O Exército da Colômbia: um peão no xadrez da CIA
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Por
Pablo Catatumbo – integrante da Delegação
de Paz e do
Secretariado das FARC-EP.
Nas
últimas semanas a opinião pública conheceu importantes revelações
de meios [de comunicação] internacionais sobre a ingerência direta
da comunidade de inteligência
do governo dos Estados Unidos
em nossos assuntos internos, com gravíssimas repercussões dentro do
marco das relações do governo colombiano com países vizinhos,
assim como no desenvolvimento do conflito social e armado que a
Colômbia vive.
Confirmam
estes documentos a grande quantidade de pronunciamentos das FARC-EP a
respeito da transnacionalização do conflito colombiano e a
crescente dependência e servilismo das forças armadas do Estado
colombiano ao aparelho militar estadunidense.
Quando
assinalamos e denunciamos este fato já há uns quatro anos, fomos
tachados de fantasiosos, de exagerados e até de dinossauros: o
discurso anti-imperialista –enfatizavam alguns- é algo caduco e
sem apoio no mundo atual.
Porém,
agora, a crua realidade nos ratifica e volta a pôr as coisas em sua
medida objetiva: o aparelho militar colombiano não é mais que uma
engrenagem dentro da maquinaria de guerra dos EUA, demonstrando-se
que a insurgência colombiana não combate simplesmente a um inimigo,
mas sim ao imperialismo mais poderoso que tenha existido sobre a face
da Terra.
Neste
sentido, é justo e necessário ressaltar um elemento central das
revelações em menção. A forma como se implementou a tecnologia
que permite a realização de bombardeios aéreos georreferenciados a
acampamentos das FARC-EP utilizando tecnologia de última geração,
contra guerrilheiros sem nenhuma possibilidade de resposta ou de
defesa.
Se faz
menção ao papel reitor da embaixada estadunidense em Bogotá dentro
de todo este processo, assim como a complexa atividade da comunidade
de inteligência do mesmo país dentro do território colombiano.
Porém,
o mais indignante das revelações é que, uma vez implementada a
tecnologia da qual falamos, a CIA se atribuiu o monopólio do
conhecimento dos mecanismos de encriptação das bombas, e o governo
colombiano, submisso, aceitou, ocultando essa decisão ao povo
colombiano. Na linguagem simples, isto quer dizer que os bombardeios
só podiam realizar-se se havia expressa autorização da Agência
Central de Inteligência, CIA.
O
denunciado pelo Washington Post dá conta do irrefutável caráter
dependente de um exército mercenário que, cada vez mais, perde seu
caráter nacional e assume um papel de lacaio e de peão de xadrez no
marco do plano de dominação do Império.
Entregar
o comando das operações militares a um exército estrangeiro e
ocultá-lo ao país durante anos é um delito de Lesa-Pátria, é uma
infâmia que mancha nossa soberania e independência e constitui
delito de traição à pátria.
Nem
sequer Chiang Kai Shek, um presidente títere da chamada China
nacionalista, aceitou a entrega do monopólio da direção de suas
tropas em plena guerra contra o Japão, quando, no verão de 1944, o
presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt solicitou a
transferência do comando de suas tropas para o general Stilwell, com
o argumento de que os Estados Unidos estavam abastecendo-os. A
resposta de Chinag Kai Shek foi a expulsão e a solicitação de
retorno do general Stilwell a Washington.
Sob
essa direta ingerência estrangeira, morreram heroicamente nossos
camaradas Raúl Reyes, Jorge Briceño, Martín Caballero, Acacio
Medina e dezenas de outros guerrilheiros mártires da luta
anti-imperialista.
Nenhuma
destas vitórias militares do inimigo são vitórias do exército
colombiano. São mérito da armadura militar do imperialismo
estadunidense, que é o inimigo que combatemos esforçadamente todos
os dias.
Falsamente,
o regime construiu uma matriz midiática baseada numa
espetaculosidade que em nada se corresponde com o direito de pessoas,
e numa falsa glória que nem é própria, nem é mostra de audácia,
muito menos de capacidade militar.
Tudo
isto se tornou público em momentos em que as FARC-EP desenvolvemos
conversações de paz com o governo da Colômbia. Que, ainda assim,
mantenhamos em alto nosso compromisso com a paz e a busca de uma
saída política civilizada ao conflito, o sinal de nossa sinceridade
e altura como revolucionários.
Paralelamente
a isto, quase desde o início mesmo dos diálogos, e fazendo uso de
“malwares”
de última geração [programas de intoxicação informática e
introdução de vírus], se iniciaram operações encobertas buscando
infectar os computadores de contatos eletrônicos das FARC-EP, para
levar a cabo operações de controle e identificação, ao tempo em
que se promoveram intensivas operações de desinformação e de
desprestígio contra os integrantes da nossa Delegação em Havana,
utilizando correios massivos, contas falsas nas redes sociais e a
ressonância cúmplice de alguns meios de comunicação.
Da
mesma maneira, se repetiram sucessivos ataques contra os servidores
das páginas web farianas, tanto da página oficial da Delegação
como contra a da Delegação de Paz. A conta oficial da Delegação
das FARC em facebook teve que ser alterada em várias ocasiões, pois
a sabotagem impede seu correto funcionamento.
Ao
anterior há que somar numerosas ações de aberto boicote ao
processo de paz. A revelação que fizera o Coronel Orozco, do
Exército, a Álvaro Uribe, das coordenadas de extração dos
comandantes Sergio Ibañez e Laura Villa é uma delas.
Igualmente,
ocorreram várias tergiversações a alguns comunicados e algumas
entrevistas dadas pelos integrantes de nossa Delegação de Paz, às
quais se somam sucessivas campanhas “anônimas” que conseguem
ampla repercussão na mídia, retomando temas batidos, como a suposta
vida burguesa da Delegação de Paz em Havana, a campanha de
desprestígio contra Santrich e Alexandra Nariño, a foto de Iván
numa moto Harley-Davidson,
como se isso fosse um delito, as fotos do Catamarán,
ou de Ricardo Téllez em Havana, supostos escândalos sexuais por
parte de integrantes desta delegação, ou sua vinculação com a
mineração ilegal sem fundamento algum e o fraudulento link da
revista Semana apresentando a Laura Villa como ex-guerrilheira.
Cabe
perguntar: Quem pode estar por detrás de tudo isto?
A mais
recente delas dá luz sobre a origem destas campanhas de sabotagem
contra a paz que o nosso povo anseia. Nos referimos à campanha
iniciada desde a rede de emissoras do Exército Nacional,
tergiversando as declarações do comandante Pablo Catatumbo,
integrante do Secretariado das FARC-EP, numa entrevista com a
jornalista Natalia
Orozco.
Desde as emissoras do
Exército e da página web da Terceira Divisão se falseia o conteúdo
de suas declarações e se lhe apresenta como se se tratasse de um
ex-guerrilheiro ou desmobilizado que desfruta de privilégios em
Havana, Cuba. Se trata, pois, da corroboração do papel do
Ministério de Defesa por trás de toda esta armadura midiática. O
que nos leva à seguinte reflexão:
Está o Ministério de
Defesa por fora da engrenagem do governo Santos, cuja bandeira de
campanha é que a paz dialogada é possível? É o ministro de Guerra
Pinzón e os seus uma ilhota reacionária?
Ou, pelo contrário, a
aposta do regime segue sendo a de seguir recorrendo a essa política
de dupla via da cenoura e do porrete, a de oferecer o diálogo,
porém, ao mesmo tempo, torná-lo inviável, mantendo ao mesmo tempo
o incremento do gasto militar e o acrescentamento ilimitado de sua
máquina de guerra, sob pena de que se firme um acordo de paz sem
conteúdos.
A experiência de quatro
processos anteriores na busca de uma saída política ao longo
conflito com as FARC-EP demonstra que essa estratégia não funciona.
Isso só pode conduzir a
aumentar a desconfiança entre as partes e a distanciar as
possibilidades de alcançar em breve um acordo em consenso, que
signifique para a Colômbia a assinatura de um verdadeiro tratado de
paz em direção a pôr fim ao longo conflito armado, que encaminhe o
país pelos caminhos de uma Paz estável e duradoura.
La
Habana, 7 de janeiro de 2014.
Tradução:
Joaquim
Lisboa Neto