Os Estados Unidos se esquecem que dão refugio a fugitivos e golpistas equatorianos
Por Jean-Guy Allard
O governo dos Estados Unidos pediu ao Equador a não
conceder asilo político a Edward Snowden, ex-funcionário dos serviços secretos
dos EUA, enquanto há muitos anos dá refugio a indivíduos procurados pela
justiça equatoriana e permite que golpistas equatorianos utilizem o seu
território para conspirar.
Snowden, considerado por muitos como um
herói, solicitou refúgio ao Equador após revelar programas de vigilância da
Internet utilizados pelas autoridades do seu país. Assim que a informação foi
divulgada, Washington manifestava sua oposição a que seu ex-analista pudesse
receber asilo do Equador, nação que já dá acolhida na sua embaixada de Londres
ao “dissidente” Julian Assange, criador do site Wikileaks.
Enquanto isso, o governo norteamericano,
acolhe sem o menor escrúpulo e dá proteção a delinquentes equatorianos tais
como ao ex-presidente Jamil Mahuad Witt, ao banqueiro estelionatário e
golpistas Roberto Isaias e ao ex-diretor da Inteligência do Exército
equatoriano e agente da CIA, Mario Pazmiño.
O
presidente que provocou o exílio de milhares de equatorianos
As decisões políticas e econômicas tomadas
pelo governo de Mahuad geraram, além das vitimas de selvagem repressão, causou
a saída de dois milhões de equatorianos para o exterior.
Em 21 de janeiro de 2000, Jamil Mahuad,
quando ainda não completava dois anos do seu mandato, foi obrigado a renunciar
pela pressão de dezenas de milhares de equatorianos, um verdadeiro levantamento
popular que incluía indígenas e trabalhadores.
A justiça equatoriana, já no final de 2011,
emitiu uma ordem de captura contra Mahuad para que o ex-mandatário equatoriano vigarista
possa ser localizado e capturado. Pouco depois, sob pressão norteamericana, a
Interpol rechaçou o pedido de Quito, o que provocou protestos por parte do
Equador, inclusive do próprio presidente Rafael Correa.
“Existem novos instrumentos de dominação, por
exemplo, a Interpol, que julga os nossos tribunais, os nossos juízes e arquiva
a ordem de prisão contra Jamil Mahuad”, declarou Correa.
Proteção
aos banqueiros mafiosos Isaias
Há apenas algumas semanas, o juiz
norteamericano do estado da Florida, John Thornton, anunciou sentença a favor
dos irmãos banqueiros Roberto e Willian Isaias Dassum, donos de banco
equatoriano falido. Os dois delinquentes financeiros tem uma divida de não
menos de 264 milhões de dólares com o povo equatoriano.
“Todo mundo sabe que estes banqueiros
desviaram o dinheiro dos correntistas e do Estado equatoriano e que vivem como
reis em Miami”, disse o advogado equatoriano Carlos Bravo.
“Essa é uma realidade. Foi feita uma
investigação e eles tem muitos bens e muitos investimentos nos EUA,
concretamente em Miami, dito por eles mesmos: que agora são donos de uma
subsidiária da rede CNN em Orlando; em Tampa; que estão abrindo um canal para
transmitir noticias, um canal latino na cidade de Miami; possuem investimentos
no setor de petróleo; possuem uma rede de escolas privadas; inauguraram
edifício inteligente em Coral Way, enfim...”
Os irmãos Isaias vivem em Cocoplum, o bairro
mais exclusivo de Coral Gables, Miami, sob proteção do governo dos EUA.
Pazmiño,
agente da CIA e torturador
Mario Raúl Pazmiño, ex-chefe da Inteligência
Militar equatoriana foi expulso do exército pela sua colaboração com a CIA e seus
numerosos “vazamentos” de informação secreta para os seus contatos
norteamericanos além de ter conseguido frustrar uma operação contra
narcotraficantes.
Durante anos, Pazmiño, um militante de
ultradireita, dedicou-se a organizar, com a ajuda de alguns colaboradores, a
chamada Legião Branca, grupo clandestino de perfil fascista, terrorista, que se
dedicou a atacar militantes de esquerda sob orientação do Norte.
Traidor de primeira, Pazmiño manteve
comunicação com os seus superiores da CIA durante a operação de bombardeio a um
acampamento das FARC em Angostura, em 1 de março de 2008, em que morreram 26
pessoas, entre elas “Raúl Reyes”.
Asilado nos EUA, Pazmiño nunca deixou de
conspirar contra o governo do Presidente Rafael Correa.
Sete dias antes da tentativa de golpe de
estado no Equador, Pazmiño aparece como um dos lideres numa reunião
conspirativa, ocorrida em Miami, com o seu sócio, o torturador Gustavo Lemus. Nessa
reunião estava rodeado de vários contra-revolucionários cubanos identificados
com o terrorismo, dentre os quais estava Carlos Alberto Montaner.
Lemus, também nos EUA sob proteção da CIA, é
denunciado no Equador como torturador e acusado de ter encoberto o assassinato
de dois adolescentes quando era chefe dos torturadores no governo
social-cristão de León Febres Cordero (1984-1988).
Relembrando
o agente Mark Sullivan
Em matéria de agentes do serviço de Inteligência,
o Departamento de Estado, que reclama pela prisão de Edward Snowden, esquece de informar que colocou no
país sul-americano a Mark Sulivan, diretor dos escritórios da CIA e que foi
expulso do Equador em 18 de maio de 2009.
Em seu bunker da Av. Avigira, no norte da
cidade de Quito, trabalhava sob o enganoso titulo de primeiro secretário da
Embaixada dos EUA; coordenando febrilmente os numerosos agentes de inteligência
escondidos dentre os 185 funcionários norteamericanos da embaixada ianque.
Sullivan coordenava as ações com o DAS (Inteligência
colombiana) e com as forças armadas da Colômbia como se estivesse em casa, e em
comunicação constante com Michael Steere, chefe das instalações da CIA na Venezuela.
Philip Agee, também agente da CIA, que
explicou, arrependido, o uso sistemático de técnicas de corrupção por parte da
CIA para obter “a simpatia” dos oficiais da polícia, também trabalhou na
Embaixada dos EUA em Quito.
Posteriormente, Agee se dedicou a denunciar
as atividades escandalosas da inteligência norteamericana, muito antes de
Assange e Snowden.