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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 15 de março de 2014

Após eleição, FMLN aposta em estratégia de "reconciliação nacional" em El Salvador


Para analistas, cenário futuro é difícil para partido de esquerda, mas afastaram previsões de catástrofe e ingovernabilidade


Depois de um longo processo eleitoral, concluído nesta quinta-feira (13/03) com a proclamação de Salvador Sánchez Cerén, do partido de esquerda FMLN (Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional), como presidente eleito de El Salvador, analistas consultados por Opera Mundi preferem não se somar à tese de que, devido a pouca diferença de votos, há um cenário turbulento à frente. Pouco mais de seis mil votos separaram Sánchez Cerén de Norman Quijano, do partido de direita Arena.

Para os especialistas, os próximos anos deverão ser marcados pela divisão, com o governo tendo dificuldades para desenvolver seu programa, mas afastam previsões de catástrofe. “É preciso começar a desmistificá-las e analisar com seriedade o que aconteceu durante o processo eleitoral”, disse o economista César Villalona. Para ele, o que aconteceu no domingo (09/03) não se tratou somente de uma vitória da FMLN sobre o Arena e seu aparato propagandístico, mas uma conquista com um “candidato próprio, que vem das mesmas entranhas da guerrilha e do partido”.

De acordo com o analista dominicano, radicado em El Salvador, o fato demonstra que o voto da FMLN é “mais comprometido, de desafio à direita e massivo”. Conforme os resultados publicados pelo TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), Sánchez Cerén obteve quase 1,5 milhões de votos – a soma mais alta de toda a história de El Salvador. Além disso, ressalta, se trata de um voto que supera o do Arena até na qualidade, que conseguiu desfazer uma desvantagem de 10% somando quase 450 mil votos, porém, “uma parte significativa vinda da campanha de medo, da compra e coação de votos, de pessoas que não necessariamente são de direita”, explicou.
Campanha

Carlos Molina Velásquez, filósofo professor da UCA (Universidade Centro-americana), afirmou que “depois da derrota de 2 de fevereiro, Quijano direcionou uma campanha suja com o tema da Venezuela e isso teve impacto em vários setores da sociedade salvadorenha, ainda vulneráveis a mentiras”. Ainda segundo ele, “mexeram com o mais primário e visceral das pessoas e funcionou. É um alerta para o futuro governo”.

Nesse contexto de manipulação midiática e uso de rumores, a vitória da FMLN teve ainda mais valores, disseram os analistas. “A cotação aumentou em todo o país e a FMLN, não só conseguiu se defender dessa campanha, mas ganhou com plena legitimidade e com um caudal de votos nunca antes visto”, ressaltou Molina.

De acordo com ele, esses elementos são suficientes para contra-atacar a estratégia atual do Arena, que pretende apresentar ao mundo a imagem de um país partido em dois, onde a metade da população não reconhece a legitimidade de Sánchez Cerén, nem de seu futuro governo. “Usam a palavra ‘dividido’ como sinônimo de ‘ingovernável’ e de difundir a ideia de que a FMLN partiu o país e não é assim. O que contou de verdade foi a fortaleza institucional [do país], e essas eleições demonstraram que El Salvador tem instituições fortes”, continuou Molina.

Já para Villalona, em El Salvador está acontecendo uma “ruptura histórica”, quando “por um lado a maioria votou pelo projeto da esquerda e, por outro, a direita tem menos respaldo do que aparenta no voto”. Segundo ele, nessas eleições há um “avanço de pensamento de esquerda e progressista”, ao mesmo tempo em que a ultradireita retrocede. “Podia ser o início de uma mudança que é necessária e urgente”, acrescentou.
Governo de todos

Salvador Sánchez e seu vice, Oscar Ortiz, não pouparam oportunidades para enviar mensagens de diálogo com os setores opositores possíveis para a construção de uma agenda comum. Além disso, procuraram sedimentar, no imaginário coletivo, a ideia de que o governo será de unidade, com um modelo próprio de país e que governarão para todos, independente da ideologia partidária ou por quem votaram nas eleições passadas.

“Não será fácil, porque o Arena fará de tudo para desgastar o governo de Sánchez Cerén, prevendo as eleições legislativas e municipais do próximo ano. No entanto, a FMLN é muito hábil e continuará enviando sinais aos setores produtivos, à direita menos teimosa e à população em geral, para gerar confiança e impulsionar um projeto de país inclusivo e unidade”, disse Molina.

Depois do segundo turno, o Arena promove uma campanha de desprestígio das autoridades eleitorais, as acusando de serem parciais a favor da FMLN e até de terem cometido fraude. A estratégia, aliada à campanha midiática, criaram um clima de angústia, atrasando o processo de escrutínio definitivo. “Eles sabem que perderam e o objetivo real é que, o governo que surja, seja o mais ilegítimo possível ante a população. Uma grande aliança contribuirá para a governabilidade e aprofundará as mudanças iniciadas no atual governo”, concluiu Villalona.