"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 18 de maio de 2007

Histórias de horror

Se a descoberta dos cadáveres de milhares e milhares de colombianos impressiona, deverá impressionar mais o que aconteceu antes que fossem assassinados ou falecessem, produto das terríveis torturas e depravações a que foram submetidos nessas orgias de sangue das quais muito pouco se conhece. A Colômbia da oligarquia colombiana é um país onde os assassinos e genocidas andam livres pelas ruas e dos quais, suas manipuladas pesquisas nos dizem, os torturados e os assassinos os apoiam cada dia mais.

Terrorismo de Estado!


[Miguel Suárez *]

Por estes dias os meios de informação e de desinformação mostram algumas das impressionantes fotos das valas comuns e dos cadáveres produto dos massacres a que tem sido submetido o povo colombiano. Fotos que causam o estupor de muitos, que aterrorizados se perguntam como pôde acontecer isto nessa suposta democracia.

Se a descoberta dos cadáveres de milhares e milhares de colombianos impressiona, deverá impressionar mais o que aconteceu antes que fossem assassinados ou falecessem produto das terríveis torturas e depravações a que foram submetidos nessas orgias de sangue das quais muito pouco se conhece.

Toda essa orgia de sangue tem sido patrocinada pela oligarquia colombiana, dentro de sua estratégia de guerra de baixa intensidade, que tem como inimigo o povo e que é levada a cabo pelos aparatos de repressão do estado, incluídos seus grupos paramilitares.

Essa sangria não começou com Álvaro Uribe, aprofundou-se com ele, que não é tampouco um recém-chegado à horrível noite, já que desde meados dos anos 70, faz parte dessa máfia que semeia o terror por todo o país.

Essa política terrorista tem sido aplicada ao povo colombiano há muitos anos. Começou alguns meses depois da declaração de independência.

Por exemplo, Rafael Nuñez, várias vezes presidente dos Estados Unidos da Colômbia e a República da Colômbia, e autor, além disso, da letra do Hino Nacional que reza o fim da horrível noite, foi um dos que começou, já que foi em seu tempo o promotor de uma lei conhecida como a “lei dos Cavalos”, de repressão e perseguição contra a oposição.

Por sua vez, Rafael Nuñez parece ter sido a fonte de inspiração ideológica do “Estatuto de Segurança” Julio Cesar Tutbay Ayala, que levou à prisão milhares de colombianos, entre eles, o professor Luis Vidales, Prêmio Nacional de Poesia e obrigou Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, a abandonar o país de maneira precipitada.

Talvez pelo nome de “Lei dos Cavalos”, Turbay Ayala, com a assessoria dos Generais Reveiz Pizarro e Vega Uribe, converteu as cavalariças de Usaquen em centro de torturas. Turbay é, por sua vez, o inspirador de Álvaro Uribe. Vélez que emprestou o espírito terrorista do estatuto de segurança que agora é chamado de segurança democrática.

Na chamada violência, que deixou mais de 300 mil colombianos assassinados, se contavam histórias como a do corte de franela e o corte de corbata, que consistiam, o primeiro em cortar a cabeça da vítima e o segundo, em abrir-lhe um buraco na garganta, arrancar-lhes a língua por ali e deixá-los morrer sangrando. Também se conta de trens com vagões cheios de mortos para serem atirados ao mar.

Dos tempos da violência herdamos ditos populares colombianos como o que diz “Em minha terra se esquenta a água a tiros” ou o de que “Em minha casa se fecham as portas com mortos”.

Nesse tempo, quando não existiam guerrilhas, os massacres não eram cometidos pelas chamadas AUC, mas pelos “Pájaros e Chumavitas”, os paramilitares daqueles tempos.

O diário El Tiempo, publicou no 24 de abril passado (2007) um artigo intitulado “A Colômbia procura 10.000 mortos”, poderíamos dizer que seus cadáveres estão aparecendo hoje, não graças ao governo de Uribe que tem feito todos os esforços para esconder essas atrocidades, mas graças a pressão de diferentes organizações nacionais e internacionais e que a Corte Suprema de Justiça, obrigou a que se os narcotraficantes quisessem benefícios da tal lei de justiça e paz, deveriam dizer a verdade, da qual até agora tem sido contada uma mínima parte.

No artigo, um dos supostos paramilitares contava que seus chefes, entre os quais deve-se incluir pelo menos o irmão de Álvaro Uribe Vélez, Santiago, organizavam cursos de treinamentos onde utilizavam pessoas que eram levadas até seus campos de treinamento para serem golpeadas vivas.

O suposto paramilitar revelou que nesses cursos eram levadas “pessoas de idade que levavam em caminhões, vivas, amarradas (...) eram separadas em grupos de cinco (...) as instruções eram arrancar-lhes o braço, a cabeça...esquartejá-las vivas”.

Depois dessas “escolas do terror”, estes homens, em nome dessa oligarquia, saíam para aplicar o aprendido contra os colombianos desarmados buscando com eles conter o protesto social e para desvertebrar organizações como a União Patriótica, numa série de atos de barbárie que estão marcadas nas cicatrizes do povo colombiano e que por seu sadismo podemos destacar.

O massacre do município de Trujillo, departamento do Vale do Cauca, em 1990, onde 52 pessoas foram vítimas de uma cadeia de ações criminosas nas quais participaram membros dos aparatos de repressão dessa oligarquia com seus grupos paramilitares.

Uma testemunha do que aconteceu contava que “General Maior do Exército punha-lhes no rosto um jato de água com pressão com mangueira, levantava-lhes as unhas com navalha, arranca-lhes pedaços da planta dos pés com cortador de unhas, corta-os e coloca sal, depois com um maçarico de gasolina que lança chama os queimam em diferentes partes do corpo e a carne se parte e levanta cascões, coloca o jorro da chama na zona genital, corta seus pênis e testículos e enfia na boca das mesmas vítimas e finalmente os esquerteja com uma motoserra e ao fazer isto, os torturadores gritavam 'Ai homem!'”.

Depois iam separando as partes uma por uma… dizia a testemunha ”eu vi os cadáveres, foi quando estavam fechando a perua, estavam dentro de sacos. Eram cerca de doze sacos, num saco estavam os troncos e noutro, as cabeças.

Uma dessas 52 pessoas foi o sacerdote jesuíta Tibério de Jesús Fernández Mafla. Seu cadáver foi encontrado em 23 de abril por um morador no Río Cauca, sem cabeça, abertos o tórax e o abdomem com uma motoserra, mutilado e castrado com os mais aterradores signos de crueldade.

Na própria Bogotá, no município de Suba, membros da polícia da oligarquia colombiana, em 12 de maio de 1993, como a neve da noite, invadiram a casa da família Meléndez, em Santa María del Lago, no noroeste de Bogotá, algemando-os na entrada de casa, minutos depois os meios de densinformação os apresentaram como delinqüentes mortos.

A polícia apresentou ao país como uma grande operação contra uma Quadrilha de 12 assaltantes e assim ficou registrado nos meios de comunicação.

Em 23 de setembro de 2001, às cinco e trinta da manhã, homens que lançavam gritos de morte e proferiam maldições, destruíram a tiros de fusil a porta da casa de Monguí Jerez SuÁrez, humilde mulher santadereana de origem camponesa, no município de San Pablo, Bolívar.

Os instantes de horror foram breves, porém contundentes. Quando ela percebeu o que acontecia, estavam mortos nos chão, seu filho Nelson Alirio Hernández de apenas oito anos, e seu companheiro Florentino Castellanos de trinta e oito, trabalhador do município, atingido por vários tiros de fusil.

Ela tinha perdido por completo seu braço esquerdo, e uma perna ficava presa apenas pela pele.

O comandante da operação, um tal Arriaga, depois do êxito da mesma e como prêmio a esses homens, deu autorização para fazer pilhagem.

Em 27 de fevereiro de 1997, os moradores de Bijao del Cacarica, foram obrigados a presenciar uma macabra partida de futebol entre os soldados do exército de ocupação da oligarquia colombiana e seus grupos paramilitares.

O jornalista Fernando Garavito contava: “Uma vez reunidas as duas equipes, o árbitro fez soar seu apito. Cada uma das equipes ocupou seu posto estratégico no terreno do jogo. Então, um ajudante trouxe até o centro da quadra uma bolsa de palha, e jogou seu conteúdo em um ponto equidistante entre os encarregados de fazer o primeiro disparo. Os que assistiam deixaram escapar um grito de horror. A bola com a qual jogariam os times era a cabeça de Marino López, um de seus amigos.

Durante longos minutos o único ruído que puderam perceber os habitantes foi o dos chutes que davam os jogadores contra o crânio destroçado.”

Esse foi o começo do ano de terror que se viveu em 1997, quando Álvaro Uribe Vélez, era governador de Antioquia. “Em 4 de abril de 1997, na região de Cacarica, um comando de militares e paramilitares acantonados em Apartadó, abriram o ventre de Daniel Pino diante de observadores internacionais que haviam chegado dias antes à região para comprovar algumas denúncias relacionadas com os atropelos ao direitos humanos.

Tentando deter o derrame de sues intestinos, o camponês agonizou durante uma hora sem que ninguém pudesse ajudá-lo”.

Outro relato dessa horrível noite que ainda não cessou disse “o garoto, com a camisa azul rasgada e sua bermuda na altura dos joelhos que se haviam manchado de vermelho. O menino olhava com seus olhos inocentes para o céu com a expressão: por que? O menino de apenas oito anos morreu sangrando devido a marretada que seus assassinos paramilitares da oligarquia colombiana, lhe haviam feito quando lhe cortaram o pênis.

Seu crime? Ser filho de Carlos Julián Vélez, dirigente da União Patriótica, (UP) do Departamento de Meta. Toda sua família foi massacrada nesse dia de terror.

Estas histórias de terror, e muitas mais tem sido de maneira “habilidosa” ocultada ao povo colombiano e ao mundo, que pouco conhece dessa “horrível noite” a que nos tem submetido essa oligarquia assassina.

Por isso o escritor colombiano Fernando Vallejo disse que renunciava à cidadania colombiana porque este é um país assassino, referindo-se à oligarquia colombiana que assassina de maneira mais impune e continua fingindo não saber de nada de seus crimes.

A Colômbia da oligarquia colombiana é um país onde “os assassinos e genocidas andam livres pelas ruas” e dos quais, suas manipuladas pesquisas nos dizem que os torturados e os assassinados os apoiam cada dia mais.

Se alguns se comoveram com as fotos das valas e covas deverão comover-se ainda mais com estas horríveis histórias, e deveriam comover-se ao máximo, sabendo que nestes momentos, em Caquetá, em Nariño, em Arauca e em geral por toda a Colômbia, se estão repetindo essas aberrações contra o desarmado povo colombiano.

Sim! Estão se repetindo com o mesmo sadismo e não fazemos nada, há crianças que estão sendo submetidas às mais selvagens torturas assim como seus pais, irmãos e filhos, jovens e velhos.

Se histórias de horror foram contadas com as ditaduras do cone sul, as da democracia mais velha da América são muito mais terríveis, e os colombianos seguimos vivendo nessa horrível noite que inaugurou Nuñes, continuou Turbay e hoje aprofunda Álvaro Uribe Vélez

* Diretor da Rádio Café Stereo
http://www.ajpl.nu/radio


Enlace original