"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Entre o céu e o inferno

Declaração das FARC-EP:

No Limbo se encontram os diálogos de Havana, por conta do homem que quer passar à história como o presidente que conquistou a paz na Colômbia.
Os ecos do justo protesto do governo da República Bolivariana de Venezuela pela recepção de Santos ao opositor Capriles no Palácio de Nariño se replicam ainda com um sonoro vibrato.
Não são poucos os que creem que a passagem de Joe Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, por Bogotá foi a origem do arrebatamento santista. E o associam com um plano de Washington encabeçado por um cavalo de Troia de nome “Aliança Pacífico”, que, manejado por Washington, se propõe desestabilizar e descarrilar governos populares como os de Venezuela, Equador, Bolívia e Uruguai, entre outros. Que impulsionaria Santos a anunciar o fantasioso ingresso da Colômbia na OTAN? Ameaçar a Venezuela, ao Brasil?
Aos que aduzem ingenuidade na conduta do presidente, não se lhes crê tanto porque Santos não é nenhum idiota. Como estadista, está obrigado a medir o efeito de suas atuações.
Juan Manuel Santos sabia que sua provocação contra o governo legítimo de Venezuela explodiria como petardo na mesa de diálogos de Havana, porque o tema Venezuela, país acompanhante e facilitador do processo, era muito sensível para as FARC, que vê nos venezuelanos o principal fator gerador de confiança e, em consequência, artífices fundamentais do processo de paz.
Por tudo isso, é que causa tanta perplexidade o convite de Santos a Capriles, precisamente quando o entusiasmo pela paz cravava sua bandeira no pico Everest da reconciliação dos colombianos, motivado no acordo parcial sobre terras, tema que representa a noz do conflito. A atitude de Santos desinflou o otimismo, a atmosfera favorável à paz que se havia conquistado construir com tanto esforço em Havana. A questão se resume no fato de que, se não fosse pela Venezuela, não teria lugar o diálogo de paz da capital cubana.
É contraditório, profundamente contraditório, pretender passar à história como o presidente que fez a paz, propiciando ao mesmo tempo uma cadeia de atentados contra a paz. O assassinato a sangue frio de Alfonso Cano, o comandante-chefe da reconciliação, é já uma mancha inapagável. Por outra parte, ninguém entende porque o governo rechaça a necessária trégua bilateral proposta pelas FARC desde o início das conversações, se do que se trata é de parar a guerra. Durante os últimos 6 meses, o ministro de Defesa atuou como francoatirador sectário contra o processo, deixando a sensação de que não há unidade de critérios no governo. E até o próprio presidente em pessoa não deixa passar oportunidade para desqualificar ao interlocutor com acusações infundadas e ameaças de ruptura.
Há, ademais, outros elementos que estão incomodando o diálogo e a construção do acordo como esse incômodo estalo do chicote do tempo e dos ritmos em mãos do governo. Um afã para que, para precipitar um mau acordo, uma paz malfeita? A progressão de um acordo tão transcendental não deve ser interferida nem pelos tempos eleitorais nem pelos prazos legislativos. Paralelamente às sessões da mesa, alguém desde as alturas orquestra campanhas midiáticas que semeiam, com algum grau de perfídia, a ideia de uma guerrilha vitimaria de um lado e, do outro, a de um Estado seráfico, esvoaçando inocente, sem nenhuma responsabilidade histórica pela violência e pelo terrorismo institucional.
Um governo que realmente queira a paz não está marcando a cada momento as linhas vermelhas de sua intransigência, de suas fixações, senão que atua com grandeza para facilitar o entendimento. Onde está a genialidade, onde o bom senso? Aqui, o que se vê é uma grande inconsequência. E também uma grande mesquinhez quando se defende com argumentos ranzinzas privilégios indignantes. Essas atitudes pouco contribuem para a construção de uma atmosfera de paz. Então, os diálogos para quê?
Há que entender que este não é um processo de submissão, mas sim de construção de paz. Não se trata de uma incorporação da insurgência ao sistema político vigente, assim como está, sem que se opere nenhuma mudança a favor das maiorias excluídas. Então, para que foi a luta? O melhor epílogo desta guerra deve ser referendado por mudanças estruturais no político, econômico e social que propiciem a superação da pobreza e da desigualdade.
Temos que defender este processo de paz, esta esperança. Todos, resolutamente, governo, guerrilha das FARC e as organizações sociais e políticas do país, devemos somar vontades para alcançar, após décadas de confrontação bélica, a ansiada reconciliação com justiça social. Que nos importam Uribe e Fedegan se estamos decididos a alcançar a paz?
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas de Colômbia, 7 de junho de 2013