"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 19 de maio de 2007

Duas breves mensagens

Uma, a negativa do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore de sequer compartilhar de um discreto assento em uma mesa-redonda ou deixar-se fotografar de forma comprometedora com o “patrão”. A outra é o comunicado do centro vocacional de Itaguí… Escreve Pinzón Sánchez.



[Alberto Pinzón Sánchez/ANNCOL]

Dois danos paralelos irreparáveis, em forma de breves mensagens, atingiram o presidente da Colômbia Don Alvarito, apenas concluído o estrondo causado pelo debate do senador Petro.

Uma, a negativa do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore de sequer compartilhar de um discreto assento em uma mesa-redonda ou deixar-se fotografar de forma comprometedora com ele (mesmo que o Patrão não exiba a mochila que não quiseram receber no Vaticano, nem poncho, nem sombreiro) e até que a justiça COMPETENTE esclareça as denúncias públicas apresentadas no “recinto da democracia colombiana”.

E outra, o comunicado imediato firmado por toda a cúpula narco-paramilitar reunida no centro vocacional de Itaguí, onde, ao acolher a proposta do senador Petro por um acordo pela verdade, desmontaram-se finalmente do despedaçado partido de hienas uribistas que os representava e admitiram que o processo de sua “legalização” política e econômica com a chamada lei de justiça e paz foi outro dos fracassos do regime da segurança democrática.

O velho argumento escolástico e clerical com que o militarismo colombiano tem justificado durante séculos sua prática da matança, conhecida na técnica judicial de Godofredo Cínico Caspa com a latinice Ad Hominem, isto é: “Uribe, assim como São Jorge e seus cruzados, encabeçados pelo apóstolo Santiago, são bons, porque Petro e a oposição são maus e guerrilheiros”, esgrimido pelo primo Obdulio e seus sequazes para sabotar o debate anunciado; de nada serviu.

A opinião pública mundial, que conhece funcionando o que é a justiça competente, como um poder independente da Democracia desenhada por Montesquieu, ao ouvir a argumentação do senador Petro, não em um anônimo, nem em uma praça de mercado ou em uma galeria, mas no que eles mesmos chamaram “o recinto por excelência da Democracia”, disse com simplicidade o que o ex-vice-presidente Al Gore disse: “A justiça competente deve esclarecer o denunciado”. Não com intrigas em Miami, ou com desculpas e comentários insípidos em calculadas rodas de imprensa em horas de pico em Bogotá, nem com a justiça impune de Luis Camilo, e sim a verdade judicial “competente”; cristalina.

Com o qual, a outra tática nazista de “confundir política com justiça” que serviu ao miniführer Uribe Vélez para montar sua malha de poder midiático e militarista ficou escancarada. São políticos os genocídios paramilitares? É política a lei de justiça e paz? Tem foro judicial o bom-moço Jorgito Noguera, diretor da polícia política do presidente? São os parlamentares narco-para-uribistas delinqüentes políticos ou comuns? São jurídicas ou políticas as Convivir oficiais? Está abrigado por foro presidencial o apóstolo Santiago Uribe? E assim sucessivamente.

O fato é que Al Gore, sendo vice-presidente de Clinton, conheceu em 1997 e em detalhe a geoestratégia contida no Plano Colômbia. Eram tempos nos quais o bipartidarismo estadunidense (democratas/republicanos) não tinham as diferenças que têm hoje e por isso foi fácil sua aprovação no Congresso. A guerra energética no Iraque não havia começado e a equação petróleo/sangue favorecia a família petroleira dos Bush. A busca por biocombustíveis (palma de azeite + etanol de vegetais) não era ainda uma necessidade imperiosa. O petróleo estava aí: na Ásia central e na bolsa andino-amazônica das cinco fronteira cruzadas pelo rio Putamayo. Não era prudente tomar-lhe. Porém, 10 anos depois as coisas já não são dessa forma. Iraque não se deixou e a região andino-amazônica tampouco é pão comido.

Dentre os vários mega-projetos que incubava em 1997 o Plano Colômbia, um consistia em converter as melhores terras planas da Colômbia, em um Deserto Verde de palma africana ou de azeite, e seu principal cruzado era o governador de Antioquia, Don Alvarito, um próspero empresário agrícola palmicultor de latifúndios e plantações no Urabá antióquio e chocoano.

Até aí a coisa ia bem. O problema surgiu quando se iniciou a “aquisição de terras” para as plantações a ponta de moto-serra paramilitar e lançando veneno “Monsanto” de aviões militares às pequenas culturas de “pan coger”. Desapareceram ou morreram mais de 20.000 pessoas, foram expulsos à força mais de quatro milhões de colombianos especialmente camponeses, colonos, indígenas e afro-descendentes. Veio a fome coletiva e se originou uma tenaz resistência popular contra o despojo agrário, o ecocídio e a catástrofe humanitária, que não puderam ser ocultados diante da opinião democrática estadunidense, nem pelo novo discurso ecologista do ex-vice-presidente Al Gore.

Há, pois, na Colômbia, contradições entre grandes interesses econômicos transnacionais ligados aos recursos energéticos globais, como o petróleo e os biocombustíveis (palma de azeite + etanol vegeta), revestidos demagogicamente de interesses “ecologistas e humanitários no planeta Terra”. Não é, como o querem apresentar os meios de comunicação uribistas, uma simples disputa eleitoreira entre republicanos e democratas pelas próximas eleições estadunidenses.

Não obstante, é evidente que, por fim, o conflito colombiano chegou à opinião pública estadunidense, cada dia mais preocupada pelas mortes que estão causando as aventuras belicosas de Bush e seus lacaios no mundo, e que o moinho da política nos EUA, que têm duas grandes rodas girando e recebendo permanentemente suculentas canas para logo cuspi-las como simples bagaço, meteu entre seus dentes de maneira irreversível, o miniführer Uribe Vélez de onde sairá irremediavelmente moído.

Dando-nos a todos a mensagem de que o pêndulo da história na Colômbia começou seu retorno em sentido contrário ao da paz mafiosa desenhada na guerra imperial contra o terrorismo e as drogas, que batizaram com o sonoro e vergonhoso nome d Plano Colômbia, mas que em realidade era a consolidação e legalização do regime dos 2.313 grandes proprietários rurais e dos 300 exclusivos acionistas da bolsa de Bogotá.

Que fazer diante destas aceleradas transformações da realidade na Colômbia?

O que disse o maior lutador antifascista no próprio seio do parlamento berlinense quando esse era o recinto da democracia (?) de Hitler: “luta de massas e nada de aventuras!”

Primeiro de Maio unitário e massivo. Greve cívica nacional e saída política ao conflito armado colombiano. O sentido da crise é nosso. Basta olhar a foto do exemplo vivente do militarismo colombiano, o outrora invencível general Valencia Tovar, dando (depois de 42 anos) explicações dissimuladas e senis sobre o seqüestro do cadáver do sacerdote Camilo Torres, para entender as palavras do poeta comunista Bertold Bretch: “A crise se produz quando o velho não acaba de morrer e o novo não acaba de nascer”.

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