América Latina: insurgência, lutas populares e revolução
Desde
a morte natural de Manuel Marulanda Vélez, em 26 de março de 2008,
o Movimento Continental Bolivariano (MCB) celebra anualmente nesta
data o Dia do Direito Universal dos Povos à Rebelião Armada.
Marulanda
foi o mais importante comandante das Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP), insurgência que completa
este ano 50 anos de incessante luta contra a exploração e opressão
das oligarquias colombianas e o imperialismo, com uma perspectiva
revolucionária, socialista.
Neste
ano, no Rio de Janeiro, reativou-se o Fórum de Solidariedade aos
Povos em Luta, tendo como sua primeira atividade a realização de um
ato público, no último dia 26 de março, marcado pela solidariedade
internacionalista e pelo respeito a todas as formas de luta a que os
povos têm direito na busca de sua emancipação.
Com
esta compreensão, o ato pôs em relevo as lutas dos povos cubano,
venezuelano e colombiano, homenageando a três de seus principais
heróis: Che Guevara, Hugo Chávez e Manuel Marulanda.
Diversos
oradores usaram da palavra, procurando contextualizar as condições
em que cada uma dessas lutas se desenvolve, a conjuntura mundial,
latino-americana e em cada um desses três países, ficando
consignada a necessidade de estreitarmos os laços de amizade com
seus povos e reforçarmos a solidariedade às suas lutas contra o
capital e o imperialismo.
Evidenciou-se
que esses três países merecem atenção redobrada dos
internacionalistas.
A
cinquentenária Revolução Cubana, mãe de todas as rebeldias de
Nuestra America, que resiste bravamente, continua sob o
cruel bloqueio que lhe impõe o imperialismo, que inclusive tirou a
liberdade de nossos Cinco Heróis.
A
Colômbia vive um momento de definições e de grandes lutas
populares, potencializadas pelas esperanças nos diálogos por
uma solução política para o conflito em seu país – na luta
contra o terrorismo de estado e por justiça social, liberdades
democráticas e soberania nacional -, e pela pujança do movimento
popular, urbano e rural, onde se destaca a Marcha Patriótica.
Mas
houve um consenso de que, neste momento, o melhor de nossas energias
deve ser dedicado à solidariedade ao processo de mudanças
impulsionado pelo povo venezuelano, a partir da liderança e da
iniciativa do saudoso Hugo Chávez, e agora de Nicolas Maduro, e que
neste momento está sofrendo uma agressiva tentativa de
desestabilização, que tem como objetivo principal criar condições
para um golpe ou uma intervenção imperialista.
No
rico debate desenvolvido no ato público, ficou a evidência de que o
epicentro da ofensiva imperialista na América Latina está hoje na
Venezuela Bolivariana e que o desfecho da disputa neste país
influenciará o destino não só dos povos homenageados, mas de toda
a América Latina, com repercussões mundiais.
As
mortes que não o mataram (a
Manuel Marulanda)
Mataram-no
tantas vezes… Porém, depois de cada morte reaparecia sempre, com a
carabina nas mãos, disparando entre a fumaça o seu certeiro fogo
político. Matavam-no com os fuzis do desejo e o ensurdecedor
chicotear dos linotipos, transpassados por um disparo; mortalmente
ferido no peito, em combate com tropas regulares; destroçado por uma
granada num choque de encontro…, que morreu sangrando, abandonado
por seus homens. Porém, nunca mostraram o cadáver.
“Ouvi
minhas mortes, basicamente, pelo rádio” – dizia Marulanda. “Não
podem matar uma pessoa todos os dias com disparos de palavras. Claro
que essas mortes de mentira não passam de propaganda. Porém, não
se pode enganar o povo por toda a vida. Talvez esse tipo de notícia
tenha explicação num sentido psicológico dirigido às tropas e às
massas. O problema dessa tática é que agora eles têm que nos ver
fazendo declarações ante a imprensa e a televisão, bem vivos, e
não mortos como sempre quiseram nos ver”.
No
entanto, apesar destas considerações, voltaram a matá-lo nas
manchetes da imprensa. Como não conseguiram matá-lo com todos os
operativos, nem com os bombardeios da aviação, nem com o fogo
mortal dos cercos militares, imaginaram sua morte num ataque surpresa
de congas (formigas selvagens) nas selvas do Caquetá. Para um
conhecedor destas formigas gigantes, a versão do diário “El
Tiempo” de Bogotá não podia ser de todo absurda. Se a picada de
apenas uma, além da terrível dor, provoca ondas de febre,
paralisia, espasmos e desejo de morte, um ataque em massa, como
geralmente é o das congas, seria a agonia e, também, a morte.
Dizia
“El Tiempo”, da família Santos, que, depois de vários dias de
peregrinação pelas selvas inóspitas do sul, carregado algumas
vezes numa rede e outras numa maca, Marulanda tinha morrido sob o
manto verde, imerso na visão de sua entrada triunfal em Bogotá à
frente de suas tropas guerrilheiras. Porém, essa história
despareceu no estrondo dos combates do sul, do oriente e do noroeste…
Todos souberam que continuava vivo quando reapareceu falando de paz e
da troca de prisioneiros. A guerrilha tinha em seu poder 500
militares e policiais capturados em combate.
A
última vez que viram Marulanda foi naquela tarde de fogo do Caguán,
nas sequências dos diálogos de paz, quando ao despedir-se dos
jornalistas que o cercavam com suas perguntas, microfones e câmeras,
disse, com seu refinado humor de sempre: “vou porque está caindo a
noite e, como vocês sabem, por aqui existe muita guerrilha”.
Depois,
uma crônica da jornalista Patricia Lara o matou. Afirmava com toda
certeza e aguda intuição, que tinha morrido de câncer de próstata.
Relatou os angustiosos e inúteis esforços de seus companheiros de
ideias e de armas por embarcá-lo num avião ambulância que o levara
até Cuba. Morreu tentando, disse Patricia. Morrendo de rir, Manuel
Marulanda escutou a notícia.
Permaneceram
obsessivos, matando-o até depois de sua morte…
Desfazendo
todas as dúvidas, o Presidente Uribe e seu Ministro da Defesa,
Santos, ao tomar conhecimento da notícia difundida pelo Secretariado
sobre a partida do líder em 26 de março, buscando pescar vitórias
em rio revolto, como delirantes doidivanas, saíram a espalhar na
mídia que Manuel Marulanda tinha sido abatido, como o disse Uribe,
num bombardeio no qual foram lançadas 250 bombas; que o tinha matado
de susto, como assegurou num comentário irônico o Ministro da
Defesa.
Ninguém
conseguiu conceber que o lendário guerrilheiro, que enfrentou
durante 60 anos 17 governos e todos os estados maiores das Forças
Armadas oficiais, de repente tivesse morrido de susto!
Morreu,
mas não como queriam. O Comandante em Chefe morreu de velho,
dirigindo pessoalmente seus exércitos guerrilheiros no turbulento
coração do Plano Patriota, patrulhando a selva sob as asas da
guerra de guerrilhas móveis, sua tática de combate que ainda tem de
ser colocada em prática. Como Bolívar em Santa Marta, apenas se
recostou para sonhar com o momento em que, a partir do Comando Geral,
muito próximo de Bogotá, dirigirá a entrada vitoriosa de seus
guerrilheiros à capital, rodeados de povo.
(texto
extraído do livro “MANUEL MARULANDA VÉLEZ – o herói insurgente
da Colômbia de Bolivar”)
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