Carta Urgente de Solidariedade com o companheiro Francisco Toloza
“Não
se pode resolver o conflito armado e social vivido neste país sem
dar uma solução às causas estruturais que deram origem ao mesmo”
Francisco
Toloza
A prisão do companheiro
Francisco Toloza é indefectivelmente uma bofetada nos Diálogos de
Paz que, com tanto desejo, clamam os colombianos e o mundo inteiro
para que cheguem a um término feliz. Com isso queremos dizer que a
rubrica dos acordos deve ser a promulgação de um novo Pacto Social
e não o desarmamento em troca de uns bancos no Congresso da
República para a insurgência.
Estes dois objetivos
totalmente antagônicos são representados pelo movimento social e
popular nacional e pelo Estado colombiano respectivamente.
Conscientes de que as transformações que o país necessita não se
pactuam numa mesa, nosso Movimento Político e Social Marcha
Patriótica tomou para si a incansável tarefa de convocar espaços
de participação popular, como os conselhos temáticos e
intersetoriais, as constituintes regionais pela paz, fóruns abertos
de discussão sobre os grandes problemas do país para pavimentar
soluções pacíficas e concretas e, assim, convocar a mobilização
popular e organizar um amplo descontentamento das maiorias nacionais
e expressões sociais e políticas irmãs. Em síntese, construindo
poder popular para a Paz com Justiça Social.
O caminho que continuamos
por aqueles que já não estão presentes e que entregaram sua vida,
é o mesmo que o companheiro Francisco Toloza empreendeu a partir de
sua férrea e indeclinável convicção revolucionária,
emancipacionista, libertária, humanista. Não é outro caminho,
contrariamente ao que pretendem fazer ver os funcionários do
judiciário a serviço do Estado que, dentro de seu acervo
argumentativo, expõem, entre outras loucuras, suas reuniões com
intelectuais do nível de Atilio Borón, do Nobel da Paz Adolfo Pérez
Esquivel e, inclusive, no estopim de seu fanatismo reacionário, com
o respeitadíssimo Presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica.
Isso é o que o faz um personagem totalmente perigoso, baseando a
acusação num critério fraudado.
É certo que se reuniu
com eles e com muitas organizações ao longo e ao largo do mundo.
Essa é sua responsabilidade e desejo dentro da Marcha Patriótica,
pois dirige junto de outros companheiros a Comissão de Relações
Internacionais, cujo propósito fundamental é obter apoios, juntar
vozes e esforços dos povos do mundo para que cesse definitivamente a
guerra em nosso país.
O prenderam por lutar
pela Paz que o mesmíssimo Presidente Santos diz querer como seu
legado. Porém, uma coisa é o querer da boca para fora e outra é o
fato, o ato sistemático de golpear como o monstro Leviatã àqueles
que destoam da vontade divina outorgada pela oligarquia,
provocando derramamentos de sangue nesta nação sofrida quantos
séculos sejam necessários.
Como dizemos todos nós
que conhecemos, vimos e escutamos sua trajetória, não cabe uma
censura às qualidades de Pacho. Pelo contrário, sua dedicação
mais apaixonada é ao estudo, à docência, essa nobre vocação tão
pisoteada por todos os governos da oligarquia. A isso que Pacho se
dedica há mais de 20 anos: a estudar e a compreender, porém,
sobretudo, a explicar com simplicidade especial, a partir da
militância de esquerda, as causas das tragédias vivenciadas pelo o
povo colombiano. Contrario sensu ao deplorável trabalho dos
pseudointelectuais comprados que maquinam mais e mais a cadeia de
exploração do neoliberalismo para continuar submetendo nosso povo à
ignorância e ao silêncio.
Traição após traição,
engano após engano, extermínio após extermínio, tem sido a lógica
da oligarquia colombiana que, quando o povo emerge para retirar-se da
humilhação imposta, lança uma cortina de fumaça para aplacar,
mediante falsas promessas e acordos nunca cumpridos, as revoltas em
curso. Assim foi com Gaitán, assim foi com as Guerrilhas Liberais do
Llano, assim foi com Marquetalia, assim foi com a União Patriótica,
assim com A Lutar, assim querem que seja a sorte dos Diálogos da Paz
de Havana.
Equivocam-se
rotundamente, porque não possuem a Paz em suas mãos. A Paz pertence
ao Povo e este a demanda imperativamente para fazê-la uma realidade
tangível.
É por isso que fazemos
um chamado enérgico, rebelde e solidário a todas as organizações
amigas, às personalidades da intelectualidade, da arte e da cultura,
a todos os amigos da Paz da Colômbia a expressarem-se, mediante
cartas, pronunciamentos, protestos ou o que considerarem pertinente,
a exigência de que o Governo de Juan Manuel Santos não jogue com a
Paz, que cesse a perseguição e dê gestos reais e efetivos de
respeito para a oposição política e, em particular, a exigência
da liberdade imediata de nosso companheiro Francisco Toloza e de
todos os prisioneiros políticos do país, que apodrecem nas piores
condições materiais. Hoje são mais de 9.500 no total. Que cifra
tão vergonhosa!
Esperamos o apoio de
todos e que, certamente, contem com o nosso.
A vocês, com carinho
latino-americanista!
Juventude Rebelde da
Colômbia
Nota:
Francisco Toloza é
politólogo da Universidade Nacional da Colômbia, com estudos de
Especialização em Direito Constitucional, Mestre em Sociologia pela
mesma Universidade e doutorando em Estudos Políticos da Universidade
Nacional de San Martín (UNSAM), na Argentina. Atua como professor
nas principais universidades do país, nas áreas de história e
teoria política. Na Universidade Nacional da Colômbia e a
Universidade Autônoma da Colômbia, é reconhecido por suas cátedras
relacionadas com a História da Colômbia, com a Análise do Contexto
Social e Político, assim como por seu conhecimento em História do
Conflito Armado no país.
Tradução: Partido
Comunista Brasileiro (PCB)