Colômbia: as "Razões de Estado" em um Estado Mafioso e o G-8
[Carlos Andrés Gómez*/ANNCOL]
Se durante os últimos vinte e cinco anos os diversos governos colombianos por "razões de Estado" têm incentivado, criado e patrocinado grupos e Esquadrões da Morte como os chamados 'Paramilitares' colombianos, o mais lógico é que o narco-paraco governo de Álvaro Uribe recorra à mesma fórmula de invocar 'razões de Estado' – em um Estado mafioso- para ajudar seus comparsas que se encontram presos por atividades ilícitas.
Pois é ele, Álvaro Uribe 'o chefe dos chefes' como carinhosamente o chamam seus cúmplices e sócios no crime: Mancuso, dom Berna, Jorge 40 (e outros) defensor e responsável por ter instalado na Colômbia esse aberrante e criminoso método de eliminar a todos aqueles que se opõem à injustiça e à opressão implementada pelas elites oligárquicas colombianas.
É 'o chefe dos chefes' como líder reconhecido, o responsável por ter convertido este macabro projeto narco-paramilitar por "Razões de Estado" num verdadeiro Holocausto Colombiano.
Mas essa barbárie não foi suficiente, agora Uribe pretende que os monstruosos crimes de lesa humanidade cometidos pelos paramilitares contra humildes e indefesos camponeses, sindicalistas, estudantes e opositores ao opressor regime mafioso colombiano, não só fiquem mais uma vez impunes, mas que saiam de trás das grades os narco-paramilitares e para-políticos que estão presos.
Quando os paramilitares e para-políticos, que se encontram presos prenderam o ventilador, porque seus verdadeitos Chefes criadores e responsáveis do paramilitarismo não haviam cumprido com os acordos que haviam se comprometido, então vieram as declarações pela boca dos chefes paramilitares nas quais não apenas planejavam que o projeto paramilitar é uma política de Estado, mas que além disso comprometiam diretamente ao próprio Álvaro Uribe de ser o "chefe dos chefes"; também afirmavam que a casa da família Santos estava comprometida na criação de frentes paramilitares e no planejamento de golpes de Estado; que empresas como Postobón e Bavária (logo seus proprietários, Ardila Lula e Santodomingo, também) patrocinam com dinheiro o paramilitarismo; que empresas bananeiras nacionais e estrangeiras fazem o mesmo; que altos oficiais do exército e da polícia são auxiliadores e responsáveis de muitas as torturas, desaparecimentos e massacres cometidos nas últimas décadas na Colômbia.
Somente bastou que os chefes paramilitares dessem um pequeno adiantamento do que sabem e do que podem dizer, para que Álvaro Uribe saísse imediatamente tentando encobrir e desviar a atenção nacional e internacional dos horrendos crimes de lesa humanidade cometidos nos campos e cidades da Colômbia, nos quais não somente estão comprometidos o próprio Álvaro Uribe e a sua família, já que vários destes massacres foram cometidos em propriedades da família Uribe Vélez, mas também os verdadeiros 'patrões' do projeto de Estado paramilitar: a corrupta e lacaia elite colombiana, a cúpula empresarial e industrial, proprietários de terra e pecuaristas, os altos oficiais das forças armadas e da polícia. Com isto se confirma uma vez que na Colômbia o que existe são umas elites política e miltar cujo principal modus operandis é o terrorismo de Estado para sustentar-se no poder.
Diante das declarações dos paramilitares, Álvaro Uribe em um esforço para diminuir a pressão das acusações e ameaças dos chefes paracos, que se somam aos grotescos escândalos políticos e judiciais que tem-lo contra a parede e que já batem tanto à sua porta de seu próprio gabinete como a de seus mais próximos colaboradores, e buscando que não continue aprofundando a tremenda crise de instabilidade política e governamental que vive hoje a Colômbia, lança unilateralmente a proposta da "liberação dos membros das FARC" que se encontram prisioneiros nos cárceres do regime burguês colombiano. Para tal propósito afirma invocar "razões de Estado" as quais correspondem mais com as típicas formas de atuar e aos interesses de um Estado mafioso.
Álvaro Uribe busca com esta proposta estender uma cortina de fumaça que seja capaz de esconder os escândalos da para-política governamental, a profunda crise política que não tem limite e o terrorismo de Estado colombiano.
Além disso, seus objetivos são:
- Desviar a atenção nacional e internacional para evitar que continuem acusando o governo de Uribe Vélez de ser o típico regime de um Estado mafioso. Igualmente pedir que a justiça avance em suas investigações a congressistas, militares, personalidades e contra seu governo, por evidentes nexos com a para-política.
- Libertar uns desertores que dizem ser insurgentes, os quais foram cautelosamente escolhidos para que correspondam aos propósitos midiáticos de propaganda implementada pelo regime uribista. Junto a estes desertores foi arrancado da prisão Rodrigo Granda, membro da comissão internacional das FARC, seqüestrado pelos serviços de inteligência colombianos em Caracas, com essa jogada que não estava nos planos de Uribe mas que foi produto da 'sugestão' do presidente francês (N. Sarkozy), se fortalecia e ampliava a campanha publicitária.
- Uma vez realizado o espetáculo com a tribuna midiática, entra em cena a mesma mentira de "razões de Estado" para tirar das prisões todos os paramilitares acusados de crimes de lesa humanidade e a todos os para-políticos e membros da administração sindicados por sua relação e implicação no projeto paramilitar estatal.
Uma vez anunciado o famoso plano, os meios de comunicação trataram de semear a confusão de que em meio a um "transcendental gesto de generosidade" dado pelo governo de Uribe e acompanhado com os bons ofícios de Sarkozy, presidente da França, em poucos dias os detidos ou prisioneiros de guerra que estão nas mãos das FARC seriam liberados, pois não lhes restaria outro caminho a se seguir.
Com esta argumentação forjada o que estão tentando fazer é abrir o caminho e ambientar a possível opção do resgate pela via militar a sangue e fogo por parte das forças militares do governo de Uribe, onde a vida dos detidos correria grave perigo. Para sustentar tais ações militares se apoiarão na tese de que como Uribe foi com sua "generosidade capaz de liberar" membros das FARC e estes por sua vez novamente demonstram sua "falta de vontade de paz e de negociação"
O governo narco-paraco de Uribe e os meios de desinformação colombianos cheios de entusiasmo argumentaram que com a ajuda de Nicolas Sarkozy as coisas seriam diferentes, pois ele levaria o tema à reunião do G-8 na Alemanha, para que em seu conjunto o G-8 respaldasse a política do Governo de Uribe, mas vejamos que foi realmente o que saiu dessa Reunião diante do Conflito na Colômbia, e qual foi a "porrada travestida de apoio" que Uribe recebeu.
Antes de seguirmos é bom fazer uns comentários necessários sobre o documento da Reunião 2007 na Alemanha no que diz respeito à Colômbia, e o que se publica na versão-tradução falsa em espanhol pela Revista Semana e jornal El Tiempo, onde se omitem palavras e frases completas, mudam seus significados de outras e não contentes ainda, pretendem moldar sua interpretação. A continuação do texto original em inglês do G-8 tirado de sua página oficial (CHAIR´S SUMMARY, Heiligendamm, 8 June 2007, página 8 (ver aqui o documento original em pdf). As palavras em negrito e sublinhadas são as palavras e frases que se omitiram ou que se trocou o significado por parte da Semana e El Tiempo:
http://www.g-8.de/Webs/G8/EN/G8Summit/SummitDocuments/summit-documents.html
Colombia: We have discussed the recent developments that have occurred in Colombia in the last few days. We acknowledged and welcomed the bold and courageous decision by President Uribe of Colombia to release a significant number of prisoners, including Mr. Rodrigo Granda, as a positive humanitarian step.
Against this background, we call on the FARC to consider urgent steps that would contribute to a humanitarian solution leading to the liberation of hostages detained by the FARC, as well as guerilla fighters that have not yet been released. We urge all those concerned to continue to make the best use of French, Spanish and Swiss facilitation in this regard. We expressed our hope that such a humanitarian solution might pave the way to the resumption of a peace process to the benefit of the entire Colombian people.
O que mais chama a atenção é que as versões que estes meios de desinformação publicam é exatamente igual (Ver o artigo de Semana aqui) e a maneira deliberada como omitem em um texto tão curto palavras e frases chave. Valeria a pena perguntarmos por que omitiram a tradução da palavra "bold", cujo significado em português é: 'intrépido' e sua segunda opção segundo o dicionário se refere a uma pessoa "que faz algo ou fala sem reflexão." Será que faz inequívoca referência a Uribe?
http://www.semana.com/wf_InfoArticulo.aspx?IdArt=104240
E quanto à palavra "consider" que significa 'considerar' aqui traduzem convenientemente por "aceitar". Mas o mais grave e o cúmulo do descaramento é a seguinte frase pelos profundos conteúdos político que esta leva, vejamos o que planeja textualmente o documento do G-8 em inglês: "as well as guerrilla fighters that have not yet been released." Sua tradução exata é: "assim como também os COMBATENTES GUERRILHEIROS que ainda não foram libertados". Valeria a pena que Semana e El Tiempo explicassem o porquê da omissão.
Se agora lermos com atenção vamos entender por que deliberadamente a Revista Semana e El Tiempo coincidem em publicar uma falsa tradução, pois o que esperava o governo de Uribe, os meios de desinformação colombianos e a elite política era que em alguma parte deste documento fizesse referência ao terrorismo, e deram de cara, para a desgraça de Uribe, com um documento da Reunião do G-8 que não somente reconhece o Status político de organização beligerante das FARC como chama as partes para que a liberação dos reféns seja o resultado de um acordo humanitário de negociação entre as partes, e que fruto dele, do acordo humanitário, 'se converta em um caminho para o reinício do Processo de Paz, que possa beneficiar toda a sociedade colombiana.'
E seguindo o ditado que ultimamente se impõe na Colômbia a reflexão que se impõe é que "foram por lã e saíram tosquiados."
Concluindo se pode afirmar que novamente a bola está na quadra do Estado mafioso colombiano e nas mãos do "chefe dos chefes", e que agora cabe a ele decidir jogar por um acordo humanitário para a liberação dos reféns que seja o resultado de uma negociação em uma zona despejada entre Governo-FARC ou se vai optar por um rigoroso resgate pela via militar. Qualquer dos caminhos que se tome vão haver dois elementos de peso hoje: Um, que agora mesmo a comunidade internacional está olhando de binóculo os acontecimentos do conflito interno colombiano, e dois que com o reconhecimento de combatentes guerrilheiros que o G-8 concede às FARC, as coisas mudam enormemente tanto na arena política nacional como internacional
* Carlos Andrés Gómez: Analista de temas Latino-americanos.