Colômbia: Áudios revelam papel de militares em falsos positivos.
Fuente:
telesurtv.net
Se
trata de dois soldados que tentam incriminar outras pessoas nos
assassinatos de campesinos para não envolver militares de alto
escalão nos crimes cometidos.
A
conversação que a revista Semana revelou entre dois membros do
Exército colombiano em junho passado deixa a descoberto como ambos
os castrenses planejavam culpar um paramilitar de uma execução
extrajudicial. Ambos os fardados estão detidos em diferentes centros
de reclusão.
Um
dos militares envolvidos é um soldado identificado como José
Torres, o qual foi capturado há cinco anos pela Promotoria, por ser
acusado de assassinar um campesino, a quem lhe fez passar por um
integrante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –
Exército do Povo [FARC-EP], quando servia na Quarta Brigada de
Medellín, informou Semana.
Nessa
ordem, também foi processado por outros 32 assassinatos em unidades
nas quais trabalhou. De acordo com o periódico colombiano, seu
interlocutor é um suboficial não identificado, também preso por 12
homicídios em pessoa protegida.
Torres
reconhece que assassinou 33 campesinos.
No
áudio se ouve como José Torres diz a seu antigo companheiro que
está em desenvolvimento a negociação com a Promotoria de sua
condenação, dado que está ciente de que é inevitável que lhe
imputem acusações pelos 33 mortos e prefere confessar para tratar
de conseguir algum benefício. “A mim já me condenaram, porém, se
necessita minha declaração, eu invento alguma merda”, diz Torres
a seu amigo do outro lado da linha.
“Nos
processos que você sabe que estamos envolvidos, não vá nos
entregar, estamos falando de mim, dos soldados e dos comandantes. O
problema é que aqui veio o promotor 66 e nos mostrou sua declaração
e você lançou água em todo mundo. Nós outros damos punhal a você
e você nos dá punhal a nós. Fique calado, nós não vamos
entregá-lo em nada. Se chamam a você, diga: eu não sei de nada, o
mesmo que em algum momento fazia o tenente Moreno. Porém, sobretudo,
não entregue coronéis, não entregue ninguém. Toca que o major
Hernández dê a mesma declaração. Ele a sacou sem pagar muito
porque nós lhe ajudamos”, diz com voz angustiada o suboficial ao
soldado Torres.
Leia
também: FARC-EP saúdam processo de exumação em Medellín,
Colômbia
A
conversação telefônica se prolonga por vários minutos em meio a
reclamações mútuas. O indivíduo que chama Torres trata de
convencê-lo da necessidade de não denunciar seus antigos
companheiros com os quais executou os falsos positivos; no entanto,
sua maior preocupação é que não diga ante à Promotoria sobre o
papel dos oficiais, especificamente dos Coronéis.
Portanto,
pede a Torres que minta e culpe outras pessoas pelas mortes. “Diga
que foi um paramilitar dos de Chiriguaná e pronto. O que tombaram
[mataram] há poucos dias na Aurora. Franklin, vamos dizer que foi
esse. Há que dizer que nós não estávamos nessa baixa. Nós
enquadramos isso”, diz o militar ao soldado Torres.
Por
sua parte, porta-vozes do Exército disseram à revista Semana que
“tudo o que seja pertinente ao tema jurídico corresponde à
Promotoria Geral da Nação e às decisões dos juízes da República.
É política do Exército Nacional acatar as providências e
colaborar nos requerimentos e isto temos feito”.
O
DADO:
Se
calcula que desde 2007 até o momento ao redor de três mil militares
foram detidos e 815 já foram condenados, entre eles suboficiais e
soldados. Apenas cinco Coronéis foram processados.
Há
três meses, a Promotoria acusou e prendeu outros cinco oficiais de
alto escalão.
Falam
as vítimas
O
jornalista e correspondente de teleSUR em Colômbia, Vladimir
Carrillo, recordou que os corpos que estariam no lixão La
Escombrera, no setor La Arenera da comuna 13 de Medellín
[Antioquia], teriam sido vítimas de “falsos positivos” ou
execuções extrajudiciais.
Inclusive,
na semana passada, o promotor assegurou que com as escavações em La
Escombrera, a qual se acredita que é a maior fossa comum do mundo,
se reafirmará o dito pelos militares sobre a participação de
Coronéis e Generais nos assassinatos.
Saiba
mais: Promotoria da Colômbia inicia provas de DNA a familiares de
desaparecidos
Os
familiares das vítimas já haviam denunciado que pelos chamados
“falsos positivos” e execuções extrajudiciais estavam pagando
os mandos médios e soldados, porém que nunca haviam sido
investigados Coronéis e Generais.
Que
se passou no setor da Comuna 13?
O
correspondente de teleSUR informou que ainda não começou a remoção
de terra; no entanto, relatou que se diz que começará em horas da
tarde ou na primeira hora da manhã desta terça-feira.
Em
sua reportagem, entrevistou as integrantes da Fundación Parque de
los Suelos Justos [Fundação
Parque dos Solos Justos],
uma organização que relembra aos desaparecidos com bonecos vestidos
como seus seres queridos na última vez em que os viram.
María
Nubia Torres relatou que se trata de uma “fundação de mulheres e
de vítimas, a maioria por desaparecimento forçado, porém também
há assassinados e assassinadas. Estamos construindo memória para
não deixar esquecer todos esses casos que são tão esquecidos”.
Torres
é a progenitora de Omar Eliécer Muñoz, que foi desaparecido em
Bello [Estado de Antioquia] em 1993, “levaram-no com outros cinco
rapazes mais e eu comecei a busca e até o momento tem sido
infrutífera. As autoridades atribuíram este fato ao Cacique
Nutibara, às Autodefesas Unidas de Colômbia”.
“Para
mim, o [fato de] que estejam abrindo La Escombrera é uma esperança
e uma ilusão. Se não se encontra meu filho lá, sei que vão ser
encontradas muitas vítimas e muitas mulheres irmãs da dor vão
encontrar alívio ali porque, quem quer que seja que encontrem, seria
um descanso para cada mulher, para cada família que possa encontrar
seu ente querido nesta Escombrera. Eu penso que, como isso era um
depósito vulgar de mortos, atiravam a qualquer pessoa que
desapareciam de quantos municípios traziam de longe, de perto, e se
diz que os atiravam lá, porém a gente nunca sabe, pode ser que meu
filho esteja ali”, disse.
Os
bonecos são levados aos encontros
dos familiares dos desaparecidos
e às universidades sem sem
a finalidade de obter ajuda financeira.
Só que as
pessoas que escutam sua história adotam o boneco de alguma maneira e
com os recursos se mantém a fundação.
Em
Contexto:
Nesta
segunda-feira se iniciou a maior escavação forense que o Governo
colombiano realiza em busca de corpos de desaparecidos, produto do
conflito armado que, apesar dos diálogos de paz, continua golpeando
o país, ainda que em menor escala.
A
operação é realizada no lixão La Escombrera, localizado na Comuna
13 de Medellín [nordeste], um popular bairro que foi cenário do
acionar de todos os atores do conflito: insurgentes, paramilitares de
direita e agentes do Estado.
As
autoridades esperam exumar pelo menos 90 corpos; no entanto, o
ex-chefe paramilitar Diego Murillo Bejarano, vulgo “Don Berna”
[extraditado para os Estados Unidos em 2008], havia dito que nessa
zona se encontravam 300 corpos. Por sua parte, ativistas dos direitos
humanos creem que o lugar poderia resultar ser a maior fossa
clandestina da Colômbia.
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Equipe
ANNCOL - Brasil