Festival vallenato e narco-paramilitarismo
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Se sente no festival vallenato os efeitos das denúncias de até onde chegou o narco-paramilitarismo. Ou melhor ainda, de quão comprometida está a classe política nesse projeto contra-insurgente. A 'Fundação Festival Vallenato' continua com a pirataria e desafia oferecendo homenagem ao narco-paraco Jorge Oñate. A solidão e ausência de personagens nos shows musicais mostram o significado do problema 'dos ricos da praça', escreve Allende La Paz.
Ai, homem!
[Por Allende La Paz, ANNCOL]
Se sente no festival vallenato os efeitos das denúncias de até onde chegou o narco-paramilitarismo. Ou melhor ainda, de quão comprometida está a classe política nesse projeto contra-insurgente. O qual desde logo foi desenhado nos centros de poder de Washington e aplicado pela oligarquia colombiana, que tem visto em tal projeto sanguinário, o instrumento ideal para continuar perpetuando-se no poder e servir ao seu amo yankee.
Cesar: classe política violenta
A oligarquia vallenata recorre a tudo para conservar o poder.
O caso de estado do Cesar mostra do que é capaz de fazer a oligarquia colombiana para continuar desfrutando dos privilégios do poder. O contubérnio sujo dos políticos do Cesar vem de velha data. E estendeu-se aos artistas ballenatos, não todos, claro.
Há muitos anos foi clara a oposição da "Cacica" Consuelo Araújo Noguera de permitir que o narcotráfico 'tomasse' o poder no Cesar. Seus enfrentamentos com Lucas Gnecco Cerchar, representante nesse momento do narco-paramilitarismo, são de recordar. 'Luquita' –como é conhecido- foi posteriormente relegado pela estrutura narco-paramilitar de "Jorge 40" –mais conhecido com o apelido de Rodrigo Tovar Pupo-, a qual se 'tomou' toda a classe política do Cesar, Magdalena, Guajira, Atlântico e Sucre. Tal poder acumulado só foi possível graças ao apoio incondicional e a direção das forças militares da região e, também o apoio dado desde Bogotá.
Hoje em dia, toda a classe política do Cesar tem seus "nexos ocultos" com 'Jorge 40' –grande amigo do presidente Álvaro Uribe Vélez-, quem ordenou a Jorge Noguera Cote, então diretor do DAS, a dar-lhe um tratamento preferencial, toda vez que ele ia fazer todo o "trabalho de limpeza" para consolidar o projeto narco-paraco na Costa Atlântica.
Todos os parlamentares do Cesar devem seus votos à "Jorge 40": Mauricio Pimiento, Cuello, Álvaro Araújo Castro, etc, e todos enfrentam julgamentos diante da Corte e um está preso.
O governador Hernando Molina Araújo –filho da "Cacica" –é ficha política de "Jorge 40", hoje enfrenta um julgamento diante da Corte.
O governador de Valledupar, Ciro Pupo Pupo, é primo de "Jorge 40", e irmão daquele que servia de enlace com Jorge Noguera Cote.
Como a 'família' Araújo chegou a aliar-se com o narco-paramilitarismo? Você vai saber. Mas o certo é que a oligarquia ballenata sempre tem exercido violência contra camponeses, indígenas e operários para continuar mantendo-se no poder. A exploração das terras dos indígenas tem sido historicamente violenta, à sangue e fogo.
Da mesma forma tem atacado qualquer sussurro de oposição verdadeira aos seus 'desígnios manifestos'. O extermínio do movimento "Causa Comum" da União Patriótica, é bem didático. José Francisco Ramírez, advogado vallenato desse movimento, foi assassinado por ordem do Batalhão da Popa. De 13 dirigentes desse movimento, dois sobrevivem: um no exílio e outro em uma prisão dos Estados Unidos por ter sido obrigado a empunhar as armas para defender sua vida: Simón Trinidad (filho da classe abastada vallenata que optou pelo caminho da defesa dos interesses do povo.
A "Fundação Festival Vallenato"
A 'Fundação' é a pretensão dos 'ricos da praça' de apropriar-se do folclore vallenato.
O Festival Vallenato nasce como um ato de pirataria de Alfonso López Michelsen e a "Cacica" Consuelo Araújo Noguera a uma idéia de Gabriel García Márquez de realizá-lo a cada ano em Aracataca, como já vinha fazendo informalmente para festejar seu aniversário. E mais, a data escolhida para a realização do Festival em Valledupar tem uma conotação de classe. O Festival termina no dia 30 de abril, e com as festas e tudo incluído, o povo vallenato estaria 'de ressaca' para assistir à qualquer manifestação de 1º de maio.
Na 39ª versão do Festival do Vallenato vimos a Fundação Festival Vallenato exigindo aos participantes que cantassem ao narco-paramilitar 'mais grande', Álva-raco Uribe Vélez. O narco-paramilitar confesso, Poncho Zuleta, revisou a canção 'Compae Chipuco' para cantar ao narco-paraco 'mais grnade'. Os diretores da Fundação puseram as crianças da escola de acordeoneiros da Fundação Festival Vallenato para cantar ao narco-paraco 'mais grande' – escola que é uma cópia (ou um plágio) da escola do pioneiro Andrés 'El Turco' Gil-, o que demonstra que a Fundação está pirateando idéias de outras pessoas.
E a tal 'Fundação' vai a cada dia elitizando mais o Festival, arrancando-lhe sua essência popular. Porque devemos reconhecer: O vallenato nasce como produto do "zambaje" (índio com negro) num lugar que ficou conhecido como país dos "chimilas" e nos povoados indígenas da Serra Nevada de Santa Marta, e depois da chegada do acordeão –que enriqueceu um pouco suas melodias – era uma música de camponeses, desdenhada pelos ricos. Nos salões e festas dos ricos 'do valle' só se escutava música 'culta', e o vallenato era coisa da plebe.
Com o tempo, diante do auge do vallenato, se apropriam dele e agora querem que o 'Festival' se realize em salões 'especiais' e não 'na Praça' – infelizmente chamada 'Alfonso López' -,talvez porque os 'donos' de tal praça estão 'de luto' porque uma das 'famílias' dona de quase uma de suas quadras, está enrascada no narco-paramilitarismo: Alvarito Araújo Castro na prisão por narco-paraco e assassinato; seu pai fugitivo pelas mesmas causas, e a 'Conchi' Araújo, isolada de seu 'amado' Alva-raco Uribe Vélez. Hoje o 'casarão' está silencioso e não se escutam as alegres notas do acordeão das parrandas para homenagear os convidados que viriam de Bogotá a desfrutar o Festival. Que entre outras coisas esse ano não vieram como antes, vieram como Alva-raco para cumprir.
A tal 'Fundação' se converteu em 'uma corte' na qual as posições são herdadas e não se dá conta das capacidades dos funcionários. Isso demonstra a pretensão do 'ricos da praça' de apropriar-se de um produto da sabedoria popular: o folclore. Tal qual fazem as famosas gravadoras que se apropriam do esforço de compositores e músicos. Em conseqüência, a 'Fundação' é uma verdadeira máfia que escolhe de antemão reis vallenatos, ganhadores de canção inédita e, como no caso do Rei dos Reis, estabelece limites de idade para impedir o concurso de Alfredo Gutiérrez e que se coroe como o verdadeiro 'Rei dos Reis' do acórdão vallenato que é.
A "conexão vallenata"
Álvaro Uribe Vélez esteve em 2002 numa festa vallenata com 'Jorge 40' em San Angel.
O narco-paramilitar presidente Alva-raco Uribe Vélez não respondeu à nenhuma das acusações feitas contra ele. Nunca as respondeu. Sempre recorre à estratégia de sair pela tangente: 'fica doido de raiva', ou ataca quem o questiona. As acusações de Joseph Contreras e Fernando Garavito nunca foram respondidas. As acusações da esquerda nunca foram respondidas. E desconversa: 'eu poderia ter sido um bom guerrilheiro...' disse. Só faltou dizer que poderia ter sido um bom guerrilheiro assim como 'é um bom narco-paramilitar'. É o mesmo que dizer assassino.
Muito menos vai responder à acusação feita por uma testemunha que escreveu: Uribe participou em uma reunião em San Angel (Magdalena) na época da campanha presidencial de 2002, com a cúpula dos narco-paramilitares da Costa Norte, comandados por seu 'sócio' "Jorge 40", e para festejá-lo pediu para que trouxessem Poncho Zuleta –reconhecido narco-paraco também -, mas teve que contentar-se com Diomedes Díaz, que era 'escondido' pelos grupos narco-paramilitares da ação da justiça colombiana, personagem que inclusive foi levado a 'uma festa de altos personagens narco-paracos em Costa Rica'.
O desfrute popular
No arranque do Festival vimos que a 'Fundação' ainda no meio do escândalo da narco-para-politica decide desafiar a todos e presta homenagem a Jorge Oñate, reconhecido por suas relações narco-paracas e de compadrio com Lucas Gnecco Cerchar. Na tribuna estiveram os 'máximos expoentes' do narco-paraquismo na música vallenata: Poncho Zuleta, Ivan Villazón e o 'homenageado' Oñate.
Mas ainda assim, o povo vallenato está desfrutando seu 40º Festival sem importar-lhes a sorte dos 'ricos da praça'. Ele é assim, natural, e até nos versos de muitos cantos, merengues, puías ou sons se escutam as sátiras contra os que têm construído suas fortunas sobre a base do sangue dos camponeses, indígenas, operários, estudantes.
No dia seguinte ao debate de Gustavo Petro, um músico colombiano, com a graça característica dos artistas, cedeu à Rádio Café Stereo esta versão de 'la cucaracha', a qual entitulou 'La guacharaca'.
Para escutar "La guacharaca", clique aqui.
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