença de um infiltrado pago pela ditadura em sua tropa, o executam. Raúl Castro escreve em seu diário: “Talvez se o torturássemos teria nos dado mais informação, mas, inclusive com um traidor tão miserável, não aplicamos esses métodos.”
14. Em fevereiro de 1957, Raúl Castro é o primeiro a conhecer Herbert L. Matthews, o jornalista do New York Times que revelaria ao mundo a existência de uma guerrilha em Cuba. “Dei a mão ao jornalista e, lembrando de meu rudimentar inglês escolar, lhe disse “How are you?”. Não entendi sua resposta e logo F. chegou e, depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na tenda e começou a entrevista jornalística, que seguramente será uma porrada.”
15. Depois de Che Guevara em 1957, Raúl Castro é nomeado comandante do Exército Rebelde em fevereiro de 1958, após ter feito suas provas em campo. Seu irmão Fidel o encarregou de abrir uma segunda frente [de batalha] no nordeste de Sierra Maestra, com a coluna de guerrilheiros n° 6 chamada de Segunda Frente “Frank País”, em honra ao líder do Movimento 26 de Julho de Santiago de Cuba assassinado pela ditadura em julho de 1957. Na realidade, a n° 6 era destinada a enganar o inimigo sobre o número de guerrilheiros que, na realidade, nunca superou os 300 homens armados.
16. Raúl Castro toma o controle dos territórios libertados e cria uma verdadeira estrutura autônoma com hospitais, escolas e várias fábricas de armas e de sapatos.
17. Raúl Castro elabora, a partir de 1958, o primeiro serviço de inteligência revolucionário. Também cria a nova política revolucionária.
18. Os Estados Unidos tinham imposto oficialmente um embargo sobre as armas que iriam para Cuba em março de 1958. Na realidade, continuavam fornecendo armas secretamente ao Exército cubano. Em junho de 1959, Raúl Castro decide denunciar o conluio entre Batista e Washington mediante uma ação espetacular. Frente aos bombardeios da aviação cubana, equipada com armas estadunidenses, ele responde com a Operação Antiaérea e sequestra vários cidadãos estadunidenses, inclusive militares. O objetivo era acabar com os bombardeios de Sierra Maestra que têm um impacto mortífero para as forças rebeldes, mas sobretudo para a população civil da região. A operação é exitosa. O Washington Post e o Times Herald evocam “o tratamento digno de um rei” do qual se beneficiaram os reféns. “Os militares estadunidenses foram tratados tão bem, e foram tão convencidos pelos argumentos dos rebeldes, que vários deles desejavam ficar e lutar contra Batista”. “Uma figura extraordinária, esse Raúl Castro”, escreve de sua parte a revista estadunidense Time, citando um refém, e completa que o jovem comandante “desejava dar uma lição em Washington.”
19. Em 1958, Raúl Castro impõe o pagamento de um imposto revolucionário a todas as empresas, inclusive às multinacionais estadunidenses.
20. Quando a Revolução triunfa, durante a formação do Governo provisório, Raúl Castro não ocupa nenhum cargo.
21. No dia 26 de janeiro de 1959, Raúl Castro se casa com Vilma Espín Guillois, combatente clandestina que participou do levante armado de 30 de novembro de 1956 em Santiago de Cuba, apoiando o desembarque do Granma. Seria a fundadora da Federação das Mulheres Cubanas.
22. Em fevereiro de 1959, substitui Fidel Castro como Ministro das Forças Armadas, quando ele é nomeado chefe do governo pelo presidente Manuel Urrutia. Dirigiria a Ministério das Forças Armadas até 2008, o qual se transformaria na instituição mais eficiente de Cuba, autossuficiente em produção agrícola graças à União Militar Agropecuária.
23. De 1959 a 1965, Raúl Castro tem de enfrentar os atos terroristas e as sabotagens organizadas pela CIA que atacam o país. Lembra: “Às vezes, chegava ao Ministério das Forças Armadas e vinham quatro ou cinco assistentes, que eram contatos com os diferentes territórios, exércitos e regiões do país, e para ser mais rápido não me faziam relatórios, vinham com uma lista do que tinha acontecido nas últimas 24 horas ou, pelo menos, nas últimas 12 horas da noite anterior: dezenas de casas de cura de tabaco tinham sido incendiadas em Pinar Del Río, mais tantas dezenas de canaviais queimando em todo o país, de acordo com a época do ano; tantos combatentes libertados, tantas bombas em cidades e outros lugares, tantas sabotagens a linhas de energia. Às vezes, eu lhes dizia: ‘Digam-me o mais importante’, e assim foi, com maior ou menor intensidade, durante cinco ou seis anos.”
24. Em 1959, Fidel Castro designa Raúl Castro como seu sucessor para o caso de que fosse assassinado.
25. Desde 1959, Raúl Castro é, assim como seu irmão, o único membro da família Castro a ocupar um posto político em Cuba.
26. Em 1961, Raúl Castro é nomeado para a Direção Nacional das Organizações Revolucionárias Integradas[ORI], que agrupam o Movimento 26 de Julho, de Fidel Castro, o Diretório Revolucionário, dos estudantes, e o Partido Socialista Popular.
27. Em 1963, ocupa também a Direção do Partido Unido da Revolução Socialista, que substitui as ORI.
28. Em 1965, com a criação do Partido Comunista de Cuba, é nomeado o segundo secretário.
29. Com a adoção da nova Constituição de 1976, Raúl Castro é eleito vice-presidente da República, posto para o qual seria reeleito até 2006. Também é deputado e vice-presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros de 1976 a 2006.
30. Em novembro de 1976, é promovido a General do Exército.
31. A partir dos anos 1980, Raúl Castro desenvolve o conceito de “Guerra de Todo o Povo”, frente às ameaças de invasão por parte dos Estados Unidos. Essa estratégia de defesa militar consiste em armar todo o povo e desatar uma guerra de guerrilhas contra o invasor: “A Guerra de Todo o Povo significa que, para conquistar nosso território e ocupar nosso solo, as forças imperiais teriam de lutar contra milhões de pessoas e teriam de pagar com centenas de milhares e, até, milhões de vidas, pela tentativa de conquistar a nossa terra, de esmagar nossa liberdade, nossa independência e nossa Revolução [...]. Por mais poderoso que seja o império, por mais sofisticadas que sejam suas técnicas e suas armas, não está em condições de pagar o preço que significaria semelhante aventura.”
32. Em 1993, em pleno Período Especial, marcado por uma grave crise econômica depois do desparecimento da União Soviética e do recrudescimento das sanções econômicas por parte de Washington, Raúl Castro adverte os Estados Unido contra qualquer tentativa de agressão: “A luta seria sem frente nem retaguarda, em cada canto do país. Para isso, contamos, além das Tropas Regulares, com as Milícias de Tropas Territoriais, e as Brigadas de Produção e Defesa, organizadas em cada província e em seus 169 municípios; o combate se daria nas mais de 1400 Zonas de Defesa se o inimigo fosse capaz de chegar a todas elas, suposição impossível, porque seriam necessários milhões de soldados e, ainda assim, seriam extremamente débeis porque em qualquer lugar poderiam pisar em uma mina, ser liquidados por uma bala ou uma granada e as emboscadas seriam seu pesadelo [...]. Em uma guerra prolongada, se de cada dois ou três franco-atiradores – e temos dezenas de milhares – um deles aniquila um ianque, de preferência um oficial, poderia o invasor assumir tantas baixas e persistir com a agressão? [...]; Em nossa doutrina, as tropas terrestres são as forças decisivas, já que os combates, uma vez que o inimigo tenha desembarcado, aconteceriam sobre nosso solo, homem frente a homem, a tiro de fuzil. E, em tais condições, a superioridade moral dos homens que defendem a sua pátria é infinitamente maior que a do odiado invasor. O solo arderia sob seus pés, das entranhas da terra, e, depois dos golpes aéreos, sairiam os combatentes para acertar as contas no solo sagrado da pátria que não admite botas invasoras.”
33. Em 1998, 40 anos depois de ser nomeado Comandante do Exército Rebelde, é promovido a Comandante da Revolução.
34. Em 31 de julho de 2006, em virtude do Artigo 94 da Constituição, Raúl Castro substitui seu irmão Fidel Castro, vítima de uma grave doença, e se transforma no presidente temporário da República.
35. Em 2007, Raúl Castro faz um grande plebiscito nacional com o objetivo de dar continuidade a uma “atualização do modelo socioeconômico do país.”
36. Em fevereiro de 2008, o Parlamento Cubano elege Raúl Castro para a presidência da República, o qual sucede seu irmão, que anunciou sua retirada da vida política. Para chefiar o Estado e o governo, Raúl Castro teve de passar por dois processos eleitorais. Primeiro, foi eleito pelo sufrágio universal e secreto, como deputado da Assembleia Nacional. Depois, o Parlamento o elegeu Presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros.
37. Em setembro de 2008, Raúl Castro decide outorgar as terras ociosas para usufruto dos camponeses para aumentar a produção agrícola num país que importa mais de 80% das matérias-primas alimentícias.
38. Em dezembro de 2008, Raúl Castro realiza sua primeira turnê diplomática internacional como presidente da República e visita a Venezuela, onde se reúne com Hugo Chávez, e o Brasil, onde se encontra com Lula.
39. Em novembro de 2010, o projeto de atualização do modelo socioeconômico se submete a um amplo debate popular que engloba mais de 8 milhões de pessoas. Depois de ser modificado, é adotado em abril de 2011 e abre vários setores da economia ao campo privado. Cerca de meio milhão de cubanos trabalha hoje no setor privado.
40. No dia 16 de abril de 2011, Raúl Castro celebra o 50° aniversário da declaração do caráter socialista da Revolução Cubana e organiza o 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba. É eleito Primeiro Secretário e substitui oficialmente Fidel Castro.
41. Em 2010 e 2011, depois de um acordo com a Espanha e com a Igreja Católica Cubana, Raúl Castro decide liberar todos os presos chamados “políticos” em Cuba. Alguns decidem abandonar o país, outros permanecem na ilha.
42. Em novembro de 2011, Raúl Castro simplifica os trâmites administrativos para o setor imobiliário. Desde então, os cubanos podem comprar e vender seus bens sem outra formalidade senão uma visita ao cartório. Antes, era necessário conseguir a permissão do Escritório de Habitação. Para evitar a concentração de bens em um mercado deficitário, os cubanos não podem ter mais de dois produtos imobiliários, um dos quais deve se situar no campo.
43. Em março de 2012, Raúl Castro recebe a visita de Bento XVI. “Nosso governo e a Igreja Católica, Apostólica e Romana em Cuba mantêm boas relações”, declara.
44. Em dezembro de 2012, Raúl Castro decide expandir o sistema de cooperativas para todos os setores.
45. Em janeiro de 2013, respondendo a uma forte petição popular, Raúl Castro decide eliminar os obstáculos burocráticos como a “tarjeta blanca” [como é popularmente conhecida a autorização de saída] e a “carta-convite”, para facilitar as viagens dos cubanos ao exterior.
46. Em 28 de janeiro de 2013, Raúl castro é eleito para à presidência pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que agrupa os 33 países da América Latina e do Caribe, e provoca, assim, um importante revés diplomático contra os Estados Unidos, cujo chamado para isolar Cuba foi ignorado.
47. Em fevereiro de 2013, Raúl Castro é reeleito para a presidência da República para um mandato de 5 anos. Depois da reforma constitucional, os mandatos executivos se limitam agora a 10 anos. Assim, Raúl Castro sairá do poder no máximo em 2018.
48. No dia 10 de dezembro de 2013, durante o funeral de Nelson Mandela na África do Sul, Raúl Castro dá a mão ao presidente Barack Obama. Como seu predecessor, Fidel Castro, declara publicamente sua vontade de dialogar com os Estados Unidos. “Se realmente desejamos avançar nas relações bilaterais, teremos de aprender a respeitar mutuamente nossas diferenças e nos acostumarmos a conviver pacificamente com elas. Do contrário, estamos dispostos suportar outros 55 anos na mesma situação.”
49. Sua filha Mariela Castro é diretora do Centro Nacional de Educação Sexual e defende os direitos dos homossexuais, lésbicas e transexuais em Cuba.
50. Raúl Castro é famoso por sua franqueza e sua mente aberta. Não vacila em se mostrar muito crítico e denuncia publicamente as oscilações do sistema, o que lhe vale a fama de ser ao mesmo tempo o melhor jornalista da ilha e seu dissidente mais incisivo.
*Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de La Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face audéfi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.
Contato: lamranisalim@yahoo.fr ;Salim.Lamrani@univ-reunion.fr
Página no Facebook: https://www.facebook.com/SalimLamraniOfficiel
11. Depois de encontrar seu irmão, no dia 18 de dezembro de 1956 em Cinco Palmas, Raúl Castro começa a campanha em Sierra Maestra como simples guerrilheiro e seu parentesco com o líder do Exército Rebelde não lhe confere nenhum privilégio.
12. Raúl Castro se espanta com a solidariedade e a generosidade dos camponeses de Sierra Maestra. Em seu diário, escreve: “A forma como estes camponeses da Sierra se esforçam para tomar conta de nós é admirável. Toda a nobreza e a grandeza da alma cubana se encontram aqui.”
13. O Exército Rebelde trata bem dos soldados presos. A respeito, Raúl Castro conta: “Demos comida aos três e lhes dissemos que os libertaríamos e que guardaríamos apenas as armas.Tinham dinheiro e relógios de que necessitávamos, mas, seguindo nossos princípios, não os tocamos. […] Pedimos que assinassem um papel dizendo que foram bem tratados. Conversando com um deles em tom amável, F. [Fidel] conseguiu informação de grande utilidade”. Quando os guerrilheiros descobrem a presença de um infiltrado pago pela ditadura em sua tropa, o executam. Raúl Castro escreve em seu diário: “Talvez se o torturássemos teria nos dado mais informação, mas, inclusive com um traidor tão miserável, não aplicamos esses métodos.”
14. Em fevereiro de 1957, Raúl Castro é o primeiro a conhecer Herbert L. Matthews, o jornalista do New York Times que revelaria ao mundo a existência de uma guerrilha em Cuba. “Dei a mão ao jornalista e, lembrando de meu rudimentar inglês escolar, lhe disse “How are you?”. Não entendi sua resposta e logo F. chegou e, depois de cumprimentá-lo, sentou-se com ele na tenda e começou a entrevista jornalística, que seguramente será uma porrada.”
15. Depois de Che Guevara em 1957, Raúl Castro é nomeado comandante do Exército Rebelde em fevereiro de 1958, após ter feito suas provas em campo. Seu irmão Fidel o encarregou de abrir uma segunda frente [de batalha] no nordeste de Sierra Maestra, com a coluna de guerrilheiros n° 6 chamada de Segunda Frente “Frank País”, em honra ao líder do Movimento 26 de Julho de Santiago de Cuba assassinado pela ditadura em julho de 1957. Na realidade, a n° 6 era destinada a enganar o inimigo sobre o número de guerrilheiros que, na realidade, nunca superou os 300 homens armados.
16. Raúl Castro toma o controle dos territórios libertados e cria uma verdadeira estrutura autônoma com hospitais, escolas e várias fábricas de armas e de sapatos.
17. Raúl Castro elabora, a partir de 1958, o primeiro serviço de inteligência revolucionário. Também cria a nova política revolucionária.
18. Os Estados Unidos tinham imposto oficialmente um embargo sobre as armas que iriam para Cuba em março de 1958. Na realidade, continuavam fornecendo armas secretamente ao Exército cubano. Em junho de 1959, Raúl Castro decide denunciar o conluio entre Batista e Washington mediante uma ação espetacular. Frente aos bombardeios da aviação cubana, equipada com armas estadunidenses, ele responde com a Operação Antiaérea e sequestra vários cidadãos estadunidenses, inclusive militares. O objetivo era acabar com os bombardeios de Sierra Maestra que têm um impacto mortífero para as forças rebeldes, mas sobretudo para a população civil da região. A operação é exitosa. O Washington Post e o Times Herald evocam “o tratamento digno de um rei” do qual se beneficiaram os reféns. “Os militares estadunidenses foram tratados tão bem, e foram tão convencidos pelos argumentos dos rebeldes, que vários deles desejavam ficar e lutar contra Batista”. “Uma figura extraordinária, esse Raúl Castro”, escreve de sua parte a revista estadunidense Time, citando um refém, e completa que o jovem comandante “desejava dar uma lição em Washington.”
19. Em 1958, Raúl Castro impõe o pagamento de um imposto revolucionário a todas as empresas, inclusive às multinacionais estadunidenses.
20. Quando a Revolução triunfa, durante a formação do Governo provisório, Raúl Castro não ocupa nenhum cargo.
21. No dia 26 de janeiro de 1959, Raúl Castro se casa com Vilma Espín Guillois, combatente clandestina que participou do levante armado de 30 de novembro de 1956 em Santiago de Cuba, apoiando o desembarque do Granma. Seria a fundadora da Federação das Mulheres Cubanas.
22. Em fevereiro de 1959, substitui Fidel Castro como Ministro das Forças Armadas, quando ele é nomeado chefe do governo pelo presidente Manuel Urrutia. Dirigiria a Ministério das Forças Armadas até 2008, o qual se transformaria na instituição mais eficiente de Cuba, autossuficiente em produção agrícola graças à União Militar Agropecuária.
23. De 1959 a 1965, Raúl Castro tem de enfrentar os atos terroristas e as sabotagens organizadas pela CIA que atacam o país. Lembra: “Às vezes, chegava ao Ministério das Forças Armadas e vinham quatro ou cinco assistentes, que eram contatos com os diferentes territórios, exércitos e regiões do país, e para ser mais rápido não me faziam relatórios, vinham com uma lista do que tinha acontecido nas últimas 24 horas ou, pelo menos, nas últimas 12 horas da noite anterior: dezenas de casas de cura de tabaco tinham sido incendiadas em Pinar Del Río, mais tantas dezenas de canaviais queimando em todo o país, de acordo com a época do ano; tantos combatentes libertados, tantas bombas em cidades e outros lugares, tantas sabotagens a linhas de energia. Às vezes, eu lhes dizia: ‘Digam-me o mais importante’, e assim foi, com maior ou menor intensidade, durante cinco ou seis anos.”
24. Em 1959, Fidel Castro designa Raúl Castro como seu sucessor para o caso de que fosse assassinado.
25. Desde 1959, Raúl Castro é, assim como seu irmão, o único membro da família Castro a ocupar um posto político em Cuba.
26. Em 1961, Raúl Castro é nomeado para a Direção Nacional das Organizações Revolucionárias Integradas[ORI], que agrupam o Movimento 26 de Julho, de Fidel Castro, o Diretório Revolucionário, dos estudantes, e o Partido Socialista Popular.
27. Em 1963, ocupa também a Direção do Partido Unido da Revolução Socialista, que substitui as ORI.
28. Em 1965, com a criação do Partido Comunista de Cuba, é nomeado o segundo secretário.
29. Com a adoção da nova Constituição de 1976, Raúl Castro é eleito vice-presidente da República, posto para o qual seria reeleito até 2006. Também é deputado e vice-presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros de 1976 a 2006.
30. Em novembro de 1976, é promovido a General do Exército.
31. A partir dos anos 1980, Raúl Castro desenvolve o conceito de “Guerra de Todo o Povo”, frente às ameaças de invasão por parte dos Estados Unidos. Essa estratégia de defesa militar consiste em armar todo o povo e desatar uma guerra de guerrilhas contra o invasor: “A Guerra de Todo o Povo significa que, para conquistar nosso território e ocupar nosso solo, as forças imperiais teriam de lutar contra milhões de pessoas e teriam de pagar com centenas de milhares e, até, milhões de vidas, pela tentativa de conquistar a nossa terra, de esmagar nossa liberdade, nossa independência e nossa Revolução [...]. Por mais poderoso que seja o império, por mais sofisticadas que sejam suas técnicas e suas armas, não está em condições de pagar o preço que significaria semelhante aventura.”
32. Em 1993, em pleno Período Especial, marcado por uma grave crise econômica depois do desparecimento da União Soviética e do recrudescimento das sanções econômicas por parte de Washington, Raúl Castro adverte os Estados Unido contra qualquer tentativa de agressão: “A luta seria sem frente nem retaguarda, em cada canto do país. Para isso, contamos, além das Tropas Regulares, com as Milícias de Tropas Territoriais, e as Brigadas de Produção e Defesa, organizadas em cada província e em seus 169 municípios; o combate se daria nas mais de 1400 Zonas de Defesa se o inimigo fosse capaz de chegar a todas elas, suposição impossível, porque seriam necessários milhões de soldados e, ainda assim, seriam extremamente débeis porque em qualquer lugar poderiam pisar em uma mina, ser liquidados por uma bala ou uma granada e as emboscadas seriam seu pesadelo [...]. Em uma guerra prolongada, se de cada dois ou três franco-atiradores – e temos dezenas de milhares – um deles aniquila um ianque, de preferência um oficial, poderia o invasor assumir tantas baixas e persistir com a agressão? [...]; Em nossa doutrina, as tropas terrestres são as forças decisivas, já que os combates, uma vez que o inimigo tenha desembarcado, aconteceriam sobre nosso solo, homem frente a homem, a tiro de fuzil. E, em tais condições, a superioridade moral dos homens que defendem a sua pátria é infinitamente maior que a do odiado invasor. O solo arderia sob seus pés, das entranhas da terra, e, depois dos golpes aéreos, sairiam os combatentes para acertar as contas no solo sagrado da pátria que não admite botas invasoras.”
33. Em 1998, 40 anos depois de ser nomeado Comandante do Exército Rebelde, é promovido a Comandante da Revolução.
34. Em 31 de julho de 2006, em virtude do Artigo 94 da Constituição, Raúl Castro substitui seu irmão Fidel Castro, vítima de uma grave doença, e se transforma no presidente temporário da República.
35. Em 2007, Raúl Castro faz um grande plebiscito nacional com o objetivo de dar continuidade a uma “atualização do modelo socioeconômico do país.”
36. Em fevereiro de 2008, o Parlamento Cubano elege Raúl Castro para a presidência da República, o qual sucede seu irmão, que anunciou sua retirada da vida política. Para chefiar o Estado e o governo, Raúl Castro teve de passar por dois processos eleitorais. Primeiro, foi eleito pelo sufrágio universal e secreto, como deputado da Assembleia Nacional. Depois, o Parlamento o elegeu Presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Ministros.
37. Em setembro de 2008, Raúl Castro decide outorgar as terras ociosas para usufruto dos camponeses para aumentar a produção agrícola num país que importa mais de 80% das matérias-primas alimentícias.
38. Em dezembro de 2008, Raúl Castro realiza sua primeira turnê diplomática internacional como presidente da República e visita a Venezuela, onde se reúne com Hugo Chávez, e o Brasil, onde se encontra com Lula.
39. Em novembro de 2010, o projeto de atualização do modelo socioeconômico se submete a um amplo debate popular que engloba mais de 8 milhões de pessoas. Depois de ser modificado, é adotado em abril de 2011 e abre vários setores da economia ao campo privado. Cerca de meio milhão de cubanos trabalha hoje no setor privado.
40. No dia 16 de abril de 2011, Raúl Castro celebra o 50° aniversário da declaração do caráter socialista da Revolução Cubana e organiza o 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba. É eleito Primeiro Secretário e substitui oficialmente Fidel Castro.
41. Em 2010 e 2011, depois de um acordo com a Espanha e com a Igreja Católica Cubana, Raúl Castro decide liberar todos os presos chamados “políticos” em Cuba. Alguns decidem abandonar o país, outros permanecem na ilha.
42. Em novembro de 2011, Raúl Castro simplifica os trâmites administrativos para o setor imobiliário. Desde então, os cubanos podem comprar e vender seus bens sem outra formalidade senão uma visita ao cartório. Antes, era necessário conseguir a permissão do Escritório de Habitação. Para evitar a concentração de bens em um mercado deficitário, os cubanos não podem ter mais de dois produtos imobiliários, um dos quais deve se situar no campo.
43. Em março de 2012, Raúl Castro recebe a visita de Bento XVI. “Nosso governo e a Igreja Católica, Apostólica e Romana em Cuba mantêm boas relações”, declara.
44. Em dezembro de 2012, Raúl Castro decide expandir o sistema de cooperativas para todos os setores.
45. Em janeiro de 2013, respondendo a uma forte petição popular, Raúl Castro decide eliminar os obstáculos burocráticos como a “tarjeta blanca” [como é popularmente conhecida a autorização de saída] e a “carta-convite”, para facilitar as viagens dos cubanos ao exterior.
46. Em 28 de janeiro de 2013, Raúl castro é eleito para à presidência pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que agrupa os 33 países da América Latina e do Caribe, e provoca, assim, um importante revés diplomático contra os Estados Unidos, cujo chamado para isolar Cuba foi ignorado.
47. Em fevereiro de 2013, Raúl Castro é reeleito para a presidência da República para um mandato de 5 anos. Depois da reforma constitucional, os mandatos executivos se limitam agora a 10 anos. Assim, Raúl Castro sairá do poder no máximo em 2018.
48. No dia 10 de dezembro de 2013, durante o funeral de Nelson Mandela na África do Sul, Raúl Castro dá a mão ao presidente Barack Obama. Como seu predecessor, Fidel Castro, declara publicamente sua vontade de dialogar com os Estados Unidos. “Se realmente desejamos avançar nas relações bilaterais, teremos de aprender a respeitar mutuamente nossas diferenças e nos acostumarmos a conviver pacificamente com elas. Do contrário, estamos dispostos suportar outros 55 anos na mesma situação.”
49. Sua filha Mariela Castro é diretora do Centro Nacional de Educação Sexual e defende os direitos dos homossexuais, lésbicas e transexuais em Cuba.
50. Raúl Castro é famoso por sua franqueza e sua mente aberta. Não vacila em se mostrar muito crítico e denuncia publicamente as oscilações do sistema, o que lhe vale a fama de ser ao mesmo tempo o melhor jornalista da ilha e seu dissidente mais incisivo.
*Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos, Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de La Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se chama Cuba. Les médias face audéfi de l’impartialité, Paris, Editions Estrella, 2013, com prólogo de Eduardo Galeano.
Contato: lamranisalim@yahoo.fr ;Salim.Lamrani@univ-reunion.fr
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