"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 5 de maio de 2007

Narco-paramilitarismo: Política de Estado

Uma breve repassada na história do narco-paramilitarismo nos evidencia que obedece a políticas desenhadas pelos Estados Unidos e levada em prática com esmero pelos diferentes presidentes e pelos membros da cúpula militar. Mas nunca se havia podido provar a participação direta de um presidente no narco-paramilitarismo. Por isso Uribe Vélez merece chamar-se ALVA-RACO[*], escreve Allende La Paz.


Alva-raco!


[Por Allende La Paz, ANNCOL]

Tem sido uma prática comum dos diferentes governos oligárquicos colombianos a utilização de “civis” para levar a cabo tarefas de contrainsurgência. Dando uma olhada pela história colombiana para entender o fenômeno que se tem chamado PARA-MILITARISMO, mas que desde quando se deu a aliança imoral entre as forças militares (representação do estado e braço executor do mesmo) e o narcotráfico, representado pelo Cartel de Medellín, é na realidade NARCO-PARAMILITARISMO.

A utilização de mercenários para a realização das “tarefas sujas” que as forças repressivas do regime não podem realizar sem violar seu próprio regime constitucional, tem sido constante nos EEUU. Não esqueçamos os famosíssimos “caça-recompensas” do Velho Oeste que buscavam delinquentes, inclusive em outros países violando sua soberania e os traziam “vivos ou mortos”, ou a tristemente célebre contra-nicaraguense organizada, armada e financiada pelos EEUU. Da mesma maneira temos que recordar a utilização dos “esquadrões da morte” em El Salvador, em Guatemala, Honduras, etc

Paramilitares em “La Violencia”
Nos anos 50 já existiam os paramilitares

Colombia não tem sido exceção dessa prática criminosa. Os hoje chamados paramilitares, ontem foram os “pássaros” e os “chulavitas” da época da violência dos anos cincoenta utilizados pelo Estado Colombiano para assassinar, massacrar, violar mulheres e explorar o campesinato de amplas regiões do país, que como o estado de Tolima se viram assoladas por esta praga.

“O grupo estava composto por dezesseis homens, e nele se mesclavam policiais no exercício de suas funções e criminosos pagos, (então chamados pássaros-assassinos que desde 1948 atuaram sob a proteção de autoridades locais nos estados de Caldas, Tolima, Huila, Vale de Cauca e Boyacá). Uns e outros iam nessa manhã a Rioblanco, um povoado de Tolima onde já eram temidos por seus freqüentes abusos (...) Quando os caminhantes chegaram à costa de Mal Abrigo, nas cercanias do povoado, foram atacados de surpresa por um grupo de cinco homens munidos de armas de fogo (...) filhos de um casal de anciãos lavradores, mortos poucos dias antes por alguns dos que integravam a comitiva assaltada, (...) que custou a vida de três dos agentes (...) Uma vez levantados, com a chegada de nutridos reforços, os cadáveres das vítimas de Mal Abrigo, policiais e pássaros se lançaram sobre o povoado para vingar a seus caídos. Ali mataram, feriram, golpearam, violaram, saquearam e incendiaram durante várias horas, convertendo o lugar em cenário de todas as brutalidades. Nesse dia o terror chegou a Rioblanco. Era 12 de agosto de 1950.

Os vizinhos que conseguiram sobreviver à violenta incursão fugiram do município assolado, deixando para trás suas casas, sítios, móveis e rebanhos. (...) Mais tarde, alguns deles constituíram um grupo armado para defender-se dos atropelos oficiais. Outros – a maioria – somaram-se à grande multidão de refugiados que chegou por aqueles anos a cidades como Chaparral, Líbano, Neiva e Bogotá.” (Revista Defensoria Del Pueblo).

Manuais contrainsurgentes gringos
Desde 1962 utilizavam civis para tarefas de “guerra suja”.

Em pleno apogeu do anticomunismo e a “guerra fria”, os ideólogos estadunidenses criam “doutrinas contrainsurgentes” a fim de impedir o desenvolvimento de projetos populares que eles suspeitosamente assimilaram como do “comunismo internacional”

Já desde 1962 nos manuais de contrainsurgência do exército dos Estados Unidos se observa a assimilação da população civil como “inimigo interno”. O padre Javier Giraldo tem sido um estudioso do tema e como dizíamos na exposição apresentada no México:

... Javier Girardo M, nos disse em sua pesquisa ‘Cronologia de fatos reveladores do paramilitarismo como política de Estado’: “Em setembro de 1962 o Comando do Exército edita a tradução do manual FM-31-15 do Exército Americano, titulado “ Operações contra as Forças irregulares”. Ali se afirma: “[a] Para diminuir a solicitação de unidades militares, se viu que é de grande ajuda o emprego de polícia civil, de unidades semi-militares e de indivíduos da localidade que sejam simpatizantes da causa amiga. O emprego e controle de tais forças está sujeito a acordos nacionais e locais e a apropriada investigação delas para preencher os requisitos de segurança. Faz-se uma avaliação cuidadosa de suas capacidades e limitações para a completa eficiência.

[b] Quando a política e a situação o permitem, os indivíduos da localidade de ambos os sexos que tenham tido experiência ou treinamento como soldados, policiais ou guerrilheiros, devem ser organizados dentro da polícia auxiliar e dentro das unidades de voluntários de cada cidade. Aqueles que não possuem tal experiência podem empregar-se individualmente como trabalhadores, informantes, agentes de propaganda, guardas, guias, rastreadores, intérpretes e tradutores.

[c] As forças civis usualmente necessitam ajuda e apoio das forças militares. A assistência é normalmente necessária como assessoria para a organização, o treinamento e o planejamento das operações. O apoio é normalmente necessário no abastecimento de armas, munição, alimentos, transporte e equipamento de comunicações (...)

[g] As unidades amigas de guerrilheiros que tenham operado na mesma área das unidades hostis de guerrilheiros, em geral tem vontade de ajudar no esforço de contraguerrilha. Tais unidades podem empregar-se com eficiência em missões de hostilização das patrulhas de combate. Além disso os membros das unidades amigas de guerrilheiros podem servir como rastreadoras, guias, intérpretes, tradutores e agentes de espionagem e podem manejar os postos de observação e as estações de prevenção. Quando as unidades amigas de guerrilheiros são utilizadas, podem apoiar-se logisticamente e devem subordinar-se ao Comandante da Força Militar que mantém o controle e a comunicação administrando uma equipe de intermediação para que permaneça com elas e controlando o apoio. Os destacamentos operacionais são ideais para este fim. (n° 31,pg. 75 a 77)

… A nota introdutória do Comando do Exército afirma que o dito manual é “para a preparação e instrução dos membros da Força” e para que esta obra “seja estudada e aplicada no que disse em relação à tática e à técnica das armas empregadas e adaptando os princípios à nossa organização.”

Não é demais recordar que em 1962 ainda não existiam as Forças Armadas Revolucionárias de Colombia (FARC), a quem a direita (o estado) e até a esquerda (alguns parlamentares) querem “empurrar”, como diz a ANNCOL, a culpa da existencia do narco-paramilitarismo na Colombia. As FARC nasceram depois do ataque a Marquetalia (Tolima) na aplicação do Plano LASO, quando as forças militares oficiais mobilizaram 14 mil soldados e a aviação contra 48 camponeses.

DSN e planos militares gringos
A DSN projeta o uso de um “exército mercenário”.

É sintomático que partindo da ‘esquerda’ se divulgue a tese estatal da origen e desenvolvimento do narco-paramiliatarismo ‘como resposta à ação’ das FARC , evitando admitir que é – e será - uma política de estado, aplicando o receituário contra-insurgente e anti-comunista do império estadunidense.

Tal receituário é aplicado ao pé da letra e para mayor precisão vejamos que na Doutrina do Conflito de Baixa Intensidade planejavam claramente a “Destruição do movimento revolucionário por meio do exércto que desenvolverá campanhas de contra-insurgência em benefício da ‘segurança interna’. Também se utiliza o narcotráfico como variável interna e externa. (…) Exército mercenário e uma frente política ( “lutadores pela liberdade”, etc) destinada a desarticular o movimento revolucionário, torná-lo inviável como alternativa política e ao mesmo tempo legitimar a opção contra-revolucionaria. Os dois elementos anteriores estarão adornados de uma excessiva retórica em torno dos D.H. e atividades propagandísticas nesta frente (…)” (Isabel Jaramillo) (Destaques meus))

<>
Proibido esquecer a história.

Segundo o livro da Anistia Internacional “ Violencia política na Colombia. Mito e realidade”, Luis Antonio Meneses Báez – mais conhecido como ‘Ariel Otero’ – foi capturado em 1989 e “na declaração jurada que prestou ante a Direção de Policía Judicial e Investigação (DIJIN)”, manifestou que teve seu primeiro contato com os grupos de ‘ autodefesa’ em 1982 quando, com o Grau de tenente, lhe tranferiram ao Batalhão Bárbula, com sede em Puerto Boyacá. Os oficiais sob as ordens do batalhão e as brigadas lhe apresentaram a esses grupos, recém-criados. Declarou que os grupos haviam sido formados por ordens do Estado Maior do exército e que eram parte integrante da estratégia do governo para combater os insurgentes. Entre 1981 e 1983 se designou a vários oficiais do Batalhão Bárbula a formação e o treinamento dos grupos de <> do Magdalena Medio que estiveram controlados, durante todo o tempo, pela unidade de inteligencia S-2 do Batalhão Bárbula e pela Associação de Pecuaristas do Magdalena Medio. Luis Meneses deixou o exército mas seguiu colaborando estreitamente na formação dos grupos de <> de outras regiões (…)

… De acordo com sua confissão, os oficiais sob ordens da inteligência militar decidiram em 1987 assumir a coordenação das atividades paramilitares em todo o país.

Convocaram ao quartel dos serviços de inteligencia de Bogotá os chefes das unidades paramlitares para que tivessem uma reunião com oficiais de alta graduação do Batalhão de Inteligencia e Contra-inteligência “ Charry Solano” (BINCI). Na reunião se criou a Junta Nacional de Autodefesa (JNA), sempre com assistencia de oficiais dos serviços de inteligencia do exército, com periodicidade anual. Quando lhe pediram que especificasse quem eram os contatos com os grupos paramilitares nas forças armadas, Luis Meneses respondeu que até 1989 mantinham contato com o Estado Maior do Exército; a partir desse ano, os contatos se deram através de intermediários, como políticos e empresários…”

História de crimes e violações

A anterior é apenas uma passada rápida sobre a sórdida e escabrosa história do narco-paramilitarismo na Colombia.

Todos os presidentes colombianos, sem exceção, continuaram desenvolvendo o projeto contra-insurgente narco-paramilitar, embora alguns pela pressão de camponeses, operários, estudantes, indígenas, etc, vítimas deste flagelo mostraram que estavam contra o narco-paramilitarismo. As estatísticas de violações de direitos humanos de tal modelo contra-insurgente, são assombrosas e as temos abordado em diferentes artigos.

É de significativo valor assinalar que nunca na história da Colômbia havíamos podido evidenciar, provar, a relação direta de um presidente com o narco-paramiliatarismo. Álvaro Uribe Vélez tem este desonroso mérito e muito adequado tem o nome que uma articulista de ANNCOL lhe colocou:

ALVA-RACO.



[*] ALVA-RACO: contração de Álvaro (Uribe) mais ‘paraco’, como são chamados popularmente os paramilitares.

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