Comunicado Conjunto dos comandantes das FARC–EP e do ELN: ¿Paramilitarismo oficial?
Por
FARC-ELN
Quarta-feira,
12 Fevereiro 2014 03:35
A
longa experiência de contatos e entrevistas encaminhados à
materialização de ações humanitárias ou de conversações de paz
entre governo e insurgência mostra que sua utilização por parte do
Estado a efeitos de cumprir tarefas de inteligência ou operações
militares não só mina a confiança na seriedade do interlocutor,
como também conduz ao fracasso dos propósitos perseguidos com as
aproximações e encontros.
Da
histórica realização de tais propósitos cabe citar dois casos
emblemáticos:
Desde
o mês de maio de 2000, se cumpriram na área rural de San Pablo, no
sul do departamento [estado] de Bolívar, contatos e reuniões entre
representantes do ELN, do governo nacional e de membros da comunidade
internacional, com vistas ao início de conversações de paz. Em
março de 2001, o Exército Nacional, em aliança aberta com bandos
militares, deu começo à chamada Operação Bolívar, com grandes
desembarques de tropas, justo na área de segurança eleita para
ditos encontros, quando se realizava inclusive uma reunião na qual
participavam, além do comissionado de paz Camilo Gómez,
embaixadores de vários países amigos.
Por
outro lado, é um fato que a semelhança dos protocolos de segurança
implementados por ocasião das libertações unilaterais de
prisioneiros de guerra por parte das FARC-EP serviu de base para que
a CIA e o Exército Nacional acumulassem informação e preparassem a
operação que, com o emprego da perfídia de utilizar emblemas da
Cruz Vermelha Internacional, entre outros, lhes permitiu apresentar a
[operação] Jaque como uma heroica ação de resgate, quando se
tratava de um sujo negócio de traição paga, do qual tomaram parte
tanto o ministro de Defesa da época como o próprio Presidente
Uribe.
O
recente escândalo conhecido como Andrómeda pôs a descoberto que
essa velha prática estatal continua viva e ativa. O seguimento, a
perseguição e posta em mira de dirigentes da oposição política e
dos próprios porta-vozes governamentais na Mesa de Conversações de
La Habana reúnem todos os ingredientes, incluída a presença da
CIA, para concluir que, desde gabinetes do Estado, se preparam
operações contra a consecução da paz e da democratização do
país, velhos anseios de nosso povo que se procuram alcançar com a
Mesa de Conversações de La Habana e a aproximações entre o
governo nacional e o ELN.
As
manifestações de indignação e repúdio, unidas às solicitações
imperiosas de investigações disciplinares e judiciais que todo o
país está escutando na mídia, resultam pouco convincentes quando
se têm antecedentes como o assassinato do Comandante Alfonso Cano
nos mesmos momentos em que o governo nacional e as FARC-EP celebravam
as primeiras reuniões reservadas com vistas a estabelecer
conversações.
Por
cima do mal dissimulado desprezo pela insurgência que se transluz em
diversas declarações e entrevistas oficiais, a paz e a
reconciliação são bens inestimáveis para o povo da Colômbia, que
podem lançar-se a perder torpemente se não se afastam
definitivamente de suas gestões as ações de inteligência militar
e policial. Com muito mais razão se, como se desprende das primeiras
desculpas públicas, estas operações encobertas resultam atribuídas
a rodas soltas que operam à sombra da institucionalidade.
Paramilitarismo oficial?
Montanhas de Colômbia, 7 de fevereiro de 2014.
Pelo Comando Central do ELN
Nicolás Rodríguez Bautista.
Pelo Secretariado Nacional das FARC-EP,
Timoleón Jiménez.