Retrospectiva 2013: o ano dos movimentos populares e dos governos socialistas
O ano de
2013 começou com uma grande perda para o socialismo
latino-americano. Após cerca de dois anos de luta contra o câncer,
o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, veio a falecer. A Adital
esteve atenta à repercussão
da morte do líder bolivariano, destacando, especialmente, as
reações de outros presidentes e líderes políticos da América do
Sul, como o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e Evo
Morales, presidente da Bolívia. A vitória
de Nicolás Maduro, dando continuidade ao governo socialista de
Chávez, e seu primeiro ano de governo mereceram atenção especial
da cobertura da Adital. A aprovação de leis polêmicas, como a Lei
Habilitante– que deu superpoderes a Maduro – e a instituição
do Dia
de Amor e Lealdade a Chávez, ganharam destaque no primeiro ano
de gestão do novo presidente venezuelano.
Outros líderes sul-americanos também
se destacaram em 2013, a exemplo de Evo Morales, presidente da
Bolívia, depois de ter o pouso de seu avião presidencial negado em
alguns países europeus, em julho. Morales foi acusado pelos EUA de
que estaria transportando Edward Snowden, ex-agente de inteligência
estadunidense, que denunciou mundialmente o esquema de espionagem
eletrônica por parte dos governos dos Estados Unidos e do Reino
Unido. O presidente boliviano foi eleitolíder
mundial dos movimentos sociais durante a Cúpula
Antiimperialista e Anticolonialista, realizada em Cochabamba
(Bolívia), em agosto. O
caso envolvendo Snowden também foi acompanhado de perto pela
Adital, com notícias repercutindo as tentativas do ex-agente de
solicitar asilo em países como Rússia e Brasil.
No Equador, o presidente Rafael
Correa – considerado um dos mandatários mais vinculados ao
socialismo pregado por Cuba e Venezuela na América Latina, ao lado
de Evo Morales (Bolívia), Cristina Fernández (Argentina) e José
Mujica (Uruguai) – teve seu governo questionado por ter voltado
atrás e liberado parte do Parque Yasuní, na Amazônia equatoriana,
à exploração petrolífera. A decisão se apresentou num contexto
de revolta dos ambientalistas e de parte do povo
equatoriano contra a Chevron, multinacional estadunidense, que
luta para escapar do pagamento de uma indenização bilionária por
ter poluído uma grande extensão de terras amazônicas durante
décadas de exploração no Equador.
JáCristina
Fernández Kirchner, apesar do seu partido ter vencido as
eleições preliminares em agosto, vem sofrendo com problemas de
saúde e também sendo bombardeada pela grande mídia do país, que
se posiciona contra a chamada Lei
de Meios. Um dos principais pontos desta lei é combater a
concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos grupos.
O governo de Cristina é acusado ainda por não estar conseguindo
solucionar a crise econômica do país. Enquanto isso, no Uruguai,
José
Mujicavem ganhando notoriedade internacional por sua postura
progressista em assuntos como a legalização da maconha e a nova
Lei de Comunicação Audiovisual. No Chile, a socialista Michele
Bachelet voltou a se reeleger com 63% dos votos, eleições
também marcadas pela vitória
de líderes estudantis no Parlamento.
O ano que passou também foi de
intensa movimentação
social no Brasil. Em junho, a realização da Copa das
Confederações da Fifa transformou-se em estopim para a saída às
ruas de milhares de brasileiros insatisfeitos principalmente com os
rumos políticos do país. As principais cidades brasileiras reuniram
em suas ruas uma massa de pessoas que protestaram contra e em defesa
das mais diversas causas, como a Copa de 2014, a corrupção, em
defesa do meio ambiente, direitos humanos, entre outras bandeiras
sociais. Durante a 5ª Semana Social Brasileira, realizada em
setembro deste ano, em Brasília, a Adital entrevistou integrantes do
Levante
Popular e dos Comitês
Populares da Copa sobre o significado das manifestações
populares e as perspectivas, principalmente para 2014.
A Adital, ao mesmo tempo em que
repercutiu a realização das manifestações, dando visibilidade às
bandeiras dos movimentos sociais, também deu ênfase à presença
dos Black bloc, manifestantes encapuzados que ganharam destaque nos
protestos brasileiros por suas ações consideradas "radicais”
pela grande mídia. Na matéria sob o título "Mulher
bonita é mulher que luta”, a Adital repercutiu reportagem da
revista Veja que tentava desqualificar uma das integrantes Black
Bloc, apelidada de Emma. Esta postou nas redes sociais seu
contraponto à reportagem publicada pela revista.
Ainda na esteira das manifestações
de rua de junho e julho deste ano, o movimento Ocupe Cocó também
ganhou destaque na cobertura da Agência. Por cerca de dois meses, o
movimento reuniu manifestantes acampados
no Parque do Cocó, em Fortaleza, Estado do Ceará, que tentavam
impedir a construção de um viaduto em parte da área do parque. Os
acampados foram alvo de ações violentas de desocupação por parte
das forças policiais.
No Brasil, outro assunto de destaque
em 2013, e que mereceu repercussão por parte da Adital, foi a
implantação do Programa Mais Médicos, cujo objetivo é atrair
profissionais de medicina, inclusive estrangeiros, para atuar em
locais com carência de médicos em todo o Brasil. A rejeição por
parte das entidades que representam a categoria ganhou repercussão
com o protesto de que foram vítimas médicos
cubanos em Fortaleza, Estado do Ceará, chamados de "escravos”
por médicos brasileiros. A Adital acompanhou de perto o assunto.
Ojulgamento
do Mensalão – como ficou conhecido o caso de corrupção que
resultou na prisão de políticos de renome do Partido dos
Trabalhadores (PT), atualmente no comando da Presidência da
República – também mereceu atenção especial da cobertura da
Agência. Destaque para a polêmica gerada entre brasileiros contra e
a favor da forma, legal ou ilegal, como foram autorizadas pelo
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, as
prisões de alguns dos réus, em novembro deste ano.
Realizada em julho no Rio de Janeiro,
a Jornada
Mundial da Juventude (JMJ) foi amplamente coberta pela equipe
Adital, tendo em vista, principalmente, a vinda do Papa Francisco ao
Brasil durante o evento. Por sua postura mais progressista e aberta
do que seus antecessores, João Paulo II e Bento XVI, o
novo Papatem merecido atenção especial por parte da cobertura
da Adital, que vem repercutindo suas declarações menos
conservadoras em relação à Teologia da Libertação, à
homossexualidade e à maior participação das mulheres na Igreja.
Capa do jornal francês Le
Monde chama o novo Papa de "animal político” e o compara
ao ex-presidente russo Mikhail Gorbachev.
A situação dos migrantes
haitianos que todos os dias chegam ao Brasil, muitos deles de
forma ilegal, configurando uma iminente crise humanitária em cidades
da região Norte do país, é outro tema importante a ser enfatizado
em nossa retrospectiva de 2013. A cidade de Brasileia, no Estado do
Acre é tida como exemplo de que a chegada em massa de haitianos no
Brasil deve gerar problemas em relação à garantia dos direitos
humanos. Conforme destacado pela Adital, entidades de direitos
humanos de todo o mundo também protestam contra a decisão
do governo dominicano de cassar a nacionalidade de descendentes
de haitianos que vivem no país.
Na Colômbia, as negociações de paz
pelo fim do conflito armado entre o governo e a guerrilha dividiram a
atenção com os movimentos sociais ligados à reforma agrária.
Estes últimos, ao lado dos professores e profissionais da saúde,
realizaram, durante quase dois meses, uma
grande paralisação em protesto contra as políticas neoliberais
do presidente Juan Manuel Santos, com extensas manifestações e
bloqueio de estradas importantes no país.
Entre os movimentos sociais chilenos,
o destaque ficou por conta dos defensores dos direitos LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais). Tendo em vista o
julgamento do caso
Zamudio– crime violento que ficou nacionalmente conhecido por
tratar-se de homofobia, resultando no assassinato do jovem
homossexual Daniel Zamudio por quatro outros jovens – o movimento
LGBT ganhou força no país. O túmulo de Zamudio vem se tornando
inclusive ponto de peregrinação de jovens.
Por sua vez, a situação dos
direitos humanos em Honduras permaneceu crítica em 2013, com
denúncias de perseguição e crimes violentos contra ativistas e
defensores, além de jornalistas, por parte do governo de Porfirio
Lobo Sosa. As
eleições presidenciais realizadas em novembro aconteceram sob
fortes suspeitas e denúncias contundentes de fraudes. Segundo o
resultado anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral, a candidata da
oposição Xiomara Castro, esposa do presidente deposto pelo golpe de
Estado de 2009, Manuel Zelaya, foi derrotada pelo candidato
governista, Juan Orlando Hernández.
A escalada da indústria de produtos
transgênicos na América Latina aumentou a preocupação dos
ambientalistas, cujas denúncias tiveram espaço na cobertura da
Adital. A multinacional Monsanto, por exemplo, está prestes a mudar
os rumos da produção e comercialização de sementes no continente.
Baseada no Acordo
de Associação Transpacífico (TPP), um grande projeto de livre
comércio que inclui 12 países, entre eles Chile, Peru e México, a
empresa pode recorrer às leis do acordo para ter livre a rotulagem
de alimentos transgênicos, limitando o plantio e a comercialização
apenas para a empresa. No
Brasil, os alimentos transgênicos continuam avançando com leis
mais flexíveis no país.
A Adital também deu destaque ao
acirramento das lutas
pela terra dos povos indígenas brasileiros. Em especial os
guaranis, que anunciaram que estariam prontos
a morrer para defender seus territórios ancestrais dos
ruralistas. Estes reforçaram, em 2013, a pressão sobre o Congresso
Nacional no intuito de fragilizar as conquistas históricas dos
indígenas.
Fonte: Adital