"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Agosto 22. Colômbia Resiste! Quarto dia de paralisação agro-mineira, de transporte, saúde e social Paralisação é irrefreável, apesar de repressão oficial e tentativas de dividir, negociando em separado



Eliecer Jiménez Julio. Genebra, Suíça.


Uns 200 mil campesinos, transportadores e mineiros mobilizados, 50 mil caminhões paralisados em 27 departamentos [estados], mais de 30 rodovias bloqueadas, um morto, 50 feridos, 100 detidos e com a possibilidade de que os Indígenas do Cauca e os campesinos da região do Catatumbo se somem nas próximas horas ao protesto, é o balanço que se apresenta na Colômbia durante o quarto dia da paralisação agro-mineira, de transportadores e de setores sociais, como a saúde.


Pelo menos sete setores conectados com a agricultura participam na paralisação nacional que começou nesta segunda-feira 19, à qual se somaram os transportadores de carga, professores e trabalhadores dedicados à pequena mineração; ao protesto se uniram os cultivadores de café, cacau, algodão, batata, arroz e milho, entre outros. Ademais dos produtores de lácteos, que pedem apoio oficial para superar a crise social neste país sul-americano.


A situação de ataques da força pública colombiana e suas instituições contra os manifestantes em estado de indefensabilidade é tão grosseira, de conduta delituosa e violadora dos DDHH, que as Forças Armadas disparam desde os helicópteros, incendeiam propriedades dos campesinos, como os registrados no Norte do Estado do Cauca, Corregedoria de El Cairo, Município de Cajibio. O Instituto de Bem-Estar Familiar ameaçou os campesinos pais de família com crianças de tirar-lhes a pátria potestade porque estão com seus filhos nos protestos, como ocorreu a 20 de agosto perto de Barrancabermeja, ponto conhecido como Expoeventos, e até os produtos agrícolas como mandioca, banana-da-terra, banana etc, cultivados pelos próprios campesinos, são roubados ostensivamente e pela força por parte da polícia colombiana, sob o argumento de que devem ser confiscados no protesto.


Eberto Díaz, Presidente da Federação Sindical Unitária Agropecuária, FENSUAGRO, e dirigente da Mesa de Interlocução e Acordo Nacional do setor agrário e popular em diálogo para os meios de comunicação europeus, disse: “A paralisação agrária, mineira, de transportadores e da saúde, vem somando uma importante força social e se converteu em irreprimível, já que, apesar da forte militarização e repressão que tem havido em todas as regiões da Colômbia com o exército e a polícia através do ESMAD, os campesinos conseguiram ultrapassar essas barreiras e podemos dizer que há mais de duzentos mil lavradores acampados às margens das estradas, outros com bloqueios nas rodovias, aos quais se somaram mais de 50 mil caminhoneiros que pararam voluntariamente; neste sentido, a paralisação, contrariamente ao que dizia o governo que a mobilização seria insignificante, sem importância, e a desconheceu desde o momento em que radicamos a relação de exigências, não se lhe viu, nem deu a vontade de dialogar e hoje os campesinos seguem ali neste quarto dia, e tudo deixa ver que o protesto continuará indefinidamente, apesar da repressão”.


Indicou o dirigente agrário que “desde os helicópteros do exército e da polícia vêm disparando gases e balas contra os manifestantes, o que deixou como resultado um motociclista assassinado em Boyacá, o qual foi impactado no peito por um artefato que continha gases lacrimogêneos quanto este transitava pela via numa moto, há mais de cinquenta feridos, alguns de forma grave, e cem detidos, com o qual se demonstra que o Estado colombiano está desconhecendo o direito constitucional às liberdades de mobilização, expressão, organização etc e é o único responsável pelos enfrentamentos que houveram pela provocação da força pública e agressão destes contra os manifestantes”.


O protesto, que se origina pela negativa do governo nacional de estabelecer um cenário de diálogo com as organizações sociais que permitam superar a grave crise que afronta o campo colombiano, produto da aprovação e implementação dos Tratados de Livre Comércio [TLC], a altíssima e ilegal concentração da terra, o desconhecimento dos direitos políticos do campesinato, as arbitrariedades da força pública e o desenvolvimento de uma política mineira-energética que favorece as grandes multinacionais em detrimento de nossa natureza e das comunidades rurais, o que tem empobrecido o campo acima dos 70% do campesinato, levaram os setores agrários, de trabalhadores da saúde e transportadores a desenvolver a paralisação nacional agrária e popular que começou no dia 19 de agosto.


Apesar do desalojamento realizado pela força pública em algumas estradas da Colômbia, em regiões como Boyacá, Caldas, Risaralda, Meta, Arauca, Cauca, Caquetá, Huila, Nariño, em Ituango, Antioquia, os Santanderes, em Cundinamarca, a via para Villavicencio, entre outras, heroicamente campesinas e campesinos mantêm muitos bloqueios e é onde mais fortemente se sente a paralisação. Porém, em geral, há uma tensa situação devido aos enfrentamentos que há com o exército e o Esmad, já que a única forma de fazer-se ouvir os campesinos é bloqueando as vias, confirmou Eberto Díaz, dirigente de Fensuagro, quem revelou que em diferentes cidades do país numerosos grupos de estudantes, especialmente das Universidades Nacional e Distrital em Bogotá e Santander, têm realizado atos de protesto em solidariedade com os campesinos e a paralisação agrária, assim como outros setores sociais colombianos.


O dirigente disse que: “se a paralisação segue e se demora, é culpa do governo, do Estado e suas instituições que não prestam atenção aos campesinos e as organizações que convocaram esta paralisação [por tempo] indefinido e hoje, sexta-feira, vamos procurar dialogar com alguns parlamentares a fim de buscar abrir as portas do governo ao diálogo nacional e de negociação, já que nós estamos dispostos mas o Estado não, que persiste em que se façam mesas estaduais para seguir cobrindo os graves problemas do campo com água morna, e nós dissemos que o problema é estrutural, e como tal há que dar-lhe soluções de imediato, pondo em marcha políticas efetivas dirigidas a solucionar a crise do campo e da propriedade da terra, onde mais de um milhão de famílias campesinas não possuem a propriedade da mesma, o reconhecimento das Zonas de Reserva Campesinas, que é a lei 160/94, a ampliação dos redutos indígenas, territórios afrodescendentes, e territórios interétnicos e pluri-étnicos e que permita à sociedade rural viver articuladamente, que os direitos campesinos aprovados pela ONU no ano anterior se ponham em vigência e, igualmente, o investimento social em água, educação, saúde, moradia, serviços básicos etc.


Eberto Díaz, da Mesa de Interlocução e Acordo Nacional do setor agrário e popular, MIA, disse que, como a luta social na Colômbia é muito dinâmica, os indígenas do Cauca disseram que, se nas próximas horas não se atende o protesto campesino, eles, os indígenas, entrarão também a apoiar o protesto, fato que é muito interessante, devido ao importante que significa o movimento indígena no país e, igualmente, se conheceu por parte dos campesinos e setores sociais do Catabumbo que estão dispostos a regressar aos protestos e somar-se à paralisação”.


No que diz respeito à solidariedade internacional, especialmente europeia, Eberto Díaz disse que “se necessita, em forma urgente, que os governos amigos exijam do governo colombiano sentar-se a dialogar numa mesa de caráter nacional com as organizações que convocaram esta paralisação social, e as organizações irmãs dirigirem-se às embaixadas da Colômbia com a lista que apresentamos através da MIA, exigindo um imediato diálogo com os manifestantes, escrever à presidência da Colômbia, exigindo o diálogo e não a repressão contra os manifestantes, é hora de que internacionalmente nos apóiem desde todas as partes do mundo”.


O dirigente de Fensuagro disse que têm sido tantas as arbitrariedades e violações dos DDHH, que criaram uma comissão em tal sentido, a qual está trabalhando com vistas a apresentar as respectivas denúncias internacionais ante a ONU e aos diferentes escritórios de DDHH em Genebra, Suíça, e a OMCT, a fim de mostrar como estão sendo violados os DDHH por parte da força pública, a qual ataca moradias e localidades onde há crianças, mulheres grávidas e deficientes físicos; sem que estes estejam nas manifestações, de todas as formas estão sofrendo a repressão do Estado colombiano.


Desde a MIA, novamente fazemos um chamado ao governo nacional para que detenha as violações aos direitos humanos que se vêm apresentando em todo o país. Se está disparando aos manifestantes com balas de fuzil, se retêm ônibus ilegalmente, se recenseia a comunidades inteiras por parte do exército; reiteramos ao presidente Santos que estamos em disposição de estabelecer o mais rápido possível um cenário de diálogo com nossos porta-vozes para abordar os seis pontos do nosso rol nacional, buscando diversas fórmulas que permitam chegar a acordos e superar a grave crise que afeta nosso país”, reiterou Eberto Díaz.


Por sua vez, Juan Carlos Quintero, porta-voz da Associação de Campesinos do Catatumbo [Ascamcat], ameaçou com a possibilidade de que retomem sua paralisação. O dirigente disse que, continuando as erradicações de cultivos ilícitos que vêm se realizando nas zonas rurais da região, os lavradores se uniriam à paralisação agrária nacional. O Catatumbo foi cenário de uma violenta paralisação de várias semanas, que deixou vários campesinos assassinados pela força pública, uma centena de feridos e detidos e obrigou o governo a sentar-se a negociar.