"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 23 de maio de 2007

O Senador Petro: Em terra de cegos o zarolho é rei

O auditório ficou mudo quando lhe escutou dizer o que disse. Os correspondentes de ANNCOL inclusive gravaram sua intervenção para que amanhã não se diga que o descontextualizaram, ou que publicamos uma nota dizendo o que não disse que disse, porém, ao final, sim, o disse e bem claro: "As FARC-EP já não são parte da solução política do conflito colombiano". Pois a crise colombiana só a soluciona a guerra, isto é, uma saída militar, ou o que ele chamou, e não vão rir, "A asfixia Democrática do conflito".


Gustavo Petro em Barcelona!



[Oscar Salas /Julián Hurtado/ANNCOL]

Ninguém pode negar o valor civil de Petro nas denúncias do que conhecemos como a parapolítica. Porém, devemos assinalar que milhares de defensores de DDHH lhe precederam na denúncia e pagaram caro sua ousadia de levantar a voz contra o regime. O de Petro se apresentou como um ato extraordinário, e não é para menos, quando existem senadores que têm repetido curul pelos séculos dos séculos e nunca disseram uma palavra como o caso do zarolho Gil, ex-guerrilheiro do M19 e convertido em cacique do grupo Uribista Convergência Cidadã, que só abriu a boca para dizer que seus votos eram limpos. Amanhecerá e veremos.

Então não é assombroso que Petro brilhe com luz própria em meio a uma maioria de senadores ineptos e corruptos, que só se têm limitado a apresentar projetos para benefício pessoal. No senado há os que nem sequer têm pedido uma só vez a palavra, "não lhes conhecemos a voz", nos dizia um assistente ao senado, mencionando-nos alguns nomes "dos pais da pátria".

Porém, o senador Petro está sofrendo de uma grave enfermidade, que lhe faz confundir as causas com as conseqüências. Depois de vários exames temos algumas hipóteses para explicar a origem da tão especial transtorno. Primeiro é a pressão da direita que fixa roteiros e paradigmas à esquerda eleitoral. Tanto mimo dos meios de comunicação oficiais como *El Tiempo* ou *Semana* têm causado falha no senador, que não tem feito outra coisa que cumprir com seu dever, pois para isso o elegeram, para que defendesse no parlamento, com sua voz, aos que não têm voz. A estratégia eleitoral da direita está dando resultados. Adulam, por exemplo, a Lucho comparando-o com Lula e Bachelet, consentem a este, mimam a aquele, os inflam e logo os desinflam como se fossem uma sanfona vallenata e estes terminam com o ego lesado. Alguns desenvolvem sobrecarga midiática e outros a síndrome de Estocolmo, que os faz enamorar-se da Burguesia lacaia que antes diziam "combater".

Em Barcelona, sede da V Jornada pela Paz e os DDHH em Colômbia, convocada pela Mesa Catalã e realizada entre 3 e 6 de Maio, Petro demonstrou outra sintomatologia deste tipo de doença: teve um ataque de contra insurgência, vindo-se lança em riste contra as FARC-EP. "São um elemento mais da paisagem", disse sem mostras de superestimação. E foi mais além dizendo que não era um elemento de transformação revolucionária, senão que um grupúsculo regressivo "Stalinista e Pol Potiano". Enfim, Petro começou a campanha política para substituir Uribe Vélez, cavalgando nas costas das FARC-EP.

O senador Petro, cheio de ar midiático, já se sente nas portas do palácio presidencial, catapultado, segundo crê, pelo teorema justificatório que ele estabeleceu e que Pitágoras invejaria: "As guerrilhas foram boas (progressistas e revolucionárias) até quando ele militou nelas". Depois do "Pacto da Moncloa colombiano" para pôr ao rei do neoliberalismo César Gavíria e sua obra magna *da apertura econômica*, o remédio Maravilhoso da Constituição Nacional do 91, que permitiu que hoje o mesmo senador destapa no Departamento de Antioquia 6 anos depois; as outras guerrilhas não têm razão de ser.

O auditório ficou mudo quando lhe escutou dizer o que disse. Os correspondentes de ANNCOL inclusive gravaram sua intervenção para que amanhã não se diga que o descontextualizaram, ou que publicamos uma nota dizendo o que não disse o que disse, porém, ao final, sim, o disse e bem claro: "As FARC-EP já não são parte da solução política do conflito colombiano". Pois a crise colombiana só a soluciona a guerra, isto é, uma saída militar, ou o que ele chamou, e não vão rir, "A asfixia Democrática do conflito".

Não sabemos. E cremos que ainda ninguém sabe que foi o que em realidade quis dizer Petro. Um verdadeiro *jogo japonês de palavras cruzadas*. ANNCOL consultou a opinião de alguns militantes do PD em Espanha, que escutaram na sala as palavras do senador. Alguns disseram que lhe afetou a mudança do horário, o que se lhe notava nos olhos. Outros disseram que era produto da pressão militar de Uribe, outros se aventuraram a dizer que a bronca de Petro com as FARC-EP seria porque algum membro desta insurgência lhe havia tomado alguma noiva no passado, enfim. As opiniões se dividiram entre os que crêem que o senador se acredita o substituto do Messias e entre os que pensam que é um irresponsável em faltar-lhe o respeito a uns homens e mulheres que têm resistido incólumes com dignidade e valor a toda prova, os inumeráveis planos de guerra desenhados pelo Pentágono e seus sipaios do regime colombiano.

ANNCOL teve acesso a informação de primeira mão, que demonstra que o senador Petro vai até três vezes por semana à embaixada dos EEUU, e que tem sido esta quem lhe tem fornecido todos os dados sobre a parapolítica, não sabemos sob que condições, esperemos que não seja esta a origem de sua diatribe contra insurgente.

Contrário ao que pensa Petro, a Constituição de 1991 com a qual ele se empolga, tem outras possíveis explicações, como hipótese podemos dizer que era uma Constituição necessária para a abertura econômica, o qual ficou demonstrado em seu espírito geral, para citar um só exemplo, a educação pública passou de ser um direito da pessoa a ser um serviço público inerente à função social do Estado. Salvo a defensoria pública, a Tutela e um que outro decretozinho que são a exceção que confirma a regra, a constituição nacional flexibilizou a legislação colombiana para atrair capitais, com as conseqüências conhecidas por todos. Pura Democracia de papel.

Contrário também à verborréia de Petro em Barcelona, o M-19 se inseriu na vida civil depois de dar as costas e trair a Coordenadora Nacional Guerrilheira, melhor dito, logo depois de haver firmado no papel a unidade de ação guerrilheira frente ao regime colombiano, o M-19 se entregou, pois estava em vias de extinção. A morte de seus dirigentes mais lúcidos o conduziu a perder a bússola política, prova disso é o final nefasto que tiveram homens como o tristemente célebre Comandante Uno Rosemberg Pabón, quem compartiu lista com o General paramilitar Rito Alejo del Río e Evert Bustamante, hoje – ambos – funcionários Uribistas. Para apenas recordar aos tristemente célebres "Lucios". Um, Carlos Afonso, que terminou como assessor Político Militar de Carlos Castaño e o outro, seu tio. O contato do fuzilado ex-general cubano Ochoa com o cartel de Medellín (segundo o confessou o próprio Ochoa em público e televisionado que se lhe seguiu por televisão em Havana).

A insurgência não nasceu no vazio, as condições históricas nas quais estas nasceram seguem intactas, onde está a reforma agrária?, onde está a Democracia?, não é a insurgência em si mesma quem é culpável da desgraça nacional, senador Petro, é nas condições objetivas de nosso regime onde devemos buscar as causas do conflito. Não é a insurgência quem inventou o "Estado de sítio eterno" nem a Democracia Genocida que hoje você denuncia, como mecanismos de dominação e governo. A insurgência não inventou a justiça militar, o foro militar de onde emana a impunidade dos delitos do Estado e que a Constituição Nacional do 91 deixou intactos ou, em alguns casos, fortaleceu.

Entendemos que, ante a perseguição e estigmatização da qual é vítima a esquerda na Colômbia por parte do regime paramilitar, esta se veja avocada a deslindar-se da luta armada, o qual é lógico se temos em conta que sua participação é institucional e eleitoral. Porém, apesar disto, não existe nenhuma justificativa para que o Senador Petro "abra hostilidades" e converta as FARC-EP no objetivo "militar" de sua verborréia contra insurgente e divisionista.

O senador, sem querer, terminou caindo numa contradição que enaltece as FARC-EP. Em sua intervenção começou dizendo que "tudo vale para destruir as FARC-EP", inclusive o terrorismo de Estado do regime Uribista que ele enfrenta. Porém, em seguida, aceitou que o Regime não tem podido destruí-las. Os assistentes ao evento se perguntaram, ao fim, que: Se as FARC-EP "são um elemento mais da paisagem", por que gastam tantos milhões diários de dólares no empenho de destruí-las sem consegui-lo? Depois dos Planos Colômbia, Patriota e agora o alardeado "Plano Consolidação", a insurgência está mais sólida, mais configurada e pronta para o intercâmbio de prisioneiros e para a Saída Política. Em últimas, construindo e prefigurando a Nova Colômbia.

Segundo o senador, às "FARC lhe assassinaram seu cérebro no genocídio da UP"; com esta premissa o senador parte da errônea hipótese do Exército Colombiano que sempre pretendeu negar a extraordinária dimensão política atual, comprovável em quaisquer de seus documentos e ferramentas de construção da uma NOVA COLÔMBIA.

Para os especialistas nacionais e internacionais expertos em resolução de conflitos, presentes no evento de Barcelona, contrário ao que pensa o senador Petro, a Solução Política ao conflito tem nas FARC-EP um de seus principais protagonistas. Impor-se-á nas ruas da Colômbia a Solução Política Democrática, como uma necessidade histórica ante a estupidez e insensatez da guerra. Ante os planos militaristas do regime desenhados no Pentágono Norte-americano e ante à irreversível crise do regime. Esperamos que brilhe a lucidez no senador Petro, para que finalmente logre entender que no futuro da Colômbia a paz não tem possibilidades sem a insurgência das FARC-EP e desça do micro-ônibus de sua cruzada anti-FARC. Enquanto isso sucede, desejamos sorte ao senador em suas denúncias valorosas contra o Narco Para Uribismo e que oxalá siga sendo a voz dissonante no parlamento, pois, em meio a tanta mediocridade, como diz o adágio, entre tanto cego o zarolho é rei.

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