"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

“Governo não terá foto de entrega de armas”: Andrés París, porta-voz das Farc



Guerrillera de las FARC.

Andrés París, porta-voz das Farc, sugere que essa guerrilha não entregará as armas nem ainda no caso de que se firme um acordo de paz. Insiste em que não vão ir nem um dia ao cárcere.

Por: Hugo Mario Cárdenas López, enviado especial a Cuba

Domingo, 16 de Junho, 2013 / Desde que se iniciaram os diálogos entre o Governo e as Farc em Havana, Jesús Amilio Carvajalino, ou ‘Andrés París’, membro da delegação do grupo guerrilheiro, se converteu no homem das comunicações.
É através dele que os meios de comunicação locais e internacionais podem ter acesso a vários dos integrantes da delegação das Farc e quem se encarrega de coordenar os comunicados que sobre os diferentes temas emitem os integrantes do grupo armado ilegal.
Na quinta-feira passada, enquanto descansava na piscina do Hotel Palco, junto ao Palácio de Convenções, onde se adiantam os diálogos, o membro do Estado-Maior das Farc concordou em falar com El País sobre os temas espinhosos da agenda, os planos políticos após a eventual assinatura de um acordo que ponha fim à confrontação armada e os possíveis cenários nos quais se verão se chegar a dar sua passagem à vida política.
Que há de diferente neste processo para crer que é hora da paz?
Ansiamos construir o grande tratado de paz, porém, ao mesmo tempo, assinalamos nossa decisão profunda de não protagonizar um ato de rendição nem de submissão. O Governo, depois de seis meses de diálogos, tem que ser sensato porque não estão falando com uma guerrilha derrotada e os planos que têm para derrotar militarmente à guerrilha nestes seis meses não lhes deu resultados. O Governo deve entender que com esta geração de comandantes é possível a paz. Há uma vontade muito grande das Farc, do Estado-Maior Central e da delegação que se encontra em Havana para marchar com firmeza para um acordo de paz.
Então, a realidade é que no Caguán não tinham vontade de paz?
O melhor momento para selar a paz foi no processo do Caguán, onde um homem da autoridade de Manuel Marulanda estava à frente, porém, pelas mesquinharias da época, este processo se frustrou. O novo é que os setores sociais que reclamam a assinatura de um acordo hoje são maiores que os que existiam no processo do Caguán.
Hoje, não temos um Uribe Vélez trabalhando como uma hiena faminta contra a paz, como o foi em seu momento, que conseguiu com êxito fazer fracassar esse processo e com isso eleger-se e reeleger-se presidente. O contexto internacional também é favorável e, por isso, é uma jogada traiçoeira a do Governo contra a Venezuela, que está jogando para a paz e estimulando um acordo pacífico e a oligarquia colombiana e seus serviços especiais conspirando com a oposição terrorista para desestabilizar o governo do presidente Nicolás Maduro.

As mortes de ‘Marulanda’, ‘Reyes’, ‘Cano’ e ‘Jojoy’ ajudaram para que decidissem sentar-se a falar de paz?
O ensinamento de nossos fundadores e de nossos comandantes falecidos é fortalecer nossa convicção na justiça da linha política e militar que eles traçaram; e todos eles, mais Alfonso Cano, o homem que mais se destacou em sua vontade de encontrar uma solução política, reafirmam nossas bandeiras da paz, porém também nos reafirmam na vontade de continuar na luta armada, enquanto não se firme um grande tratado de paz.

Por que se lhes tornou mais fácil negociar com o presidente Santos, quando foi quem mais golpes lhes aplicou como ministro de Defesa?
Os acordos, os conseguem forças beligerantes que estão no campo de batalha confrontados. Também na mesa, de nossa parte, está um grupo de comandantes que tem estado na primeira linha de combate. O que passa é que essa história faz parte da reserva e nós não a publicitamos, porém, na mesa estamos sentados protagonistas da guerra e protagonistas da política.

Em quais pontos da agenda as Farc vão ceder mais?

Nós nos movemos sobre uma linha de reformas e mudanças avançadas e democráticas; já fizemos a grande concessão que podíamos fazer e é que não estamos exigindo as mudanças revolucionárias na mesa; e, em tudo o que estamos propondo, incorporamos os interesses de outros setores sociais. A reforma agrária, se se quer, beneficia mais as forças do capitalismo, que requer modernizar mais o campo, adequá-lo aos desenvolvimentos gerais do país capitalista, que propriamente uma reforma agrária de caráter socialista.

No marco dessa reforma agrária e da restituição de terras, vão devolver as terras que despojaram dos campesinos?

Essa é uma calúnia muito grande desse instrumento que se chama a Unidade de Restituição de Terras, que foi tomada pelos paramilitares. Toda a equipe que puseram a serviço de recolher a informação manipulava ao campesino que vinha reclamar sua terra depois de um despojo e lhes insinuavam que, se eles reclamavam terras em poder dos paramilitares, o processo ia demorar; no entanto, se faziam aparecer esse despojo como fruto de uma agrupação guerrilheira, esse processo ia ser agilizado. Como uma força ilegal combatida por todos os órgãos de inteligência pode manter na clandestinidade semelhante quantidade de terras?  

Então, as Farc não têm terras?

Contamos com algumas propriedades pequenas, porém que estão a serviço das necessidades alimentícias ou das necessidades das frentes guerrilheiras. 

E como as adquiriram?

Essas terras são tramitadas através de mecanismos legais de compra. 

Através do testa de ferro?

Estão em nome de campesinos que voluntariamente colaboram com a insurgência e eles se tornam proprietários das granjas. Para nossas necessidades, não precisamos mais de dez hectares.

Creem que a Corte Penal Internacional aceite que haja impunidade aos delitos de lesa-humanidade que vocês cometeram?

Essa é uma interpretação de um setor da jurisprudência internacional, porém há outros setores que veem na Constituição colombiana a possibilidade que tenhamos acesso a recursos que estão na lei e que não desapareceram, ainda que os tenham afogando e desprezando. Horacio Serpa disse que não o acreditavam tão torpe de crer que guerrilheiros que levam 50 anos vão terminar seus dias aceitando ir para a prisão. Isso não tem lógica, porém, sim, temos a disposição de encontrar e construir na mesa de diálogos a soberania do articulado jurídico que gere a participação política da guerrilha em novos cenários. Não pensamos ir à prisão e há que encontrar as figuras que estão aí na Constituição para que as apliquemos.

Ademais de não ir à prisão, que deve surgir do processo para que toda uma vida no monte não tenha sido inútil?

O guerrilheiro sempre luta pela vitória, pelo triunfo e, se temos a possibilidade de ver desenhado esse triunfo num grande tratado de paz, não se perdeu tempo e toda vida que se perdeu nesta luta foi uma contribuição a esse anseio da paz em Colômbia. Inúteis são as vidas de antigos guerrilheiros que se puseram a serviço da relegitimação e existência de um regime podre. Acaso crê que é muito útil a vida dos que estão hoje a serviço do regime como Rosemberg Pabón, que hoje faz parte das linhas uribistas?

Porém, muitos setores consideram que vocês também mudaram seus ideais pelo narcotráfico...

Esses setores estão muito desinformados e deve ser que não lhes tenha chegado nenhuma notícia de Havana; porque, o que aqui se tem visto é uma guerrilha pensante, que constrói um programa agrário, que modela uma nova forma de institucionalidade, uma guerrilha social e intelectual como a sonharam Che Guevara e Manuel Marulanda.

Quando entenderam vocês que nunca conquistariam o poder pelas armas?

Desde que as Farc nasceram, quando eram 48 campesinos com revólver, traçaram o programa agrário de Marquetalia, o primeiro documento fundacional da organização no qual se estabeleceram uns objetivos agrários, porém também se definiu o grande objetivo estratégico revolucionário que era a tomada do poder. Hoje em dia, é certo que não temos o mesmo número de combatentes que tínhamos no Caguán, porém não somos os 48 que havia em Marquetalia há 49 anos. Então, os guerrilheiros de hoje somos os suficientes para seguir protagonizando feitos de guerra ou feitos de paz e a vontade nossa não se encaixou no político nem no militar. O Governo da Colômbia tem que ser sensato e seguir reconhecendo que está sentado com uma força política. Que deixe de insistir na derrota militar da guerrilha, que não vão conseguir.

Significa isso que ainda creem que podem alcançar o poder pelas armas?

Cremos que a luta armada segue sendo vigente contra essa institucionalidade, contra essa realidade econômica e social. Segundo os manuais de contra insurgência, uma guerrilha é 80% política e 20% militar. Uma guerrilha pequena alargando seu espaço político pode protagonizar transformações mais gigantescas num país que uma guerrilha grande com músculo militar, porém sem influência de massas. Então, aí fazem cálculos alegres os estrategistas midiáticos porque os estrategistas militares, sim, seguem vendo como ameaça a presença militar das Farc.

Há os que asseguram que sem a ajuda de Chávez já os haveriam derrotado...

Sem a ajuda de Chávez nas Farc se haveria pensado só numa resposta militar e na confrontação armada; é Chávez quem constrói a possibilidade de um novo entendimento de paz.

O segundo ponto que discutem hoje é sobre participação em política e umas eleições custam muito dinheiro, de onde vão sacar para financiar uma campanha política?

Seria uma estupidez meter-se num processo eleitoral sob os mecanismos trapaceiros e fraudulentos que existem. Não vamos entrar a participar com o atual regime eleitoral e o mecanismo de compra de votos e armadilhas; isso seria um suicídio. Por isso, nas propostas que estamos fazendo se contempla uma reforma profunda ao regime eleitoral.

A debutação das Farc na política será nas eleições legislativas de 2014 ou nas regionais de 2015?
Nós vamos mais além da simples participação e garantias para fazer política por outros métodos; a essência deste ponto está na raiz do conflito armado. O ponto agrário mostrou as raízes econômicas da confrontação armada, a estreiteza antidemocrática da posse da terra e a ruína do campo colombiano. Este ponto político vai mostrar ao país que a raiz do conflito é que não há democracia real. Se houvesse democracia não haveria necessidade de armas e neste ponto esperamos conseguir a criação dos marcos legais, políticos, constitucionais que permitam atuar em política forças diferentes às do estabelecimento. Vamos para o resgate dos aspectos progressistas da Constituição de 91 que, no capítulo de direitos, deveres e garantias, foi bastante avançado e estamos propondo um conjunto de reformas para que os colombianos não voltemos a cair sob o regime bipartidarista.

Porém, lhes interessa mais o poder regional ou se creem com  força para entrar a disputar as cadeiras no Congresso?

Sabemos que temos uma força política que, no caso de conquistar as garantias, terá uma importante participação. Somos uma força essencialmente política, cujo espaço foram estreitando através da guerra de extermínio, da liquidação de diferentes expressões anteriores que buscavam criar uma saída política e uma alternativa de transformação das Farc.

Vão criar um partido ou tomarão a plataforma da Unión Patriótica?

Frente a Unión Patriótica, o que temos reclamado é que se termine o processo de reconhecimento deste magnicídio que houve na Colômbia e tudo o que se faça em benefício da restauração dos direitos desta organização política são bem-vindos, porém, enquanto a Unión Patriótica luta por estes direitos, vemos que a outras forças se lhes nega a possibilidade de participar em política; à senadora Piedad Córdoba arrancaram os direitos de participação política, contra a Marcha Patriótica já começa um processo de capturas de seus dirigentes e os pequenos partidos vêm sendo marginalizados e vão ser limitados e impedidos praticamente de participar no processo eleitoral que está em marcha.

Você, onde se vê após a firma de um acordo?

Nós sempre nos manteremos na ala esquerda da política colombiana; estamos buscando uma forma diferente à armada de estar no espectro político, porém, diferentemente de outras forças entregaram armas e ideologia, que entregaram política e princípios, nós não encaramos um processo sobre a base da cooptação do regime e das regras estabelecidas e da ideologia do regime atual bipartidarista. Seguiremos sendo uma força com um perfil bolivariano e revolucionário e oxalá que este ideário possa transitar pelos caminhos da ação política e da ação pacífica. Pessoalmente, não me vejo em nenhuma destas tarefas burocrático-parlamentares; me veria melhor como um agitador social.

Por que são tão ativos e golpearam tanto o sul-ocidente do país?

Ali houve um trabalho paciente de várias décadas onde a iniquidade e a injustiça e o maltrato às comunidades pobres, indígenas e negras, finalmente permitiu que nossa mensagem fora receptiva e entrasse no coração da população e isso fortaleceu nossos postulados.

Esse será um fortim eleitoral das Farc?

O vemos por agora como um ponto importante para o processo de paz.

Que modelo de processo de paz de outro país lhes agradaria que se desse na Colômbia?

O processo de paz da Irlanda, porque se estabeleceram princípios e, por exemplo, as armas eles não as entregaram.
 
Por isso não utilizam termos como ‘desmobilização’ y ‘deixação das armas’?

Nós falamos que as armas se silenciam quando a vontade de dispará-las cesse e isso ocorrerá na Colômbia quando se cumpram todas estas situações que estamos levando à mesa de negociação.
 
Não haverá então um ato simbólico de entrega de armas?

Temos dito reiteradamente ao Governo que essa foto nunca a terão.