Movimentos sociais farão caravanas pela democratização da comunicação
por: Luiz Carvalho e Henri Chevalier
Representantes
de 27 organizações de nove estados participaram nesta sexta-feira
(7) da plenária nacional da campanha Para
Expressar a Liberdade, que defende a democratização da
comunicação no país.
O
debate principal foi a estratégia para divulgar e coletar
assinaturas em apoio ao Projeto
de Lei de Iniciativa Popular das Comunicações (Plip). A
Constituição de 1988 traz artigos sobre a liberdade de expressão,
mas depende de leis para regulamentá-los e impedir, por exemplo, que
poucas famílias sejam donas de vários meios de comunicação, como
acontece hoje no Brasil, impossibilitando a pluralidade de ideias e
opiniões. Ou que políticos sejam donos de emissoras de rádio e
TV.
O
Plip precisa de 1 milhão e 300 mil assinaturas para ir ao Congresso
Nacional e, entre fevereiro e abril, as entidades que integram a
campanha irão promover pelo País caravanas da democratização da
comunicação e cursos de formação. Também lançarão comitês da
campanha nos estados onde ainda não existem.
Já
os comitês atuarão para pautar o tema em mobilizações e cobrarão
dos candidatos ao Executivo e Legislativo o comprometimento com o
projeto.
Além
disso, as organizações assumiram o compromisso de promover ações
de coleta de assinaturas ao longo de 2014 e discutiram a necessidade
da campanha caminhar ao lado de outras agendas comuns, como o
Plebiscito pela Constituinte da Reforma Política.
Projeto
unitário – Secretária
de Comunicação da CUT e coordenadora do Fórum Nacional pela
Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, apontou
que a campanha acertou ao colocar a liberdade de expressão no centro
do debate e fazer com que a velha mídia também tivesse de abandonar
o discurso da censura para combater a proposta.
A
dirigente exaltou ainda o amplo debate sobre o Plip que, mesmo sem
contemplar integralmente todas as organizações, passou a existir e
foi às ruas. Ela ressaltou, porém, que é preciso ampliar a
mobilização para alcançar o número de assinaturas exigido pelo
Congresso. “Este ano temos que fazer debates sobre Copa,
eleições, grandes eventos, mas temos que manter forte as
discussões sobre a comunicação.”
Ano de otimismo – Durante o encontro, o jornalista e presidente do instituto Barão de Itararé, Altamiro Borges, mostrou-se otimista em relação aos debates sobre a liberdade de expressão.
Para
ele, o tema ganhou projeção no mundo por meio de medidas como a
assinatura na Inglaterra de uma lei mais rígida para os impressos,
que garante obrigações como o direito de resposta, e a
regulamentação dos meios em países vizinhos, como Argentina e
Equador.
Segundo
Borges, o ano de Copa e eleições fará com que a mídia radicalize
o discurso no Brasil. Isso intensificará a discussão sobre o papel
dos meios de comunicação e abrirá espaço ao projeto, avalia. “Não
dá para esperar que o governo e o Congresso se mexam, é preciso
muita pressão e o Plip é um extraordinário instrumento para isso”,
defendeu.
Batalha
política – Ainda sobre o
papel do Executivo federal no processo de democratização, ele
acredita que não haverá mudanças significativas neste ano, a não
ser que ocorra algo extraordinário, como as denúncias sobre
espionagem dos EUA, responsáveis por obrigar o governo a assumir a
defesa de um marco civil da internet e da neutralidade na rede.
Para
Altamiro Borges, o governo entende que não é possível comprar mais
uma briga com um inimigo poderoso, pensa não haver correlação de
forças favorável no Congresso e acredita que os meios de
comunicação não possuem mais tanta capacidade de influenciar a
sociedade. Uma avaliação classificada por ele como equivocada. “Não
mudarmos a correlação de forças no Congresso demonstra que, se não
conseguiram vencer Lula e Dilma, conseguiram rebaixar nossa
representatividade”, apontou.
Também
sobre o tema, a também jornalista Maria Inês Nassif acrescenta que,
desde 2002, o PT ganha as eleições, mas a oposição leva a
batalha. Para ela, o Plip é um trabalho de articulação que deve
refletir o anseio da sociedade pela “democratização da
democracia”. “Além do desafio de ganharmos o governo, temos o
desafio de nos livrarmos das heranças da ditadura que carregamos ao
longo dos anos. Não limpamos a casa direito e precisamos
democratizar a mídia, os partidos, fazer a reforma política.
Encontrar guarida no espanto das pessoas diante do poder relativo”,
defendeu.
Avanços
e retrocessos – Maria
Nassif e Altamiro Borges concordaram que a substituição da ministra
Helena Chagas por Thomas Traumann na Secretaria de Comunicação
(Secom) do governo federal representam avanço e uma aproximação da
presidenta Dilma com setores do partido mais alinhados com Lula.
O
mesmo vale para as declarações do ministro das Comunicações,
Paulo Bernardo, sobre um projeto de regulamentação da mídia.
Para
Borges, porém, na comunicação, o governo Dilma recuou em relação
ao governo Lula que, apesar de não encampar uma lei para
democratizar os meios, criou a Empresa Brasil de Comunicação (EBC),
o Plano Nacional de Banda Larga, reposicionou as verbas de
publicidade da Secom e contemplou mais veículos, além de convocar a
I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
“A
luta pela liberdade de expressão representa um novo cenário na
nossa sociedade. A questão não é mais só de inclusão via
consumo, mas também através da cidadania”, defendeu.