Bancos dão as costas para os trabalhadores e para o Brasil
por: Vagner Freitas
Em um País onde a prioridade é
conquistar o desenvolvimento sustentável, com distribuição de
renda igual ao crescimento, com menos spread e mais crédito, é
escandalosa a festa de lucratividade dos bancos.
As altas margens de
lucro – a rentabilidade dos bancos é de cerca de 20%, enquanto a
dos demais setores da economia gira em torno de 10% -, aliadas às
políticas de contenção de gastos, inclusive com pessoal,
escancaram a desigualdade e a alta rotatividade, que prejudicam a
sociedade, em especial os trabalhadores bancários.
Estudo do DIEESE sobre
os balanços e as demissões no Itaú, Bradesco e Santander, em 2013,
comprova que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) não está,
efetivamente, voltado ao desenvolvimento do país e aos interesses da
coletividade, como determina o artigo 192 da Constituição, no
capítulo desempenho da função social das instituições
financeiras.
No ano passado, o lucro
líquido do Itaú foi R$ 15,8 bilhões – o banco demitiu 2.734; o
Bradesco lucrou R$ 12,2 bilhões e fechou 2.896 vagas. Já o
Santander Brasil, que gerou lucro de R$ 5,7 bilhões (23% do
resultado mundial do banco espanhol), eliminou 4.371 postos de
trabalho. Isso, no mesmo ano em que a economia brasileira gerou 1,1
milhão de novos postos de trabalho formal.
Outras características
do SFN que afetam toda a sociedade brasileira são a escassez de
crédito, os juros altos e as tarifas bancárias. As tarifas foram
“inventadas” pelo governo Fernando Henrique Cardoso pós Plano
Cruzado como uma espécie de compensação aos bancos pela perda das
receitas inflacionárias (overnight). Em 2012, os 6 maiores bancos
brasileiros arrecadaram R$ 85 bilhões com essas tarifas. As taxas de
juros de cartão de crédito, cheque especial e empréstimo pessoal
são outro tormento para a classe trabalhadora e para toda a
sociedade. O Santander, por exemplo, chega a cobrar 900% de juros ao
ano do cartão de crédito.
Apesar de tudo isso,
alguns analistas econômicos ligados ao mercado financeiro, criticam
o aumento real dos salários dos trabalhadores e a expansão do
emprego. Segundo a teoria desses analistas, o Brasil só vai retomar
o ciclo de crescimento se reduzir a demanda e, assim, afastar o risco
inflacionário. Para isso, o remédio seria arrocho salarial e
desemprego. O contrário do que o Brasil vem fazendo desde 2008,
quando explodiu a crise financeira internacional, com sucesso.
Por causa dessas
teorias, a categoria bancária enfrenta uma verdadeira guerra durante
as campanhas salariais anuais. Em 2013, foram 20 dias de greve, muita
mobilização, pressão e negociação até chegar a um aumento real
de 2%, índice que consideramos uma vitória, especialmente se
levarmos em consideração os contra-argumentos patronais que, vemos
agora, tinham um único objetivo: aumentar ainda mais o lucro que vai
para os seus bolsos.
A nossa luta por um
país com desenvolvimento sustentável, distribuição de renda e
justiça social só avançará de fato quando alterarmos as perversas
características do SFN. O alto lucro, as altas taxas de juros e de
spread – um dos mais altos do mundo -, baixa participação do
crédito na economia e no financiamento ao desenvolvimento econômico,
no fomento ao setor produtivo ou na geração de emprego e renda.
Neste sentido, a CUT e
a Contraf lutam pela regulamentação do Sistema Financeiro. Queremos
que o SFN seja controlado democraticamente pela sociedade, ofereça
mais crédito, tenha maior liquidez, direcionada para a produção e
o consumo, com geração de emprego e renda.
Um governo
democrático-popular não pode permitir bancos com tamanha
lucratividade, especialmente quando sabemos da paralisia da
indústria. É como se estivéssemos adubando um campo fértil apenas
para a lucratividade, sem levar em conta que esta é uma atividade
parasitária.