“Com a UP renasce a esperança”, fala Carlos Lozano, candidato ao Senado
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Em
meio ao giro nacional que o levou a visitar quase todo o país, o
candidato ao Senado pela UP na lista da Aliança Verde respondeu
algumas perguntas de conjuntura política a VOZ.
— Como
tem a recepção do povo com a União Patriótica [UP] e suas
candidaturas de Senado, Câmara e Parlamento Andino?
— Muito
positiva e entusiasta. É certo que renasce a esperança. Assim o
constatamos com Aída Avella, com quem percorremos boa parte do país.
E seguimos andando, fazendo vida ao andar, até cumprir a agenda no
próximo 9 de março. A UP não se apagou da memória de tantos
homens e mulheres do povo que saem às ruas a receber-nos com o mesmo
vigor e firmeza de há quase três décadas.
É que
o genocídio não conseguiu arrancá-la da memória coletiva. De
alguma maneira, dirigentes como Mario Upegui e tantos outros no resto
do país mantiveram viva a chama upeísta e marcaram presença com o
Partido Comunista na Frente Social e Política e no Polo Democrático
e Alternativo. Me chamou a atenção a presença de muitos jovens nas
marchas e caminhadas. Conversamos com Aída, são rapazes e moças
que não conheceram a UP, porém que se compenetraram com sua
realidade e com o significado da esperança para a paz, a justiça
social e a unidade.
A
presença em Aliança Verde
— Sua
candidatura pela Aliança Verde no nº 38 não confronta em nada com
as aspirações de paz com mudanças defendidas pelo Partido
Comunista e a UP?
— Como
explicamos, nossa presença na lista da Aliança Verde obedece a um
acordo político do Partido Comunista, da UP e outras forças de
esquerda e democráticas com os chamados verdes-progressistas, para
centrar a campanha eleitoral no tema da paz e de um projeto
alternativo unitário com opção de poder.
É uma
coalizão que a entendemos no caminho da construção da frente ampla
pela paz. Esta se constrói com setores de esquerda e democráticos,
mais além do Partido Comunista e da UP. A unidade não se pode fazer
nos olhando no umbigo ou não vendo mais além do nariz. A paz é
tarefa fundamental, difícil, porque deve ser com democracia e
justiça social e isso implica derrotar a resistência da classe
dominante, da rançosa oligarquia colombiana, como dizia o comandante
Chávez, às mudanças avançadas e progressistas.
Essa
reação a mudar o inapropriado do sistema burguês e violento é a
causa do fracasso de tantos esforços de paz no passado. O acordo na
Aliança Verde é programático, está escrito e firmado por todas as
partes. Preservamos nossa independência e o direito à objeção de
consciência naqueles temas em que não coincidamos e que são de
princípios.
— A
propósito da Aliança Verde, eles definiram consulta aberta para as
eleições de 9 de março e tudo indica que será candidato
presidencial Enrique Peñalosa. Dê-nos
sua opinião a respeito.
— Não
nos sentimos obrigados com os resultados da consulta dos verdes e,
muito menos, como é previsível, se a ganha Enrique Peñalosa com o
respaldo de seus amigos uribistas. Nossa candidata presidencial é
Aída Avella e não é negociável numa consulta em que não estamos,
porque não cremos positiva a participação nela de um personagem
como Peñalosa, inimigo da paz e promotor do neoliberalismo.
Estamos
abertos à unidade, a forjar um projeto unitário alternativo, porém
com a esquerda, com setores democráticos e progressistas. Para mudar
a Colômbia mediante transformações avançadas e revolucionárias
que nos coloquem no furacão das mudanças patrióticas e avançadas
da América Latina.
Defender soberania popular
Defender soberania popular
—A
revogatória ao prefeito de Bogotá Gustavo Preto segue ocupando
manchetes...
— Não
podemos nos equivocar. Já o entendeu o Polo quase a contragosto.
Apesar das diferenças, temos que estar com Petro, vítima da
extrema-direita que quer recuperar o poder em Bogotá. Uribe e Santos
estão por trás do complô de Ordóñez, este personagem pitoresco é
o títere da direita para recuperar a administração da capital e
colocá-la em função dos grandes interesses capitalistas nacionais
e transnacionais.
Essa é
a contradição: Petro tocou interesses muito fortes pelo
multimilionário negócio dos lixos em Bogotá. A defesa do público
é o ponto do conflito, dos que creem que o Estado é útil só para
proteger e beneficiar seus negócios e dos que cremos que é para
proteger o interesse comum e social, para o benefício de toda a
sociedade e com maior razão dos trabalhadores e das massas
empobrecidas pelo sistema plutocrático das minorias.
Querem
arrancar Petro para recuperar a loba que amamenta seus negócios.
Votaremos não à revogatória no referendo e esta coincidência em
defesa do público e da soberania popular nos acerca no objetivo
fundamental: construir a frente ampla pela paz e uma opção de poder
democrático e popular.
— Em
sua conta de twitter @carloslozanogui você assinalava que os
inimigos do processo de paz estão dentro e fora do governo Santos.
Como é isso?
— Evidentemente.
Atuam dentro do Governo devido à fragilidade do de Santos e às
concessões que faz a extrema-direita. O exemplo mais recente foi a
denúncia das chuçadas ilegais e criminais da inteligência do
Exército, investigadas pela Promotoria Geral da Nação. Santos, em
princípio, estava consternado e respaldou a investigação policial.
Depois da reunião com os militares e da suspensão temporária de
dois generais, simplesmente mudou a posição e defendeu as chuçadas
e demais atos ilícitos qualificando-os de legais.
Ocorreu
depois da reunião com a cúpula militar na qual, segundo dizem, os
generais o apertaram. Num Governo firme e decidido a defender a
democracia e o processo de paz, haveriam sido destituídos o
comandante do Exército e o ministro de Defesa, Juan Carlos Pinzón,
simples marionete dos altos comandos que defendem seus interesses na
guerra. Os inimigos externos já são conhecidos: o uribismo, os
pecuaristas, os militares reformados, as máfias que se apoderaram de
negócios, incluindo o narcotráfico, tudo uma armadura sinistra que
trabalha por levar o país ao abismo da confrontação.
— Como
vai o processo de paz? Se
discute a substituição de cultivos denominados ilícitos. Vê
possível próximo um acordo desse ponto?
— Oxalá
se chegue em breve a um acordo, como o desejamos os que promovemos a
solução política democrática. Porém, em boa medida depende a
vontade da classe dominante, sempre avessa às mudanças na vida
nacional. A paz estável e duradoura depende dos acordos para
fortalecer a democracia, a participação política de todos os
cidadãos em igualdade de condições e de maior justiça social. O
importante é que há diálogo. Há que defendê-lo, porque enquanto
a guerrilha e o Governo estejam sentados na mesa de Havana haverá
esperança de paz.
Se
requerem gestos do Governo acerca dos protestos populares e sociais,
deter a perseguição aos lutadores populares porque os cárceres
estão se lotando de presos políticos, e dar garantias de ação às
organizações de esquerda e sociais que se mobilizam com o povo.
— Há
garantias eleitorais?
— Não
há. A hostilidade e as ameaças contra os lutadores sociais e
populares; contra os candidatos da esquerda, em particular da UP,
assim o demonstram. É um assunto de vontade política, de frear os
que promovem os atos contra a democracia, desde dentro e fora do
Governo. Aí estão os violentos, os que se amparam no terrorismo de
Estado.
Para
não falar das eleições desiguais, do vantajismo a favor dos
partidos do Estabelecimento, do clientelismo e da compra de votos que
campeiam na campanha. São
eleições à colombiana. Este
campo exige uma profunda reforma política que o Governo não aceita
nem sequer em função da perspectiva da paz com democracia e justiça
social.
— Que
opina do voto em branco?
— O
voto em branco, pelo menos nesta ocasião, é inócuo. Seria positivo
nas condições do célebre texto de José Saramago “Ensaio sobre a
lucidez”, porém estamos ante um processo político na Colômbia
onde as contradições com a classe dominante são relevantes. O voto
em branco, neste contexto, se coloca no campo da imparcialidade. Nem
uma coisa nem outra.
Carlos Lozano, candidato ao senado pela UP em lista da Alianza Verde, No. 38.
Carlos Lozano, candidato ao senado pela UP em lista da Alianza Verde, No. 38.