"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O que Santos não queria. Realidades sobre a Mesa em La Habana. Tudo indica que não haverá entrega em troca de nada.


Por Timoleón Jiménez Sexta-feira 23 de agosto de 2013



O Presidente Santos não perde oportunidade para manipular. Ao fim e ao cabo, se trata de um homem de negócios surgido do mundo dos grandes meios de comunicação, acostumado a tergiversar e menosprezar os pontos de vista contrários. Não teve escrúpulos para afirmar, ante a cúpula militar, que o comandante das FARC-EP havia escrito queixando-se porque o consideraram objetivo de alto valor. Lá, ele.


Deste lado, nunca recorremos à distorção do dito pelo Presidente, preferimos interpretá-lo em seu exato significado. Quem tenha lido o escrito de Timoleón Jiménez sabe bem que o que este criticou foi a pública ordem presidencial de executar a qualquer membro das FARC que se encontre em território colombiano. O Presidente não pode emitir ordens de matar compatriotas apenas sejam vistos, porque a pena de morte está proscrita no país. Ademais, tal ordem resulta demasiado perigosa quando o próprio Presidente, seus ministros e generais vivem acusando diariamente aos dirigentes populares e de oposição de serem membros das FARC.


O Presidente autorizou publicamente a execução de uma inumerável quantidade de colombianos inconformados com suas políticas, o qual coincide com sua advertência ao alto comando militar a ser contundente com os que promovam desordens nas vias públicas. É que, assim, ainda que custe a alguns admiti-lo, com esse ar de aparente sensatez e apego à legalidade, as classes dominantes em Colômbia levam decênios ordenando assassinatos, deslocamentos, desaparecimentos, torturas, ameaças e paralisia política por causa do medo.


O próprio Santos reconhecia que, com sua designação por Gaviria como ministro de Comércio Exterior, lhe foi ordenado abrir a economia. Desde então, seu empenho tem sido materializar em nosso país o desígnio globalizador neoliberal: livre comércio total, abertura plena ao investimento estrangeiro, privatização das entidades públicas, entrega de nossas riquezas naturais ao grande capital transnacional, precarização das condições laborais dos trabalhadores e endividamento crescente com a banca internacional.


Assim que a oligarquia colombiana não nega, senão que se ufana de haver assumido como própria a estratégia de dominação planetária do grande capital, que, como todo mundo vê, conduz imensas populações à mais angustiante crise social, ao desastre ambiental, à guerra total de massacre dos povos, à hecatombe nuclear e até a uma vislumbrada extinção da espécie humana. A esse projeto vinculam todos os seus mecanismos de dominação, desde a educação pública até a grande imprensa, passando por seus aparelhos armados e de lei.


A Prosperidade para Todos não é outra coisa que a versão colombiana das imposições do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial, da OMC e todos os grupos de poder que os inspiram, como o famoso Bilderberg ou a Comissão Trilateral. As locomotivas mineira, agroindustrial, de infraestrutura, habitação e ciência, longe de procurar o bem-estar dos colombianos, estão concebidas para garantir a penetração, o apoderamento e controle pleno do país pelos poderes internacionais do capital financeiro mundial.


Com os quais se encontram entrelaçados os mais importantes grupos econômicos nacionais. São eles os que crescem e aumentam sua riqueza à sombra dos investimentos estrangeiros. Enquanto Santos, como um generoso Rei Midas que transforma em ouro tudo quanto toca, fala de que suas políticas tiraram milhões de colombiano da miséria e da pobreza, ademais de levar-lhes alimentos, educação, saúde, moradia, emprego formal e substanciais oportunidades de prosperidade, a gente de carne e osso toma as rodovias e as praças, reclamando atenção e justiça.
O recurso presidencial consiste em assinalar que não há reais razões para que o povo proteste. Seu governo está fazendo tudo quanto pode fazer-se por ele. E não descarta que os protestos sejam, na realidade, artimanhas usadas por pessoas interessadas em semear o caos, como ocorre com as guerrilhas ou alguns personagens da oposição. Apesar disso, afirma que respeita o direito ao protesto e a discordância. Claro, sempre que se assemelhe a um choro ante o muro das lamentações, um pranto incapaz de pressionar qualquer mudança em suas políticas.


Agora, mais que nunca, está claro que têm sido os desígnios do grande capital para a Colômbia os que têm exigido pôr fim de modo definitivo ao conflito. Para a execução de seus planos no país e no resto do continente, torna-se imperativo remover do caminho essa mula morta da qual fala Santos. Este tem assumido, ajuizado, sua tarefa, terminar com o conflito pelo bem ou pelo mal. Ali entra a jogar seu papel pela via do diálogo e das conversações. Como ao povo, à guerrilha também haverá que dar-lhe a oportunidade de chorar suas penas.


Por isso, a Mesa. Para que reclamem em voz baixa e mansamente quanto queiram. Ainda que não se lhes aceite nem conceda nada do que propõem. A comunidade internacional, isto é, os Estados Unidos e a Europa Ocidental, estão dispostos a aceitar que a guerrilha desmobilizada seja beneficiária de uma justiça transicional, que a deixe finalmente numa liberdade precária, porém anulada em matéria política. Nisso consistiria o Acordo, um perdão relativo em troca da omissão guerrilheira à globalização neoliberal para Colômbia.


O primeiro ponto da Agenda, sobre política agrária integral, aparece como firmado com algumas ressalvas que se definirão mais adiante. Essas ressalvas são todas as objeções que as FARC têm posto aos planos do grande capital para converter o território colombiano em seu grande doador de recursos mineiros, biológicos, agroindustriais e alimentares, à custa da propriedade e da tranquilidade dos pequenos e médios produtores agrícolas, pecuários e mineiros, assim como das comunidades negras e indígenas.


Tampouco pensa Santos ceder um milímetro em matéria de democratização da vida nacional, o segundo ponto da Agenda. Quando discursa que não está negociando o Estado, nem o modelo econômico, nem o sistema político, nem o setor privado, o faz para tranquilizar ao grande capital atento por qualquer fragilidade na Mesa. Tranquilos, que aqui não vai mudar nada. Só se trata de dar-lhes a última oportunidade aos bandidos para que se desarmem e componham sua vida futura ao calor de nossas sagradas instituições.


Se não o fazem, como disse recentemente, elas serão as primeiras danificadas, também politicamente, como ocorreu nos processos anteriores. Ainda que o Presidente creia jogar com cartas marcadas e certo de ganhar, está nervoso. Promete e mente, ameaça e mente. Enquanto isso, um país do qual não gosta, que não se parece ao Londres com que sonha, sai às ruas a exigir mudanças, a enfrentar a autoridade, a reclamar por políticas diferentes. As mesmas pelas quais as FARC levamos meses discutindo na Mesa de La Habana. O que Santos não queria.


Timoleón Jiménez
Comandante do Estado-Maior Central das FARC-EP
22 de agosto de 2013.