Inédito: CIDH discute falência da guerra às drogas na AL
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) se prepara para
receber, nesta terça-feira (25), a primeira audiência temática de sua história
sobre as políticas de drogas na América Latina. A reunião foi convocada por 17
organizações de direitos humanos do continente, entre elas a Conectas, e tem
como pano de fundo um expressivo avanço no debate internacional sobre o tema.
Na semana passada, o UNODC
(Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime) admitiu, em relatório,
que a “descriminalização pode ser uma forma eficaz de ‘descongestionar’ as
prisões, redistribuir recursos para atribuí-los ao tratamento e facilitar a
reabilitação”.A OEA, na mesma direção, promoveu no ano passado a assinatura da
Declaração de Antígua, comprometendo-se com uma política integral de
enfrentamento do problema, com foco na redução da violência e na garantia dos
direitos humanos.
“O contexto é dos mais
favoráveis para discutir o fracasso e o anacronismo das políticas
proibicionistas e bloquear tentativas de retrocesso, como a que vemos no
Brasil, com o PLC 37”, afirmou Rafael Custódio, coordenador de Justiça da
Conectas, fazendo menção ao projeto de lei de autoria do deputado Osmar Terra
(PMDB/RS) que propõe aumento das penas relacionadas ao consumo de drogas.
“Por não estabelecer uma clara diferenciação entre quem é traficante e quem é usuário, esse tipo de abordagem só amplia as desigualdades que estão na raiz do problema das drogas, vitimando a população pobre e negra das periferias”, completou.
“Por não estabelecer uma clara diferenciação entre quem é traficante e quem é usuário, esse tipo de abordagem só amplia as desigualdades que estão na raiz do problema das drogas, vitimando a população pobre e negra das periferias”, completou.
Fracasso
Segundo documento entregue
pelas entidades à CIDH, o número de pessoas presas por tráfico de drogas no
Brasil aumentou 62% nos anos posteriores à aprovação da Lei de Drogas em 2006.
Entre as mulheres, o aumento foi de 600% entre 2005 e 2010.
Problemas similares
foram identificados em outros países da região. No México, por exemplo, a
chamada “guerra às drogas” custou a vida de 100 mil pessoas e o desaparecimento
de outras 25 mil. Os casos de tortura no país, segundo organizações locais,
aumentaram 500%.
“Estamos repetindo
mimeticamente políticas que provaram sua ineficácia, e isso se faz sem que se
conheça a dimensão real do fenômeno nem os elementos que promoveram sua
evolução durante os últimos 20 anos”, diz a petição.
“Cada vez se mostra
mais insustentável o desequilíbrio implícito na estratégia antidrogas vigente.
Mais recursos para combater a oferta; maiores orçamentos para as agências
federais e subnacionais encarregadas do componente punitivo; pouca
integralidade nas políticas lançadas; escassa coordenação interinstitucional; e
baixa cooperação interestatal apenas provocarão mais frustração ante o fenômeno
das drogas.”
Fonte: Sul21
Fonte: Sul21