Venezuela: Resistência popular à intentona golpista
Por:
Carlos Casanueva Troncoso
A Venezuela
bolivariana e o governo de Nicolás Maduro enfrentam o mais forte ataque
imperialista desde o falecimento do comandante Chávez, uma tentativa
insurrecional de tomada do poder político, ordenado por Washington e executado
pelo setor mais radical da oligarquia venezuelana apoiado por uma campanha
midiática internacional sem precedentes na revolução.
A decisão política
de passar à ofensiva na Venezuela é parte de um plano do império que não
começou em 12 de fevereiro, mas há vários anos, com a tentativa de isolar a
revolução do contexto latino-americano e recuperar o controle de seu “pátio
traseiro” com avanços eleitorais e golpes vitoriosos ou frustrados como os
casos de Honduras e Paraguai, México, Panamá, Chile, Colômbia (Criando a
Aliança do Pacífico). Paralelamente, intensificou a campanha midiática e
desestabilizadora na Venezuela, apoiando o setor “eleitoral” da direita,
investindo grandes somas nas últimas 4 eleições com Capriles encabeçando e uma
aliança instrumental de todos os setores da direita (MUD). Neste sentido, o
império deu luz verde ao setor que, pela via constitucional democrática,
sugeria que era possível acabar com o governo, ainda que paralelamente
estivesse formando, financiando e coordenando um destacamento juvenil e radical
(Javu) e o Partido Voluntad Popular, de Leopoldo López e seus aliados (María
Machado, Antonio Ledesma, Julio Borges, entre outros).
A morte do
Presidente Chávez os levou à conclusão que o momento de passar à ofensiva total
tinha chegado. Apostaram nas eleições de 14 de abril, obtendo uma alta votação
e gerando um clima de desestabilização (ensaio insurrecional) de três dias, que
gerou vários mortos e deu início à ação de suas forças mais reacionárias com um
saldo de vários mortos, feridos e danos ao patrimônio público. Sua capacidade
de manobra foi nacional e muito consistente, porém não conseguiu o apoio das
classes populares ou de setores do chavismo que tivessem restado ou se somado à
votação da direita de 14 de abril. Assim, decidiram pela retirada tática de
suas forças para preparar as condições objetivas necessárias para passar à
ofensiva mais adiante e não perder capital eleitoral obtido até então.
O império
compreendeu que atacar o chavismo e a imagem do comandante Chávez era
contraproducente e apenas geraria mais coesão interna em torno de Nicolás
Maduro e o governo bolivariano (os filhos de Chávez e continuadores de sua
obra). Portanto, a guerra econômica devia intensificar-se para gerar maior
descontentamento na população dos setores médios e baixos, base de sustento do
chavismo, aproveitando as deficiências e contradições internas da revolução
bolivariana.
A ordem ao
empresariado foi taxativa e radical: afogar a economia venezuelana a partir do
mês de setembro de 2013, para que esse descontentamento se expressasse
eleitoralmente em 14 de dezembro, que foi definido pela oposição como um
plebiscito. Nos planos da direita, a perda de sua votação histórica por parte
do chavismo sentaria as bases para convocar uma saída insurrecional.
No entanto, os
resultados eleitorais não foram os esperados pela direita e o chavismo voltou a
triunfar. Assim, a votação da direita deu uma virada para o setor mais radical
representado pelo Voluntad Popular. Isto provocou um distanciamento dos setores
mais moderados da via eleitoral encabeçados por Capriles, Adecos e Copeyanos,
se impondo a via insurrecional de Leopoldo López, María Machado, Antonio
Ledezma e outros, que atribuíram um papel protagonista aos setores
ultradireitistas de estudantes universitários. Dessa forma, ativaram uma série
de intentonas a partir das marchas autoconvocadas sem maior êxito até ocorrerem
os primeiros eventos em Mérida e Táchira, que deram base para a palavra
de ordem “la salida, vete ya”, invocada por López e Machado em 23 de janeiro.
Finalmente,
acredito ser necessário pontuar alguns elementos que fazem acelerar este
chamado e a agenda de protestos por parte dos EUA e seus fantoches na
Venezuela:
1° – Eles
percebem um enfraquecimento do governo bolivariano e a capacidade de condução
de Nicolás Maduro, junto a debates internos que evidenciam contradições no seio
das bases e do governo quanto a como enfrentar a oligarquia e a qual modelo
deve ser construído nesta fase do processo. Um debate aberto nas bases e nas
redes sociais, onde aparecem tendências do chavismo desde os mais pragmáticos,
desde os que planejam uma ofensiva para o aprofundamento do socialismo e os que
planejam um capitalismo de estado e negociação com parte da direita
política-econômica (como fim em si mesmo ou tática para ganhar tempo e
consolidar-se politicamente até as próximas eleições em fins de 2015).
2° – Se fosse dado
tempo ao chavismo, este poderia consolidar-se e passar rapidamente a uma
ofensiva gradual de aprofundamento e as correlações de forças mais radicais
poderiam ganhar peso no próximo congresso do PSUV, marcado para entre os meses
de março e julho do presente.
3° – Na esfera
econômica, as aproximações do governo com o setor empresarial poderiam
estabilizar por um tempo a economia; entretanto, são injetados novos recursos
para diversificar a produção-importação e estabilizar o abastecimento
(convênios com fundos chineses, russos e outros).
4° – O empresariado
(FEDECAMARAS e outros) enfrenta o dilema de manter sua ofensiva (guerra
econômica derrotada em 2014) com os custos econômicos e a possibilidade de ser
expropriado, conduzindo à radicalização do modelo econômico venezuelano, ou
dialogar com o governo para obter uma maior estabilidade econômica, aumentando
seus lucros (a experiência do golpe de 2002 e a greve patronal deixaram este
setor com enormes prejuízos e altos custos que tiveram que assumir sozinhos),
considerando que nas últimas derrotas eleitorais da direita esta estratégia foi
derrotada (14 de dezembro). São empurrados ao pragmatismo e a não envolverem-se
em intentonas insurrecionais como a planejada, incorporando-se ao chamado do
governo a um diálogo e às mesas de Paz.
5° – Na esfera
internacional, a última reunião da CELAC, em Cuba, a influência da Venezuela na
Unasul, Mercosul, Petro-Caribe, ALBA, significaram um revés e um isolamento da
política norte-americana na região (exemplo disto é a recente reunião da OEA,
onde tentaram, através do Panamá, condenar a Venezuela e invocar a carta
democrática para endossar uma intervenção, recebendo uma derrota histórica de
29 a 3 – EUA, Canadá e Panamá). A Venezuela recebeu um grande apoio na reunião
da Unasul, em 12 de março, em Santiago do Chile, onde se acordou uma missão de
acompanhamento aos diálogos de PAZ promovidos pelo governo bolivariano.
6° – A crise econômica
do império se agrava e sua ofensiva para a Líbia, Síria, Irã, Ucrânia demonstra
seu desespero para anexar recursos geoestratégicos, considerando o papel da
Venezuela nos recursos energéticos, colocada como prioridade nesta ordem.
O processo insurrecional
de golpe brando que se intensificou a partir de 12 de fevereiro, denotou uma
subvalorização deste setor, pois se considerou que a agenda e os diálogos a
partir de 14 de dezembro com setores da direita teriam feito abortar a saída
violenta ou, ao menos, afastado o grupo mais fascistóide e radical da MUD.
Caracas se descuidou e, em 12 de fevereiro, permitiu-se o início de um plano
violento deste setor com mortos e muita violência. Assim, foi ativada uma fase
nacional de “guarimbas” (barricadas) já planejadas e coordenadas em várias
capitais de estados que, segundo o planejamento da direita, culminariam em 18
de fevereiro, com um golpe, conforme denunciou o jornalista José Vicente
Rangel. Até o dia de hoje, com distintos níveis de intensidade e graus de violência,
tais “guarimbas” mantiveram-se, inicialmente, em 18 municípios do país,
reduzindo-se a 6 ou 8 atualmente.
A partir desse
momento e até agora, a agenda da direita e a liderança da mesma estão marcadas
pelo setor neofascista insurrecional, – com o apoio incondicional do
Departamento de Estado norte-americano –, que repudiou participar das mesas de
paz, arrastando o resto da direita com eles através da pressão e da coação,
ameaçando os dirigentes, parlamentares e prefeitos de seu setor, para que não
participem de nenhuma aproximação com o governo. O mesmo se passa no setor
estudantil de direita, até o momento, com um saldo de mais de 30 mortos e 200
feridos, a maioria vítimas da violência, produto das ações violentas do
fascismo. Por outro lado, a direita econômica, representada pela FEDECAMARAS,
FEDEINDUSTRIA e outros, se mantém nas Mesas de Paz econômicas.
A Força Armada
Nacional Bolivariana se mostrou coesa, constitucional e em repúdio a qualquer
aventura golpista, apesar das provocações e pressões que recebe por parte de
atores da direita, ratificando sua lealdade ao governo bolivariano e ao
presidente Nicolás Maduro.
Quanto aos setores
populares organizados e às bases chavistas, mantêm-se em mobilização pacífica
na rua, em apoio ao processo e ao governo bolivariano, cerrando fileiras ante o
inimigo de classe. Os setores populares percebem o “protesto” como uma ação da
oligarquia com fins políticos que não os representam e repudiam a violência. Os
coletivos revolucionários se mantêm com uma forte disciplina e não caíram na
provocação do enfrentamento e guerra civil, mantendo-se mobilizados em
seus territórios e alertas a qualquer mudança de situação.
A unidade e coesão
interna nas fileiras do chavismo, PSUV, aliados do GPP (Grande Polo
Patriótico), coletivos revolucionários e bases do povo chavista é determinante
para enfrentar o inimigo contrarrevolucionário neofascista.
É por isso que se
faz necessário passar à ofensiva, em todas as frentes de luta, com disciplina,
unidade de ação e comando único.
O fascismo se
derrota com o povo nas ruas! A
Revolução Bolivariana se defende com unidade e luta!
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Com apoio do PCB