O Chile de Pinochet a Bachelet
Por Emir Sader
Santiago
do Chile
– O Chile foi para nós, na América Latina, o que a França foi
para a Europa, país que Engels chamou de “laboratório de
experiências políticas”. O Chile foi, guardadas as devidas
distâncias, um país de experiências avanças na América
Latina.
País mineiro, teve classe operária mais cedo que outros, no lugar do campesinato, produtos de economias agrícolas. O Chile teve, assim, movimento operário – mesmo que sob formas elementares, sob hegemonia anarquista – ainda no final do século XIX.
Como produto da capacidade de organização e de luta dos mineiros chilenos, o país protagonizou um primeiro grande massacre, em 1907, em Santa Maria de Iquique – imortalizada na Canta de Santa Maria de Iquique, gravação dos Inti-Ilimani.
O Chile teve um comunista – Luis Emilio Recabarren, grande dirigente e teórico marxista – como candidato do Partido Comunista do Chile à presidência da república em 1920. Teve o único governo de Frente Popular fora da Europa – onde houve governos desse tipo na França e na Espanha.
Mais tarde o Chile foi o país escolhido pelos EUA para o modelo alternativo à Revolução Cubana, o que a Aliança para o Progresso chamava de “revolução em liberdade”. E, claro, a única experiência de governo de transição política ao socialismo no ocidente, o governo de Allende.
Mesmo a ditadura do Pinochet tornou-se o emblema maior das ditaduras do Cone Sul, agora como modelo de direita, mas de todas as maneiras também uma referência paradigmática.
A transição à democracia foi extremamente conservadora. O modelo econômico neoliberal de Pinochet foi mantido, com pequenas adequações. A constituição imposta por Pinochet em um referendo realizado com estado de sítio foi modificada, mas não revogada.
Como caso único no Cone Sul, as forças advindas da ditadura (pinochetistas) sobreviveram como dois partidos políticos, que passaram a atuar de forma aliada, sempre com grande votação, até que triunfaram com Sebastiao Piñera.
O Chile foi o “caso exemplar” que restou ao FMI, ao Banco Mundial e à OMC, depois que naufragaram as economias dos outros países escolhidos como modelos – México e Argentina. Foi o segundo país do continente a ter Tratado de Livre Comércio com os EUA, depois do México. Tem uma economia muito aberta, 50% do seu PIB provem da exportação de produtos primários – cobre e derivados, frutas naturais, frutas enlatadas etc, dirigidas para o mercado europeu, norte-americano e asiático.
O Chile, que tem uma história repleta de grandes movimentos populares, tornou-se um país medíocre, conservador, referência dos EUA na região, não participante da integração sul-americana. Quatro mandatos presidenciais da coalização opositora – socialistas e democratas-cristãos – diminuíram um pouco a desigualdade promovida ativamente por Pinochet, mas o país deixou de ser referência de igualdade social e de direitos, para se transformar em um dos países mais mercantilizados do continente.
De um país referência em termos de conquistas sociais, o Chile passou a ter toda sua previdência privatizada, o que significou que uma parcela pequena da população possui previdência social. O ensino passou a ser todo privatizado, com as famílias se endividando para pagar os estudos dos seus filhos – um dos fatores das imensas mobilizações estudantis dos últimos anos.
O sistema eleitoral se assenta em um processo que favorece as duas maiores legendas em cada circunscrição, promovendo o bipartidismo. O Partido Comunista chegou a ter 12% dos votos, sem conseguir, naquela eleição, eleger a nenhum deputado.
O provável retorno de Michelle Bachelet à presidência nas eleições deste ano é uma nova possibilidade para que a aliança entre socialistas e democratas-cristãos possa avançar na superação do modelo neoliberal, ainda vigente. Bachelet se comprometeu, até agora, com a convocação de uma Assembleia Constituinte para que o Chile possa ter, finalmente, uma constituição pós-ditadura, pós-Pinochet. Comprometeu-se também com o caráter público da educação – reivindicação central das mobilizações estudantis.
Resta saber, no plano da política econômica, que passos dará para superar o modelo neoliberal. E, no plano internacional, apesar de ter um Tratado de Livre Comércio com os EUA, quanto o Chile se aproximará dos países da região, especialmente do novo Mercosul, ou se permanecerá relegado ao projeto norte-americano para a região, a Aliança para o Pacífico.
País mineiro, teve classe operária mais cedo que outros, no lugar do campesinato, produtos de economias agrícolas. O Chile teve, assim, movimento operário – mesmo que sob formas elementares, sob hegemonia anarquista – ainda no final do século XIX.
Como produto da capacidade de organização e de luta dos mineiros chilenos, o país protagonizou um primeiro grande massacre, em 1907, em Santa Maria de Iquique – imortalizada na Canta de Santa Maria de Iquique, gravação dos Inti-Ilimani.
O Chile teve um comunista – Luis Emilio Recabarren, grande dirigente e teórico marxista – como candidato do Partido Comunista do Chile à presidência da república em 1920. Teve o único governo de Frente Popular fora da Europa – onde houve governos desse tipo na França e na Espanha.
Mais tarde o Chile foi o país escolhido pelos EUA para o modelo alternativo à Revolução Cubana, o que a Aliança para o Progresso chamava de “revolução em liberdade”. E, claro, a única experiência de governo de transição política ao socialismo no ocidente, o governo de Allende.
Mesmo a ditadura do Pinochet tornou-se o emblema maior das ditaduras do Cone Sul, agora como modelo de direita, mas de todas as maneiras também uma referência paradigmática.
A transição à democracia foi extremamente conservadora. O modelo econômico neoliberal de Pinochet foi mantido, com pequenas adequações. A constituição imposta por Pinochet em um referendo realizado com estado de sítio foi modificada, mas não revogada.
Como caso único no Cone Sul, as forças advindas da ditadura (pinochetistas) sobreviveram como dois partidos políticos, que passaram a atuar de forma aliada, sempre com grande votação, até que triunfaram com Sebastiao Piñera.
O Chile foi o “caso exemplar” que restou ao FMI, ao Banco Mundial e à OMC, depois que naufragaram as economias dos outros países escolhidos como modelos – México e Argentina. Foi o segundo país do continente a ter Tratado de Livre Comércio com os EUA, depois do México. Tem uma economia muito aberta, 50% do seu PIB provem da exportação de produtos primários – cobre e derivados, frutas naturais, frutas enlatadas etc, dirigidas para o mercado europeu, norte-americano e asiático.
O Chile, que tem uma história repleta de grandes movimentos populares, tornou-se um país medíocre, conservador, referência dos EUA na região, não participante da integração sul-americana. Quatro mandatos presidenciais da coalização opositora – socialistas e democratas-cristãos – diminuíram um pouco a desigualdade promovida ativamente por Pinochet, mas o país deixou de ser referência de igualdade social e de direitos, para se transformar em um dos países mais mercantilizados do continente.
De um país referência em termos de conquistas sociais, o Chile passou a ter toda sua previdência privatizada, o que significou que uma parcela pequena da população possui previdência social. O ensino passou a ser todo privatizado, com as famílias se endividando para pagar os estudos dos seus filhos – um dos fatores das imensas mobilizações estudantis dos últimos anos.
O sistema eleitoral se assenta em um processo que favorece as duas maiores legendas em cada circunscrição, promovendo o bipartidismo. O Partido Comunista chegou a ter 12% dos votos, sem conseguir, naquela eleição, eleger a nenhum deputado.
O provável retorno de Michelle Bachelet à presidência nas eleições deste ano é uma nova possibilidade para que a aliança entre socialistas e democratas-cristãos possa avançar na superação do modelo neoliberal, ainda vigente. Bachelet se comprometeu, até agora, com a convocação de uma Assembleia Constituinte para que o Chile possa ter, finalmente, uma constituição pós-ditadura, pós-Pinochet. Comprometeu-se também com o caráter público da educação – reivindicação central das mobilizações estudantis.
Resta saber, no plano da política econômica, que passos dará para superar o modelo neoliberal. E, no plano internacional, apesar de ter um Tratado de Livre Comércio com os EUA, quanto o Chile se aproximará dos países da região, especialmente do novo Mercosul, ou se permanecerá relegado ao projeto norte-americano para a região, a Aliança para o Pacífico.