50 anos de Resistência!
Levantamos hoje nossa palavra, com a
força do amor a favor da reconciliação nacional e, em especial, da
unidade de nossos povos submetidos durante décadas ao poder cruel
das oligarquias.
Nossa voz emerge para chamar, com
sentimentos de fraternidade e esperança, as organizações sociais,
políticas e populares em geral, as comunidades afro-colombianas,
camponesas e urbanas castigadas pela miséria, as igrejas, os jovens
e estudantes, as mulheres, o movimento LGBTI, as camadas médias, os
acadêmicos e especialmente os povos indígenas, para além das
dificuldades ou desencontros que houvéssemos tido em qualquer tempo
e lugar, a empreender com mais determinação do que nunca, a marcha
pela unidade pelas transformações radicais que a pátria nos
reclama para rumar pelo caminho da paz com justiça social, em que
todos encontremos o cenário de abrigo que nos permita o bem
viver e a concórdia.
Com sinceridade e profundo sentimento
de alteridade, as FARC-EP clamam pela unidade popular e pela defesa
da pátria hoje, a partir de uma circunstância em que, com
convencimento, assumimos um processo de diálogo pela paz pensando em
um destino melhor para a Colômbia: fato que, por ser anelo das
maiorias, é causa que deveremos defender como uma só força de
mudança.
Necessário é dizer que a paz é o
direito síntese que está acima de tudo. Se não há paz não há
nada; nem sequer país. A segurança uribista (do ex-presidente
Uribe, 2002-2010) é um ardil que só acentua o caos. Não pode haver
segurança para todos sem paz.
Queremos ressaltar a importância e o
compromisso que revestem propósitos necessários, como o de
encontrar a coincidência política dos setores populares e sua
unidade em função da defesa do processo de diálogo para a
consecução da paz com justiça social, que beneficie o conjunto da
nação. Este "pòr-se de acordo" em função da paz dá
início a um caminho de mudança, de aproximação, de portas abertas
para dar cabida a todos na sociedade e nas instituições. Abrir-se
ao diálogo para encontrar a verdade, a justiça integral e conseguir
a paz após setenta anos de violência, impulsiona com maior vigor a
marcha sem parar do processo constituinte que estamos aspirando.
Vem sendo construindo um processo
constituinte após se tornar evidente a necessidade de superar a
crise da justiça, das regiões, da terra e do território, dos
recursos naturais não renováveis e do meio ambiente, dos órgãos
de controle, do congresso nacional. Torna-se necessário, então, um
ponto de encontro que vá além dos diálogos de Havana. Esta
dinâmica deve transcender para a materialização de um grande
acordo nacional que dê vida à Assembleia Nacional Constituinte,
porque nesta instância histórica do pluralismo e do
pluriculturalismo, a Constituição deve ser um acordo de convivência
que interprete cabalmente o tempo presente; deve conter, igualmente,
a alma requerida para desenvolver a necessária capacidade
institucional que aposte por assimilar, com sabedoria os tempos que
estão por vir.
Mas esta missão é de todos filhos e
filhas da Colômbia e requer da opinião e do protagonismo de cada
setor da sociedade. Consequentemente, chamamos as organizações
sociais e populares a se expressarem. a que intercambiemos em torno
de como deve ser o rumo a seguir em função desta causa. Vocês têm
a palavra.
Nossa contribuição de início é
expressar que, no caminhar constituinte que felizmente teve início
para não ser interrompido, o sentimento pluricultural, os diversos
povos indígenas e afro-colombianos, as múltiplas expressões
sociais, como as organizações camponesas, estudantis do campo e da
cidade, trabalhadores e patrões, movimentos políticos, setores
informais da economia, crentes religiosos, não crentes e demais
componentes do tecido nacional, devem ocupar desde já seu lugar, sem
timidez alguma. Eventualmente, haverá que se aplicar a lei pela qual
se convoca a sonhada Constituinte. Tal lei teria a faculdade
constitucional de indicar a composição que haverá de ter essa
Assembleia. Cabe na norma estabelecer circunscrições especiais para
dar cabida a comunidades que devem ter presença em seu seio, com
urgência social e sentido de paz. Tal é o caso dos povos indígenas
e afro-colombianos e outros setores historicamente submetidos.
As FARC-EP é feitura de povo e, como
tal, enfatiza seu sonho para que essa construção de unidade se
multiplique em cada cenário de interlocução das organizações
populares, tornando causa comum, por exemplo, na luta pelo
reconhecimento das Zonas de Reserva Camponesa já estabelecidas na
lei, na concretização do respeito aos territórios ancestrais
indígenas e na consolidação de suas reservas, no realce dos
territórios comunitários das negritudes e dos direitos da gente que
fazem convergir sua existência nas zonas de realidade interétnica e
interultural. Cada povo e cada comunidade devem garantir seu direito
à terra e ao território em apoio mútuo, macomunadamente que, ao
mesmo tempo que reconheça os direitos dos camponeses, reafirme os
direitos adquiridos dos povos indígenas e afro-colombianos e
ofereça, por fim, possibilidades de existência digna aos
depauperados que habitam no campo e na cidade, no entendimento
de que a pátria é de todos e é contra a depredação das
transnacionais e das burguesias locais que devemos defendê-la a
partir do mais profundo do nosso ser indígena, de nosso ser negro,
de nosso ser mulato, de nosso ser mestiço e mameluco vilipendiado e
que grita com o peito aberto: já basta de tanta exploração!
Com a fé absoluta na integração e
unidade dos nossos povos, com o fortíssimo ideal emancipatório que
é o "macro cosmo da raça humana", com o imparável
caminhar constituinte, com total compromisso e esperança na paz,
deixamos os braços abertos para estreitarmos com os nossos irmãos
no convite e na minga da unidade para a ação que nos
liberte.
DELEGAÇÃO DE PAZ
DAS FARC-EP