MENSAGEM AOS POVOS INDÍGENAS, COMUNIDADES AFROCOLOMBIANAS, CAMPESINAS, URBANAS E POPULARES, E ÀS IGREJAS E MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS
Levantamos
hoje nossa palavra, com a força do amor em favor da reconciliação
nacional e em especial da unidade de nossos povos submetidos durante
décadas ao poder cruel das oligarquias.
Nossa
voz emerge para chamar com sentimentos de fraternidade e esperança
às organizações sociais, políticas e populares em geral, às
comunidades afrocolombianas, campesinas e urbanas açoitadas pela
miséria, às igrejas, aos jovens e estudantes, às mulheres, ao
movimento LGBTI, às camadas médias, aos acadêmicos, e
especialmente aos povos indígenas, mais além das dificuldades ou
desencontros que houvéssemos tido em qualquer tempo e lugar, a
empreender com mais determinação que nunca a marcha pela unidade em
favor das transformações radicais que a pátria nos reclama para
rumar pelo caminho da paz com justiça social, no qual todos e todas
encontremos o cenário de abrigo que nos permita o bem viver e a
concórdia.
Com
sinceridade e profundo sentimento de alteridade, as FARC-EP clamam
pela unidade popular e a defesa da pátria hoje, desde uma
circunstância em que, com convencimento, assumimos um processo de
diálogo pela paz, pensando num melhor destino para a Colômbia; fato
que, por ser anseio das maiorias, é causa que deveremos defender
como uma só força de mudança.
Necessário
é dizer que a paz é o direito síntese que está acima de tudo. Se
não há paz não há nada; nem sequer país. A segurança uribista é
um embuste que só acentua o caos. Não
pode haver segurança para todos sem paz.
Queremos
ressaltar a importância e o compromisso que revistem propósitos
necessários, como o de encontrar a coincidência política dos
setores populares e sua unidade em função da defesa do processo de
diálogo para a consecução da paz com justiça social, que
beneficie ao conjunto da nação. Este “pôr-se de acordo” em
função da paz inicia um caminho de mudança, de aproximação, de
portas abertas para dar lugar a todos na sociedade e nas
instituições. Abrir-se ao diálogo para encontrar a verdade, buscar
a justiça integral e alcançar a paz após setenta anos de violência
impulsiona com maior vigor a marcha sem interrupção do processo
constituinte que estamos respirando.
Vem se
construindo um processo constituinte após fazer-se evidente a
necessidade de superar a crise da justiça, das regiões, da terra e
do território, dos recursos naturais não renováveis e do meio
ambiente, dos órgãos de controle, do congresso nacional. Se faz
necessário, então, um ponto de encontro que vai mais além de
Havana. Esta dinâmica deve transcender para a materialização de um
grande acordo nacional que dê vida à Assembleia Nacional
Constituinte, porque nesta instância histórica do pluralismo e do
pluriculturalismo a Constituição deve ser um acordo de convivência
que interprete cabalmente o tempo presente; deve igualmente conter a
alma requerida para desenvolver a necessária capacidade
institucional que aposte a assimilar com sabedoria os tempos que
estão por vir.
Porém,
esta missão é de todos os filhos e filhas da Colômbia, e requer a
opinião e o protagonismo de cada setor da sociedade.
Consequentemente, chamamos as organizações sociais e populares a se
expressarem, a que intercambiemos em torno a como deve ser a direção
a seguir em função desta causa. Vocês
têm a palavra.
Nossa
contribuição de início é expressar que, no andar constituinte que
felizmente se iniciou para não ser interrompível, o sentimento
pluricultural, os diversos povos indígenas e afrocolombianos, as
múltiplas expressões sociais como as organizações campesinas,
estudantes do campo e da cidade, trabalhadores e patrões, movimentos
políticos, setores informais da economia, crentes religiosos, não
crentes e demais componentes do tecido nacional, devem ocupar desde
já seu lugar sem timidez alguma. Eventualmente, haverá que
aplicar-se a lei pela qual se convoca a desejada Constituinte. Dita
lei teria a faculdade constitucional de assinalar a composição que
haverá de ter essa Assembleia. Cabe na norma estabelecer
circunscrições especiais para dar espaço a comunidades que devem
marcar presença em seu seio com urgência social e sentido de paz.
Tal é o caso dos povos indígenas e afrocolombianos e outros setores
historicamente submetidos.
As
FARC-EP são feitura de povo, e como tal enfatiza seu anseio para que
essa construção da unidade se multiplique em cada cenário de
interlocução das organizações populares, fazendo causa comum, por
exemplo, na luta pelo reconhecimento das Zonas de Reserva Campesina
já estabelecidas na lei, na concretização do respeito aos
territórios ancestrais indígenas e a consolidação de seus
redutos, no realce dos territórios comunitários das negritudes e
dos direitos das gentes que fazem convergir sua existência nas zonas
de realidade interétnica e inter cultural. Cada povo e cada
comunidade devem intensificar seu direito à terra e ao território
em mútuo apoio, em mancomunação que, ao tempo que reconheça os
direitos dos campesinos, reafirme os direitos adquiridos dos povos
indígenas e afrocolombianos, e brinde, enfim, possibilidades de
existência digna às pobrezas que habitam o campo e a cidade, no
entendido de que a pátria é de todos e é contra a depredação
transnacional e das burguesias locais que devemos defendê-la desde o
mais profundo de nosso ser índio, de nosso ser negro, de nosso ser
mulato, de nosso ser mestiço e cafuzo vilipendiado que grita com o
peito aceso, já basta de tanta humilhação, basta já de tanta
exploração.
Desde
a fé absoluta na integração e unidade de nossos povos, desde o
fortíssimo ideal emancipatório que é o “macrocosmos da raça
humana”, desde o irreprimível caminhar constituinte, com total
compromisso e esperança na paz, deixamos os braços abertos para
estreitar-nos com nossos irmãos no convite e na minga da unidade
para a ação que nos liberte.
DELEGAÇÃO
DE PAZ DAS FARC-EP