Governo colombiano segue com conciliações obscuras com os EUA, diz Farc
A
guerrilha segue exigindo que o governo e seu ministério de guerra
abandonem a “ambiguidade”, e a “hipocrisia da diplomacia da boa
vizinhança” para “atuar com transparência”. Leia a íntegra
do texto:
Vários
assuntos chamaram a atenção e geraram mais dúvidas e desconfiança
sobre o que o governo colombiano está pensando sinceramente sobre a
paz interna e as boas relações com seus vizinhos.
Enquanto
se fala de um pós-conflito, além de manter as altas cifras do gasto
militar, se pede mais apoio para incrementar a guerra, concretamente
buscando novos subsídios para o denominado Plano Espada de Honra 2,
que é vendido como uma ilusão que apota o aniquilamento dos Blocos
guerrilheiros das FARC.
Está
claro que o governo maneja um discurso duplo, com duas agendas
diferentes para a condução dos destinos do país. Aparte da Agenda
de paz de Havana, a agenda de guerra segue urdindo em conciliações
obscuras com o governo dos Estados Unidos.
Quiçá
atendendo as críticas ao proibicionismo, ao tratamento punitivo e
militar que muitos setores acadêmicos e científicos têm feito
desde diversas partes do mundo para chegar à conclusão de que a
guerra antidrogas fracassou, o Presidente Santos falou sobre a
necessidade de reformular tal política, que em nosso país causou o
aprofundamento do conflito, deslocamentos forçados e a deterioração
ambiental, entre outros males. Sem dúvida, segue na contramão de
tudo o que diz respeito ao debate que hoje tem lugar em Havana, na
agenda extraviada de Pinzón aparece como ponto de primeira ordem o
componente da luta contra o narcotráfico dentro do esquema das
campanhas militares contrainsurgentes, incluído o intervencionismo
de Washington.
Sendo
notório que os Estados Unidos se abstêm de participar nas
fumigações aéreas sem que os países com presença de cultivos de
uso ilícito lhe peçam, é o cúmulo da submissão o governo da
Colômbia lhe suplicar que continue com as aspersões do agente
laranja da corporação Monsanto em nossos campos.
Será
que definitivamente pensam em fazer vista grossa ao rechaço dos
moradores do campo que com suas marchas multitudinárias se colocam
contra estas práticas criminais de fumigação? Tal como fez com a
população equatoriana afetada pelas aspersões na fronteira, em vez
de seguir envenenando os campos da Colômbia, o governo Santos deve
indenizar também os trabalhadores rurais afetados em nosso país.
Na
agenda de guerra de Pinzón, volta a se somar nas suas folhas a
unilateralidade no tratamento de temas que são de discussão na Mesa
de Havana. Aspectos da justiça transicional, que tratam do
favorecimento a militares envolvidos em crimes de lesa humanidade e
alusões ao futuro da insurgência, se tramitam na paralela mesa
imperial, que no fim das contas parece ser a que traça as políticas
e decisões de nossa contraparte.
Se
há tanto interesse do governo de Bogotá na bendição dos Estados
Unidos, as FARC-EP insistem em que se viabilize a participação de
um representante do governo deste país no processo de
conversações.
No
tratamento da paz, o governo e seu ministério da guerra devem
abandonar a ambiguidade, mas também devem deixar atrás a hipocrisia
da diplomacia da boa vizinhança e atuar com transparência, pois não
é correto que se siga maquinando, já não só desde Bogotá, mas
desde Washington, contra um país que como Venezuela, acompanha com
empenho e desinteressadamente o processo paz, colocando tudo de sua
parte para que se logre a reconciliação dos colombianos.
Como
pode entender-se que enquanto a chancelaria faz reuniões de
cooperação com autoridades venezuelanas, de maneira oculta peça a
Washington apoio para aumentar a capacidade de ação das forças
militares com a descabelada tese de que poderia apresentar-se no
futuro um cenário de confrontação com a Venezuela ou a
Nicarágua?
Oxalá
que a gestão de reuniões da coordenação de ministros de defesa da
Aliança do Pacífico, EUA e Canadá, impulsionada pela Colômbia,
não termine convertendo-se em uma sorte de estratégia neocolonial
que afete a paz dos vizinhos, pela qual recentemente advogou a
Celac.
Delegação
de Paz das Farc-EP