"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sábado, 10 de maio de 2014

Entrevista exclusiva com Iván Márquez e Jesús Santrich das FARC-EP


PIA, Havana – A seguir, publicamos uma entrevista da PIA Noticias com Iván Márquez e Jesús Santrich, das FARC-EP, à frente da delegação que participa dos Diálogos de Paz, que ocorrem em Havana, Cuba, entre a organização revolucionária e o governo da Colômbia.

Em seu encontro com a PIA, Iván Márquez, Membro do Secretariado das FARC-EP e Jesús Santrich, do Estado Maior Central, falaram do desenvolvimento e das perspectivas dos Diálogos de Paz, do papel de sua organização dentro do movimento popular da Colômbia e de Nossa América, da necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte, das estratégias do império, como a Aliança do Pacífico ou o negócio transnacional do narcotráfico, e do cenário de Nossa América pós-Chávez. 

Que avaliação vocês fazem dos diálogos de paz até o momento e quais são as suas perspectivas para o futuro?
Diversos temas de grande importância nacional, que estavam relegados ao esquecimento, foram colocados no primeiro plano de debate e nas mãos do movimento social e popular como bandeiras de luta. O balanço é muito positivo. Referimo-nos a assuntos como o da propriedade e uso da terra, o da exploração mineral-energética e a indústria extrativista, que tanto dano socioambiental está gerando, o do reordenamento territorial, o da reforma agrária e rural integral ou o assunto da reestruturação política e a democratização do país, por exemplo.
Não obstante, já no que concerne à criação de acordos, tendo esgotado quase três pontos da agenda, o que temos são construções parciais, que são de grande importância, porém, no momento, deixaram de resolver os aspectos essenciais que são necessários para poder obter um tratado de paz estável e duradouro. A título de ilustração, é possível dizer que não existe acordo sobre as proibições de latifúndio e a limitação à propriedade estrangeira da terra; não é apresentada, todavia, uma revisão da Doutrina de Segurança Nacional que, na Colômbia, permanece assinada pela concepção de inimigo interno, pela presença do paramilitarismo de Estado, e nem se definiram compromissos claros que nos indiquem um novo rumo para a economia nacional, alternativo às nefastas receitas neoliberais que, a cada dia, geram mais misérias nas maiorias.
Nós estamos esperançosos que a participação cidadã, com o protagonismo do povo nestas discussões, a partir da convocatória de uma Assembleia Nacional Constituinte, supere todas estas lacunas.
Como vocês veem o movimento popular na Colômbia e qual é o lugar das FARC-EP?
Apesar da guerra suja e do terrorismo de Estado que há décadas vitimiza o movimento popular, sem dúvida este deu mostras de uma valentia e de uma capacidade de reorganização sem limites. O país está cheio de pobreza e desigualdade, assim como repleto de repressão, desaparecimentos forçados, prisões políticas, terra arrasada e deslocamento nos campos, massacres, falsos positivos e incontáveis fossas comuns, produto da criminalidade sistemática e persistente do Estado contra a inconformidade e as exigências das pessoas comuns. E ainda assim, com o protesto social criminalizado, recebendo um tratamento de ordem pública militarizada e belicista, a Colômbia vem estremecendo constantemente pela ação das massas nas ruas e estradas, por sua presença cada vez mais coesa e politizada em função das transformações radicais reivindicadas, pela luta por restauração da soberania, democracia e justiça social. Podemos dizer, em síntese, que o movimento social e popular é pulsante e promissor, e nele, o papel das FARC-EP é o de coadjuvante, tendo o propósito de unir e contribuir fundamentalmente com as abordagens políticas. Nosso influxo sobre amplos setores de massas visa construir uma alternativa política anticapitalista, que devolva a independência a nosso país.
Quem quer a mudança, a soberania nacional e a justiça social na Colômbia? Quem não quer?
A mudança social, como mudança revolucionária que funde o socialismo, tem sido nossa bandeira desde o início contra o bloco de poder oligárquico, que hegemonizou por quase dois séculos a condução do país numa via de submissão frente ao império. Na Colômbia, as condições materiais, objetivas e de existência que são nefastas, multiplicaram a inconformidade lançando diversos setores sociais à oposição, desde os mais pobres até importantes faixas da classe média, que tomaram consciência de que a plutocracia exercida por um punhado de famílias ligadas ao capital financeiro, levaram algo em torno de 30 milhões (de 46) de compatriotas a uma grande miséria e necessidades, segregando politicamente as maiorias com procedimentos de violência, de enganação e de humilhação, que são aspectos latentes de uma guerra impulsionada para defender os interesses mesquinhos dessas minorias que tem nomes conhecidos como Ardila Lulle, Santodomingo, Sarmiento Angulo, entre outros, a quem servem os governantes de turno.
Foi contra essas injustiças que as FARC-EP formularam seu programa revolucionário, porém objetivando um entendimento que permita colocar freio ao confronto. Hoje, na Mesa de Havana, o que colocamos não são as propostas radicais da insurgência, mas propostas mínimas para chegar a um entendimento que abra portas à democracia, dando oportunidade ao debate aberto, sem o perigo que as balas do terrorismo de Estado acabem com a vida daqueles que estão na oposição ou tenham pontos de vista diferentes aos dessas oligarquias que até agora nos tem governado.
O que é como se explica o narcotráfico na Colômbia e na região?
O narcotráfico é um negócio capitalista transnacional em que o capital financeiro está envolvido até o fundo. Entre 3 e 5 pontos do PIB mundial estão cruzados por este flagelo; dele, por exemplo, se beneficia o banco internacional com o congelamento e organizações como a CIA financiam suas operações encobertas da pior maneira. A Colômbia é uma vítima. Vítimas são as empobrecidas massas campesinas obrigadas pela pobreza gerada pelo neoliberalismo, a sobreviverem valendo-se dos cultivos de folha de coca. E vítimas são os milhões de consumidores em relação aos quais, ao invés de priorizar medidas de prevenção e de saúde pública que impeçam ou reduzam o dano, são aplicadas políticas proibicionistas de perseguição, de criminalização e de estigmatização comprovadamente frustradas.
Acerca deste problema, reinam argumentos de hipocrisia que, ao mesmo tempo, demonizam os cultivadores e acusam os membros da insurgência de narcotraficantes para, com mentiras, tirar sua aura política, escondendo os verdadeiros responsáveis pela comercialização e pelo aumento da produção.
Que respostas vocês têm ante a mensagem enviada pelo presidente Santos, de que espera que as FARC entreguem as armas e, também, espera ver os integrantes das FARC sentados no Congresso?
O que é proposto no acordo geral de Havana é a possibilidade de chegar a um cenário, não de entrega e sim de abandono das armas. Para nós, isso significa, em termos concretos, uma longa trégua que permita observar a implementação do acordado, num ambiente de verdadeira democracia, onde o uso das armas se faça desnecessário.
E sobre a participação no congresso, podemos dizer que estabelecer a democracia consiste que todos os colombianos sejam sujeitos ativos no planejamento e condução dos destinos do país. Pode-se dizer que os assuntos do Estado e do governo, o exercício da política como serviço à sociedade, não pode ser privilégio das elites ou de grupos econômicos poderosos.
Para que levar adiante uma Assembleia Constituinte?
Os problemas da guerra e da paz influenciam a vida de todos os colombianos. Por isso, para sua solução, para construir um verdadeiro tratado de reconciliação, a participação cidadã no poder criador do soberano é um fator importantíssimo. Até o momento, o desenvolvimento das conversações coletou algumas opiniões e elaborações das comunidades, porém não abriu os espaços para que as pessoas comuns debatam plenamente suas expectativas. Se isto não é feito, o processo tem um enorme déficit de legitimidade; então, a melhor maneira do soberano ter o protagonismo correspondente, já que se trata da definição de seu destino, é mediante uma Assembleia Nacional Constituinte, estruturada de maneira tal que todos os setores sociais tenham representatividade para cimentar uma nova institucionalidade.
O que significa para vocês a Aliança do Pacífico? Que projetos possuem os Estados Unidos para nosso continente?
Significa uma tentativa de ressurreição da destituída ALCA, estabelecendo tratados comerciais que são muito prejudiciais para importantes linhas da economia regional. O que outorgam são vantagens que o livre comércio concede às transnacionais. É, também, uma tentativa pérfida de retirar Nossa América do rumo da integração, que vem traçando iniciativas como as da UNASUR e da CELAC. A Aliança do Pacífico é o centro de uma suposta integração de ordem comercial, porém submetida a um conservadorismo que resguarda a dependência a respeito dos Estados Unidos, sem considerar que a unidade, a cooperação e a complementação entre nossos países devem apontar para aspectos que vão mais além do comercial, econômico e financeiro, e que estão relacionados com a cultura, com o social e com a identidade enraizada em nossos povos nas condições de independência.
Em resumo, o que ocorre é que alguns governos latino-americanos estão colocando os Estados Unidos no continente a partir de uma proposta da aliança transpacífico, que é liderada pelo país do norte no momento em que o litoral Atlântico é substituído pelo Pacífico no campo das exportações.
No caso da Colômbia, por exemplo, deduz 92% do universo tributário enfraquecendo as defesas de setores tão importantes, como a agricultura. De fato, isto vai contra a soberania alimentar e da economia campesina, a respeito das quais, ficou acordado na mesa o seu fortalecimento.
Com este tipo de alianças não deixaremos de ser exportadores de carvão e outros produtos minerais, e importadores de bens industriais e agrícolas. O processo de reprimarização e refinanceirização hoje sofrida por nossa economia, sem dúvida, será agravado por um iminente aprofundamento da desindustrialização. A Colômbia deve desviar desse caminho, retomar uma dinâmica autônoma de industrialização e uma política econômica independente, soberana, para a equidade, que entre outras coisas eleve a produtividade do campo mediante uma reforma rural integral, como a que as FARC-EP colocaram na mesa de conversações.
O que significa Marulanda para o movimento revolucionário de Nossa América?
Antes de tudo, Manuel Marulanda é um exemplo de persistência na luta por ideais de justiça e emancipação. Fidel Castro explicou muito bem o que o comandante Manuel significa para nossos povos quando disse: Considerei e considero que Marulanda foi um dos mais destacados guerrilheiros colombianos e latino-americanos. Quando muitos nomes de políticos medíocres forem esquecidos, o de Marulanda será reconhecido como um dos mais dignos e firmes lutadores pelo bem estar dos camponeses, dos trabalhadores e dos pobres da América Latina”.
Qual o olhar de vocês acerca da Nossa América pós-Chávez e do processo revolucionário na região, e que papel têm as FARC-EP?
A América pós-Chávez conta com a força dos povos que retomaram esse instrumento fundamental de luta, que é o pensamento bolivariano e o de seus heróis nacionais, uma herança que, em grande medida, o comandante Presidente ajudou a resgatar. Dizer isto significa que, hoje na Nossa América, existe muita agitação por mudanças a favor de ideais tão importantes, como o de unidade continental e o de justiça, o de atuar em condições de soberania, etc., e tudo isso ligado a esse outro grande propósito de equidade que é a construção do socialismo. Dentro desta realidade, nós, simplesmente, somos soldados da mais bela das causas, que é a de libertar um continente que fulgurará como uma Grande Nação de Repúblicas irmãs.


Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)