Comandante Pastor Alape, FARC-EP: “Acreditamos na imensa capacidade de mobilização do povo para impor a saída política ao conflito”.
No
mês de junho passado, o comandante Pastor Alape, integrante do
Secretariado Nacional das FARC-EP, concedeu ao diário alternativo
Periferia
a entrevista que lerão a seguir. Em poucas linhas, o comandante
Alape expõe ao país sua visão sobre os Diálogos de Paz que
adianta nossa organização, ao mesmo tempo em que ratifica a unidade
das FARC-EP e sua inflexível vontade política em torno da busca da
paz e da reconciliação para os colombianos.
Concebemos como um processo de busca da solução política, onde o porto de chegada obrigatoriamente tem que ser um tratado sério, que limpe os caminhos da reconciliação e da reconstrução da nação, para construir a paz com justiça social.
Estamos dispostos a fazer o necessário para que possamos, em união de todos os anseios de paz que se manifestam poderosamente no país, construir uma nova esperança para a pátria, que permita aos oprimidos enterrar a injustiça, a desigualdade, o terror e a violência secular impostos pelas elites governantes.
O desmonte de todos os mecanismos de terror para-institucional que o regime implementou para aniquilar a oposição política; participação efetiva em igualdade de condições de todas as forças políticas nos mecanismos comunicacionais; estabelecer um novo regime eleitoral que garanta a participação de todos os setores políticos em igualdade de condições e erradique os vícios e a corrupção que caracterizam o vigente; desmonte da doutrina de segurança do Estado e que se proscreva a concepção do inimigo interno, que se descriminalize e se descriminalize o protesto social e o direito a fazer oposição.
A construção do caminho da paz está na dependência da capacidade de mobilização da nação para obrigar os promotores da guerra a abrir as portas da paz. O governo tem defendido na mesa sua estratégia de paz dentro do esquema de submissão e desmobilização da insurgência, porém, na medida em que o diálogo avança, pudemos conquistar acordos no primeiro ponto, no que tem que ver com a terra e o mundo da ruralidade.
Acreditamos na imensa capacidade de mobilização do povo para impor a saída política ao conflito, acreditamos que a mobilização de todos os colombianos obrigará o regime a manter-se no caminho da solução política. Todas as saídas de ordem militar para aniquilar a insurgência fracassaram e seguirão fracassando, a guerra não é o caminho para abafar o inconformismo que ascende diariamente, já é hora de parar a guerra e passar para a arquitetura da paz com justiça social.
O combatente guerrilheiro cresce moralmente na confrontação, no sacrifício, e se se chegará a impor a vontade das poderosas minorias, que se alimentam do conflito, sobre as maiorias, que o padecem, a lógica insurgente se disparará para reafirmar que a esta oligarquia colombiana não a abandona a mesquinharia, que só lhe interessa aprofundar a barbárie. Porém, acima de qualquer adversidade, seguiremos desenvolvendo nossas ações em direção a conquistar a paz, não pararemos nesse esforço, porque é o clamor que recolhemos na interlocução com o povo.
A guerrilha é uma força revolucionária em constante crescimento de experiências políticas e transformação operativa e organizacional. É uma força que assimila radicalmente, revolucionariamente, seus erros e aprofunda em seus acertos, que se apega às esperanças das massas e responde a elas, que aprende a lutar com o povo e assume com humildade a crítica e a contribuição desse povo, que politicamente responde aos anseios de todos os despossuídos da Colômbia.
Simples. Um país onde o povo possa viver sem a preocupação constante de que vai ser detido, encarcerado, torturado ou assassinado porque pensa diferente dos governantes, ou ser ameaçado e deslocado da terra porque há poderosos que querem se beneficiar dela. Um país onde se viva sem a incerteza do que será o café da manhã porque não há um centavo no bolso, ou onde vai abrigar a família porque não tem moradia.
O movimento social e popular tem desafios muito grandes porque é quem, na prática, tem o poder para produzir as mudanças que a Colômbia necessita, porque representa os setores que sentem o peso do conflito em seus ombros, em sua existência diária, é quem enfrenta o terror das políticas econômicas, jurídicas e sociais que aplicam os diferentes governantes. Sua unidade e mobilização será uma das forças que permitirão avançar para uma paz verdadeira.
O movimento social e popular tem sua própria dinâmica e a formidável experiência que acumulou certamente lhe irá mostrando a urgente necessidade de tomar rotas de maior coordenação e unificação para uma poderosa frente contra o modelo imperante. Sempre respeitamos suas decisões, que quase sempre são guia de nosso quefazer político.
Os companheiros têm sua própria experiência e compromisso de luta pela paz e não irão ficar de braços cruzados. Eles estão desenvolvendo sua própria dinâmica e certamente executarão as ações necessárias para que o processo chegue a um ponto de encontro. Nosso compromisso também vai nessa direção, porque a verdadeira paz terá que ser com todas as forças que confrontamos com o regime, do contrário a nação não alcançará o objetivo.
A unidade nas FARC-EP é uma realidade inquestionável. A mentira de umas FARC atomizadas só está nos desejos da oligarquia.
Todas as nossas energias, experiências e iniciativas estão à disposição da construção de uma nova nação. Nosso empenho é marchar com os marginalizados de sempre, os democratas e revolucionários, intelectuais, comunicadores, campesinos e trabalhadores da cidade e do campo, as mulheres e a juventude para a reconciliação e a reconstrução nacional. Estamos acompanhando todos os colombianos que se somam a todas as manifestações pela paz com justiça social que percorre o país, esperançados em que é possível sair desta longa e obscura noite de violência que nos impuseram os poderosos e convidamos a quem não se manifestou a fazê-lo com todas as energias que a pátria reclama.
Agência de Notícias Nova Colômbia, ANNCOL
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