"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


domingo, 10 de junho de 2007

Tarzaniando

Combinando meus estudos de medicina com a metodologia antropológica de "campo" que acabava de aprender, logrei realmente que os indígenas desta região, Tukanos, Wananos, Sirianos e Paratapuyos me levassem a lugares insuspeitos e até então desconhecidos ou vedados a outros olhos. Escreve Pinzón Sánchez.

[Alberto Pinzón Sánchez/ANNCOL]

No inicio dos anos 70, os estudantes de Antropología da U. Nacional das primeiras promoções, descrevíamos com o verbo "Tarzaniar" o individual e obrigatório trabalho de campo com o qual devíamos obter o diploma. Não havia nada mais que improvisação. Nenhum plano acadêmico, nem nada que se lhe parecesse. Muito menos existia financiamento oficial ou privado para isso. O país começava a olhar as Selvas e seus povoadores indígenas e colonos para integrar-los plenamente na "economia de mercado" do país, e se assistia ao intenso debate, em muita medida, induzido pela cúria católica, contra a agência protestante encoberta do governo estadunidense nesses territórios chamada "Instituto Lingüístico de Verano", trazida uma década atrás pelo Vice-rei USA Mr. Lleras Camargo.

Fiz minha tese da realidade que se vivia nas Selvas do Vaupes e Guaviare por aqueles anos, vivendo, ou melhor, sobrevivendo, pela minha conta por espaço de um ano. Pouco depois, meu amigo Arturo Alape considerou que essa monografia era publicável e a editou com o título *Monopólios, Missionários e destruição de Indígenas*. Combinando meus estudos de medicina com a metodologia antropológica de "campo" que acabava de aprender, logrei realmente que os indígenas desta região, Tukanos, Wananos, Sirianos e Piratapuyos me levassem a lugares insuspeitos e até então desconhecidos ou vedados a outros olhos.

A realidade era que, ao ciclo da escravidão e do extermínio indígena que vinha desde os séculos 18 e 19, exacerbado pela febre da borracha e descrita belamente na Vorágine por J. E. Rivera, e em Toá pelo médico Uribe Piedrahita, seguia igual ou pior. Agora, a tudo isto se lhe sobrepunha a exploração e dominação religiosa (católica e protestante). O outro ciclo sinistro, o da coca, que chegou uns 7 anos depois e se impôs desde as grandes cidades do interior, não se conhecia ainda.

Ainda lembro com sobressalto a impressão que me causou chegar à pista de aterrissagem abandonada que a Rubber Corporation havia construído em 1942, próximo do estrondo ensurdecedor das cascatas do rio Vaupes em Yuruparí. Nesse momento era um baldio selvático ou "fazenda sem limites" de quem fora o chofer particular do Sr. embaixador dos Estados Unidos em Bogotá e se fazia chamar, pelos indígenas que escravizava, por "Tio Barbas". Fumava num cachimbo de barro sedimento do pó de café, e acariciando sua rala barba, me disse, depois de conhecer minha procedência e trabalho, com um sotaque boyasence inconfundível:

- "Doutor, caminhe, lhe mostro outra maravilha".

Caminhamos por uma difícil e tortuosa trilha até chegar à esplanada do que foi a pista de posso. Era um imenso plantio de palma azeiteira (dendê). Perguntei-lhe como levava os frutos até o mercado, se não havia transporte pesado por terra ou ar. Disse-me: "Não necessito transportar-los. E me mostrou uma grande vara de porcos domésticos peludos e quase pretos, regressados a um estado semi-selvagem, que, subidos pelos curtos troncos das palmas, devoravam sem descansar as bolotas e coquinhos azeiteiros da plantação. – "Uma vez que estão gordos, os índios os caçam, salgamos a carne e defumamos, e com o toucinho fazemos manteiga. Isso, sim, é que tem mercado. Aqui chega todo mundo a comprar", me disse gargalhando.

Nunca haveria podido imaginar, nunca!, que 36 anos depois e à raiz da perdida guerra de rapina pelo petróleo no Iraque e das mudanças democráticas em Petróleos Venezuelanos S.A., os mega-cultivos de palma azeiteira se convertessem na agenda energética "alternativa" do Complexo Militar-Industrial-Financeiro dos Estados Unidos e, menos ainda, que o presidente Uribe, da Colômbia, fora um dos maiores grandes cultivadores de palma azeiteira (dendê) e o maior "cruzado" dos mega-projetos para produzir biocombustíveis, que substituem com motor-serra e fossas comuns, a
verdadeira Selva andino-amazônica pelo árido e espantoso deserto verde da palma africana, no que só podem sobreviver sem escravidão, esses quiméricos porcos selvagens trepadores, desenvolvidos por "Tio Barbas".

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