Colômbia na geopolítica imperialista.
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Por:
Renán Vega Cantor
Neste
ensaio se esboçam os aspectos centrais que podem ajudar a
compreender a importância geopolítica do território colombiano na
guerra mundial pelos recursos, o ponto de partida indispensável para
entender as guerras de agressão contra os povos que hoje promovem as
potências imperialistas, encabeçadas pelos Estados Unidos.
Neste
texto se consideram quatro questões: em primeiro lugar, se indica
quais são as características da guerra mundial pelos recursos e sua
influência direta na América Latina; em segundo lugar, se destacam
os aspectos medulares da estratégia contra insurgente dos Estados
Unidos no continente latinoamericano; em terceiro lugar, se considera
a importância estratégica das bases militares dos Estados Unidos no
mundo e particularmente em nossos territórios; e em quarto lugar se
assinalam em forma breve os objetivos dos Estados Unidos ao
converterem o território colombiano num de seus principais centros
de operações militares.
- O imperialismo e a guerra mundial pelos recursos
O
capitalismo de nossos dias requer materiais e energia mais que em
qualquer outro momento de sua história, como resultado do aumento do
consumo em nível mundial, à medida que se estende a lógica
capitalista de produção e desperdício, porque a generalização do
american
way of life
requer um fluxo constante de petróleo e materiais, para assegurar a
produção de mercadorias que satisfaçam os desejos hedonistas,
artificialmente criados, de centenas de milhões de seres humanos em
todo o planeta.
Para
produzir automóveis, aviões, tanques de guerra, computadores,
celulares, geladeiras, televisores e milhares de mercadorias
precisa-se de uma quantidade enorme de metais e outros recursos
minerais. Entre estes se incluem os metais correntes e conhecidos,
assim como metais raros. Ferro, cobre, zinco, prata, crômio,
cobalto, berilo, manganês, lítio, molibdênio, platina titânio,
tungstênio, são alguns dos metais mais importantes na produção
capitalista de hoje. Um exemplo ajuda a visualizar a importância
desses metais: para produzir o turborreator de um avião se usa 39%
de metais correntes e o resto consta de titânio [35%], crômio
[13%], cobalto [11%], nióbio [1%] e tântalo [1%].(1)
Para
manter o nível de produção e consumo do capitalismo, se requer
assegurar fontes de abastecimento de recursos materiais e
energéticos, os quais se encontram concentrados numas poucas zonas
do planeta, e não precisamente nos Estados Unidos, Japão ou na
União Europeia, que têm déficits estruturais tanto em petróleo
como em minerais estratégicos. Em termos de minerais, alguns dados
ilustram a dependência externa dos Estados Unidos: “Entre 100 e
90% do manganês, crômio e cobalto, 75% do estanho e 61% do cobre,
níquel e zinco que consomem, 35% de ferro e entre 16 e 22% da
bauxita e chumbo que requerem. A Europa depende de 99 a 85% da
importação destes minerais, com exceção do zinco, do qual
dependem 74% de importações do estrangeiro”. O significativo
assegura em que, no conjunto, América Latina e Caribe fornecem aos
Estados Unidos 66% de aluminio, 40% do cobre, 50% do níquel. [Diez
Canesco, 2007]
- A importância estratégica da América Latina
No
cenário dessa guerra mundial pelos recursos, a América Latina é um
dos principais campos de batalha, porque fornece 25% de todos os
recursos naturais e energéticos que os Estados Unidos necessitam.
Ademais, os povos da América Latina Caribenha habitam um território
no qual se encontram 25% dos bosques e 40% da biodiversidade do
globo. Quase um terço das reservas mundiais de cobre, bauxita e
prata são parte de suas riquezas e guarda em suas entranhas 27% do
carvão, 24% do petróleo, 8% do gás e 5% do urânio. E suas bacias
aquíferas contêm 35% da potência hidroenergética mundial.
Nestes
momentos voltou a cobrar importância o esquema colonial de divisão
internacional do trabalho, que se baseia na exploração mineira, de
tipo intensivo e depredador, dos países da América Latina. Isto tem
implicado que companhias multinacionais provenientes de Canadá,
Europa e China tenham se apoderado, como nos velhos tempos da
colônia, de grandes porções territoriais do continente, onde se
encontram jazidas minerais. A busca insaciável de minerais metálicos
e não metálicos levou a que estes países implantem multinacionais
extrativistas, o que gerou um boom conjuntural que elevou os preços
desses minerais.
Inclusive,
se estão explorando minerais que não têm muita utilidade prática
em termos produtivos, como o ouro, em torno do qual se desatou também
outro boom inesperado. Isto está relacionado com a instabilidade do
dólar e a busca de sucedâneos seguros, e que melhor que o ouro,
ainda que sua exploração tenha consequências funestas para os
países da América Latina, que o possuem nas entranhas de suas
cordilheiras ou de seus rios.
Nesse
contexto geopolítico, a Colômbia desempenha um papel crucial: por
sua privilegiada localização espacial, situada entre o sul e o
centro da América; por ser o único país sul-americano que tem
costas em dois oceanos; por sua extraordinária biodiversidade e
fontes de água doce; por suas riquezas florestais e minerais, ainda
que estas últimas não sejam tão abundantes e variadas como as do
Peru; porque nesse território se podem implantar sistemas aéreos e
satelitizáveis de controle militar para vigiar e agredir a qualquer
país da região. Ademais, as classes dominantes da Colômbia têm
mostrado historicamente sua condição de sipaios baratos do
imperialismo estadunidense e, para completar, em território
colombiano se trava uma guerra desde há mais de meio século, como
expressão de uma permanente rebelião campesina contra o poder de
caciques e terra-tenentes. Estas razões explicam porque nas atuais
circunstâncias a Colômbia é tão importante para os Estados
Unidos.3.
América
Latina na doutrina militar do Pentágono
Quando se fala da importância geopolítica e geoeconômica da América do Sul, não há que perder de vista que o imperialismo estadunidense está pensando em termos mundiais ao considerar as reservas de recursos naturais e energéticos. Assim, em 2003, o chamado Informe Cheney, ou Política Nacional de Energia [NEP], postulou a obrigatoriedade de dominar as fontes mais importantes de petróleo em todo o mundo e enfatizou como preferência estratégica o controle do petróleo que se encontra fora do Golfo Pérsico, em particular em três zonas: a região andina [Colômbia e Venezuela, em especial], a costa ocidental do continente africano [Angola, Guiné Equatorial, Mali e Nigéria] e a bacia do Mar Cáspio [Azerbaijão e Cazaquistão].
Quando se fala da importância geopolítica e geoeconômica da América do Sul, não há que perder de vista que o imperialismo estadunidense está pensando em termos mundiais ao considerar as reservas de recursos naturais e energéticos. Assim, em 2003, o chamado Informe Cheney, ou Política Nacional de Energia [NEP], postulou a obrigatoriedade de dominar as fontes mais importantes de petróleo em todo o mundo e enfatizou como preferência estratégica o controle do petróleo que se encontra fora do Golfo Pérsico, em particular em três zonas: a região andina [Colômbia e Venezuela, em especial], a costa ocidental do continente africano [Angola, Guiné Equatorial, Mali e Nigéria] e a bacia do Mar Cáspio [Azerbaijão e Cazaquistão].
Na
atualidade, quando os Estados Unidos trava o que denomina a “guerra
contra o terrorismo”, um eufemismo para ocultar a guerra mundial
pelos recursos, existe uma integração plena entre a política
contra insurgente e a proteção do petróleo, como sucede de maneira
concreta na Colômbia. Em 2002, o Departamento de Estado havia dito a
respeito:
“A
perda de lucros, devido a ataques guerrilheiros, obstaculiza
seriamente o governo da Colômbia na satisfação das necessidades
sociais, políticas e de segurança nacionais”. Por isso,
determinou apoiar a segurança dos oleodutos, principalmente o de
Caño Limón-Coveñas, e para isso os Estados Unidos “fortalecerão
o governo da Colômbia em sua capacidade para proteger uma parte
vital de sua infraestrutura energética”. [Klare, 2004]
O
analista Michael Klare dizia em forma premonitória em 2004, ao
comentar o envolvimento petroleiro militar dos Estados Unidos na
Colômbia:
“Se
supõe que os instrutores estadunidenses destinados a esta missão se
limiam a seu papel de treinamento e apoio. Porém, há indícios de
que o pessoal militar estadunidense tem acompanhado as tropas
colombianas em operações de combate contra as guerrilhas. O
treinamento ocorre ‘durante missões militares e de inteligência
reais’, revelou o US News and World Report em fevereiro de 2003.
Lentamente, os Estados Unidos se convertem em parte da principal
campanha contra insurgente na Colômbia, com todos os sinais de uma
guerra prolongada”. [ibid]
Nesse
mesmo sentido, o Plan Cheney enfatizava a importância do petróleo
da América Latina, posto que a Venezuela é o terceiro provedor
mundial, México o quarto e Colômbia o sétimo, recomendando
inclusive a ampliação do fornecimento de México e Venezuela.
[Klare, 2013]
As
declarações de políticos, militares e empresários dos Estados
Unidos servem para calcular a magnitude da guerra pelo controle dos
recursos. Só à maneira de ilustração, Ralph Peters, major
reformado do exército dos Estados Unidos, afirmou em Armed Forces
Journal [uma revista mensal para oficiais e dirigentes da comunidade
militar dos EUA] em agosto de 2006:
“Não
haverá paz. Em qualquer momento dado, durante o resto de nossas
vidas, haverá múltiplos conflitos em formas mutantes em todo o
globo. Os conflitos violentos dominarão as manchetes, porém as
lutas culturais e econômicas serão mais constantes e, em última
instância, mais decisivas. O papel de
facto
das forças armadas dos USA será manter a segurança do mundo para
nossa economia e que se mantenha aberta ao nosso ataque cultural. Com
esses objetivos, mataremos uma quantidade considerável de gente”.
[Mosaddeq Ahmed, 2006]
- O punho de ferro militar para impor o neoliberalismo e a globalização
Os
Estados Unidos, como potencia hegemônica em nível mundial,
aproveitaram seu triunfo na Guerra Fria para reforçar seu poder
militar, valendo-se dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos,
com o objetivo de aterrorizar e massacrar seus eventuais adversários
no caso de que se desencadeasse uma guerra formal ou surgissem
possíveis competidores. Isto ficou plasmado num documento de 1992,
intitulado “Guia para a Planificação de Defesa”, no qual se
indicava como prioridade que os “Estados Unidos deveriam impedir a
competição dos que aspirem a jogar um papel preponderante no âmbito
regional ou global” e contemplava, inclusive, o uso de armas
nucleares, biológicas e químicas de maneira preventiva, “ainda em
conflitos nos quais os interesses estadunidenses não estejam
diretamente ameaçados”. [García Cuñarro, s/a]
Os
estrategistas do imperialismo estadunidense implementaram uma visão
do mundo que se baseia em determinar se os países são ou não
obedientes aos ditames de Washington e a seu projeto de dominação
mundial, apresentado em público com o nome de globalização. Um
destes estrategistas, Thomas Barnett, elaborou o Novo Mapa do
Pentágono, no qual se divide o mundo em três regiões, ainda que
delas, na verdade, importem duas. Por uma parte, está o centro,
composto pelos países capitalistas desenvolvidos, com Estados
fortes; em seguida, estão os países conexão, que se constituem em
zonas de amortigamento e de disciplinamento do terceiro grupo, os
países “brecha”, onde se encontram os Estados falidos e as zonas
de perigo para a nova ordem mundial e sobre os quais se deve
desenrolar um trabalho de vigilância e controle por parte dos
Estados Unidos, com a finalidade de consolidar um sistema
verdadeiramente globalizado, incondicional e inclinado à dominação
e exploração lideradas por Washington e suas companhias
multinacionais [cf. Ceceña, 2004]. Dito de outra forma, o mundo está
dividido em duas partes: um setor crítico, composto por Estados
falidos que ameaçam a segurança internacional, a qual se denomina
“a brecha não integrada”, que está composta por países da
América Central e do Caribe, da região andina da América do Sul,
que se estende por quase toda a África [menos África do Sul],
Europa Oriental, Oriente Médio [excluindo Israel], Ásia Central,
Indochina, Indonésia e Filipinas; a outra zona, formada pelo que se
denomina o “núcleo operante da globalização” do qual formam
parte Estados Unidos, Canadá, Chile, Europa Ocidental, China, Japão,
Índia, Austrália. Os territórios não acoplados se convertem num
perigo, devem ser sujeitados pelos primeiros e põem em questão a
segurança do Ocidente. Por isso, têm que ser integrados à força,
porque “se um país perde ante a globalização ou se rechaça boa
parte dos benefícios que esta oferece, existe uma probabilidade
consideravelmente alta de que em algum momento os Estados Unidos
enviarão suas tropas para intervir neste país”. [Schmitt, 2009]
A “brecha” crítica do “Novo Mapa do Pentágono”
Chama
a atenção que esta grande zona de conflitos e turbulências
corresponda aos lugares onde se encontram as maiores reservas de
recursos materiais e energéticos. A intervenção dos Estados Unidos
nesta grande zona do mundo se faz em nome de manter a
governabilidade, com o qual se oculta o interesse estratégico de
assegurar-se o domínio desses recursos naturais, imprescindíveis
para o funcionamento do capitalismo, assim como a manutenção da
exploração de importantes contingentes de força de trabalho,a
baixo custo ou em termos quase gratuitos: uma condição
indispensável para a manutenção e a reprodução do capitalismo em
escala mundial. Adicionalmente, esses territórios não somente devem
ser dominados por seus recursos, como também porque ali também
existem movimentos de resistência e rebelião, onde se esboçam
outras propostas alternativas ao capitalismo, que na “nova ordem
mundial” não podem ser toleradas. [Cf. Ceceña, 2004]
Este
mapa, que é crucial para entender o que passou no mundo nas duas
últimas décadas, não se pode considerar como algo fixo e imutável.
Pelo contrário, é dinâmico em concordância com as modificações
apresentadas na periferia, na medida em que num ou noutro país
desaparecem os Estados falidos e canalhas, não porque tenham
superado as condições de pobreza e desigualdade –algo que lhe tem
sem cuidado aos Estados Unidos-, senão porque se realizaram os
“milagres” do neoliberalismo e da globalização, e se integraram
perfeitamente ao mercado capitalista mundial. Em alguns casos de
Nuestra América, em poucos anos pode-se observar que algum país
ingressa neste amplo círculo de instabilidade, como hoje ocorre ao
México, que já está sendo apresentado como um Estado falido, ou
também acontece, em sentido inverso, que um território considerado
ingovernável, como a Colômbia, hoje é mostrado como exemplo de
“avanço democrático” e consolidação de uma “economia
próspera”,e por isso chegou o investimento estrangeiro,
aproveitando as benesses da segurança que se lhe proporciona ao
capitalismo.
I. Estados Unidos e a guerra irregular em Nuestra América
Estados Unidos, como um imperialismo em crise, aposta na guerra como forma de manter sua debilitada hegemonia. Essa guerra combina as ações bélicas convencionais, como se tem mostrado no Iraque e Afeganistão, com o combate irregular, sobretudo naqueles lugares onde seu objetivo é derrubar aos que concebe como inimigos de sua segurança nacional, porque impulsionam projetos independentes e porque possuem recursos estratégicos que necessita com urgência para manter seu esbanjador modo de vida. Por isso, no orçamento do Pentágono para 2010 se impulsiona a guerra irregular, e se assinala que se devem seguir apoiando, o que não é novo no caso dos Estados Unidos, o “contra terrorismo, as táticas de guerra não convencional, a defesa interna em países estrangeiros, a contra insurgência e as operações de estabilidade”, e pelo mesmo o Pentágono deve “institucionalizar as capacidades necessárias para conduzir a Guerra Irregular... desenvolver novas capacidades para enfrentar a classe de desafios irregulares”. [Gollinger, 2010]
Se
anuncia a continuação da guerra sem fim “contra o terrorismo”
como um enfrentamento mais prolongado que o da Guerra Fria, pois seus
principais ideólogos têm sustentado que a guerra atual se estenderá
pelo menos durante um século. [cf. Dieterich, 2003:127ss.] Nestas
circunstâncias, o de agora é um conflito persistente de longo prazo
e de caráter total, que envolve as populações dos diversos países
que se incluem no enfrentamento. O manual sustenta que as operações
nesta guerra são de “espectro completo”, nas quais se incluem
ações ofensivas, defensivas e de natureza militar e civil, todas de
maneira simultânea. Por isso, se enfatiza a importância das
operações psicológicas, nas quais sobressaem a propaganda e a
desinformação, ao mesmo tempo que as tarefas cívicas devem ser
desempenhadas, junto com as ações militares, pelo exército dos
Estados Unidos. Em concordância, se explica que nos conflitos está
incluída de maneira forçosa a população civil. [cit. em
Gollinger, 2010]
Na
prática, é o reconhecimento de que a doutrina militar imperante nas
forças armadas dos Estados Unidos é a da quarta geração, porque
já não existem campos de batalha claramente definidos, nem
combatentes, nem armas convencionais, porque finalmente “todos
somos guerreiros e guerreiras numa guerra sem fim e sem fronteiras”,
como diz Eva Gollinger.
- Estratégia militar dos Estados Unidos na América Latina
O
desdobramento da IV Frota, o estabelecimento de bases militares em
vários países, a intervenção no Haiti em janeiro de 2010, o
desdobramento da guerra de quarta geração em vários países da
região formam parte de uma estratégia global do imperialismo
estadunidense com a intenção de retomar o domínio pleno dos
territórios do Caribe e de toda Nuestra América. Isso aparece claro
no informe do Comando Sul dos Estados Unidos [USSOUTHCOM, por sua
sigla em inglês] intitulado “A Estratégia do Comando Sul dos
Estados Unidos 2018 Amizade e Cooperação pelas Américas”, no
qual se revela a estratégia deste país para toda a América Latina
e o Caribe.[2] O Comando Sul é o organismo militar encarregado de
toda a América Latina, desde o sul do México até a Patagônia,
incluindo o Caribe. Sua sede está em Miami e conta com um pessoal
permanente de 1200 efetivos militares e funcionários civis.[cf.
Chiani, 2009] Neste documento se enunciam como objetivos prioritários
assegurar a defesa dos Estados Unidos, fomentar a estabilidade do
continente e impulsionar sua prosperidade. Para que isso seja
possível, há que enfrentar as ameaças e os desafios, entre os
quais menciona a pobreza, a desigualdade social, a corrupção, o
terrorismo, o tráfico de drogas, a criminalidade e os desastres
naturais, todos os quais, desde logo, propõe combater com o fim de
alcançar “os objetivos estratégicos dos Estados Unidos”.
[ibid.]
O
Comando Sul está presente na maior parte da América Latina, através
de bases militares e de acordos com diversos governos da região que
lhes permitem participar em manobras conjuntas e em outras atividades
de patrulhamento, treinamento e exercícios navais, aéreos e
terrestres com os exércitos que participam nesses acordos com o
imperialismo estadunidense. Isto o menciona sem titubeios este
documento do Comando Sul: “a missão mais importante que temos é
proteger nossa pátria. Garantimos a defesa avançada dos Estados
Unidos ao defender os acessos do sul. Devemos manter nossa capacidade
de operar nos espaços, águas internacionais, ar e ciberespaço
comuns mundiais e desde eles”.
Neste
documento se expressam com clareza os verdadeiros objetivos
estratégicos do imperialismo estadunidense, obviamente encobertos
com a retórica típica do livre mercado e da segurança, como quando
se assinala que “enquanto se levem a cabo operações militares e
haja cooperação de segurança com os países da região, se
alcançará uma organização líder que constitua a defesa avançada
dos Estados Unidos”. Esta pode ser considerada como uma declaração
similar à do Destino Manifesto do século XIX, com a qual os Estados
Unidos reclamavam para si o domínio de todo o território que se
encontra ao sul do Rio Bravo.
2.
Plano Colômbia
O
acordo militar firmado em outubro de 2009 entre o governo colombiano
e os Estados Unidos foi a continuação do mal chamado Plano
Colômbia, que se iniciou há um pouco mais de uma década. Este foi
escrito originalmente em inglês nos Estados Unidos e depois se deu a
conhecer na Colômbia. Foi apresentado como um acordo encaminhado a
lutar contra o narcotráfico, posto que desde há várias décadas a
Colômbia é o primeiro produtor mundial de cocaína e produz em
menor escala maconha e amapola, a partir da qual se fabrica a
heroína. Este plano foi concebido desde um princípio com um duplo
propósito estratégico: como um projeto contra insurgente
encaminhado a fortalecer o aparato bélico do Estado colombiano, o
qual havia recebido duros golpes militares da guerrilha; e controlar
a região amazônica, uma zona geopolítica essencial para os Estados
Unidos. Tanto o governo colombiano como o dos Estados Unidos
reafirmaram de maneira reiterada que o Plano Colômbia era um projeto
para lutar de maneira exclusiva contra a produção de narcóticos,
porém era evidente, como de demonstrou depois, que sua finalidade
era contra insurgente e para isso se necessitava financiar e rearmar
ao Exército. Nesse contexto, enquanto o governo de Andrés Pastrana
desenvolvia uns diálogos de paz com as FARC, os Estados Unidos
financiavam e reorganizavam as Forças Armadas mediante o Plano
Colômbia.
O
governo dos Estados Unidos se apresentava com esse plano como um
porta-estandarte da luta contra os narcóticos nas zonas de produção,
porém sem enfrentar o problema do consumo doméstico, privilegiando
a militarização da Colômbia como forma de combater a geração de
cocaína, fórmula compartida pela oligarquia deste país. Para isso,
nada melhor que pôr em prática uma política de terra arrasada nas
regiões produtoras de folha de coca, mediante a realização de
vultosas e infrutíferas fumigações aéreas, que devastaram
milhares de hectares de pequenos campesinos em diversas regiões do
país, em especial nas zonas selváticas do Sul, o que também afetou
os países fronteiriços, como Equador. Apesar disso, a luta contra
as “drogas ilícitas” só era um pretexto para consolidar a
presença direta dos Estados Unidos na região andino-amazônica,
como ficou suficientemente claro nos últimos anos.
Hoje,
pode-se apreciar com clareza que um dos objetivos do Plano Colômbia
era o de fortalecer a capacidade bélica do Estado colombiano, não
só pare enfrentar o movimento insurgente como também para contar
com um dos exércitos melhor armados do continente, como o é na
atualidade. Isso se pode mostrar com uns poucos dados, de por si
muito reveladores: entre 1998 e 2008, uns 72.000 militares e
policiais da Colômbia foram adestrados por pessoal dos Estados
Unidos, o que faz que a Colômbia seja o segundo país do mundo,
depois da Coréia do Sul, em receber este tipo de treinamento; em
fins da primeira década do século XXI, se encontravam operando em
território colombiano 1.400 militares e contratistas [um eufemismo
de mercenários] dos Estados Unidos, quando nos inícios do Plano
Colômbia se havia dito que somente iam operar uns 400; a Embaixada
dos Estados Unidos cresceu de tal maneira em quantidade de pessoal
administrativo, militar e de espionagem que é a quinta maior do
mundo; o Plano Colômbia custou, até 2008, 66.126 milhões de
dólares, incluindo a contribuição dos Estados Unidos e o dinheiro
dado pelo governo da Colômbia. [cf. Otero Prada, 2010: 129ss]
Bases
militares dos Estados Unidos na Colômbia segundo o acordo de 2009
Essa foi a primeira fase, o Plano Colômbia propriamente dito. A segunda fase consistiu em levar a guerra interna da Colômbia mais além de suas fronteiras para envolver os países vizinhos, como com efeito sucedeu. E a terceira fase é a da guerra preventiva, a típica doutrina nazi-estadunidense posterior ao 11 de setembro, que se pôs em prática nos últimos anos, e cujo feito mais ressoante foi o ataque pérfido e criminal no Equador, em março de 2008, por parte de Forças Armadas da Colômbia.
Algumas
cifras ajudam a calcular a magnitude da transformação militar que
significou o Plano Colômbia: o gasto militar da Colômbia representa
6,5% do PIB, uma das cifras mais altas do mundo, enquanto o dos
países da América do Sul oscila entre 1,5% e 2%; as Forças Armadas
da Colômbia são as que mais cresceram no continente, e talvez no
mundo, na última década, pois hoje já têm cerca de meio milhão
de efetivos, contando todos os contingentes de ar, mar e terra, assim
como a polícia, que na Colômbia é um corpo armado e depende
diretamente do Ministério de Defesa; em 2008, o exército de terra
tinha 210.000 membros, enquanto o do Brasil contava com 190.000, o da
França com 137.000, o de Israel com 125.000; a relação de efetivos
do exército colombiano está em proporção de seis a um com
Venezuela e de onze a um com Equador. [cf. Isaza Delgado/Campos
Romero, 2008: 3 ss; Calle, 2008; Zibechi, 2008]
Como
contraprestação a esta “ajuda militar” dos Estados Unidos,
estimada em 5.525 bilhões de dólares entre 2001 e 2008 –que
converte a Colômbia no terceiro país do mundo em receber
assistência militar dos Estados Unidos, depois de Israel e Egito-, o
Estado colombiano tem respaldado quanta aventura bélica ou agressão
realiza o imperialismo estadunidense: foi o único da América do Sul
que apoiou abertamente a criminal guerra e ocupação do Iraque,
chegando até o extremo de felicitar a George Bush por seu “êxito”
e solicitar que, após o proclamado fim da guerra em maio de 2003,
fossem enviados os bombardeiros ianques a Colômbia para combater as
organizações guerrilheiras; deste país saíram contingentes
militares para participar como membros das tropas de ocupação no
Afeganistão, ou como mercenários privados no Iraque; o regime de
Uribe apoiou o golpe de Estado em Honduras [junho de 2009] e foi o
primeiro presidente a visitar o ilegítimo Porfirio Lobo, quem
substituiu ao governo de fato. Mais recentemente, o regime de Juan
Manuel Santos foi o único da América do Sul em negar-se a apoiar o
reconhecimento do Estado Palestino e respaldar na prática ao
sionismo genocida, com o desprezível argumento de que só apoiaria a
criação do dito Estado quando se reatem os diálogos entre Israel e
a Autoridade Palestina.
Em
conclusão, “o Plano Colômbia, e seus outros anexos, é o maior
projeto geoestratégico que se traçou para recolonizar a América
Latina” e a militarização tem sido “o mecanismo prioritário
dos Estados Unidos para exercer seu domínio econômico e
geopolítico”. [Calloni, 2009]
III.
As bases militares dos Estados Unidos: os elos de uma rede mundial de
terror
Os Estados Unidos têm instaladas bases militares pelos cinco continentes. Com exatidão, não se conhece a quantidade de bases que possuem, ainda que, segundo um inventário oficial elaborado pelo Pentágono, em 2008 os Estados Unidos tinham 865 bases em 46 países, nos quais deslocavam uns 200 mil soldados. No entanto, alguns dos que têm estudado com detalhe o assunto sustentam que o número total de bases é de umas 1.250, distribuídas em mais de 100 países do mundo. A dificuldade para precisar seu número reside em que nas cifras oficiais não se consideram as bases que se instalaram em Afeganistão e Iraque, territórios atualmente invadidos pelos Estados Unidos.
Os Estados Unidos têm instaladas bases militares pelos cinco continentes. Com exatidão, não se conhece a quantidade de bases que possuem, ainda que, segundo um inventário oficial elaborado pelo Pentágono, em 2008 os Estados Unidos tinham 865 bases em 46 países, nos quais deslocavam uns 200 mil soldados. No entanto, alguns dos que têm estudado com detalhe o assunto sustentam que o número total de bases é de umas 1.250, distribuídas em mais de 100 países do mundo. A dificuldade para precisar seu número reside em que nas cifras oficiais não se consideram as bases que se instalaram em Afeganistão e Iraque, territórios atualmente invadidos pelos Estados Unidos.
Na
América Latina, os Estados Unidos contam, nestes momentos, com um
total de 27 bases oficialmente reconhecidas, incluindo as
colombianas, e às quais devem agregar-se outras que nunca se
mencionam, porém que na prática operam, como três que há no Peru.
Essas bases são as seguintes: na América Central, se encontram a
base de Comalapa em El Salvador; a de Soto-Cano [ou Palmerola] em
Honduras, de onde se planejou o golpe contra o presidente Zelaya; na
Costa Rica está a base de Liberia, que deixou de funcionar por um
tempo, porém voltou a operar recentemente. Na América do Sul,
operam no Peru três bases, das quais pouco se fala; no Paraguai está
a base militar Mariscal Estigarribia, localizada no Chaco, com
capacidade para alojar 20 mil soldados e se encontra situada num
lugar estratégico, próxima da Tríplice Fronteira e do aquífero
Guarani, a maior reserva de água doce do mundo; no Caribe, existem
bases em Cuba, a de Guantánamo, usada como centro de tortura; em
Aruba, a base militar Reina Beatriz; e em Curaçau a de Hatos. A essa
listagem devem acrescentar-se as 7 bases reconhecidas na Colômbia,
cifra que é maior, e as que se instalaram no Panamá. [cf. Modak,
2009]
Como
se poderia definir uma base militar? De maneira simples, pode-se
dizer que é um lugar onde um exército treina, prepara e armazena
suas maquinarias de guerra. Se pode falar, segundo suas funções
específicas, de quatro tipos de bases militares: aéreas,
terrestres, navais e de comunicação e vigilância. Como o
imperialismo estadunidense vê a superfície terrestre como um imenso
campo de batalha, as bases ou instalações militares de diversa
natureza estão repartidas numa rede de comando dividida em cinco
unidades espaciais e quatro unidades especiais [Comandos Combatentes
Unificados]. Cada unidade está situada sob o comando de um general.
A superfície terrestre está, então, considerada como um vasto
campo de batalha que pode ser patrulhado ou vigiado constantemente a
partir destas bases. [Dufour, 2007]
Chalmers
Johnson assinalou que durante o governo de Bush se elaborou a
estratégia de atuar contra os “Estados Canalha”, que formam um
arco de instabilidade mundial que vai desde a zona andina [Colômbia,
Venezuela, Equador, Bolívia], atravessa o norte da África, passando
pelo oriente próximo até chegar a Filipinas e Indonésia. Este arco
de instabilidade coincide com o que se denomina o “anel do
petróleo”, que se encontra em grande medida no que antes se
conhecia como Terceiro Mundo. Segundo Johnson, “o militarismo e o
imperialismo são irmãos siameses unidos pelo quadril... Cada um se
desenvolve com o outro. Em outro tempo, se podia traçar a extensão
do império contando as colônias. A versão estadunidense das
colônias são as bases militares...” [Johnson, 2004]
Comandos
militares dos Estados Unidos no mundo
O
estabelecimento de bases militares em todo o mundo, em zonas vitais
desde o ponto de vista econômico e político, demonstra que se
ampliaram as estratégias, porque já não se trata somente das
clássicas intervenções que operam desde fora para derrocar a um
regime considerado inimigo por parte dos Estados Unidos, como sucedeu
em Iraque e Afeganistão. Agora se trata de tomar possessão do
território de um país de maneira direta para contar com uma força
militar ativa que funciona em forma autônoma e com uma grande
capacidade operativa e no ramo da inteligência. Para torná-lo
possível, os Estados Unidos usam sofisticada tecnologia e desenvolve
uma impressionante capacidade de prejudicar a países e a territórios
localizados em qualquer lugar do planeta. [cf. Ruiz Tirado, 2009]
A
difusão dos interesses econômicos e financeiros do imperialismo até
o último rincão do planeta requer um respaldo militar, que se
expressa em poder de fogo e em mobilidade. Poder de fogo para
subjugar brutalmente a seus oponentes, como os Estados Unidos vêm
fazendo desde a invasão do Panamá em dezembro de 1989, e à qual
seguiram as apocalípticas guerras no Golfo Pérsico, na antiga
Iugoslávia, no Afeganistão. Não é casual o próprio nome que se
deu a algumas dessas campanhas [Comoção e Pavor, Tormenta do
Deserto] e que os porta-vozes mais cínicos dos Estados Unidos tenham
dito que cada uma dessas guerras tinha a finalidade de fazer os
países agredidos regressarem à idade da pedra. Mobilidade para
poder se deslocar de maneira rápida das bases militares para os
teatros de guerra, ou, em outros termos, desdobrar a potência
militar sem restrições em qualquer lugar da terra.
Neste
sentido, os Estados Unidos dispõem na atualidade do mais sofisticado
e aterrorizante poderio militar que se erigiu na história da
humanidade, que se desdobra por mar, ar e terra. Tem barcos de
guerra, porta-aviões e submarinos em todos os oceanos do mundo, de
onde decolam centenas de aviões para bombardear objetivos situados a
centenas e inclusive milhares de quilômetros de distância. Para que
tudo isto seja possível, é indispensável contar com uma rede
mundial de bases militares, distribuída em todos os continentes.
Essas bases se encontram desdobradas em zonas nas quais há eixos de
transporte rápido, onde se recolhe informação mundial, para espiar
e vigiar a seus adversários. Isto permite dispor de uma rede
comunicacional interconectada com aviões, trens de ferro, carros de
combate, barcos, submarinos, que contam com uma infraestrutura física
vital para seu funcionamento, mediante o controle de aeroportos,
portos fluviais e marítimos, rodovias, autopistas e centrais de
telecomunicações.
De
uma importância similar às bases militares são os porta-aviões,
desde onde se realizam intervenções rápidas. Os Estados Unidos
contam, na atualidade, com 12 porta-aviões estendidos por todos os
mares do mundo. Em torno de cada porta-aviões se constitui um grupo,
isto é, uma frota na qual vão buques e submarinos, que o protegem
de eventuais ataques aéreos e submarinos: “Os porta-aviões formam
a base de uma enorme capacidade ofensiva aérea sem equivalente. Cada
porta-aviões transporta 50 aviões capazes de levar a cabo entre 90
e 170 ataques ao dia em função da missão. Cada grupo contém
também 2 cruzeiros lança mísseis. Para ter capacidade de ataque
terrestre, estes grupos são completados com tropas e veículos
anfíbios”. [McEjércitos, 2007]
Nestas
condições, a importância militar das bases instaladas na Colômbia
–de fato, todo seu território- está relacionada com a estratégia
de mobilidade das forças armadas dos Estados Unidos no centro, no
sul da América e no Caribe. De maneira um pouco mais precisa, o
imperialismo estadunidense propôs quatro modelos de posicionamento
militar em nosso continente: bases de grande tamanho, tipo
Guantánamo, onde há instalações militares completas, ocupadas em
forma permanente por efetivos militares e suas famílias; bases de
tamanho médio, como a de Palmerola, que conta com amplas instalações
que estão ocupadas por um pessoal que se renova a cada semestre;
bases pequenas, batizadas com o eufemismo de Cooperative Security
Locations [CSL], “localidades de segurança cooperativa”, como as
de Curaçau ou Comalapa, onde há pouco pessoal, porém tem uma
importante capacidade operativa em matéria de telecomunicações e
de informação, a qual é transmitida ao território dos Estados
Unidos; as bases micro, são lugares de trânsito que se usam para
permitir o abastecimento dos aviões, os quais em seguida decolam
para seus objetivos; como exemplo do qual, pode-se mencionar a base
de Iquitos, no Peru. [cf. Herren, 2009]
- Colômbia, um porta-aviões terrestre dos Estados Unidos
A
Colômbia passou a converter-se oficialmente num porta-aviões
terrestre dos Estados Unidos em outubro de 2009, quando se firmou um
“acordo” entre os dois países, mediante o qual se estabeleceram
7 bases militares no território. Ainda que, meses depois, tribunais
colombianos tenham declarado a nulidade do tratado, na prática este
seguiu operando como se nada houvesse passado. Por isso, é
necessário recordar os elementos básicos desse tratado, para
sopesar o papel que desempenha o Estado colombiano como servidor
incondicional do imperialismo estadunidense.
Nesse
ignominioso “acordo”, a Colômbia concede aos Estados Unidos sete
bases, distribuídas em toda a geografia colombiana, junto com outras
prerrogativas que convertem este país num protetorado ianque. Na
prática, regressamos a formas de sujeição quase coloniais,
próprias de um distante passado, tão distante como o que se quis
superar com as guerras da independência há dois séculos.[3]
Neste
artigo III se detalha o alcance real da ignominiosa entrega quando se
assinala que as partes acordam aprofundar sua cooperação em áreas
tais como inter operabilidade, procedimentos conjuntos, logística e
equipe, treinamento e instrução, intercâmbio de inteligência,
capacidades de vigilância e reconhecimento, exercícios combinados e
outras atividades acordadas mutuamente, e para enfrentar ameaças
comuns à paz, à estabilidade, à liberdade e à democracia.
Além
disso, “se comprometem a fortalecer e apoiar iniciativas de
cooperação regionais e globais para o cumprimento dos fins do
presente Acordo”. É necessário destacar que está incluído
praticamente tudo com essa afirmação tão etérea de “outras
atividades acordadas mutuamente”, entre as quais podiam incluir-se
ações como as de bombardear outro país, como sucedeu ao Equador no
primeiro de março de 2008, o qual se reafirma com aquilo de
“fortalecer e apoiar iniciativas de cooperação regionais”,
entre as quais se podem envolver todos os fatos ilegais que se travam
nestes momentos a partir da Colômbia contra países.
Desde
há vários anos, muito antes do acordo formal de 2009, vinham
operando bases militares dos Estados Unidos em diversos lugares da
geografia colombiana, entre as quais cabe recordar as de Tres
Esquinas e Larandia no sul do país. E isso sem contar com que
militares e mercenários dos Estados Unidos marcavam presença em
grande parte das instalações militares do Exército colombiano,
como nas de Tolemaida e Palanquero.
• Bases militares dos EUA • metais estratégicos
• Bases militares dos EUA • metais estratégicos
Ao
observar o mapa, se constata que estas bases se encontram
distribuídas em pontos estratégicos do território colombiano,
tanto nas duas costas como em zonas selváticas e em pleno centro do
país. Dados a velocidade dos aviões militares dos Estados Unidos e
o raio de ação da tecnologia satelitizável empregada para espiar a
milhares de quilômetros de distância, pode-se concluir, sem muito
esforço, porque se diz que a Colômbia se converteu no porta-aviões
terrestre do imperialismo estadunidense. Isto, por desgraça, não é
uma figura de retórica, senão que é uma terrível realidade,
principalmente se se acrescenta que existem outras instalações
militares que, desde há tempo, são manejadas pelos Estados Unidos,
como acontece com a base de Marandua, perto da fronteira venezuelana.
Algo similar ocorre com as bases de Tres Esquinas e Larandia,
localizadas no Departamento [estado] de Caquetá, que têm sido
utilizadas para operações aéreas e de inteligência das forças
armadas dos Estados Unidos e de onde saem os aviões que fumigam com
glifosato as parcelas de indígenas e campesinos no sul do país.
O
pretexto estadunidense de que as bases militares na Colômbia não
vão ser usadas para agredir, espiar e atacar a outros países da
região, senão que seu objetivo é combater o narcotráfico, não
resiste à menor prova empírica, como o demonstra o Plano Colômbia.
Este, aparentemente elaborado para combater o narcotráfico, após
uma década de operação e com uns gastos de milhares de milhões de
dólares, não conseguiu diminuir o cultivo de folha de coca, pelo
contrário, o expandiu e o levou a lugares onde há 10 anos não se
dava. Hoje, a Colômbia conta com mais de 100 mil hectares semeados
de folha de coca e desde aqui se exportam umas 900 toneladas de
cocaína a cada ano.
Quanto
à importância estratégica destas bases para os Estados Unidos, o
melhor exemplo é o de Palanquero. Esta “base expedicionária tem a
capacidade de abrigar C-17, aviões de transportes, e para 2025 se
prevê que esta base tenha a capacidade de mobilizar a 175.000
militares com seus utensílios em apenas 72 horas”. [cit. em
Machado, 2009] Palanquero possui uma pista de 3 quilômetros de
comprimento, da qual podem decolar de maneira simultânea três
aviões a cada dois minutos; conta com hangares para uma centena de
aviões e pode abrigar até 2000 militares. O chamado Libro Blanco do
ano 2009 [Livro
Branco de 2009],
sem ambiguidades afirma sobre Palanquero:
Recentemente,
o Comando Sul [USSOUTHCOM] tomou interesse em estabelecer uma
localidade no continente sul-americano que pudesse utilizar-se tanto
para as operações antidroga como para operações de mobilidade. Em
consequência, com a ajuda do AMC e do Comando de Transporte, o
Comando Sul identificou Palanquero, Colômbia [base aérea Germán
Olano, SKPQ] como uma localidade de segurança de cooperação [CSL].
A partir desta localidade próxima da metade do continente, pode-se
cobrir com um C-17 sem reabastecimento
Havendo fornecimento adequado de combustível no destino, um C17 pode abarcar todo o continente, excetuando-se a região de Cabo de Hornos em Chile e Argentina. Enquanto o Comando Sul defina um sólido plano de compromisso de teatro, a estratégia de estabelecer uma localidade de cooperação em Palanquero deveria ser suficiente para o alcance de mobilidade aérea no continente sul-americano.[4]
Havendo fornecimento adequado de combustível no destino, um C17 pode abarcar todo o continente, excetuando-se a região de Cabo de Hornos em Chile e Argentina. Enquanto o Comando Sul defina um sólido plano de compromisso de teatro, a estratégia de estabelecer uma localidade de cooperação em Palanquero deveria ser suficiente para o alcance de mobilidade aérea no continente sul-americano.[4]
IV.
Algumas razões que explicam a implantação de bases dos Estados
Unidos na Colômbia
Para
terminar, vale a pena indagar as razões que explicam a implantação
de bases militares dos Estados Unidos em território colombiano. Há,
pelo menos, dois fatos básicos: o interesse dos Estados Unidos em
apoderar-se do petróleo de Venezuela e dos recursos naturais da
região Andino-Amazônica; a pretensão de sabotar as tentativas de
unidade da América Latina, em especial a ALBA; e o interesse em
impedir a consolidação de processos nacionalistas em certos países
da região. Certamente, estes fatos não operam em forma isolada,
senão que se encontram entrelaçados, porque não se entende um sem
o outro. Em poucas palavras, não podem ser vistos de maneira
separada, posto que, para conseguir um deles, se precisa, no caso da
estratégia dos Estados Unidos, da consecução dos outros dois.
Assim, por exemplo, voltar a controlar de maneira plena o petróleo
de Venezuela requer reverter a Revolução Bolivariana, encabeçada
por Hugo Chávez, e disso se desprende liquidar os projetos de
integração, como a ALBA.
1.
O petróleo de Venezuela e outros recursos naturais da região
A
imposição das bases numa zona estratégica como Colômbia aponta
para o controle, por parte dos Estados Unidos, de importantes
recursos naturais que se encontram na zona andino-amazônica,
começando pelo petróleo. A esse respeito sobressai Venezuela, que
conta com importantes reservas de petróleo cru, que o situam entre
os primeiros produtores em nível mundial. Ainda que Venezuela não
tenha suspendido a venda de petróleo aos Estados Unidos, o governo
da Hugo Chávez desempenhou um importante papel em diversos planos,
tanto em nível local como mundial, no manejo do recurso petroleiro a
favor da população venezuelana. Nesse sentido, se destaca seu ativo
papel em reviver a OPEP, o que incidiu no melhoramento do preço do
barril de petróleo no mercado mundial, sua exigência às empresas
multinacionais para que paguem melhores vantagens e respeitem as leis
nacionais da Venezuela e a venda de petróleo a preços subsidiados a
Cuba, Haiti e outros países da região. Estas determinações
colidiram com os Estados Unidos, pelo nível de independência e
soberania que representam se se lhes compara com a política de
submissão petroleira de governos como os de México ou Colômbia.
Ademais,
deve-se ter em conta que, nestes momentos de esgotamento do petróleo
em nível mundial, os Estados Unidos, principal consumidor de
hidrocarburetos, dependem em grande medida dos recursos materiais e
energéticos que se encontram fora de seu território. Como, ao mesmo
tempo, não estão dispostos a modificar seu nível de vida, baseado
no consumo intensivo de energia fóssil, travam na prática uma
guerra mundial pelo controle dos recursos do mundo. E nessa guerra
não declarada nem reconhecida, Venezuela joga um papel de primeira
ordem, pela magnitude de suas reservas. A esse respeito, num estudo
recente do Serviço Geológico dos Estados Unidos, se calcula que a
franja do Orinoco tem uns 513.000 bilhões de barris, quase o dobro
de reservas de petróleo que a Arábia Saudita, o primeiro produtor
mundial de petróleo cru na atualidade e até agora possuidor das que
se consideravam as maiores reservas do mundo, com 266 bilhões de
barris. Resulta significativo que a avaliação de um organismo dos
Estados Unidos conclua que em Venezuela se encontram as maiores
reservas de petróleo do mundo e que, ademais, seja a maior
estimativa que até o momento se fez sobre qualquer lugar do
mundo.[5]
Isto
põe em relevo a importância estratégica de Venezuela para os
Estados Unidos, como o vêm manifestando desde há algum tempo
diversos ideólogos e porta-vozes do complexo
militar-industrial-petroleiro da primeira potência mundial. As
afirmações mais enfáticas foram feitas pelo senador republicano
Paul Coverdale, primeiro relator do Plano Colômbia, quem assegurou
em 1998 que, “para controlar a Venezuela, é necessário ocupar
militarmente a Colômbia”. Em 2000, este mesmo personagem reafirmou
com mais detalhes:
“Ainda
que muitos cidadãos temam outro Vietnã, torna-se necessário,
porque a Venezuela tem petróleo. Venezuela tem repulsa pelos Estados
Unidos, este deve intervir na Colômbia para dominar a Venezuela. E
posto, que Equador também resulta vital, e os índios dali são
perigosos, os Estados Unidos também têm que intervir nesse país.
[...] Se meu país está travando uma guerra civilizadora no remoto
Iraque, certo estou que também pode fazê-lo na Colômbia, e dominar
a ela e a seus vizinhos: Venezuela e Equador”.[cit. em Pereira,
2009]
Isto
mesmo foi ratificado em forma mais recente num documento redigido
pelo Comando Sul do Pentágono no qual se indica sem muitos rodeios:
“De
acordo com o Departamento de Energia, três nações, Canadá, México
e Venezuela formam parte do grupo dos quatro principais fornecedores
de energia aos EUA, os três localizados dentro do hemisfério
ocidental. De acordo com a Coalition for Affordable and Reliable
Energy, nas próximas duas décadas os EUA demandarão 31% mais de
produção de petróleo e 62% mais de gás natural, e a América
Latina se está transformando num líder mundial energético com suas
vastas reservas petroleiras e de produção de gás e petróleo”.[cit.
em Saxe-Fernández, 2009]
Evidentemente,
não só está na mira o petróleo de Venezuela, mas os Estados
Unidos desejam também apoderar-se de outros recursos naturais que se
encontram nos países da região andino-amazônica, entre os quais
pode-se mencionar o gás da Bolívia, o petróleo do Equador, a água,
a biodiversidade e os recursos florestais da Colômbia e do Brasil e
tudo aquilo que seja suscetível de extrair-se e mercantilizar-se
para proveito do imperialismo e suas empresas, como os saberes
indígenas dos milenares habitantes de selvas e bosques das Américas
Central e do Sul.
- Destruir os projetos de unidade regional
A
construção de uma nação que integraria os antigos territórios do
império espanhol, como forma de assegurar sua prosperidade e
enfrentar e resistir às ambições expansionistas de diversos
impérios, da Europa e dos nascentes Estados Unidos se constituiu num
dos sonhos mais cobiçados dos mais preclaros líderes da
independência em nosso continente. Desde um primeiro momento, essas
tentativas de unidade naufragaram por diversas razões, entre elas a
constituição de poderes locais de tipo caudilhista e da ação
oculta ou aberta de grandes potências que sempre se basearam na
lógica de “dividir para reinar”. Em tempos recentes, e com um
grande impulso do governo bolivariano de Venezuela, se fez reviver um
projeto de integração que se plasmou na Aliança Bolivariana para
os Povos de Nuestra América [ALBA], que representa o projeto de
unidade econômica, política e cultural mais importante de todos os
que se realizaram em Nuestra América desde os tempos da Grande
Colômbia. Além disso, nestes momentos também existem propostas de
unidade, como a do Mercado Comum do Sul [MERCOSUL], a União de
Nações Sul-americanas [UNASUL] e ultimamente a Comunidade de
Estados Latino-americanos e Caribenhos [CELAC].
Como
é de se supor, estes processos de integração, cruzados por
múltiplas dificuldades e contradições internas, não são muito
bem recebidos por Washington e seus sócios mais submissos, como
demonstra o caso de Honduras, onde se perpetrou um golpe contra seu
presidente constitucional, que tinha entre seus objetivos principais
impedir a vinculação efetiva desse país à ALBA, como o
conseguiram porque o regime golpista, formado por servidores
incondicionais dos Estados Unidos, retirou Honduras desse acordo
meses depois. Isto indica, através do caso de um país cujos
governantes sempre foram incondicionais aos Estados Unidos, que para
o imperialismo e suas multinacionais a existência da ALBA é um
trago amargo difícil de digerir e estão dispostos a realizar todo
tipo de manobras para sabotar este projeto de integração.
Nesse
propósito de torpedear dita integração, na qual participam países
da zona andina como Venezuela, Equador e Bolívia, o regime
colombiano joga um papel de primeira ordem, como já o demonstrou
indiscutivelmente. Isto se evidencia com alguns fatos que vale a pena
relembrar: a atomização da Comunidade Andina de Nações [CAN], que
obrigou a Venezuela a retirar-se deste acordo, quando a Colômbia,
junto com o Peru, decidiu impulsionar Tratados de Livre Comércio
[TLCs] com os Estados Unidos em 2006, negociando de maneira
bilateral, sem consultar a outros membros e violando na prática os
compromissos contraídos com antecedência de não entabular acordos
em forma separada; o bombardeio ao território equatoriano no dia
primeiro de março de 2008 e a campanha de calúnias e mentiras que,
desde então, tem se propagado desde as altas esferas do governo, do
exército e da “grande imprensa” da Colômbia, não só para
justificar esse fato ilegal e criminal, como também para enlamear os
governos de Equador e Venezuela, ademais do anúncio reiterado de que
voltariam a realizar agressões similares quando o considerarem
necessário; as reiteradas incursões de grupos paramilitares,
procedentes da Colômbia, nos territórios de outros países com o
objetivo de causar pânico e aterrorizar os cidadãos colombianos que
fugiram de nosso país ou de advertir sobre o que estão dispostos a
fazer com os vizinhos; o racismo contra a população humilde de
Equador e Venezuela [indígenas, afrodescendentes e mulatos] que
representantes das classes dominantes da Colômbia destilam e que os
meios de comunicação reproduzem.
3.
Sabotagem aos processos nacionalistas em marcha
A
implantação das bases militares na Colômbia também está
relacionada de maneira direta com a decisão do governo dos Estados
Unidos e de seus lacaios da América do Sul de opor-se aos governos
nacionalistas que surgiram em vários países da região nos últimos
anos. Sobre este particular, um documento de maio de 2009 da Força
Aérea dos Estados Unidos enfatiza a importância da base de
Palanquero, no centro da Colômbia, ao enfatizar que nos dá uma
oportunidade única para as operações de espectro completo numa
sub-região crítica em nosso hemisfério, onde a segurança e a
estabilidade estão sob ameaça constante pelas insurgências
terroristas financiadas com o narcotráfico, pelos governos anti
estadunidenses, pela pobreza endêmica e pelos frequentes desastres
naturais. [Blair, s/a]
Se
acrescenta neste mesmo documento que a base de Palanquero, por sua
capacidade, excelente localização e boa pista, significa poupar
custos, e seu isolamento relativo “minimizará o perfil da presença
militar estadunidense”. Com isso, se melhorará a capacidade dos
EUA para responder rapidamente a uma crise e assegurar o acesso
regional e a presença estadunidense com um custo mínimo. Palanquero
ajuda com a missão de mobilidade porque garante o acesso a todo o
continente da América do Sul com a exceção de Cabo de Hornos, se o
combustível está disponível, e mais da metade do continente sem
ter que reabastecer. [Gollinger, 2009]
Quanto
às quatro razões mencionadas pelas quais se justifica o
estabelecimento da base de Palanquero [luta contra o que os Estados
Unidos denominam “terrorismo” e narcotráfico, governos anti
estadunidenses, pobreza e desastres naturais], em muito pouco tempo a
ocupação armada do Haiti pelos Estados Unidos liquidou qualquer
discussão, pois os fatos vieram mostrar o verdadeiro alcance do
intervencionismo dos Estados Unidos, ainda que este não tenha sido
feito desde Palanquero, porém, sim, indica o que lhes espera aos
países da região num futuro imediato. Com efeito, depois do
devastador terremoto natural que assolou a empobrecida ilha
caribenha, que se somou ao terremoto social e econômico provocado
pelo capitalismo e pelo imperialismo desde há décadas, os Estados
Unidos, em vez de enviarem ajuda sanitária, alimentícia ou
econômica para socorrer aos milhões de danificados, desembarcaram
mais de 20 mil marines e se converteu numa força de
facto
com o pretexto de manter a ordem. Na realidade, essa ocupação está
relacionada com outras razões de tipo estratégico: converter o
Haiti em outro porta-aviões terrestre para, desde ali, espiar e
preparar agressões contra os países da região; assegurar o
controle de possíveis jazidas de minerais e de petróleo que
pudessem ser encontradas no subsolo desse país; evitar a migração
massiva dos haitianos que tratam de fugir da miséria e da desolação
para os Estados Unidos; e facilitar o estabelecimento de maquilas
para as multinacionais, aproveitando uma força de trabalho quase
gratuita. Estas são algumas das consequências que se desprendem das
intervenções imperialistas que se justificam a partir dos que os
Estados Unidos denominam, em forma eufemística, “desastres
naturais”.
Por
outro lado, em documentos oficiais de diversas instâncias do governo
dos Estados Unidos, que são reproduzidos de forma imediata pelas
classes dominantes da Colômbia e pela imprensa do país e do
continente, se acusa aos governos de Venezuela, Equador e Bolívia de
múltiplos delitos: entorpecer a luta contra as drogas, que
supostamente os Estados Unidos levariam a cabo; ter-se convertido em
refúgio de “terroristas” de toda classe, chegando inclusive a
fabricar mentiras sobre a suposta presença de grupos terroristas
procedentes do Oriente Médio na Guajira venezuelana ou assegurar que
em Venezuela se estariam preparando armas nucleares e mil embustes
pelo estilo; nesses países não se respeitaria a liberdade de
imprensa e se teriam convertido em regimes ditatoriais, que se opõem
à livre empresa e à propriedade privada. Para citar só um exemplo
recente, relembremos que em fevereiro de 2010 Denis Blair, Diretor
Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, assinalou de forma
irresponsável que o presidente venezuelano e seus aliados, e
menciona em forma concreta a Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, se
oporão “a toda iniciativa estadunidense na região, entre elas a
expansão do livre comércio, o treinamento militar, a cooperação
antidrogas e anti narcóticos, iniciativas de segurança e inclusive
programas de assistência”. Dita oposição, segundo o porta-voz
dos Estados Unidos, se explica porque o presidente Hugo Chávez impôs
“um modelo político populista e autoritário em Venezuela que mina
as instituições democráticas”. [cf. Blair, s/a]
Todas
estas mentiras estão inscritas na chamada guerra de quarta geração
que, nestes momentos, os Estados Unidos, via governo colombiano,
travam de maneira direta contra Venezuela e Equador. Neste tipo de
guerra, o governo dos Estados Unidos pretende manter-se à margem
para dar a impressão de que não está envolvido, recorrendo a
governos títeres, como o da Colômbia, para adiantar todas as ações
criminosas de sabotagem e desestabilização interna nos países que
adotaram projetos revolucionários ou nacionalistas. Por isso, não
resulta estranho que, desde o momento mesmo de implantação desses
governos, os Estados Unidos estejam operando a partir da Colômbia, e
com a direta participação da oligarquia deste país para impedir a
consolidação dos processos revolucionários em marcha. Desde logo,
que essa oligarquia tem seus próprios interesses porque considera
como um muito mau exemplo que se chegassem a fortalecer governos
nacionalistas, que pudessem converter-se num incentivo para os
setores populares da Colômbia, e para isso têm travado com toda a
premeditação e mentira do caso uma campanha midiática de embustes
e mentiras entre a população pobre, na qual se recorre a calúnias
racistas contra os presidentes de vários países da região, entre
eles Venezuela, Equador e Bolívia.
Neste
tipo de guerra irregular, não reconhecida nem declarada nunca, porém
tão mortífera como as guerras convencionais, a oligarquia
colombiana tem se valido de todas as armas, que vão desde a calúnia
e a ameaça pública contra os governos da região, passando por sua
tentativa, por demais risível, de acusar Hugo Chávez e Rafael
Correa como terroristas ante a ONU ou outras instâncias
internacionais, até chegar à organização e financiamento de
grupos de paramilitares que têm incursionado em território
venezuelano e que, inclusive, têm participado em ações criminais
nesse país, incluindo uma tentativa de atentar contra o presidente
venezuelano em 2005.
Que
os Estados Unidos seguem pensando em termos de guerra irregular,
ficou demonstrado com a publicação de um Manual de Contra
Insurgência em 2009. O título poderia ser visto inicialmente como
defasado, posto que este tipo de manuais eram próprios da época da
Guerra Fria. Porém não há tal defasagem.
Esse
manual aponta a reforçar a ideia de que os Estados Unidos têm que
seguir enfrentando inimigos irregulares, e o mais preocupante para
Colômbia e América Latina reside em que a todos [o imperialismo] os
mete num mesmo saco. Com efeito, nesse texto se sustenta que não há
diferenças entre narcotráfico, terrorismo e movimentos
guerrilheiros; afirmação que se sustenta no fato de que todas as
organizações irregulares compartilham as mesmas táticas e
estratégias e mecanismos de financiamento. Este novo rosto que a
contra insurgência tem um terrível impacto, porque nessa lógica
predomina uma visão exclusivamente militar e se renuncia a reformas
sociais, econômicas e políticas, todo o qual está inscrito na
lógica de guerra permanente e preventiva.
Porém,
ademais, ao identificar como similares grupos os guerrilheiros com
terroristas e narcotraficantes, o que os Estados Unidos justificam é
seu envolvimento direto nas lutas internas, que respondem a condições
políticas, que travam grupos que têm seus próprios pressupostos
ideológicos. Isso, simplesmente, é jogar lenha ao fogo, porque uma
coisa é financiar, preparar e armar o exército de um Estado, o que
os Estados Unidos vêm fazendo desde há 60 anos, a intervir
militarmente em forma aberta num território estrangeiro, num país
ao qual não se lhe declarou guerra. Desde logo que os Estados Unidos
vêm intervindo desta forma, porém isso se fazia em forma oculta e
clandestina; o que agora se projeta é fazê-lo de maneira direta, o
que supõe ampliar a noção de campo de batalha a todo o mundo.[cf.
Egremy, 2009] Isto quer dizer que os Estados Unidos decidiram
considerar que a guerra irregular adquira tanta importância como a
guerra convencional, e por isso deverá identificar seus potenciais
inimigos não estatais e estatais que se convertam em perigos para a
segurança dos Estados Unidos e atacá-los em seus próprios
territórios. Com isto, temos que a um país como Colômbia já não
só vão vir mercenários e assessores que formalmente não intervêm
nas batalhas, mas que em determinados momentos podem chegar a
desembarcar marines.
Tradução:
Joaquim
Lisboa Neto
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Vega Cantor, Renán. Historiador. Profesor titular de la Universidad
Pedagógica Nacional de Bogotá, Colombia. Doctor de la Universidad
de París VIII. Diplomado de la Universidad de París I, en Historia
de América Latina. Autor y compilador de los libros Marx y el siglo
XXI (2 volúmenes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá,
1998-1999; El Caos Planetario, Ediciones Herramienta, 1999; Gente muy
Rebelde (4 volúmenes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá,
2002; Neoliberalismo: mito y realidad; Entre sus últimos trabajos
podemos mencionar: Los economistas neoliberales, nuevos criminales de
guerra: El genocidio económico y social del capitalismo
contemporáneo (2010). La República Bolivariana de Venezuela le
entregó en 2008 el Premio Libertador por su obra Un mundo incierto,
un mundo para aprender y enseñar. Dirige la revista CEPA (Centro
Estratégico de Pensamiento Alternativo). Es integrante del Consejo
Asesor de la Revista Herramienta, en la que ha publicado varios de
sus trabajos.