A VARIÁVEL LULA
Por Emir Sader
Lula foi situado no centro da vida política brasileira.
Todos os holofotes se concentram sobre ele: ou será abatido no voo
pela direita, tirando-o, no tapetão, da vida política, ou exercerá
seu papel de eixo da recomposição da esquerda brasileira e
conseguirá dar continuidade ao processo iniciado em 2002, com todas
as adequações necessárias.
Em um marco de
crise de credibilidade das instituições, das forças políticas e
sociais, das lideranças, a exceção fica com Lula. Não fosse
assim, ele não seria alvo dos ataques concentrados da direita. Se
acreditasse nas suas pesquisas, bastaria a direita esperar até 2018
e derrota-lo com qualquer um dos seus candidatos.
O destino da
direita depende de conseguir inviabilizar juridicamente a candidatura
do Lula e ter assim o caminho aberto para reconquistar a presidência
da república. Caso contrario, teria que se consolar com um novo
mandato do Lula, limitando-o pela revogação da reeleição.
Do lado do
campo popular, Lula também é a referência, é o grande patrimônio,
com ele pode contar. O maior líder popular da história do Brasil,
Lula mantém vínculos profundos com a massa da população, seus
governos ficaram marcados na consciência e na memoria das pessoas,
Lula representa a auto estima dos brasileiros. Por tudo isso, apesar
da brutal campanha contra sua imagem, ela permanece arraigada no seio
do povo.
Mas ele não
se limita a estar na memória do povo, ele representa também sua
esperança. Ninguém tem o carisma e a mística que a liderança de
Lula possui.
Desde a crise
de 2005, quando a imagem do PT passou a ser afetada negativamente, a
imagem do Lula foi se descolando do partido, conforme o governo foi
ganhando prestigio, com o sucesso das politicas sociais. Mesmo quando
a imagem do governo de Dilma e a do PT sofrem com a mais dura das
campanhas da oposição, a imagem de Lula resiste e as próprias
pesquisas que dão resultados muito ruins para o PT e Dilma, tem que
revelar que Lula teria pelo menos 33% de apoio.
Mas o Lula de
agora precisa propor ao país novas utopias, novos objetivos,
continuidade e aprofundamento do que foi feito a partir do seu
governo, precisa diálogo com novos setores sociais, especialmente os
jovens, tanto os da periferia quanto os da classe média, precisa
surgir como quem reivindica não só a visibilização desses
setores, como os espaços das mulheres, rejeitadas nas suas
reivindicações. Em suma, Lula tem que representar, ao mesmo tempo,
a retomada do que foram seus governos, da forma de fazer política
que unifique as forças que apoiem os programas propostos nos seus
governos, como também renovador. Nas reivindicações, na linguagem,
na interpelação e integração de setores até aqui
marginalizados.
É Lula que
pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, das forças
democráticas e populares, recomposição que tem que ser feita com
novas plataformas, novos programas, que deem vida a um amplo
movimento social, político, econômico, cultural, que consolide os
avanços, altere profundamente as relações de poder que resistem a
esses avanços e aponte para o Brasil a que Lula abriu o caminho com
seus governos e sua liderança.
Qualquer
especulação política sobre o futuro do Brasil que não leve em
consideração a variável Lula, está equivocada, está fora da
realidade, não considera o fator determinante do futuro político do
país. Candidatos tucanos já conhecidos, nomes sem nenhuma
viabilidade popular do PMDB ou outros nomes que aventuras políticas
apontam, se chocam com essa realidade incontornável. Uma vez mais,
quem não decifra o enigma Lula é devorado por ele, como tem
acontecido reiteradamente.