"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Secretariado das FARC-EP: Um 2014 curto, porém tempestuoso

Está fora de lugar a mínima possibilidade de que as FARC-EP firmemos algum acordo de paz alheio ao aprofundamento real da democracia e da justiça social na Colômbia.
Podemos aventurar que 2014 será um ano curto. De fato, já se foi o primeiro mês e começa o mais breve de todos. As eleições parlamentares de março e as presidenciais de maio nos deixarão às portas do campeonato mundial de futebol, que com Falcão ou sem ele terminará em meados de julho, com a festa do dia dos pais e a próxima posse em agosto do novo ou do mesmo presidente.
A 20 de julho estará Santos prestando contas de seus 4 anos de governo, e de agosto em diante começará a mover-se a engrenagem de Administração nacional recém eleita. Virá a apresentação ao Congresso do plano nacional de desenvolvimento para os seguintes quatro anos e a discussão do novo orçamento para 2015. As ambições eleitoreiras e as consequentes recomposições políticas conduzirão a que os avanços nas conversações entre governo e insurgência passem para segundo plano.
Santos anuncia que sua principal bandeira será a consecução da paz, o qual parece comprometê-lo a perseverar nos diálogos com as FARC-EP, independentemente do que alcance a pactuar-se antes do 25 de maio. Ademais, está a expectativa pelo começo de conversações com o ELN, no que, sem dúvida, governo e essa força insurgente hão de estar trabalhando com urgência, porém na sombra.
Está pendente o tema do narcotráfico, assunto de grandes dimensões e alcances, que pode esticar-se ante as novas realidades internacionais e locais. Basta ver o cauteloso processo de legalizações em curso nos próprios Estados Unidos e alguns outros países, para entender que há muito de onde agarrar-se na hora de discutir as políticas punitivas, enquanto a reativação das fumigações nas zonas agrárias terminará por confundir mais as coisas. Não tardará em manifestar-se a resposta irada das comunidades afetadas.
Essa realidade obrigará a que coincidam as lutas das comunidades perseguidas com o tema que se discute na Mesa, uma questão que o governo nacional sempre evitou. Ademais, ficará supremamente difícil ao Presidente Santos, desde o ponto de vista político, depois de seus giros internacionais promovendo o processo de paz, no que Davos e a cúpula da CELAC marcaram verdadeiras divisórias, jogar-se para trás e chutar a Mesa com uma guerrilha que tem sabido mostrar-se propositiva e aberta à busca de soluções.
Desde logo que a intensa dinâmica política que se anuncia para este ano não vai reduzir-se a esses aspectos formais. Esses poderão ser as grandes manchetes da imprensa, que, no entanto, não conseguirão obscurecer as agitadas águas da guerra e da luta social e política. Está claro que a Mesa de La Habana pode cair num abrandamento obrigado, ainda que finalmente poderia saldar-se com outro convênio parcial, como nos demais pontos, transladando os temas culminantes para um incerto depois. Haverá que vê-lo. Porém, o que não se deterá um só instante é a guerra.
É clara, a estas alturas, a estratégia do governo ao assumir os diálogos com a insurgência. Fundamentado na ideia autista de que as FARC-EP entraram em conversações de paz como produto de sua iminente derrota, considera que com o incremento do acionar bélico, nossa guerrilha, forçada a aceitar que seu discurso não é mais que uma ilusa aparência, terminará por submeter-se a suas condições de rendição, publicitadas como muito amplas e generosas.
Por isso o fundo da discussão em La Habana será uma gigantesca escalada contra insurgente, que, ademais dos bombardeios e ofensivas militares de toda natureza, incluirá detenções, invasões, perseguições, assassinatos, montagens e a diversa gama de arbitrariedades em que são expertas as autoridades policiais, militares e judiciárias. Será a maneira real como o governo nacional buscará a combinação de um acordo na Mesa. E o fará com toda cólera.
O qual não excluirá, muito a seu pesar, a resposta do outro lado, cansado de escutar as vozes que lhe pedem repetir ou prolongar seus cessares unilaterais de fogo, enquanto o Presidente condena a mínima possibilidade de trégua. Sem excluir que a confrontação, travada desde o Estado sob a concepção do inimigo interno, afetará profundamente a população civil, que, sem dúvida, terminará por pronunciar-se contra ela de maneira cada vez mais sonora.
E está por definir-se a questão com a prefeitura de Bogotá, que enfatiza o caráter antidemocrático e excludente do regime vigente. Uma saída obrigada de Petro terminará por converter-se no estopim de grandes comoções políticas pelas transformações estruturais na Colômbia. A vaga de legitimidade do regime terminará por afundar-se totalmente.
Também são muitos os setores incomodados com tanta demagogia e subterfúgios por parte do governo nacional. As vítimas da locomotiva mineira, os despojados pela agroindústria, os falidos com os TLCs, os desenganados com a adjudicação de terras, os campesinos, comunidades negras e indígenas burladas nas mesas de diálogo, os estudantes municiados contra a privatização da educação, o pessoal médico, os pacientes e as comunidades em franca combatividade por uma saúde verdadeira e gratuita. É muito provável que tudo isso exploda na cara do Presidente, por cima de sua campanha por mostrar-se solícito com todos eles.
Está fora de lugar a mínima possibilidade de que as FARC-EP firmemos algum acordo de paz alheio ao aprofundamento real da democracia e da justiça social na Colômbia, assim que, se a posição dos representantes do Estado não muda, pode descartar-se de plano sua concretização em 2014. Porém, salta à vista também que a agitação política e social em inícios terminará por fortalecer a palavra de ordem da solução política ao conflito.
Seja qual seja o novo governo, se verá com um grande movimento nacional que condena a guerra e exige a paz. E que não vai tragar-se a pública confissão de Santos de que um acordo de paz não vai mudar nada na Colômbia. 2014 pinta, assim, como um ano curto, porém tempestuoso.


Montanhas de Colômbia, 1º de fevereiro de 2014.