A campanha eleitoral é para desnudar o regime e anunciar um novo
Por: Nelson
Lombana Silva
Acerca
do debate eleitoral há duas concepções bem claras que há que
analisar para poder assumir uma posição crítica, coerente e
democrática, pensando em contribuir para o desenvolvimento da
humanidade integralmente. Mais além da subjetividade que implica a
emotividade, deve predominar a objetividade que dá a razão. E a
razão é produto ou a síntese de muitas variáveis que há que
submeter a crua análise, sem dogmatismos nem sectarismos
permanentemente porquanto tudo está em movimento, isto é, mudando
constantemente.
Uma
forma correta de abordar o tema é recuperando os conceitos de
direita e de esquerda, vindos a menos ao apresentar-se a
desintegração da União Soviética e a queda do muro de Berlim,
porém que o italiano Norberto Bobbio rapidamente reivindicou com
objetividade e realismo científico. Bom resulta advertir que Bobbio
não era nenhum comunista. No entanto, teve a agudeza política para
advertir que as ideologias reverdecem e determinar claramente a
diferenciação entre estes dois conceitos que alguns
irresponsavelmente querem meter num mesmo saco, afirmando que
praticamente são conceitos idênticos e que a única diferença são
os termos em si, porém que a essência é a mesma.
O
mestre Carlos Gaviria Díaz em seu momento explicou da maneira mais
axiomática e contundente a diferença: “A direita propugna para
que tudo siga como está, enquanto a esquerda propugna para que haja
mudanças”. Mais claro não canta o galo, costumamos dizer os
tolimenses. Como se reflete estes conceitos no debate eleitoral? Para
a direita, o debate eleitoral é um fim, enquanto que para a esquerda
é um meio. São
conceitos totalmente diferentes.
A
direita, ao conceber as eleições como um fim, o método utilizado
para conquistar dito fim resulta monstruoso, desligado e inumano. Se
aplica o princípio inescrupuloso de Nicolau Maquiavel, que sustenta
que o fim justifica os meios. Então, aparecem como “normais” uma
série de práticas corruptas. Por exemplo: clientelismo,
burocratismo, promessa, compra do voto, ameaças, tráfico de
influências, alcoolismo, comidas opíparas, publi-reportagens,
pautas a granel, mentira, armadilha, etc etc. A mesma direita diz em
voz baixa em botequins e mentideiros politiqueiros: “Nesta campanha
está correndo muito dinheiro, legal e ilegal. Porém, esse é o
jogo”.
Em
outras palavras: A direita não convence, compra direta ou
indiretamente o sufrágio. A razão é elementar: Não tem discurso,
não tem argumentos; só tem a força bruta do poder, a maquinaria.
Por exemplo: Que fazem pelo Tolima cinco ministros nesta semana que
termina? Até agora se deu conta o presidente Santos que a água
molha? Não há que fazer grandes elucubrações para dizer que a
maquinaria santista está em função de sua reeleição ao preço
que seja.
Por
sua parte, Uribe, representante do setor latifundiário ou
terra-tenente com sua eterna linguagem guerreirista, se apresenta de
novo como o “messias” que se encabrita pelas velhacarias que
comete diariamente seu pupilo Santos, tudo com a torta estratégia de
apresentar-se diferente e defensor do povo humilde e desamparado. Não
há tal. A briga é pelas alturas. Santos representa o outro setor, o
financeiro, o que vem se desenvolvendo fazendo o rico mais rico e o
pobre mais pobre. Uribe, já dissemos, o setor latifundiário.
É uma
lógica: Ao desenvolver-se o capitalismo, aumenta a miséria no povo.
Porém, por sua vez, se vai fortalecendo a luta revolucionária, se
vai cozinhando a rebeldia e as possibilidades de um sistema
diferente: O Socialismo. A respeito, disse Karl Marx: “Conforme
diminui progressivamente o número de magnatas capitalistas que
usurpam e monopolizam este processo de transformação
[Neoliberalismo hoje], cresce a massa da miséria, da opressão da
escravidão, da degeneração, da exploração; porém, cresce também
a rebeldia da classe operária, cada vez mais numerosa e mais
disciplinada, mais unida e mais organizada pelo mecanismo do mesmo
processo capitalista de produção. O monopólio do capital se
converte em grilheta do regime de produção que cresceu com ele e
sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização
do trabalho chegam a um ponto em que se tornam incompatíveis em sua
envoltura capitalista. Esta
salta feito cacos. Soou
a hora final da propriedade privada capitalista. Os expropriadores
são expropriados”. [i]
O
conceito eleitoral para a esquerda é diferente, como já se disse. É
um meio, uma forma de luta que busca principalmente educar as massas,
denunciar o oprobrioso regime capitalista e anunciar com clareza o
advento de um sistema diferente do sistema capitalista: O sistema
socialista.
Essa
concepção diáfana do verdadeiro significado histórico do debate
eleitoral implica uma dinâmica metodológica diferente. Por isso a
esquerda não oferece dinheiro, oferece ideias; não oferece grandes
banquetes, oferece discussões dialéticas; não oferece postos
burocráticos e promessas irrealizáveis, oferece uma trincheira de
unidade e de luta popular. A razão é elementar: Só o povo é capaz
de libertar-se da ditadura da burguesia. E para o povo concretizar
esse sonho real, deve politizar-se, organizar-se, unir-se e dispor-se
a lutar por seus direitos e não a mendigá-los.
Então,
a campanha política, desde a perspectiva da esquerda, tem uma
profunda ênfase na denúncia e na anunciação. Desde logo, quando o
candidato ou a candidata tem realmente formação política e
consciência de classe, porque, como é óbvio, costuma aparecer na
esquerda muito oportunismo, muito lobo disfarçado de cordeiro. Por
seus frutos os conhecereis, diz a bíblia. E
nisso o povo deve ser vigilante, meticuloso e atento para evitar que
lhe metam gato por lebre, como diz o adágio popular.
A
campanha eleitoral não é para parecer-nos à direita e buscar certa
conciliação. Nada disso. É para enfrentar, confrontar, como diz a
candidata presidencial pela União Patriótica, Aída Avella
Esquivel, corpo a corpo uma campanha nas condições mais adversas,
como hoje está sucedendo na Colômbia, onde uma vez mais a esquerda
não tem nem as elementares garantias. A luta é lutando. Simples,
assim.
A
campanha eleitoral é para agitar o programa dos comunistas aprovado
no XXI Congresso Nacional realizado em Bogotá, de acordo com as
condições concretas de cada região. Quer dizer, não é suficiente
com repetir mecanicamente este programa, há que interpretá-lo e
desenvolvê-lo criativamente de acordo com as condições objetivas
de cada região. A esquerda não tem por que ser rabo de vagão da
direita. Aqui não se pode admitir propostas light, tanto assim
pretender estar bem com o burguês e o proletário ao mesmo tempo. Há
que entender o que media a luta de classes e esta não é mecânica,
nem suscetível de ser negociada. Os princípios não se negociam.
É
nesse sentido que se deve entender a campanha eleitoral. Uma batalha
ideológica e política que permita educar, formar, organizar e
dinamizar a luta do povo na direção de romper as cadeias da
opressão própria do regime e que se expressa na exploração do
homem pelo homem, na miséria, no desemprego e demais afrontas que
diariamente vive o povo.
Tradução: Joaquim Lisboa Neto
[i] IVANOV, Nikolái. Biografía Carlos Marx. La vida, la obra y la lucha del hombre que más ha influido en la historia de la humanidad. Ediciones instituto de intercambio cultural colombo – soviético. Bogotá, Colombia. Página consultada 149.
Tradução: Joaquim Lisboa Neto
[i] IVANOV, Nikolái. Biografía Carlos Marx. La vida, la obra y la lucha del hombre que más ha influido en la historia de la humanidad. Ediciones instituto de intercambio cultural colombo – soviético. Bogotá, Colombia. Página consultada 149.
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