Agosto 22. Colômbia Resiste! Quarto dia de paralisação agro-mineira, de transporte, saúde e social Paralisação é irrefreável, apesar de repressão oficial e tentativas de dividir, negociando em separado
Eliecer
Jiménez Julio. Genebra, Suíça.
Uns
200 mil campesinos, transportadores e mineiros mobilizados, 50 mil
caminhões paralisados em 27 departamentos [estados], mais de 30
rodovias bloqueadas, um morto, 50 feridos, 100 detidos e com a
possibilidade de que os Indígenas do Cauca e os campesinos da região
do Catatumbo se somem nas próximas horas ao protesto, é o balanço
que se apresenta na Colômbia durante o quarto dia da paralisação
agro-mineira, de transportadores e de setores sociais, como a saúde.
Pelo
menos sete setores conectados com a agricultura participam na
paralisação nacional que começou nesta segunda-feira 19, à qual
se somaram os transportadores de carga, professores e trabalhadores
dedicados à pequena mineração; ao protesto se uniram os
cultivadores de café, cacau, algodão, batata, arroz e milho, entre
outros. Ademais dos produtores de lácteos, que pedem apoio oficial
para superar a crise social neste país sul-americano.
A
situação de ataques da força pública colombiana e suas
instituições contra os manifestantes em estado de indefensabilidade
é tão grosseira, de conduta delituosa e violadora dos DDHH, que as
Forças Armadas disparam desde os helicópteros, incendeiam
propriedades dos campesinos, como os registrados no Norte do Estado
do Cauca, Corregedoria de El Cairo, Município de Cajibio. O
Instituto de Bem-Estar Familiar ameaçou os campesinos pais de
família com crianças de tirar-lhes a pátria potestade porque estão
com seus filhos nos protestos, como ocorreu a 20 de agosto perto de
Barrancabermeja, ponto conhecido como Expoeventos, e até os produtos
agrícolas como mandioca, banana-da-terra, banana etc, cultivados
pelos próprios campesinos, são roubados ostensivamente e pela força
por parte da polícia colombiana, sob o argumento de que devem ser
confiscados no protesto.
Eberto
Díaz, Presidente da Federação Sindical Unitária Agropecuária,
FENSUAGRO, e dirigente da Mesa de Interlocução e Acordo Nacional do
setor agrário e popular em diálogo para os meios de comunicação
europeus, disse: “A paralisação agrária, mineira, de
transportadores e da saúde, vem somando uma importante força social
e se converteu em irreprimível, já que, apesar da forte
militarização e repressão que tem havido em todas as regiões da
Colômbia com o exército e a polícia através do ESMAD, os
campesinos conseguiram ultrapassar essas barreiras e podemos dizer
que há mais de duzentos mil lavradores acampados às margens das
estradas, outros com bloqueios nas rodovias, aos quais se somaram
mais de 50 mil caminhoneiros que pararam voluntariamente; neste
sentido, a paralisação, contrariamente ao que dizia o governo que a
mobilização seria insignificante, sem importância, e a desconheceu
desde o momento em que radicamos a relação de exigências, não se
lhe viu, nem deu a vontade de dialogar e hoje os campesinos seguem
ali neste quarto dia, e tudo deixa ver que o protesto continuará
indefinidamente, apesar da repressão”.
Indicou
o dirigente agrário que “desde os helicópteros do exército e da
polícia vêm disparando gases e balas contra os manifestantes, o que
deixou como resultado um motociclista assassinado em Boyacá, o qual
foi impactado no peito por um artefato que continha gases
lacrimogêneos quanto este transitava pela via numa moto, há mais de
cinquenta feridos, alguns de forma grave, e cem detidos, com o qual
se demonstra que o Estado colombiano está desconhecendo o direito
constitucional às liberdades de mobilização, expressão,
organização etc e é o único responsável pelos enfrentamentos que
houveram pela provocação da força pública e agressão destes
contra os manifestantes”.
O
protesto, que se origina pela negativa do governo nacional de
estabelecer um cenário de diálogo com as organizações sociais que
permitam superar a grave crise que afronta o campo colombiano,
produto da aprovação e implementação dos Tratados de Livre
Comércio [TLC], a altíssima e ilegal concentração da terra, o
desconhecimento dos direitos políticos do campesinato, as
arbitrariedades da força pública e o desenvolvimento de uma
política mineira-energética que favorece as grandes multinacionais
em detrimento de nossa natureza e das comunidades rurais, o que tem
empobrecido o campo acima dos 70% do campesinato, levaram os setores
agrários, de trabalhadores da saúde e transportadores a desenvolver
a paralisação nacional agrária e popular que começou no dia 19 de
agosto.
Apesar
do desalojamento realizado pela força pública em algumas estradas
da Colômbia, em regiões como Boyacá, Caldas, Risaralda, Meta,
Arauca, Cauca, Caquetá, Huila, Nariño, em Ituango, Antioquia, os
Santanderes, em Cundinamarca, a via para Villavicencio, entre outras,
heroicamente campesinas e campesinos mantêm muitos bloqueios e é
onde mais fortemente se sente a paralisação. Porém, em geral, há
uma tensa situação devido aos enfrentamentos que há com o exército
e o Esmad, já que a única forma de fazer-se ouvir os campesinos é
bloqueando as vias, confirmou Eberto Díaz, dirigente de Fensuagro,
quem revelou que em diferentes cidades do país numerosos grupos de
estudantes, especialmente das Universidades Nacional e Distrital em
Bogotá e Santander, têm realizado atos de protesto em solidariedade
com os campesinos e a paralisação agrária, assim como outros
setores sociais colombianos.
O
dirigente disse que: “se a paralisação segue e se demora, é
culpa do governo, do Estado e suas instituições que não prestam
atenção aos campesinos e as organizações que convocaram esta
paralisação [por tempo] indefinido e hoje, sexta-feira, vamos
procurar dialogar com alguns parlamentares a fim de buscar abrir as
portas do governo ao diálogo nacional e de negociação, já que nós
estamos dispostos mas o Estado não, que persiste em que se façam
mesas estaduais para seguir cobrindo os graves problemas do campo com
água morna, e nós dissemos que o problema é estrutural, e como tal
há que dar-lhe soluções de imediato, pondo em marcha políticas
efetivas dirigidas a solucionar a crise do campo e da propriedade da
terra, onde mais de um milhão de famílias campesinas não possuem a
propriedade da mesma, o reconhecimento das Zonas de Reserva
Campesinas, que é a lei 160/94, a ampliação dos redutos indígenas,
territórios afrodescendentes, e territórios interétnicos e
pluri-étnicos e que permita à sociedade rural viver
articuladamente, que os direitos campesinos aprovados pela ONU no ano
anterior se ponham em vigência e, igualmente, o investimento social
em água, educação, saúde, moradia, serviços básicos etc.
Eberto
Díaz, da Mesa de Interlocução e Acordo Nacional do setor agrário
e popular, MIA, disse que, como a luta social na Colômbia é muito
dinâmica, os indígenas do Cauca disseram que, se nas próximas
horas não se atende o protesto campesino, eles, os indígenas,
entrarão também a apoiar o protesto, fato que é muito
interessante, devido ao importante que significa o movimento indígena
no país e, igualmente, se conheceu por parte dos campesinos e
setores sociais do Catabumbo que estão dispostos a regressar aos
protestos e somar-se à paralisação”.
No que
diz respeito à solidariedade internacional, especialmente europeia,
Eberto Díaz disse que “se necessita, em forma urgente, que os
governos amigos exijam do governo colombiano sentar-se a dialogar
numa mesa de caráter nacional com as organizações que convocaram
esta paralisação social, e as organizações irmãs dirigirem-se às
embaixadas da Colômbia com a lista que apresentamos através da MIA,
exigindo um imediato diálogo com os manifestantes, escrever à
presidência da Colômbia, exigindo o diálogo e não a repressão
contra os manifestantes, é hora de que internacionalmente nos apóiem
desde todas as partes do mundo”.
O
dirigente de Fensuagro disse que têm sido tantas as arbitrariedades
e violações dos DDHH, que criaram uma comissão em tal sentido, a
qual está trabalhando com vistas a apresentar as respectivas
denúncias internacionais ante a ONU e aos diferentes escritórios de
DDHH em Genebra, Suíça, e a OMCT, a fim de mostrar como estão
sendo violados os DDHH por parte da força pública, a qual ataca
moradias e localidades onde há crianças, mulheres grávidas e
deficientes físicos; sem que estes estejam nas manifestações, de
todas as formas estão sofrendo a repressão do Estado colombiano.
“Desde
a MIA, novamente fazemos um chamado ao governo nacional para que
detenha as violações aos direitos humanos que se vêm apresentando
em todo o país. Se está disparando aos manifestantes com balas de
fuzil, se retêm ônibus ilegalmente, se recenseia a comunidades
inteiras por parte do exército; reiteramos ao presidente Santos que
estamos em disposição de estabelecer o mais rápido possível um
cenário de diálogo com nossos porta-vozes para abordar os seis
pontos do nosso rol nacional, buscando diversas fórmulas que
permitam chegar a acordos e superar a grave crise que afeta nosso
país”, reiterou Eberto Díaz.
Por
sua vez, Juan Carlos Quintero, porta-voz da Associação de
Campesinos do Catatumbo [Ascamcat], ameaçou com a possibilidade de
que retomem sua paralisação. O dirigente disse que, continuando as
erradicações de cultivos ilícitos que vêm se realizando nas zonas
rurais da região, os lavradores se uniriam à paralisação agrária
nacional. O Catatumbo foi cenário de uma violenta paralisação de
várias semanas, que deixou vários campesinos assassinados pela
força pública, uma centena de feridos e detidos e obrigou o governo
a sentar-se a negociar.