Mídia e oposição querem sangrar a Petrobras, a bem dos EUA
Dr Rosinha*
Para ser
bondoso e não pensar em coisa pior, prefiro dizer que há nos meios
de comunicações privados um imbróglio de informações sobre a
compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Digo "bondoso" porque sei que toda empresa privada, mesmo
as de mídia (rádios, TVs, jornais, revistas, etc.), tem interesses
políticos, econômicos, financeiros, comerciais, etc.
A compra
de Pasadena se tornou pauta da grande imprensa com o objetivo de dar
à oposição partidária, principalmente PSDB e PSB, um mínimo de
argumento (tinham quase nada) nas próximas eleições, muito embora
esse argumento contrarie os interesses nacionais e não se sustente
em um exame mais profundo.
E chamo de
imbróglio porque vou aqui usar livremente o artigo de Marcelo Zero,
que justamente assim designa todo esse assunto.
Na
realidade, a Petrobras sempre incomodou os conservadores do país.
Pudera. Nascida da histórica campanha nacionalista “o Petróleo é
nosso”, a Petrobras se converteu naquilo que os neoliberais
consideram praticamente uma impossibilidade: uma empresa estatal bem
sucedida e eficiente.
Ela é um
acabado contraexemplo das teses antiestatais e
antidesenvolvimentistas que sustentavam o fracassado paradigma
privatizante e liberalizante, cantado em prosa e verso pelo PSDB, DEM
e PPS, que ruiu no início deste século. Ruiu no Brasil graças aos
governos do PT, e na Europa e nos Estados Unidos, por ser um sistema
que sobrevive do (U$S) oxigênio do Estado.
A compra
da refinaria de Pasadena pela Petrobras não foi um negócio
equivocado; ela custou, ao todo, US$ 486 milhões e não US$ 1,18
bilhão; seu valor de aquisição, para a época, foi abaixo da média
de uma refinaria nos mesmos padrões; o negócio atendia ao
planejamento estratégico da companhia, definido ainda no governo
Fernando Henrique Cardoso; e sua compra foi aprovada pelo Conselho de
Administração da Petrobras, que entre seus membros contava com a
participação de Fábio Barbosa, presidente da Abril e ex-presidente
da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), de Jorge Gerdau,
presidente do Grupo Gerdau, e de Cláudio Haddad,
presidente-acionista da Ambev.
Numa
reunião, semanas atrás, da bancada do PT, o ex-presidente da
Petrobras, José Sérgio Gabrielli, de modo bastante seguro e
convincente, demonstrando a indignação dos injustiçados,
especificou, passo a passo, o cálculo que desmente que a empresa
belga Astra Oil tenha comprado a refinaria por US$ 42,5 milhões e
vendido para a Petrobras por US$ 1,18 bilhão.
Na
verdade, a Astra, quando comprou, pagou US$ 326,5 milhões, e a
companhia brasileira, quando adquiriu a refinaria, pagou US$ 486
milhões (190 milhões na primeira parcela e 296 milhões na segunda,
sendo essa última parcela arbitrada pela justiça americana quando
houve a separação da sociedade com a empresa belga Astra Oil).
Veja bem,
o preço real do negócio foi 40% do valor de US$ 1,18 bilhão
alegado pela oposição e pela mídia. O preço pago revela um índice
de custo da refinaria de 4.860 dólares por barril de capacidade de
processamento/dia, quando a média, à época, era bem acima de 9.734
dólares por barril, o que comprova que ela foi comprada abaixo do
valor de mercado.
Na mesma
reunião, Gabrielli disse ainda que a “cláusula Marlim” foi
considerada inválida pela Justiça dos Estados Unidos, na disputa
judicial entre a Petrobras e a Astra. E mais: que a cláusula do tipo
“Put Option” também não prejudicou a estatal, uma vez que se
trata de um acordo de divórcio. É uma cláusula normal quando se
refere a grandes negócios.
Esclareço:
a “cláusula Marlin” estabelece que a refinaria de Pasadena teria
que garantir 6,9% de rentabilidade mínima a um dos sócios (o grupo
Astra), independentemente dos resultados.
Já a
cláusula “Put Option” define regras para um acionista adquirir a
parte do outro. Trata-se de cláusula comum em processos de fusão
e/ou incorporação com dois ou mais sócios fortes. Consiste no
seguinte: (1) O sócio “A” oferece sua parte ao sócio “B”
por determinado valor. (2) O sócio “B” não tem o direito de
recusar. Mas tem a opção de comprar a parte do sócio “A” pelo
mesmo valor que lhe foi oferecido.
Portanto,
quem tomou a iniciativa de entrar na Justiça em 2008 foi a
Petrobras, que queria modernizar a refinaria. Em julho daquele ano, o
grupo Astra entrou contra a Petrobras alegando que tinha que ser
aplicada a “cláusula Marlin”. Assim, em 2012, a Justiça
americana concluiu que a “cláusula Marlin” não é válida e que
o cálculo seria feito a partir da “Put Option”, considerando os
termos do contrato original, dentro das condições econômicas da
época.
O contexto
que é desprezado pela oposição (PSDB, DEM, PSB e PPS) e pela mídia
consiste no fato de que o negócio foi afetado pelas mudanças no
mercado decorrentes da crise internacional de 2008 e do
aproveitamento do gás de xisto pelo mercado norte-americano. A
partir de 2007, tudo começou a mudar. No Brasil, houve as
descobertas das enormes jazidas do pré-sal, a maioria constituída
de óleo leve.
O consumo
de petróleo nos Estados Unidos caiu de um pico de 20,8 milhões de
barris/dia, em 2005, para 18,6 milhões, em 2012. O preço do
petróleo passou a aumentar mais do que o de derivados. No golfo do
México, as margens de refino despencaram, de 4,3% em 2005 para 3,9%
em 2006 e 4,1% em 2007, com taxas negativas entre 2008 e 2010.
O que
desejam a oposição (PSDB, DEM, PPS e PSB) e os entreguistas da
mídia é sangrar a Petrobras, a bem dos EUA. Querem transformar a
Petrobras em um ringue de disputas políticas partidárias
eleitorais, como querem os autoproclamados defensores da CPI. Até
porque são eles os mesmos que, quando governaram o país, fizeram de
tudo para privatizar a Petrobras.
(*) Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, é deputado federal pelo PT do Paraná.
(*) Dr. Rosinha, médico pediatra e servidor público, é deputado federal pelo PT do Paraná.