Após eleição, FMLN aposta em estratégia de "reconciliação nacional" em El Salvador
Para
analistas, cenário futuro é difícil para partido de esquerda, mas
afastaram previsões de catástrofe e ingovernabilidade
Depois de
um longo processo eleitoral, concluído nesta quinta-feira (13/03)
com a proclamação de Salvador Sánchez Cerén, do partido de
esquerda FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional),
como presidente eleito de El Salvador, analistas consultados por
Opera Mundi preferem não se somar à tese de que, devido a pouca
diferença de votos, há um cenário turbulento à frente. Pouco mais
de seis mil votos separaram Sánchez Cerén de Norman Quijano, do
partido de direita Arena.
Para os
especialistas, os próximos anos deverão ser marcados pela divisão,
com o governo tendo dificuldades para desenvolver seu programa, mas
afastam previsões de catástrofe. “É preciso começar a
desmistificá-las e analisar com seriedade o que aconteceu durante o
processo eleitoral”, disse o economista César Villalona. Para ele,
o que aconteceu no domingo (09/03) não se tratou somente de uma
vitória da FMLN sobre o Arena e seu aparato propagandístico, mas
uma conquista com um “candidato próprio, que vem das mesmas
entranhas da guerrilha e do partido”.
De acordo com o analista dominicano, radicado em El Salvador, o fato demonstra que o voto da FMLN é “mais comprometido, de desafio à direita e massivo”. Conforme os resultados publicados pelo TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), Sánchez Cerén obteve quase 1,5 milhões de votos – a soma mais alta de toda a história de El Salvador. Além disso, ressalta, se trata de um voto que supera o do Arena até na qualidade, que conseguiu desfazer uma desvantagem de 10% somando quase 450 mil votos, porém, “uma parte significativa vinda da campanha de medo, da compra e coação de votos, de pessoas que não necessariamente são de direita”, explicou.
Campanha
Carlos Molina Velásquez, filósofo professor da UCA (Universidade Centro-americana), afirmou que “depois da derrota de 2 de fevereiro, Quijano direcionou uma campanha suja com o tema da Venezuela e isso teve impacto em vários setores da sociedade salvadorenha, ainda vulneráveis a mentiras”. Ainda segundo ele, “mexeram com o mais primário e visceral das pessoas e funcionou. É um alerta para o futuro governo”.
Nesse contexto de manipulação midiática e uso de rumores, a vitória da FMLN teve ainda mais valores, disseram os analistas. “A cotação aumentou em todo o país e a FMLN, não só conseguiu se defender dessa campanha, mas ganhou com plena legitimidade e com um caudal de votos nunca antes visto”, ressaltou Molina.
De acordo com o analista dominicano, radicado em El Salvador, o fato demonstra que o voto da FMLN é “mais comprometido, de desafio à direita e massivo”. Conforme os resultados publicados pelo TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), Sánchez Cerén obteve quase 1,5 milhões de votos – a soma mais alta de toda a história de El Salvador. Além disso, ressalta, se trata de um voto que supera o do Arena até na qualidade, que conseguiu desfazer uma desvantagem de 10% somando quase 450 mil votos, porém, “uma parte significativa vinda da campanha de medo, da compra e coação de votos, de pessoas que não necessariamente são de direita”, explicou.
Campanha
Carlos Molina Velásquez, filósofo professor da UCA (Universidade Centro-americana), afirmou que “depois da derrota de 2 de fevereiro, Quijano direcionou uma campanha suja com o tema da Venezuela e isso teve impacto em vários setores da sociedade salvadorenha, ainda vulneráveis a mentiras”. Ainda segundo ele, “mexeram com o mais primário e visceral das pessoas e funcionou. É um alerta para o futuro governo”.
Nesse contexto de manipulação midiática e uso de rumores, a vitória da FMLN teve ainda mais valores, disseram os analistas. “A cotação aumentou em todo o país e a FMLN, não só conseguiu se defender dessa campanha, mas ganhou com plena legitimidade e com um caudal de votos nunca antes visto”, ressaltou Molina.
De acordo
com ele, esses elementos são suficientes para contra-atacar a
estratégia atual do Arena, que pretende apresentar ao mundo a imagem
de um país partido em dois, onde a metade da população não
reconhece a legitimidade de Sánchez Cerén, nem de seu futuro
governo. “Usam a palavra ‘dividido’ como sinônimo de
‘ingovernável’ e de difundir a ideia de que a FMLN partiu o país
e não é assim. O que contou de verdade foi a fortaleza
institucional [do país], e essas eleições demonstraram que El
Salvador tem instituições fortes”, continuou Molina.
Já para Villalona, em El Salvador
está acontecendo uma “ruptura histórica”, quando “por um lado
a maioria votou pelo projeto da esquerda e, por outro, a direita tem
menos respaldo do que aparenta no voto”. Segundo ele, nessas
eleições há um “avanço de pensamento de esquerda e
progressista”, ao mesmo tempo em que a ultradireita retrocede.
“Podia ser o início de uma mudança que é necessária e urgente”,
acrescentou.
Governo de todos
Salvador Sánchez e seu vice, Oscar Ortiz, não pouparam oportunidades para enviar mensagens de diálogo com os setores opositores possíveis para a construção de uma agenda comum. Além disso, procuraram sedimentar, no imaginário coletivo, a ideia de que o governo será de unidade, com um modelo próprio de país e que governarão para todos, independente da ideologia partidária ou por quem votaram nas eleições passadas.
“Não será fácil, porque o Arena fará de tudo para desgastar o governo de Sánchez Cerén, prevendo as eleições legislativas e municipais do próximo ano. No entanto, a FMLN é muito hábil e continuará enviando sinais aos setores produtivos, à direita menos teimosa e à população em geral, para gerar confiança e impulsionar um projeto de país inclusivo e unidade”, disse Molina.
Depois do segundo turno, o Arena promove uma campanha de desprestígio das autoridades eleitorais, as acusando de serem parciais a favor da FMLN e até de terem cometido fraude. A estratégia, aliada à campanha midiática, criaram um clima de angústia, atrasando o processo de escrutínio definitivo. “Eles sabem que perderam e o objetivo real é que, o governo que surja, seja o mais ilegítimo possível ante a população. Uma grande aliança contribuirá para a governabilidade e aprofundará as mudanças iniciadas no atual governo”, concluiu Villalona.
Governo de todos
Salvador Sánchez e seu vice, Oscar Ortiz, não pouparam oportunidades para enviar mensagens de diálogo com os setores opositores possíveis para a construção de uma agenda comum. Além disso, procuraram sedimentar, no imaginário coletivo, a ideia de que o governo será de unidade, com um modelo próprio de país e que governarão para todos, independente da ideologia partidária ou por quem votaram nas eleições passadas.
“Não será fácil, porque o Arena fará de tudo para desgastar o governo de Sánchez Cerén, prevendo as eleições legislativas e municipais do próximo ano. No entanto, a FMLN é muito hábil e continuará enviando sinais aos setores produtivos, à direita menos teimosa e à população em geral, para gerar confiança e impulsionar um projeto de país inclusivo e unidade”, disse Molina.
Depois do segundo turno, o Arena promove uma campanha de desprestígio das autoridades eleitorais, as acusando de serem parciais a favor da FMLN e até de terem cometido fraude. A estratégia, aliada à campanha midiática, criaram um clima de angústia, atrasando o processo de escrutínio definitivo. “Eles sabem que perderam e o objetivo real é que, o governo que surja, seja o mais ilegítimo possível ante a população. Uma grande aliança contribuirá para a governabilidade e aprofundará as mudanças iniciadas no atual governo”, concluiu Villalona.