"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 4 de março de 2014

Colômbia na geopolítica imperialista.


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Por: Renán Vega Cantor


Neste ensaio se esboçam os aspectos centrais que podem ajudar a compreender a importância geopolítica do território colombiano na guerra mundial pelos recursos, o ponto de partida indispensável para entender as guerras de agressão contra os povos que hoje promovem as potências imperialistas, encabeçadas pelos Estados Unidos.


Neste texto se consideram quatro questões: em primeiro lugar, se indica quais são as características da guerra mundial pelos recursos e sua influência direta na América Latina; em segundo lugar, se destacam os aspectos medulares da estratégia contra insurgente dos Estados Unidos no continente latinoamericano; em terceiro lugar, se considera a importância estratégica das bases militares dos Estados Unidos no mundo e particularmente em nossos territórios; e em quarto lugar se assinalam em forma breve os objetivos dos Estados Unidos ao converterem o território colombiano num de seus principais centros de operações militares.


  1. O imperialismo e a guerra mundial pelos recursos
O capitalismo de nossos dias requer materiais e energia mais que em qualquer outro momento de sua história, como resultado do aumento do consumo em nível mundial, à medida que se estende a lógica capitalista de produção e desperdício, porque a generalização do american way of life requer um fluxo constante de petróleo e materiais, para assegurar a produção de mercadorias que satisfaçam os desejos hedonistas, artificialmente criados, de centenas de milhões de seres humanos em todo o planeta.


Para produzir automóveis, aviões, tanques de guerra, computadores, celulares, geladeiras, televisores e milhares de mercadorias precisa-se de uma quantidade enorme de metais e outros recursos minerais. Entre estes se incluem os metais correntes e conhecidos, assim como metais raros. Ferro, cobre, zinco, prata, crômio, cobalto, berilo, manganês, lítio, molibdênio, platina titânio, tungstênio, são alguns dos metais mais importantes na produção capitalista de hoje. Um exemplo ajuda a visualizar a importância desses metais: para produzir o turborreator de um avião se usa 39% de metais correntes e o resto consta de titânio [35%], crômio [13%], cobalto [11%], nióbio [1%] e tântalo [1%].(1)
Para manter o nível de produção e consumo do capitalismo, se requer assegurar fontes de abastecimento de recursos materiais e energéticos, os quais se encontram concentrados numas poucas zonas do planeta, e não precisamente nos Estados Unidos, Japão ou na União Europeia, que têm déficits estruturais tanto em petróleo como em minerais estratégicos. Em termos de minerais, alguns dados ilustram a dependência externa dos Estados Unidos: “Entre 100 e 90% do manganês, crômio e cobalto, 75% do estanho e 61% do cobre, níquel e zinco que consomem, 35% de ferro e entre 16 e 22% da bauxita e chumbo que requerem. A Europa depende de 99 a 85% da importação destes minerais, com exceção do zinco, do qual dependem 74% de importações do estrangeiro”. O significativo assegura em que, no conjunto, América Latina e Caribe fornecem aos Estados Unidos 66% de aluminio, 40% do cobre, 50% do níquel. [Diez Canesco, 2007]


  1. A importância estratégica da América Latina
No cenário dessa guerra mundial pelos recursos, a América Latina é um dos principais campos de batalha, porque fornece 25% de todos os recursos naturais e energéticos que os Estados Unidos necessitam. Ademais, os povos da América Latina Caribenha habitam um território no qual se encontram 25% dos bosques e 40% da biodiversidade do globo. Quase um terço das reservas mundiais de cobre, bauxita e prata são parte de suas riquezas e guarda em suas entranhas 27% do carvão, 24% do petróleo, 8% do gás e 5% do urânio. E suas bacias aquíferas contêm 35% da potência hidroenergética mundial.


Nestes momentos voltou a cobrar importância o esquema colonial de divisão internacional do trabalho, que se baseia na exploração mineira, de tipo intensivo e depredador, dos países da América Latina. Isto tem implicado que companhias multinacionais provenientes de Canadá, Europa e China tenham se apoderado, como nos velhos tempos da colônia, de grandes porções territoriais do continente, onde se encontram jazidas minerais. A busca insaciável de minerais metálicos e não metálicos levou a que estes países implantem multinacionais extrativistas, o que gerou um boom conjuntural que elevou os preços desses minerais.


Inclusive, se estão explorando minerais que não têm muita utilidade prática em termos produtivos, como o ouro, em torno do qual se desatou também outro boom inesperado. Isto está relacionado com a instabilidade do dólar e a busca de sucedâneos seguros, e que melhor que o ouro, ainda que sua exploração tenha consequências funestas para os países da América Latina, que o possuem nas entranhas de suas cordilheiras ou de seus rios.


Nesse contexto geopolítico, a Colômbia desempenha um papel crucial: por sua privilegiada localização espacial, situada entre o sul e o centro da América; por ser o único país sul-americano que tem costas em dois oceanos; por sua extraordinária biodiversidade e fontes de água doce; por suas riquezas florestais e minerais, ainda que estas últimas não sejam tão abundantes e variadas como as do Peru; porque nesse território se podem implantar sistemas aéreos e satelitizáveis de controle militar para vigiar e agredir a qualquer país da região. Ademais, as classes dominantes da Colômbia têm mostrado historicamente sua condição de sipaios baratos do imperialismo estadunidense e, para completar, em território colombiano se trava uma guerra desde há mais de meio século, como expressão de uma permanente rebelião campesina contra o poder de caciques e terra-tenentes. Estas razões explicam porque nas atuais circunstâncias a Colômbia é tão importante para os Estados Unidos.3. América Latina na doutrina militar do Pentágono

Quando se fala da importância geopolítica e geoeconômica da América do Sul, não há que perder de vista que o imperialismo estadunidense está pensando em termos mundiais ao considerar as reservas de recursos naturais e energéticos. Assim, em 2003, o chamado Informe Cheney, ou Política Nacional de Energia [NEP], postulou a obrigatoriedade de dominar as fontes mais importantes de petróleo em todo o mundo e enfatizou como preferência estratégica o controle do petróleo que se encontra fora do Golfo Pérsico, em particular em três zonas: a região andina [Colômbia e Venezuela, em especial], a costa ocidental do continente africano [Angola, Guiné Equatorial, Mali e Nigéria] e a bacia do Mar Cáspio [Azerbaijão e Cazaquistão].


Na atualidade, quando os Estados Unidos trava o que denomina a “guerra contra o terrorismo”, um eufemismo para ocultar a guerra mundial pelos recursos, existe uma integração plena entre a política contra insurgente e a proteção do petróleo, como sucede de maneira concreta na Colômbia. Em 2002, o Departamento de Estado havia dito a respeito:


A perda de lucros, devido a ataques guerrilheiros, obstaculiza seriamente o governo da Colômbia na satisfação das necessidades sociais, políticas e de segurança nacionais”. Por isso, determinou apoiar a segurança dos oleodutos, principalmente o de Caño Limón-Coveñas, e para isso os Estados Unidos “fortalecerão o governo da Colômbia em sua capacidade para proteger uma parte vital de sua infraestrutura energética”. [Klare, 2004]


O analista Michael Klare dizia em forma premonitória em 2004, ao comentar o envolvimento petroleiro militar dos Estados Unidos na Colômbia:


Se supõe que os instrutores estadunidenses destinados a esta missão se limiam a seu papel de treinamento e apoio. Porém, há indícios de que o pessoal militar estadunidense tem acompanhado as tropas colombianas em operações de combate contra as guerrilhas. O treinamento ocorre ‘durante missões militares e de inteligência reais’, revelou o US News and World Report em fevereiro de 2003. Lentamente, os Estados Unidos se convertem em parte da principal campanha contra insurgente na Colômbia, com todos os sinais de uma guerra prolongada”. [ibid]


Nesse mesmo sentido, o Plan Cheney enfatizava a importância do petróleo da América Latina, posto que a Venezuela é o terceiro provedor mundial, México o quarto e Colômbia o sétimo, recomendando inclusive a ampliação do fornecimento de México e Venezuela. [Klare, 2013]


As declarações de políticos, militares e empresários dos Estados Unidos servem para calcular a magnitude da guerra pelo controle dos recursos. Só à maneira de ilustração, Ralph Peters, major reformado do exército dos Estados Unidos, afirmou em Armed Forces Journal [uma revista mensal para oficiais e dirigentes da comunidade militar dos EUA] em agosto de 2006:


Não haverá paz. Em qualquer momento dado, durante o resto de nossas vidas, haverá múltiplos conflitos em formas mutantes em todo o globo. Os conflitos violentos dominarão as manchetes, porém as lutas culturais e econômicas serão mais constantes e, em última instância, mais decisivas. O papel de facto das forças armadas dos USA será manter a segurança do mundo para nossa economia e que se mantenha aberta ao nosso ataque cultural. Com esses objetivos, mataremos uma quantidade considerável de gente”. [Mosaddeq Ahmed, 2006]


  1. O punho de ferro militar para impor o neoliberalismo e a globalização


Os Estados Unidos, como potencia hegemônica em nível mundial, aproveitaram seu triunfo na Guerra Fria para reforçar seu poder militar, valendo-se dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, com o objetivo de aterrorizar e massacrar seus eventuais adversários no caso de que se desencadeasse uma guerra formal ou surgissem possíveis competidores. Isto ficou plasmado num documento de 1992, intitulado “Guia para a Planificação de Defesa”, no qual se indicava como prioridade que os “Estados Unidos deveriam impedir a competição dos que aspirem a jogar um papel preponderante no âmbito regional ou global” e contemplava, inclusive, o uso de armas nucleares, biológicas e químicas de maneira preventiva, “ainda em conflitos nos quais os interesses estadunidenses não estejam diretamente ameaçados”. [García Cuñarro, s/a]
Os estrategistas do imperialismo estadunidense implementaram uma visão do mundo que se baseia em determinar se os países são ou não obedientes aos ditames de Washington e a seu projeto de dominação mundial, apresentado em público com o nome de globalização. Um destes estrategistas, Thomas Barnett, elaborou o Novo Mapa do Pentágono, no qual se divide o mundo em três regiões, ainda que delas, na verdade, importem duas. Por uma parte, está o centro, composto pelos países capitalistas desenvolvidos, com Estados fortes; em seguida, estão os países conexão, que se constituem em zonas de amortigamento e de disciplinamento do terceiro grupo, os países “brecha”, onde se encontram os Estados falidos e as zonas de perigo para a nova ordem mundial e sobre os quais se deve desenrolar um trabalho de vigilância e controle por parte dos Estados Unidos, com a finalidade de consolidar um sistema verdadeiramente globalizado, incondicional e inclinado à dominação e exploração lideradas por Washington e suas companhias multinacionais [cf. Ceceña, 2004]. Dito de outra forma, o mundo está dividido em duas partes: um setor crítico, composto por Estados falidos que ameaçam a segurança internacional, a qual se denomina “a brecha não integrada”, que está composta por países da América Central e do Caribe, da região andina da América do Sul, que se estende por quase toda a África [menos África do Sul], Europa Oriental, Oriente Médio [excluindo Israel], Ásia Central, Indochina, Indonésia e Filipinas; a outra zona, formada pelo que se denomina o “núcleo operante da globalização” do qual formam parte Estados Unidos, Canadá, Chile, Europa Ocidental, China, Japão, Índia, Austrália. Os territórios não acoplados se convertem num perigo, devem ser sujeitados pelos primeiros e põem em questão a segurança do Ocidente. Por isso, têm que ser integrados à força, porque “se um país perde ante a globalização ou se rechaça boa parte dos benefícios que esta oferece, existe uma probabilidade consideravelmente alta de que em algum momento os Estados Unidos enviarão suas tropas para intervir neste país”. [Schmitt, 2009]

A “brecha” crítica do “Novo Mapa do Pentágono”


Chama a atenção que esta grande zona de conflitos e turbulências corresponda aos lugares onde se encontram as maiores reservas de recursos materiais e energéticos. A intervenção dos Estados Unidos nesta grande zona do mundo se faz em nome de manter a governabilidade, com o qual se oculta o interesse estratégico de assegurar-se o domínio desses recursos naturais, imprescindíveis para o funcionamento do capitalismo, assim como a manutenção da exploração de importantes contingentes de força de trabalho,a baixo custo ou em termos quase gratuitos: uma condição indispensável para a manutenção e a reprodução do capitalismo em escala mundial. Adicionalmente, esses territórios não somente devem ser dominados por seus recursos, como também porque ali também existem movimentos de resistência e rebelião, onde se esboçam outras propostas alternativas ao capitalismo, que na “nova ordem mundial” não podem ser toleradas. [Cf. Ceceña, 2004]


Este mapa, que é crucial para entender o que passou no mundo nas duas últimas décadas, não se pode considerar como algo fixo e imutável. Pelo contrário, é dinâmico em concordância com as modificações apresentadas na periferia, na medida em que num ou noutro país desaparecem os Estados falidos e canalhas, não porque tenham superado as condições de pobreza e desigualdade –algo que lhe tem sem cuidado aos Estados Unidos-, senão porque se realizaram os “milagres” do neoliberalismo e da globalização, e se integraram perfeitamente ao mercado capitalista mundial. Em alguns casos de Nuestra América, em poucos anos pode-se observar que algum país ingressa neste amplo círculo de instabilidade, como hoje ocorre ao México, que já está sendo apresentado como um Estado falido, ou também acontece, em sentido inverso, que um território considerado ingovernável, como a Colômbia, hoje é mostrado como exemplo de “avanço democrático” e consolidação de uma “economia próspera”,e por isso chegou o investimento estrangeiro, aproveitando as benesses da segurança que se lhe proporciona ao capitalismo.

I. Estados Unidos e a guerra irregular em Nuestra América

Estados Unidos, como um imperialismo em crise, aposta na guerra como forma de manter sua debilitada hegemonia. Essa guerra combina as ações bélicas convencionais, como se tem mostrado no Iraque e Afeganistão, com o combate irregular, sobretudo naqueles lugares onde seu objetivo é derrubar aos que concebe como inimigos de sua segurança nacional, porque impulsionam projetos independentes e porque possuem recursos estratégicos que necessita com urgência para manter seu esbanjador modo de vida. Por isso, no orçamento do Pentágono para 2010 se impulsiona a guerra irregular, e se assinala que se devem seguir apoiando, o que não é novo no caso dos Estados Unidos, o “contra terrorismo, as táticas de guerra não convencional, a defesa interna em países estrangeiros, a contra insurgência e as operações de estabilidade”, e pelo mesmo o Pentágono deve “institucionalizar as capacidades necessárias para conduzir a Guerra Irregular... desenvolver novas capacidades para enfrentar a classe de desafios irregulares”. [Gollinger, 2010]


Se anuncia a continuação da guerra sem fim “contra o terrorismo” como um enfrentamento mais prolongado que o da Guerra Fria, pois seus principais ideólogos têm sustentado que a guerra atual se estenderá pelo menos durante um século. [cf. Dieterich, 2003:127ss.] Nestas circunstâncias, o de agora é um conflito persistente de longo prazo e de caráter total, que envolve as populações dos diversos países que se incluem no enfrentamento. O manual sustenta que as operações nesta guerra são de “espectro completo”, nas quais se incluem ações ofensivas, defensivas e de natureza militar e civil, todas de maneira simultânea. Por isso, se enfatiza a importância das operações psicológicas, nas quais sobressaem a propaganda e a desinformação, ao mesmo tempo que as tarefas cívicas devem ser desempenhadas, junto com as ações militares, pelo exército dos Estados Unidos. Em concordância, se explica que nos conflitos está incluída de maneira forçosa a população civil. [cit. em Gollinger, 2010]


Na prática, é o reconhecimento de que a doutrina militar imperante nas forças armadas dos Estados Unidos é a da quarta geração, porque já não existem campos de batalha claramente definidos, nem combatentes, nem armas convencionais, porque finalmente “todos somos guerreiros e guerreiras numa guerra sem fim e sem fronteiras”, como diz Eva Gollinger.


  1. Estratégia militar dos Estados Unidos na América Latina


O desdobramento da IV Frota, o estabelecimento de bases militares em vários países, a intervenção no Haiti em janeiro de 2010, o desdobramento da guerra de quarta geração em vários países da região formam parte de uma estratégia global do imperialismo estadunidense com a intenção de retomar o domínio pleno dos territórios do Caribe e de toda Nuestra América. Isso aparece claro no informe do Comando Sul dos Estados Unidos [USSOUTHCOM, por sua sigla em inglês] intitulado “A Estratégia do Comando Sul dos Estados Unidos 2018 Amizade e Cooperação pelas Américas”, no qual se revela a estratégia deste país para toda a América Latina e o Caribe.[2] O Comando Sul é o organismo militar encarregado de toda a América Latina, desde o sul do México até a Patagônia, incluindo o Caribe. Sua sede está em Miami e conta com um pessoal permanente de 1200 efetivos militares e funcionários civis.[cf. Chiani, 2009] Neste documento se enunciam como objetivos prioritários assegurar a defesa dos Estados Unidos, fomentar a estabilidade do continente e impulsionar sua prosperidade. Para que isso seja possível, há que enfrentar as ameaças e os desafios, entre os quais menciona a pobreza, a desigualdade social, a corrupção, o terrorismo, o tráfico de drogas, a criminalidade e os desastres naturais, todos os quais, desde logo, propõe combater com o fim de alcançar “os objetivos estratégicos dos Estados Unidos”. [ibid.]


O Comando Sul está presente na maior parte da América Latina, através de bases militares e de acordos com diversos governos da região que lhes permitem participar em manobras conjuntas e em outras atividades de patrulhamento, treinamento e exercícios navais, aéreos e terrestres com os exércitos que participam nesses acordos com o imperialismo estadunidense. Isto o menciona sem titubeios este documento do Comando Sul: “a missão mais importante que temos é proteger nossa pátria. Garantimos a defesa avançada dos Estados Unidos ao defender os acessos do sul. Devemos manter nossa capacidade de operar nos espaços, águas internacionais, ar e ciberespaço comuns mundiais e desde eles”.


Neste documento se expressam com clareza os verdadeiros objetivos estratégicos do imperialismo estadunidense, obviamente encobertos com a retórica típica do livre mercado e da segurança, como quando se assinala que “enquanto se levem a cabo operações militares e haja cooperação de segurança com os países da região, se alcançará uma organização líder que constitua a defesa avançada dos Estados Unidos”. Esta pode ser considerada como uma declaração similar à do Destino Manifesto do século XIX, com a qual os Estados Unidos reclamavam para si o domínio de todo o território que se encontra ao sul do Rio Bravo.


2. Plano Colômbia


O acordo militar firmado em outubro de 2009 entre o governo colombiano e os Estados Unidos foi a continuação do mal chamado Plano Colômbia, que se iniciou há um pouco mais de uma década. Este foi escrito originalmente em inglês nos Estados Unidos e depois se deu a conhecer na Colômbia. Foi apresentado como um acordo encaminhado a lutar contra o narcotráfico, posto que desde há várias décadas a Colômbia é o primeiro produtor mundial de cocaína e produz em menor escala maconha e amapola, a partir da qual se fabrica a heroína. Este plano foi concebido desde um princípio com um duplo propósito estratégico: como um projeto contra insurgente encaminhado a fortalecer o aparato bélico do Estado colombiano, o qual havia recebido duros golpes militares da guerrilha; e controlar a região amazônica, uma zona geopolítica essencial para os Estados Unidos. Tanto o governo colombiano como o dos Estados Unidos reafirmaram de maneira reiterada que o Plano Colômbia era um projeto para lutar de maneira exclusiva contra a produção de narcóticos, porém era evidente, como de demonstrou depois, que sua finalidade era contra insurgente e para isso se necessitava financiar e rearmar ao Exército. Nesse contexto, enquanto o governo de Andrés Pastrana desenvolvia uns diálogos de paz com as FARC, os Estados Unidos financiavam e reorganizavam as Forças Armadas mediante o Plano Colômbia.


O governo dos Estados Unidos se apresentava com esse plano como um porta-estandarte da luta contra os narcóticos nas zonas de produção, porém sem enfrentar o problema do consumo doméstico, privilegiando a militarização da Colômbia como forma de combater a geração de cocaína, fórmula compartida pela oligarquia deste país. Para isso, nada melhor que pôr em prática uma política de terra arrasada nas regiões produtoras de folha de coca, mediante a realização de vultosas e infrutíferas fumigações aéreas, que devastaram milhares de hectares de pequenos campesinos em diversas regiões do país, em especial nas zonas selváticas do Sul, o que também afetou os países fronteiriços, como Equador. Apesar disso, a luta contra as “drogas ilícitas” só era um pretexto para consolidar a presença direta dos Estados Unidos na região andino-amazônica, como ficou suficientemente claro nos últimos anos.


Hoje, pode-se apreciar com clareza que um dos objetivos do Plano Colômbia era o de fortalecer a capacidade bélica do Estado colombiano, não só pare enfrentar o movimento insurgente como também para contar com um dos exércitos melhor armados do continente, como o é na atualidade. Isso se pode mostrar com uns poucos dados, de por si muito reveladores: entre 1998 e 2008, uns 72.000 militares e policiais da Colômbia foram adestrados por pessoal dos Estados Unidos, o que faz que a Colômbia seja o segundo país do mundo, depois da Coréia do Sul, em receber este tipo de treinamento; em fins da primeira década do século XXI, se encontravam operando em território colombiano 1.400 militares e contratistas [um eufemismo de mercenários] dos Estados Unidos, quando nos inícios do Plano Colômbia se havia dito que somente iam operar uns 400; a Embaixada dos Estados Unidos cresceu de tal maneira em quantidade de pessoal administrativo, militar e de espionagem que é a quinta maior do mundo; o Plano Colômbia custou, até 2008, 66.126 milhões de dólares, incluindo a contribuição dos Estados Unidos e o dinheiro dado pelo governo da Colômbia. [cf. Otero Prada, 2010: 129ss]


Bases militares dos Estados Unidos na Colômbia segundo o acordo de 2009

Essa foi a primeira fase, o Plano Colômbia propriamente dito. A segunda fase consistiu em levar a guerra interna da Colômbia mais além de suas fronteiras para envolver os países vizinhos, como com efeito sucedeu. E a terceira fase é a da guerra preventiva, a típica doutrina nazi-estadunidense posterior ao 11 de setembro, que se pôs em prática nos últimos anos, e cujo feito mais ressoante foi o ataque pérfido e criminal no Equador, em março de 2008, por parte de Forças Armadas da Colômbia.


Algumas cifras ajudam a calcular a magnitude da transformação militar que significou o Plano Colômbia: o gasto militar da Colômbia representa 6,5% do PIB, uma das cifras mais altas do mundo, enquanto o dos países da América do Sul oscila entre 1,5% e 2%; as Forças Armadas da Colômbia são as que mais cresceram no continente, e talvez no mundo, na última década, pois hoje já têm cerca de meio milhão de efetivos, contando todos os contingentes de ar, mar e terra, assim como a polícia, que na Colômbia é um corpo armado e depende diretamente do Ministério de Defesa; em 2008, o exército de terra tinha 210.000 membros, enquanto o do Brasil contava com 190.000, o da França com 137.000, o de Israel com 125.000; a relação de efetivos do exército colombiano está em proporção de seis a um com Venezuela e de onze a um com Equador. [cf. Isaza Delgado/Campos Romero, 2008: 3 ss; Calle, 2008; Zibechi, 2008]


Como contraprestação a esta “ajuda militar” dos Estados Unidos, estimada em 5.525 bilhões de dólares entre 2001 e 2008 –que converte a Colômbia no terceiro país do mundo em receber assistência militar dos Estados Unidos, depois de Israel e Egito-, o Estado colombiano tem respaldado quanta aventura bélica ou agressão realiza o imperialismo estadunidense: foi o único da América do Sul que apoiou abertamente a criminal guerra e ocupação do Iraque, chegando até o extremo de felicitar a George Bush por seu “êxito” e solicitar que, após o proclamado fim da guerra em maio de 2003, fossem enviados os bombardeiros ianques a Colômbia para combater as organizações guerrilheiras; deste país saíram contingentes militares para participar como membros das tropas de ocupação no Afeganistão, ou como mercenários privados no Iraque; o regime de Uribe apoiou o golpe de Estado em Honduras [junho de 2009] e foi o primeiro presidente a visitar o ilegítimo Porfirio Lobo, quem substituiu ao governo de fato. Mais recentemente, o regime de Juan Manuel Santos foi o único da América do Sul em negar-se a apoiar o reconhecimento do Estado Palestino e respaldar na prática ao sionismo genocida, com o desprezível argumento de que só apoiaria a criação do dito Estado quando se reatem os diálogos entre Israel e a Autoridade Palestina.


Em conclusão, “o Plano Colômbia, e seus outros anexos, é o maior projeto geoestratégico que se traçou para recolonizar a América Latina” e a militarização tem sido “o mecanismo prioritário dos Estados Unidos para exercer seu domínio econômico e geopolítico”. [Calloni, 2009]


III. As bases militares dos Estados Unidos: os elos de uma rede mundial de terror

Os Estados Unidos têm instaladas bases militares pelos cinco continentes. Com exatidão, não se conhece a quantidade de bases que possuem, ainda que, segundo um inventário oficial elaborado pelo Pentágono, em 2008 os Estados Unidos tinham 865 bases em 46 países, nos quais deslocavam uns 200 mil soldados. No entanto, alguns dos que têm estudado com detalhe o assunto sustentam que o número total de bases é de umas 1.250, distribuídas em mais de 100 países do mundo. A dificuldade para precisar seu número reside em que nas cifras oficiais não se consideram as bases que se instalaram em Afeganistão e Iraque, territórios atualmente invadidos pelos Estados Unidos.


Na América Latina, os Estados Unidos contam, nestes momentos, com um total de 27 bases oficialmente reconhecidas, incluindo as colombianas, e às quais devem agregar-se outras que nunca se mencionam, porém que na prática operam, como três que há no Peru. Essas bases são as seguintes: na América Central, se encontram a base de Comalapa em El Salvador; a de Soto-Cano [ou Palmerola] em Honduras, de onde se planejou o golpe contra o presidente Zelaya; na Costa Rica está a base de Liberia, que deixou de funcionar por um tempo, porém voltou a operar recentemente. Na América do Sul, operam no Peru três bases, das quais pouco se fala; no Paraguai está a base militar Mariscal Estigarribia, localizada no Chaco, com capacidade para alojar 20 mil soldados e se encontra situada num lugar estratégico, próxima da Tríplice Fronteira e do aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do mundo; no Caribe, existem bases em Cuba, a de Guantánamo, usada como centro de tortura; em Aruba, a base militar Reina Beatriz; e em Curaçau a de Hatos. A essa listagem devem acrescentar-se as 7 bases reconhecidas na Colômbia, cifra que é maior, e as que se instalaram no Panamá. [cf. Modak, 2009]


Como se poderia definir uma base militar? De maneira simples, pode-se dizer que é um lugar onde um exército treina, prepara e armazena suas maquinarias de guerra. Se pode falar, segundo suas funções específicas, de quatro tipos de bases militares: aéreas, terrestres, navais e de comunicação e vigilância. Como o imperialismo estadunidense vê a superfície terrestre como um imenso campo de batalha, as bases ou instalações militares de diversa natureza estão repartidas numa rede de comando dividida em cinco unidades espaciais e quatro unidades especiais [Comandos Combatentes Unificados]. Cada unidade está situada sob o comando de um general. A superfície terrestre está, então, considerada como um vasto campo de batalha que pode ser patrulhado ou vigiado constantemente a partir destas bases. [Dufour, 2007]


Chalmers Johnson assinalou que durante o governo de Bush se elaborou a estratégia de atuar contra os “Estados Canalha”, que formam um arco de instabilidade mundial que vai desde a zona andina [Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia], atravessa o norte da África, passando pelo oriente próximo até chegar a Filipinas e Indonésia. Este arco de instabilidade coincide com o que se denomina o “anel do petróleo”, que se encontra em grande medida no que antes se conhecia como Terceiro Mundo. Segundo Johnson, “o militarismo e o imperialismo são irmãos siameses unidos pelo quadril... Cada um se desenvolve com o outro. Em outro tempo, se podia traçar a extensão do império contando as colônias. A versão estadunidense das colônias são as bases militares...” [Johnson, 2004]


Comandos militares dos Estados Unidos no mundo


O estabelecimento de bases militares em todo o mundo, em zonas vitais desde o ponto de vista econômico e político, demonstra que se ampliaram as estratégias, porque já não se trata somente das clássicas intervenções que operam desde fora para derrocar a um regime considerado inimigo por parte dos Estados Unidos, como sucedeu em Iraque e Afeganistão. Agora se trata de tomar possessão do território de um país de maneira direta para contar com uma força militar ativa que funciona em forma autônoma e com uma grande capacidade operativa e no ramo da inteligência. Para torná-lo possível, os Estados Unidos usam sofisticada tecnologia e desenvolve uma impressionante capacidade de prejudicar a países e a territórios localizados em qualquer lugar do planeta. [cf. Ruiz Tirado, 2009]


A difusão dos interesses econômicos e financeiros do imperialismo até o último rincão do planeta requer um respaldo militar, que se expressa em poder de fogo e em mobilidade. Poder de fogo para subjugar brutalmente a seus oponentes, como os Estados Unidos vêm fazendo desde a invasão do Panamá em dezembro de 1989, e à qual seguiram as apocalípticas guerras no Golfo Pérsico, na antiga Iugoslávia, no Afeganistão. Não é casual o próprio nome que se deu a algumas dessas campanhas [Comoção e Pavor, Tormenta do Deserto] e que os porta-vozes mais cínicos dos Estados Unidos tenham dito que cada uma dessas guerras tinha a finalidade de fazer os países agredidos regressarem à idade da pedra. Mobilidade para poder se deslocar de maneira rápida das bases militares para os teatros de guerra, ou, em outros termos, desdobrar a potência militar sem restrições em qualquer lugar da terra.


Neste sentido, os Estados Unidos dispõem na atualidade do mais sofisticado e aterrorizante poderio militar que se erigiu na história da humanidade, que se desdobra por mar, ar e terra. Tem barcos de guerra, porta-aviões e submarinos em todos os oceanos do mundo, de onde decolam centenas de aviões para bombardear objetivos situados a centenas e inclusive milhares de quilômetros de distância. Para que tudo isto seja possível, é indispensável contar com uma rede mundial de bases militares, distribuída em todos os continentes. Essas bases se encontram desdobradas em zonas nas quais há eixos de transporte rápido, onde se recolhe informação mundial, para espiar e vigiar a seus adversários. Isto permite dispor de uma rede comunicacional interconectada com aviões, trens de ferro, carros de combate, barcos, submarinos, que contam com uma infraestrutura física vital para seu funcionamento, mediante o controle de aeroportos, portos fluviais e marítimos, rodovias, autopistas e centrais de telecomunicações.
De uma importância similar às bases militares são os porta-aviões, desde onde se realizam intervenções rápidas. Os Estados Unidos contam, na atualidade, com 12 porta-aviões estendidos por todos os mares do mundo. Em torno de cada porta-aviões se constitui um grupo, isto é, uma frota na qual vão buques e submarinos, que o protegem de eventuais ataques aéreos e submarinos: “Os porta-aviões formam a base de uma enorme capacidade ofensiva aérea sem equivalente. Cada porta-aviões transporta 50 aviões capazes de levar a cabo entre 90 e 170 ataques ao dia em função da missão. Cada grupo contém também 2 cruzeiros lança mísseis. Para ter capacidade de ataque terrestre, estes grupos são completados com tropas e veículos anfíbios”. [McEjércitos, 2007]


Nestas condições, a importância militar das bases instaladas na Colômbia –de fato, todo seu território- está relacionada com a estratégia de mobilidade das forças armadas dos Estados Unidos no centro, no sul da América e no Caribe. De maneira um pouco mais precisa, o imperialismo estadunidense propôs quatro modelos de posicionamento militar em nosso continente: bases de grande tamanho, tipo Guantánamo, onde há instalações militares completas, ocupadas em forma permanente por efetivos militares e suas famílias; bases de tamanho médio, como a de Palmerola, que conta com amplas instalações que estão ocupadas por um pessoal que se renova a cada semestre; bases pequenas, batizadas com o eufemismo de Cooperative Security Locations [CSL], “localidades de segurança cooperativa”, como as de Curaçau ou Comalapa, onde há pouco pessoal, porém tem uma importante capacidade operativa em matéria de telecomunicações e de informação, a qual é transmitida ao território dos Estados Unidos; as bases micro, são lugares de trânsito que se usam para permitir o abastecimento dos aviões, os quais em seguida decolam para seus objetivos; como exemplo do qual, pode-se mencionar a base de Iquitos, no Peru. [cf. Herren, 2009]


  1. Colômbia, um porta-aviões terrestre dos Estados Unidos


A Colômbia passou a converter-se oficialmente num porta-aviões terrestre dos Estados Unidos em outubro de 2009, quando se firmou um “acordo” entre os dois países, mediante o qual se estabeleceram 7 bases militares no território. Ainda que, meses depois, tribunais colombianos tenham declarado a nulidade do tratado, na prática este seguiu operando como se nada houvesse passado. Por isso, é necessário recordar os elementos básicos desse tratado, para sopesar o papel que desempenha o Estado colombiano como servidor incondicional do imperialismo estadunidense.


Nesse ignominioso “acordo”, a Colômbia concede aos Estados Unidos sete bases, distribuídas em toda a geografia colombiana, junto com outras prerrogativas que convertem este país num protetorado ianque. Na prática, regressamos a formas de sujeição quase coloniais, próprias de um distante passado, tão distante como o que se quis superar com as guerras da independência há dois séculos.[3]


Neste artigo III se detalha o alcance real da ignominiosa entrega quando se assinala que as partes acordam aprofundar sua cooperação em áreas tais como inter operabilidade, procedimentos conjuntos, logística e equipe, treinamento e instrução, intercâmbio de inteligência, capacidades de vigilância e reconhecimento, exercícios combinados e outras atividades acordadas mutuamente, e para enfrentar ameaças comuns à paz, à estabilidade, à liberdade e à democracia.


Além disso, “se comprometem a fortalecer e apoiar iniciativas de cooperação regionais e globais para o cumprimento dos fins do presente Acordo”. É necessário destacar que está incluído praticamente tudo com essa afirmação tão etérea de “outras atividades acordadas mutuamente”, entre as quais podiam incluir-se ações como as de bombardear outro país, como sucedeu ao Equador no primeiro de março de 2008, o qual se reafirma com aquilo de “fortalecer e apoiar iniciativas de cooperação regionais”, entre as quais se podem envolver todos os fatos ilegais que se travam nestes momentos a partir da Colômbia contra países.


Desde há vários anos, muito antes do acordo formal de 2009, vinham operando bases militares dos Estados Unidos em diversos lugares da geografia colombiana, entre as quais cabe recordar as de Tres Esquinas e Larandia no sul do país. E isso sem contar com que militares e mercenários dos Estados Unidos marcavam presença em grande parte das instalações militares do Exército colombiano, como nas de Tolemaida e Palanquero.


Bases militares dos EUA  •  metais estratégicos


Ao observar o mapa, se constata que estas bases se encontram distribuídas em pontos estratégicos do território colombiano, tanto nas duas costas como em zonas selváticas e em pleno centro do país. Dados a velocidade dos aviões militares dos Estados Unidos e o raio de ação da tecnologia satelitizável empregada para espiar a milhares de quilômetros de distância, pode-se concluir, sem muito esforço, porque se diz que a Colômbia se converteu no porta-aviões terrestre do imperialismo estadunidense. Isto, por desgraça, não é uma figura de retórica, senão que é uma terrível realidade, principalmente se se acrescenta que existem outras instalações militares que, desde há tempo, são manejadas pelos Estados Unidos, como acontece com a base de Marandua, perto da fronteira venezuelana. Algo similar ocorre com as bases de Tres Esquinas e Larandia, localizadas no Departamento [estado] de Caquetá, que têm sido utilizadas para operações aéreas e de inteligência das forças armadas dos Estados Unidos e de onde saem os aviões que fumigam com glifosato as parcelas de indígenas e campesinos no sul do país.


O pretexto estadunidense de que as bases militares na Colômbia não vão ser usadas para agredir, espiar e atacar a outros países da região, senão que seu objetivo é combater o narcotráfico, não resiste à menor prova empírica, como o demonstra o Plano Colômbia. Este, aparentemente elaborado para combater o narcotráfico, após uma década de operação e com uns gastos de milhares de milhões de dólares, não conseguiu diminuir o cultivo de folha de coca, pelo contrário, o expandiu e o levou a lugares onde há 10 anos não se dava. Hoje, a Colômbia conta com mais de 100 mil hectares semeados de folha de coca e desde aqui se exportam umas 900 toneladas de cocaína a cada ano.


Quanto à importância estratégica destas bases para os Estados Unidos, o melhor exemplo é o de Palanquero. Esta “base expedicionária tem a capacidade de abrigar C-17, aviões de transportes, e para 2025 se prevê que esta base tenha a capacidade de mobilizar a 175.000 militares com seus utensílios em apenas 72 horas”. [cit. em Machado, 2009] Palanquero possui uma pista de 3 quilômetros de comprimento, da qual podem decolar de maneira simultânea três aviões a cada dois minutos; conta com hangares para uma centena de aviões e pode abrigar até 2000 militares. O chamado Libro Blanco do ano 2009 [Livro Branco de 2009], sem ambiguidades afirma sobre Palanquero:


Recentemente, o Comando Sul [USSOUTHCOM] tomou interesse em estabelecer uma localidade no continente sul-americano que pudesse utilizar-se tanto para as operações antidroga como para operações de mobilidade. Em consequência, com a ajuda do AMC e do Comando de Transporte, o Comando Sul identificou Palanquero, Colômbia [base aérea Germán Olano, SKPQ] como uma localidade de segurança de cooperação [CSL]. A partir desta localidade próxima da metade do continente, pode-se cobrir com um C-17 sem reabastecimento
Havendo fornecimento adequado de combustível no destino, um C17 pode abarcar todo o continente, excetuando-se a região de Cabo de Hornos em Chile e Argentina. Enquanto o Comando Sul defina um sólido plano de compromisso de teatro, a estratégia de estabelecer uma localidade de cooperação em Palanquero deveria ser suficiente para o alcance de mobilidade aérea no continente sul-americano.[4]


IV. Algumas razões que explicam a implantação de bases dos Estados Unidos na Colômbia


Para terminar, vale a pena indagar as razões que explicam a implantação de bases militares dos Estados Unidos em território colombiano. Há, pelo menos, dois fatos básicos: o interesse dos Estados Unidos em apoderar-se do petróleo de Venezuela e dos recursos naturais da região Andino-Amazônica; a pretensão de sabotar as tentativas de unidade da América Latina, em especial a ALBA; e o interesse em impedir a consolidação de processos nacionalistas em certos países da região. Certamente, estes fatos não operam em forma isolada, senão que se encontram entrelaçados, porque não se entende um sem o outro. Em poucas palavras, não podem ser vistos de maneira separada, posto que, para conseguir um deles, se precisa, no caso da estratégia dos Estados Unidos, da consecução dos outros dois. Assim, por exemplo, voltar a controlar de maneira plena o petróleo de Venezuela requer reverter a Revolução Bolivariana, encabeçada por Hugo Chávez, e disso se desprende liquidar os projetos de integração, como a ALBA.

1. O petróleo de Venezuela e outros recursos naturais da região


A imposição das bases numa zona estratégica como Colômbia aponta para o controle, por parte dos Estados Unidos, de importantes recursos naturais que se encontram na zona andino-amazônica, começando pelo petróleo. A esse respeito sobressai Venezuela, que conta com importantes reservas de petróleo cru, que o situam entre os primeiros produtores em nível mundial. Ainda que Venezuela não tenha suspendido a venda de petróleo aos Estados Unidos, o governo da Hugo Chávez desempenhou um importante papel em diversos planos, tanto em nível local como mundial, no manejo do recurso petroleiro a favor da população venezuelana. Nesse sentido, se destaca seu ativo papel em reviver a OPEP, o que incidiu no melhoramento do preço do barril de petróleo no mercado mundial, sua exigência às empresas multinacionais para que paguem melhores vantagens e respeitem as leis nacionais da Venezuela e a venda de petróleo a preços subsidiados a Cuba, Haiti e outros países da região. Estas determinações colidiram com os Estados Unidos, pelo nível de independência e soberania que representam se se lhes compara com a política de submissão petroleira de governos como os de México ou Colômbia.


Ademais, deve-se ter em conta que, nestes momentos de esgotamento do petróleo em nível mundial, os Estados Unidos, principal consumidor de hidrocarburetos, dependem em grande medida dos recursos materiais e energéticos que se encontram fora de seu território. Como, ao mesmo tempo, não estão dispostos a modificar seu nível de vida, baseado no consumo intensivo de energia fóssil, travam na prática uma guerra mundial pelo controle dos recursos do mundo. E nessa guerra não declarada nem reconhecida, Venezuela joga um papel de primeira ordem, pela magnitude de suas reservas. A esse respeito, num estudo recente do Serviço Geológico dos Estados Unidos, se calcula que a franja do Orinoco tem uns 513.000 bilhões de barris, quase o dobro de reservas de petróleo que a Arábia Saudita, o primeiro produtor mundial de petróleo cru na atualidade e até agora possuidor das que se consideravam as maiores reservas do mundo, com 266 bilhões de barris. Resulta significativo que a avaliação de um organismo dos Estados Unidos conclua que em Venezuela se encontram as maiores reservas de petróleo do mundo e que, ademais, seja a maior estimativa que até o momento se fez sobre qualquer lugar do mundo.[5]


Isto põe em relevo a importância estratégica de Venezuela para os Estados Unidos, como o vêm manifestando desde há algum tempo diversos ideólogos e porta-vozes do complexo militar-industrial-petroleiro da primeira potência mundial. As afirmações mais enfáticas foram feitas pelo senador republicano Paul Coverdale, primeiro relator do Plano Colômbia, quem assegurou em 1998 que, “para controlar a Venezuela, é necessário ocupar militarmente a Colômbia”. Em 2000, este mesmo personagem reafirmou com mais detalhes:


Ainda que muitos cidadãos temam outro Vietnã, torna-se necessário, porque a Venezuela tem petróleo. Venezuela tem repulsa pelos Estados Unidos, este deve intervir na Colômbia para dominar a Venezuela. E posto, que Equador também resulta vital, e os índios dali são perigosos, os Estados Unidos também têm que intervir nesse país. [...] Se meu país está travando uma guerra civilizadora no remoto Iraque, certo estou que também pode fazê-lo na Colômbia, e dominar a ela e a seus vizinhos: Venezuela e Equador”.[cit. em Pereira, 2009]


Isto mesmo foi ratificado em forma mais recente num documento redigido pelo Comando Sul do Pentágono no qual se indica sem muitos rodeios:


De acordo com o Departamento de Energia, três nações, Canadá, México e Venezuela formam parte do grupo dos quatro principais fornecedores de energia aos EUA, os três localizados dentro do hemisfério ocidental. De acordo com a Coalition for Affordable and Reliable Energy, nas próximas duas décadas os EUA demandarão 31% mais de produção de petróleo e 62% mais de gás natural, e a América Latina se está transformando num líder mundial energético com suas vastas reservas petroleiras e de produção de gás e petróleo”.[cit. em Saxe-Fernández, 2009]


Evidentemente, não só está na mira o petróleo de Venezuela, mas os Estados Unidos desejam também apoderar-se de outros recursos naturais que se encontram nos países da região andino-amazônica, entre os quais pode-se mencionar o gás da Bolívia, o petróleo do Equador, a água, a biodiversidade e os recursos florestais da Colômbia e do Brasil e tudo aquilo que seja suscetível de extrair-se e mercantilizar-se para proveito do imperialismo e suas empresas, como os saberes indígenas dos milenares habitantes de selvas e bosques das Américas Central e do Sul.


  1. Destruir os projetos de unidade regional


A construção de uma nação que integraria os antigos territórios do império espanhol, como forma de assegurar sua prosperidade e enfrentar e resistir às ambições expansionistas de diversos impérios, da Europa e dos nascentes Estados Unidos se constituiu num dos sonhos mais cobiçados dos mais preclaros líderes da independência em nosso continente. Desde um primeiro momento, essas tentativas de unidade naufragaram por diversas razões, entre elas a constituição de poderes locais de tipo caudilhista e da ação oculta ou aberta de grandes potências que sempre se basearam na lógica de “dividir para reinar”. Em tempos recentes, e com um grande impulso do governo bolivariano de Venezuela, se fez reviver um projeto de integração que se plasmou na Aliança Bolivariana para os Povos de Nuestra América [ALBA], que representa o projeto de unidade econômica, política e cultural mais importante de todos os que se realizaram em Nuestra América desde os tempos da Grande Colômbia. Além disso, nestes momentos também existem propostas de unidade, como a do Mercado Comum do Sul [MERCOSUL], a União de Nações Sul-americanas [UNASUL] e ultimamente a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos [CELAC].


Como é de se supor, estes processos de integração, cruzados por múltiplas dificuldades e contradições internas, não são muito bem recebidos por Washington e seus sócios mais submissos, como demonstra o caso de Honduras, onde se perpetrou um golpe contra seu presidente constitucional, que tinha entre seus objetivos principais impedir a vinculação efetiva desse país à ALBA, como o conseguiram porque o regime golpista, formado por servidores incondicionais dos Estados Unidos, retirou Honduras desse acordo meses depois. Isto indica, através do caso de um país cujos governantes sempre foram incondicionais aos Estados Unidos, que para o imperialismo e suas multinacionais a existência da ALBA é um trago amargo difícil de digerir e estão dispostos a realizar todo tipo de manobras para sabotar este projeto de integração.


Nesse propósito de torpedear dita integração, na qual participam países da zona andina como Venezuela, Equador e Bolívia, o regime colombiano joga um papel de primeira ordem, como já o demonstrou indiscutivelmente. Isto se evidencia com alguns fatos que vale a pena relembrar: a atomização da Comunidade Andina de Nações [CAN], que obrigou a Venezuela a retirar-se deste acordo, quando a Colômbia, junto com o Peru, decidiu impulsionar Tratados de Livre Comércio [TLCs] com os Estados Unidos em 2006, negociando de maneira bilateral, sem consultar a outros membros e violando na prática os compromissos contraídos com antecedência de não entabular acordos em forma separada; o bombardeio ao território equatoriano no dia primeiro de março de 2008 e a campanha de calúnias e mentiras que, desde então, tem se propagado desde as altas esferas do governo, do exército e da “grande imprensa” da Colômbia, não só para justificar esse fato ilegal e criminal, como também para enlamear os governos de Equador e Venezuela, ademais do anúncio reiterado de que voltariam a realizar agressões similares quando o considerarem necessário; as reiteradas incursões de grupos paramilitares, procedentes da Colômbia, nos territórios de outros países com o objetivo de causar pânico e aterrorizar os cidadãos colombianos que fugiram de nosso país ou de advertir sobre o que estão dispostos a fazer com os vizinhos; o racismo contra a população humilde de Equador e Venezuela [indígenas, afrodescendentes e mulatos] que representantes das classes dominantes da Colômbia destilam e que os meios de comunicação reproduzem.

3. Sabotagem aos processos nacionalistas em marcha


A implantação das bases militares na Colômbia também está relacionada de maneira direta com a decisão do governo dos Estados Unidos e de seus lacaios da América do Sul de opor-se aos governos nacionalistas que surgiram em vários países da região nos últimos anos. Sobre este particular, um documento de maio de 2009 da Força Aérea dos Estados Unidos enfatiza a importância da base de Palanquero, no centro da Colômbia, ao enfatizar que nos dá uma oportunidade única para as operações de espectro completo numa sub-região crítica em nosso hemisfério, onde a segurança e a estabilidade estão sob ameaça constante pelas insurgências terroristas financiadas com o narcotráfico, pelos governos anti estadunidenses, pela pobreza endêmica e pelos frequentes desastres naturais. [Blair, s/a]


Se acrescenta neste mesmo documento que a base de Palanquero, por sua capacidade, excelente localização e boa pista, significa poupar custos, e seu isolamento relativo “minimizará o perfil da presença militar estadunidense”. Com isso, se melhorará a capacidade dos EUA para responder rapidamente a uma crise e assegurar o acesso regional e a presença estadunidense com um custo mínimo. Palanquero ajuda com a missão de mobilidade porque garante o acesso a todo o continente da América do Sul com a exceção de Cabo de Hornos, se o combustível está disponível, e mais da metade do continente sem ter que reabastecer. [Gollinger, 2009]


Quanto às quatro razões mencionadas pelas quais se justifica o estabelecimento da base de Palanquero [luta contra o que os Estados Unidos denominam “terrorismo” e narcotráfico, governos anti estadunidenses, pobreza e desastres naturais], em muito pouco tempo a ocupação armada do Haiti pelos Estados Unidos liquidou qualquer discussão, pois os fatos vieram mostrar o verdadeiro alcance do intervencionismo dos Estados Unidos, ainda que este não tenha sido feito desde Palanquero, porém, sim, indica o que lhes espera aos países da região num futuro imediato. Com efeito, depois do devastador terremoto natural que assolou a empobrecida ilha caribenha, que se somou ao terremoto social e econômico provocado pelo capitalismo e pelo imperialismo desde há décadas, os Estados Unidos, em vez de enviarem ajuda sanitária, alimentícia ou econômica para socorrer aos milhões de danificados, desembarcaram mais de 20 mil marines e se converteu numa força de facto com o pretexto de manter a ordem. Na realidade, essa ocupação está relacionada com outras razões de tipo estratégico: converter o Haiti em outro porta-aviões terrestre para, desde ali, espiar e preparar agressões contra os países da região; assegurar o controle de possíveis jazidas de minerais e de petróleo que pudessem ser encontradas no subsolo desse país; evitar a migração massiva dos haitianos que tratam de fugir da miséria e da desolação para os Estados Unidos; e facilitar o estabelecimento de maquilas para as multinacionais, aproveitando uma força de trabalho quase gratuita. Estas são algumas das consequências que se desprendem das intervenções imperialistas que se justificam a partir dos que os Estados Unidos denominam, em forma eufemística, “desastres naturais”.


Por outro lado, em documentos oficiais de diversas instâncias do governo dos Estados Unidos, que são reproduzidos de forma imediata pelas classes dominantes da Colômbia e pela imprensa do país e do continente, se acusa aos governos de Venezuela, Equador e Bolívia de múltiplos delitos: entorpecer a luta contra as drogas, que supostamente os Estados Unidos levariam a cabo; ter-se convertido em refúgio de “terroristas” de toda classe, chegando inclusive a fabricar mentiras sobre a suposta presença de grupos terroristas procedentes do Oriente Médio na Guajira venezuelana ou assegurar que em Venezuela se estariam preparando armas nucleares e mil embustes pelo estilo; nesses países não se respeitaria a liberdade de imprensa e se teriam convertido em regimes ditatoriais, que se opõem à livre empresa e à propriedade privada. Para citar só um exemplo recente, relembremos que em fevereiro de 2010 Denis Blair, Diretor Nacional de Inteligência dos Estados Unidos, assinalou de forma irresponsável que o presidente venezuelano e seus aliados, e menciona em forma concreta a Cuba, Bolívia, Equador e Nicarágua, se oporão “a toda iniciativa estadunidense na região, entre elas a expansão do livre comércio, o treinamento militar, a cooperação antidrogas e anti narcóticos, iniciativas de segurança e inclusive programas de assistência”. Dita oposição, segundo o porta-voz dos Estados Unidos, se explica porque o presidente Hugo Chávez impôs “um modelo político populista e autoritário em Venezuela que mina as instituições democráticas”. [cf. Blair, s/a]


Todas estas mentiras estão inscritas na chamada guerra de quarta geração que, nestes momentos, os Estados Unidos, via governo colombiano, travam de maneira direta contra Venezuela e Equador. Neste tipo de guerra, o governo dos Estados Unidos pretende manter-se à margem para dar a impressão de que não está envolvido, recorrendo a governos títeres, como o da Colômbia, para adiantar todas as ações criminosas de sabotagem e desestabilização interna nos países que adotaram projetos revolucionários ou nacionalistas. Por isso, não resulta estranho que, desde o momento mesmo de implantação desses governos, os Estados Unidos estejam operando a partir da Colômbia, e com a direta participação da oligarquia deste país para impedir a consolidação dos processos revolucionários em marcha. Desde logo, que essa oligarquia tem seus próprios interesses porque considera como um muito mau exemplo que se chegassem a fortalecer governos nacionalistas, que pudessem converter-se num incentivo para os setores populares da Colômbia, e para isso têm travado com toda a premeditação e mentira do caso uma campanha midiática de embustes e mentiras entre a população pobre, na qual se recorre a calúnias racistas contra os presidentes de vários países da região, entre eles Venezuela, Equador e Bolívia.


Neste tipo de guerra irregular, não reconhecida nem declarada nunca, porém tão mortífera como as guerras convencionais, a oligarquia colombiana tem se valido de todas as armas, que vão desde a calúnia e a ameaça pública contra os governos da região, passando por sua tentativa, por demais risível, de acusar Hugo Chávez e Rafael Correa como terroristas ante a ONU ou outras instâncias internacionais, até chegar à organização e financiamento de grupos de paramilitares que têm incursionado em território venezuelano e que, inclusive, têm participado em ações criminais nesse país, incluindo uma tentativa de atentar contra o presidente venezuelano em 2005.


Que os Estados Unidos seguem pensando em termos de guerra irregular, ficou demonstrado com a publicação de um Manual de Contra Insurgência em 2009. O título poderia ser visto inicialmente como defasado, posto que este tipo de manuais eram próprios da época da Guerra Fria. Porém não há tal defasagem.


Esse manual aponta a reforçar a ideia de que os Estados Unidos têm que seguir enfrentando inimigos irregulares, e o mais preocupante para Colômbia e América Latina reside em que a todos [o imperialismo] os mete num mesmo saco. Com efeito, nesse texto se sustenta que não há diferenças entre narcotráfico, terrorismo e movimentos guerrilheiros; afirmação que se sustenta no fato de que todas as organizações irregulares compartilham as mesmas táticas e estratégias e mecanismos de financiamento. Este novo rosto que a contra insurgência tem um terrível impacto, porque nessa lógica predomina uma visão exclusivamente militar e se renuncia a reformas sociais, econômicas e políticas, todo o qual está inscrito na lógica de guerra permanente e preventiva.


Porém, ademais, ao identificar como similares grupos os guerrilheiros com terroristas e narcotraficantes, o que os Estados Unidos justificam é seu envolvimento direto nas lutas internas, que respondem a condições políticas, que travam grupos que têm seus próprios pressupostos ideológicos. Isso, simplesmente, é jogar lenha ao fogo, porque uma coisa é financiar, preparar e armar o exército de um Estado, o que os Estados Unidos vêm fazendo desde há 60 anos, a intervir militarmente em forma aberta num território estrangeiro, num país ao qual não se lhe declarou guerra. Desde logo que os Estados Unidos vêm intervindo desta forma, porém isso se fazia em forma oculta e clandestina; o que agora se projeta é fazê-lo de maneira direta, o que supõe ampliar a noção de campo de batalha a todo o mundo.[cf. Egremy, 2009] Isto quer dizer que os Estados Unidos decidiram considerar que a guerra irregular adquira tanta importância como a guerra convencional, e por isso deverá identificar seus potenciais inimigos não estatais e estatais que se convertam em perigos para a segurança dos Estados Unidos e atacá-los em seus próprios territórios. Com isto, temos que a um país como Colômbia já não só vão vir mercenários e assessores que formalmente não intervêm nas batalhas, mas que em determinados momentos podem chegar a desembarcar marines.


Tradução: Joaquim Lisboa Neto


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Vega Cantor, Renán. Historiador. Profesor titular de la Universidad Pedagógica Nacional de Bogotá, Colombia. Doctor de la Universidad de París VIII. Diplomado de la Universidad de París I, en Historia de América Latina. Autor y compilador de los libros Marx y el siglo XXI (2 volúmenes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá, 1998-1999; El Caos Planetario, Ediciones Herramienta, 1999; Gente muy Rebelde (4 volúmenes), Editorial Pensamiento Crítico, Bogotá, 2002; Neoliberalismo: mito y realidad; Entre sus últimos trabajos podemos mencionar: Los economistas neoliberales, nuevos criminales de guerra: El genocidio económico y social del capitalismo contemporáneo (2010). La República Bolivariana de Venezuela le entregó en 2008 el Premio Libertador por su obra Un mundo incierto, un mundo para aprender y enseñar. Dirige la revista CEPA (Centro Estratégico de Pensamiento Alternativo). Es integrante del Consejo Asesor de la Revista Herramienta, en la que ha publicado varios de sus trabajos.