FARC insistem em Comissão da Verdade para esclarecer conflito armado
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Reforçando
suadisposição de avançar nos diálogos para a superação do
conflito armado colombiano, as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP) insistem na criação de uma
Comissão da Verdade para esclarecer a história do embate e
responsabilizar seus protagonistas. A guerrilha se inclina a
converter-se em partido político aberto, legal e inclusivo, com
vistas a alcançar um acordo de paz com o governo do país.
Desde novembro de 2012, o Estado
colombiano e as FARC estabelecem diálogos em Havana, capital de
Cuba, para buscar uma saída política que suplante o conflito
interno por que passa a Colômbia há mais de meio século. Em
informe emitido no último 29 de abril, dia do 14º aniversário do
Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia (braço político da
guerrilha), a delegação de paz da organização defendeu a
Comiss~´ao como um dos meios para reconciliação entre a força
clandestina e o poder institucional colombiano.
"Tal esclarecimento deverá
obrigar os distintos atores a reconhecerem suas responsabilidades e
pedirem perdão a toda a sociedade pelo dano causado nesse confronto
imposto pelo regime. De nossa parte, jamais, como gente do povo e
revolucionários que somos, evitaremos nossas responsabilidades”,
garantiu a guerrilha no informe. O grupo explica que a função da
Comissão teria não só efeito jurídico, como também faria relato
histórico com conclusões e efeitos políticos, estabelecendo-se
como um marco conceitual de uma nova conjuntura no país.
As FARC querem que a trajetória do
confronto seja reconstruída reconhecendo os impactos sobre a vida e
os direitos da população, e a participação dos atores sociais,
políticos e econômicos transnacionais. "Que geraram o conflito
e se serviram do mesmo. Através dele têm obtido benefícios”,
aponta.
O informe rechaça qualquer
atribuição de responsabilidade centralizada no próprio grupo:
"Pretender reduzir as origens e a história do conflito a
decisões ou determinações das FARC-EP ou de outras expressões
prévias da insurgência que apelaram ao direito à rebelião dos
povos contra as injustiças, reconhecido pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos, não é o caminho da reconciliação”.
Para as FARC, tal iniciativa deve
contribuir para fundar as bases e superar as condições e causas
sistêmicas que originaram e reproduziram a violência no país, além
de permitir reparação para as vítimas do conflito, provendo
garantias reais e materiais da não repetição.
A proposta foi apresentada ao governo
colombiano, bem como a diversos setores políticos, sociais,
acadêmicos, a vítimas do conflito e à população em geral. Até
agora, a iniciativa não foi bem recebida pelo governo, porém tem
sido respaldada por setores dos movimentos sociais do país.
Caso a proposta não seja acolhida
pelo Estado, as FARC cogitam suspender o diálogo com o governo.
Investigações prévias divulgadas em 2013 contabilizam 220 mil
assassinatos, 25 mil desaparecidos, 27 mil sequestrados e 5,7 milhões
de deslocados pelo fogo cruzado do conflito entre os anos 1958 e
2012.
A guerrilha das FARC é o movimento
de luta armada mais antigo e numeroso da América Latina. Operando
atualmente em diversas regiões da Colômbia, esse Movimento
guerrilheiro foi fundado em 27 de maio de 1964. Apoiados em ideais
marxista-leninistas e bolivarianos, afirmam que seu objetivo é
acabar com as desigualdades sociais, políticas e econômicas, a
intervenção militar e de capitais estadunidenses na Colômbia.